Olá, minhas pessoas lindas? Tudo bem por aí?
Esse é um capítulo especial de agradecimento à vocês. Obrigada por estarem sempre por aqui comigo. Como sei que vocês gostam dos momentinhos em família, escrevi esse capítulo um pouco (bem) mais longo então, pega lá um cafezinho, estica as pernas no sofá e senta que lá vai o capítulo. Uma beijoca e se cuidem ;)
Era uma bela noite de outono. O céu estava limpo e a lua quase cheia. Nós terminávamos de jantar. Ainda estávamos conversando à mesa e Vitória terminava de alimentar Maria, quando Agnes, que retirava os pratos da mesa, falou:
“-A noite está lindíssima, mãe, perfeita para um passeio de carroça.”-Falou enquanto eu bebia uma xícara de café.
“-Essa noite?”-Perguntei pois achei estranho.
“-Posso ir?”- me perguntou com um dos pratos na mão.
“-Eu também posso?”-Arthur se intrometeu trazendo uma xícara de chá para Vitória.
“-Arthur, tu não pode ir.”-Agnes rebateu.
“-Por que não? Eu adoro esses passeios!”-O pequeno reclamou.
“-Desculpa, mano. Mas não vamos levar crianças.”-Ela disse como se fosse muito adulta. Apenas olhei para Vitória de canto de olho.
“-Vão na carroça de quem?”-Vitória perguntou bebendo seu chá.
“-Hum...Monique.”-Falou saindo e levando alguns talheres para lavar.
“-Monique vai dirigir a carroça? Vai alguma amazona adulta junto?”-Vitória perguntou.
“-Acho que ela vai dirigir sim. Não vai nenhum adulto. Só algumas amigas lá de Corre Ventos. Eu devia encontrá-las, no riacho perto da aldeia, em meia hora.”
“-Mas e a escola? Tu tem aula amanhã cedo, Agnes.”-Falei.
“-Mas todas as outras também vão pra escola. Não vamos voltar muito tarde.”-Falou e virou as costas indo em direção à pia para deixar a louça.
“-Tu podeira ir se não tivesse escola amanhã, Agnes.”-Vitória falou terminando seu chá.
“-Mas não sei se vai ter outro passeio, mãe.”-Agnes falou para Vitória com um olhar decepcionado.
“-Terão outros passeios, filha, eu garanto.”-Vitória piscou o olho para nossa menina que virou as costas e foi para seu quarto.
“-Boa noite, Agnes.”-Gritei para que ela me ouvisse.
“-Boa noite.”- Respondeu seca.
Vitória e eu terminanos de lavar a louça e colocamos Maria para dormir. Já em nosso quarto, enquanto Vitória tirava sua roupa, lhe perguntei:
“-Tu notou que Agnes tá agindo diferente?”
“-Ela tá crescendo, Ninha. Já vai fazer dezessete anos.”-Vitória respondeu enquanto desamarrava minhas botas.
“-Ela diz que todos os amigos dela fazem coisas que não deixamos, como esse passeio de hoje à noite.”-Comentei.
“-Esses passeios são bem comuns entre as adolescentes de Corre Ventos...é pra elas se conhecerem...sabe?”-Vitória disse enquanto retirava minha-meia calça.
“-Meus pés estão frios, Vitória.”
“-Já, já vão esquentar.”-Ela começou a massagear minhas pernas. Vitória é muito habilidosa com as mãos.
“-Agnes é tão jovem...”-Vitória intensificou a massagem em meus pés. “-Nossa, Vi...isso é tão bom...”-Falei sentindo meu corpo relaxar. “-Eu...eu não acho que ela tá pronta pra sair por aí...”-Vitória me interrompeu:
“-Não podemos falar disso uma outra hora?”-Quis me derrubar com seu meio sorriso mas eu estava focada:
“-Ela sabe tão pouco...”
“-Ela já te ajudou suturando vários ferimentos à bala e até ja te ajudou numa cirurgia plástica. Não subestime a menina, senhora Caetano Falcão.”-Me falou subindo na cama, engatinhando pra cima de mim.
“-Sim, nisso ela é muito competente para a idade dela, mas em outras coisas...ela ainda é...ainda é ingênua como eu era.”-Vitória subia deixando um rastro de beijos quentes em minhas pernas e retirando meu vestido. Decidi acabar com o assunto por que Vitória não estava querendo conversar. Ela subiu seus beijos pelo meu tronco e fez uma parada entre o vale dos meus seios. Se demorou por ali, me torturando com as lambidas e chupões que deixava em cada um de meus seios. Eu já estava totalmente entregue quando ouvimos uma batida na porta:
“-Que- quem é?”-Perguntei com a voz um pouco rouca.
“-Eu, mainha. A senhora prometeu me ajudar com a minha redação.”-Arthur falou.
“-Eu...eu te ajudo amanhã, filho...estamos cansadas. Amanhã te acordo mais cedo e antes de tu ir para escola a gente faz, tá bem?”-Falei sentindo Vitória esfregar seu joelho em minha intimidade enquanto atacava meu pescoço. Ainda bem que trancamos a porta.
“-Tudo bem...”-Ele concordou mas não parecia muito satisfeito.
“-Boa noite, filho.”-Vitória falou alto para que ele ouvisse.
“-Boa noite, mãe.”
Vitória sorriu para mim enquanto descia sua mão até minha intimidade úmida:
“-Tu parece muito satisfeita contigo mesma...”-Falei com a voz sôfrega.
“-Quando uma das crianças chama e tu não sai correndo eu sei que prendi tua atenção.”-Ela terminou de falar e me deu um beijo nada delicado, chupando minha língua, mordendo meu lábio inferior e brincando com seus dedos em meu clitóris:
“-Vitória, eu te quero em mim...”-Ela não me respondeu com palavras. Voltou a me beijar com vontade, atacando meus lábios me deixando sem ar enquanto massageava lentamente minha intimidade. Percorri minhas mãos por suas costas, descendo até sua lombar, apertando seus glúteos e trazendo-a para mais junto de mim, se é que isso era possível. Ela parou de massagear meu ponto íntimo e se encaixou entre minhas pernas. Senti sua intimidade completamente molhada. Estava assim só de me tocar:
“-Ana, tu é tão gostosa...”-Me disse descendo os beijos por meu pescoço e esfregando sua intimidade na minha. Movimentei meu quadril, me esfregando nela também. O quarto ficou quente, muito quente. Em um movimento brusco, ela me levantou do colchão, me colocando sentada em seu colo. Ajeitou nossas pernas, encaixando ainda mais nossas intimidades, quase se fundindo em mim.
“-Amor...isso é muito bom...”-Minha vontade era gritar a plenos pulmões mas acordaria a casa toda. Enfiei meus dedos em seus cabelos e puxei de leve para colar minha boca em seu pescoço para abafar meus gemidos.
“-Goza pra mim, vida...”-Ela falou com o tom de voz mais rouco ainda. “-Te derrama em mim..”-Não aguentei e gozei forte, praticamente ejaculando dentro dela. Ela gozou logo depois de mim. Caí deitada no colchão, recuperando o fôlego. Ela deitou ao meu lado, se aninhando em mim e perguntou: “-Esquentou os pés, Ana?”-Deu aquela risada gostosa e eu tive que rir junto.
No outro dia, mais cedo que o habitual, uma batida na porta do nosso quarto, me acordou:
“-Mainha, a senhora disse que ia me ajudar. Já está quase na hora da escola.”-Ouvi Arthur dizer agoniado do outro lado da porta.
“-Santo Rei Poderoso! Dormi demais!”-Retirei a coberta de cima de mim e estava me levantando quando fui puxada e caí deitada novamente na cama:
“-Que pressa é essa? Cadê meu beijo de bom dia?”-Vitória me atacou subitamente, me beijando e subindo em mim.
“-Eita que essa mulher já acorda cheia de fogo.”-Falei baixinho pro pequeno não me ouvir. “-Vitória, a gente tem que levantar. Estamos atrasadas.”-Falei empurrando-a e tentando sair debaixo dela.
“-De noite tu me paga, NaClara...”-Mordeu meu pescoço e me deixou sair.
Ajudei o pequeno com a redação enquanto Vitória preparava nosso café. Agnes já estava sentada à mesa, lendo um livro sobre o Império Romano. Disse que teria uma prova durante a semana.
“-Agnes, tu não precisou fazer redação?”-Perguntei a ela que me servia uma xícara de café.
“-Sim. Já fiz.”
“-Posso ver?”-Ela abriu sua pasta e me entregou a redação. “-Hum..está muito bom.”-Elogiei.
“-Obrigada.”-Agradeceu me dando um pequeno sorriso.
“-Mas acho que tu poderia deixar tuas opiniões mais claras. Sobre o tema proposto, não ficou claro se te inspira, te enfurece ou te deixa completamente deslocada.” -Observei.
“-Não tenho que dizer isso, a professora não pediu.”-Ela já foi fechando seus livros e guardando seu material.
“-Mas a redação ficaria mais forte.”-Sugeri.
“-Vou entregar assim mesmo.”-Entreguei a ela os papéis.
Depois de terminarmos nossa rotina matinal, Vitória levou Agnes e Arthur para a escola e Deixaria Maria na casa do Reverendo Simas para brincar com Theo. Peguei minha maleta e fui para meu consultório.
A manhã passou calma e hoje era um dia que Agnes me ajudaria na clínica pois eu havia recebido algumas caixas com medicamentos. Eu já estava catalogando os frascos quando ela chegou:
“-Dra. Caetano?”-Chegou devagar ao meu lado.
“-Agnes, que bom que tu chegou. Eu tenho uma caixa de medicamentos pra mandar lá pra Pedra da Lua. Tu pode levar pra mim?”
“-Ah, na verdade eu tenho essa prova de história e uma colega me perguntou se eu posso ajudá-la com os estudos...Eu posso ir estudar na casa dela?”-Quis saber.
“-Que colega?”-Perguntei.
“-Rebeca. A senhora conhece. Ela já foi lá em casa.”-Rebeca é uma boa moça. É amiga de Agnes desde que ela começou a frequentar a escola.
“-Claro que pode ir, Agnes, mas volte para o jantar.”-Deixei um beijo na testa da minha mais velha que saiu satisfeita.
Fiquei mais um tempo catalogando os remédios e ao terminar, fui procurar por Vitória para levar os medicamentos até Pedra da Lua:
“-Jeff, você viu Vitória?”-Perguntei ao chegar no armazém.
“-Ela estava no estábulo conversando com Lucas.”-Jeff me respondeu varrendo a frente do mercado.
Fui andando até lá e cruzei com Rebeca:
“-Boa tarde, Dra. Caetano. Agnes está na clínica?”-Me perguntou sorridente.
“-Na verdade ela disse que ia estudar contigo...na tua casa.”-Falei desconfiada.
“-Aé?! Eu esqueci...ela...ela provavelmente foi lá pra casa..com licença...eu preciso...ir para casa.”-Saiu correndo e achei a atitude um tanto suspeita. Mas por hora, decidi dar um voto de confiança à Agnes.
Acenei para Vitória que estava do outro lado da rua. Quando ela me viu, veio correndo:
“-Roi, NaClara!”-Chegou me abraçando e me beijando assim, no meio da rua.
“-Vitória, não fazem nem quatro horas que a gente se viu e tu já tá com saudades?”-Falei roçando meu nariz em sua bochecha.
“-Lógico! Por mim, a gente não tinha saído da cama hoje.”-Dei um tapinha no braço dela que riu.
“-Vi, preciso que tu leve uns medicamentos pra Nayara, lá em Pedra da Lua.”
“-Tá, vou carregar a carroça. Ah, já ia esquecendo, eu preciso que tu venha comigo até em casa. Quero te mostrar uma coisa e depois eu vou levar os remédios.”-Fiquei curiosa pra saber o que era mas Vitória não quis me falar.
Chegamos em casa e ela me puxou pela mão até a sala:
“-O que tu queria me mostrar, amor?”-Perguntei sem perceber nada de diferente na casa.
“-Óia, tá escutando? Não tem ninguém pra bater na porta do nosso quarto...estamos à sós.”-Falou já desabotoando minha blusa.
“-Vitória, eu não acredito que tu me trouxe porque quer...”-Ela nunca me deixa terminar as frases. Me deitou no chão e me beijou devagar. Um beijo lento e apaixonado.
Por sorte ainda estávamos vestidas quando a porta da frente se abriu e arthur entrou todo molhado e chorando:
“-Arthur, o que aconteceu contigo, filho?”-Me levantei rapidamente, abotoando minha blusa e indo em direção ao pequeno. “-Por que tu tá todo molhado? O que houve?”-Fiquei desesperada. Vitória ajudava o pequeno a tirar suas roupas molhadas.
“-Mainha, eu não tive culpa, eles me jogaram no riacho...”-Falou soluçando: ”-Eu não sabia que eles iam lá para o riacho ver as meninas tomando banho...eu disse que era errado e briguei com eles. Eles me jogaram no rio.”-O pequeno falou esfregando os olhos para que não víssemos suas lágrimas.
“-Quem fez isso, filho? Mas eu vou lá agora falar com os pais desses moleques...”-Vitória levantou raivosa mas o pequeno interferiu:
“-Deixa, mãe, eu não vou mais andar com eles.”-Vitória abraçou o pequeno levando-o até o banho.
Fui para o fogão preparar uma sopa quente para ele e Vitória chegou do meu lado:
“-Ninha, deixei Arthur tomando banho e vou lá pra Pedra da Lua levar os remédios. Vou sair pra areijar a cabeça antes que eu faça uma besteira.”-Passou a mão pelos cabelos.
“-Vai, vida. Eu vou conversar com ele depois que der a sopa.”
“-Tá. Tu busca Maria depois?”-Perguntou vestindo seu poncho.
“-Busco.”-Deixei um beijo em seus lábios e a acompanhei até a porta.
Mais tarde, Arthur já de banho tomado e alimentado, quis deitar um pouco. Ele me pediu para ler uma história. Peguei o livro “Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.” Ele ficou encantado por ter um livro com seu nome.
Li alguns capítulos para ele que parecia mais calmo agora:
“-Filho, tu quer me contar de novo o que aconteceu?”-Perguntei fechando o livro. Ele respirou fundo e falou:
“-Nós saímos da escola e alguns colegas me perguntaram se eu queria ir junto com eles caçar sapos lá na beira do riacho. A gente ia fazer uma corrida de sapos amanhã. Quando chegamos no rio, vimos algumas meninas de Corre Ventos tomando banho no rio. Mainha, elas estavam nuas. Eu disse pra eles que era errado espiar as meninas. Eles me ignoraram e iam entrar no rio. Eu puxei o braço de um deles e ele me empurrou. Eu empurrei ele de volta e logo estávamos rolando no chão. Eu senti um dos meninos mais velhos me puxar pela camisa e me jogar no rio.”-Ele parou de falar por um momento e suspirou: “-Gabrielle estava no rio. Acho que ela me viu... Que vergonha, mainha...”-O pequeno colocou suas mãos nos olhos.
“-Ô, filho, não fica assim...tenho certeza que a Gabi sabe que tu não tava espiando. Vocês se conhecem desde crianças. E eu tô muito orgulhosa que tu defendeu tuas amigas.”-Gabrielle é a filha de Bárbara e Flávia e é dois anos e meio mais velha que Arthur. Ela está com quase quinze anos agora e é uma índia belíssima. Será que eu preciso me preocupar?
Fiquei fazendo carinho nos longos cabelos de meu pequeno, que já estavam pelo meio de suas costas, até que ele adormeceu.
Fui buscar Maria e quando cheguei, Vitória também havia voltado. Já era hora do jantar e Agnes ainda não tinha voltado para casa. Uma hora depois, Vitória foi colcocar Maria para dormir e minha filha chegou:
“-Isso são horas, senhorita?”-Perguntei enquanto lia meu livro de Anatomia.
“-Eu tava estudan...”-Nem deixei ela terminar.
“-Pensa bem no que tu vai falar, Agnes. Eu encontrei Rebeca na vila hoje de tarde. Onde tu tava? Com quem?”-Levantei meus olhos para encarar dentro dos seus.
“-Eu preciso de um pouco de privacidade também. A senhora não confia em mim, Dra. Caetano?”-Sempre que ela estava braba com alguma coisa, me chamava pelo nome.
“-Eu gostaria muito de confiar, senhorita Caetano Falcão, mas tu mentiu pra mim hoje.”-Falei um pouco mais austera.
“-Eu ia estudar...mas encontrei algumas amazonas e fomos para o riacho.”-Olhei no fundo de seus olhos e dessa vez vi verdade neles.
“-Agnes, eu não me importo que tu vá, mas não quero que minta pra mim. Vai tomar teu banho pra jantar.
“-Licença.”-Saiu com a cabeça baixa para o banheiro.
Aquela noite fui dormir com dor de cabeça.
No dia seguinte, tomávamos nosso café e puxei o assunto:
“-A professora entregou a nota da redação, Arthur?”
“-Sim. Eu tirei nove. Fui muito bem mas Agnes foi ainda melhor. Ela tirou a nota máxima na classe dela.”-Falou orgulhoso.
“-Parabéns aos dois. Estou orgulhosa de vocês.”-Falei bastante contente.
“-Foi aquela redação que tu disse que não tava boa.”-Ela disse lendo um livro de gramática.
“-Eu não disse que não tava boa, só que poderia ter feito melhor.”-Argumentei.
“-A professora me deu dez.”-Falou bebendo seu café.
“-Quando eu trabalho duro e dou meu melhor isso é mais importante que qualquer nota, Agnes.”-Tentei explicar meu ponto de vista à ela.
“-Pra ti talvez funcione assim, mas eu não sou você. Eu nem sempre quero trabalhar mais duro que os outros. Às vezes eu só quero terminar as tarefas e sair com meus amigos.”-Terminou seu café e levantou-se da mesa. “-Vamos, Arthur, ou a gente vai se atrasar.”
“-Tchau, mãe!”-O pequeno deixou um beijo em Vitória. “-Tchau, mainha.”-Deixou um beijo em meu rosto.”-Eles foram com Ventania pois Agnes teria treino em Corre Ventos depois da escola.
“-Tchau!”-Respondemos em uníssono.
Esperei que eles fechassem a porta e desabafei:
“-Parece que eu não digo nada certo. Eu só queria motivá-la pra mostrar seu talento.”-Falei colocando minhas mãos no rosto.
“-Ninha, tu tá certa em querer que ela se esforce.”-Vitória disse acariciando meus cabelos.
“-Mas ela sempre se volta contra mim. O que eu fiz de errado?”
“-Nada, tu não fez nada errado. Ela tá saindo da nossa sombra, Ninha. E é uma sombra bem grande.”
“-Eu não estou ciente de que ela esteja na minha sombra...”-Falei tentando entender a explicação de minha esposa.
“-Ela está na nossa sombra, Ninha, só por ser nossa filha.”-Vitória me disse algo que eu estava evitando pensar: que nossos filhos estão crescendo e saindo debaixo de nossas asas. Não pude deixar de ficar um pouco triste com essa constatação.
Terminei meu café com Vitória e fui para clínica. Maro tinha consulta marcada comigo hoje. Logo, logo seu bebê estaria chegando:
“-Maro, seu bebê está ótimo. Ele ou ela estará aqui à qualquer momento.”-Falei examinando sua barriga.
“-Ah, Dra. Caetano, que notícia maravilhosa. Não aguento mais os enjôos, as dores nas costas e nas pernas, fora que não tenho mais posição pra dormir.”-Rimos juntas.
“-Tu vai ser uma ótima mãe, Maro, tenho certeza que Vítor tá muito feliz também.”-Falei enquanto preparava um creme à base de mentol para ela levar. “-Maro, esse creme é pra Vítor passar nas tuas pernas. Peça pra ele massageá-las antes de dormir para que tu consiga descansar.”
“-Obrigada, Dra. Caetano.”-Agradeceu pegando o creme. “-E Agnes? Não vem hoje lhe ajudar?”
“-Agnes tá numa fase complicada.”-Falei para ela um pouco resentida.
“-Ela está tão crescida e tão bonita. Já vi algumas meninas do Saloon suspirando e se abanando com seus leques quando ela passa. Os rapazes também estão de olho nela.”-Maro falou num tom divertido.
“-Tá difícil conversar com ela sabe, Maro. Tenho medo que ela esteja se afastando de mim...”-Interrompi a conversa quando ví minha filha chegar.
“-Oi, Agnes! Falávamos em ti agorinha. Tava falando pra tua mãe que tu tá muito linda e crescida.”-Maro falou abraçando Agnes.
“-Obrigada, tia Maro.”-Ela agradeceu educadamente.
“-Bom, vou pra minha casa colocar minhas pernas para cima. Obrigada novamente, Dra. Caetano.”-Acenei com a cabeça e Maro deixou a clínica.
“-Mãe, posso falar contigo?”-Agnes me disse num tom sério.
“-Claro, filha, senta aqui.”- Puxei uma cadeira do meu lado.
“-Mãe, já faz um tempo que eu ando pensando e acho que me decidi. A escola está terminando e...”-Ela ponderou por um momento.
“-E?”-Fiz sinal para que ela continuasse.
“-Eu não quero ir para escola de Medicina...”-Falou cabisbaixa.
“-Não quer? Por que?”-Confesso que fiquei um pouco abalada. Eu queria muito que ela se formasse e atendesse junto à mim. Mas acho que esse sonho era só meu...
“-Eu quero fazer algo só meu. Quero descobrir em quê eu sou boa. Quero fazer minhas escolhas, mãe. A senhora me ensinou a pensar e me fez querer ser alguém. Alguém que faz algo pela sociedade mas eu preciso descobrir em quê eu me encaixo. Quero fazer parte de algo meu. Sinto muito orgulho de ser sua filha e de Vitória, mas não quero ser só isso. Quero ser Agnes Caetano Falcão e não somente a filha da Dra. Caetano. A senhora me entende, mãe?”-Ela falava com um brilho intenso no olhar, segurando minhas mãos.
“-Entendo, filha. Tu pode ser qualquer coisa que tu quiser, mas me deixa andar contigo nessa caminhada de descobrimento?”-Ela sorriu para mim.
“-Só vou conseguir me encontrar se vocês estiverem comigo.”-Minha filha levantou e sentou em meu colo, me abraçando. Fiquei um tempo acariciando os cachos de minha filha e ela falou:”-Só espero que a mãe seja assim tão compreensiva como tu foi, quando eu disser pra ela que não vou prestar a prova pra entrar pra Tropa.”-Soltei uma gargalhada e falei:
“-Ela vai ficar uma fera mas deixa que eu me entendo com ela.”
“-Ah, mainha, por falar na mãe, que história é essa que tu roubou Vitória de Tâmara?”-Minha filha me olhava curiosa para que eu começasse a contar a história.
“-Não roubei nada. Eu ganhei numa luta justa. Quem te falou isso?”
“-Tâmara. Ela tava lá em Corre Ventos conversando com a vó Isabel e me viu treinando. Ela disse que eu fiz um movimento pra derrubar minha colega, igual ao movimento que tu fez pra derrubar ela. Mas ela não contou toda a história. Conta, mainha?!”-Me pediu com o olhar pidão igual de Arthur.
“-Bom, isso já faz bastante tempo. Foi quando eu fui fazer um atendimento de urgência em Corre ventos. Tua prima, Sabrina, estava com apendicite e...”-Contei toda nossa história de como começamos a namorar de fato, mas omiti alguns ‘detalhes’por assim dizer.
A tarde passou tranquilamente. O sol já estava se pondo quando Agnes se levantou para ir:
“-Mainha, eu vou ajudar Manoela a montar uma mesa ali para a Gazeta. Ela me pediu mais cedo, mas só podia esse horário. Eu peço pra ela me levar em casa depois. Pode ir com Ventania.”-Dei um beijo em minha filha e lhe abençoei.
Cheguei mais cedo que o normal. Maria brincava com seus bloquinhos de madeira no chão da sala e Vitória já estava nas panelas:
“-Ninha, me ajuda aqui. Descasca essas batatas pra mim?”-Me passou uma tijela cheia.
“-Nossa, Vi, pra quê tanta comida? Vem visita?”-Peguei uma faca e comecei descascando.
“-Num é bem visita. Passei em Corre Ventos hoje e conversei com Flávia e Bárbara. Elas disseram que Gabrielle queria ver Arthur. Ela disse que ele iria lá hoje mas nem apareceu. Ela acha que foi por causa do incidente no riacho.”-Vitória falava enquanto colocava o feijão para cozinhar.
“-Tomara que eles conversem mesmo. Artur tá todo triste e não sai daquele quarto.”-Falei preocupada.
Sentei-me no tapete, com a tijela de batatas, e fiquei observando Maria brincar com seus bloquinhos de montar de madeira. Vitória fez esses bloquinhos que se encaixam e a pequena adora montar suas casinhas com eles. Recentemente comecei a fazer um estudo científico sobre os benefícios desses brinquedos que estimulam a coordenação motora e cognição das crianças com menos de cinco anos. Maria está com o raciocínio lógico bem desenvolvido desde que começou a brincar com esses cubos de montar:
“-Olha, mainha! Malia fez a nossa casinha!”
“-Tô vendo, filha! Tá linda essa nossa casinha.”-Elogiei afagando seus cachinhos.
“-Malia chamou Tutu pra brincar. Tutu não quis brincar comigo...”-A pequena falou triste.
“-E eu posso brincar contigo? Daqui à pouco Tutu vem brincar. Ele tá meio tristinho agora.”-Falei começando a montar os bloquinhos.
“-Eba! Vamo fazê uma casa bem gandona, mamãe?”-Os olhos de Maria pareciam dois faróis de tanto que brilhavam.
“-Vamos! Bem grandona!”
Ficamos mais um tempo conversando e brincando com Maria até que ouvimos batidas na porta. Era Bárbara e família:
“-Oi, gente! Entrem e vamos lá pra cozinha. Vitória tá lá nas panelas.”-Nos cumprimentamos e puxei Gabrielle de canto para conversar: “-Gabi, me conta o que aconteceu lá no riacho ontem.”-A bela amazona começou:
“-Tia Ana, não é a primeira vez que aqueles moleques vão lá nos perturbar mas Arthur nunca havia ido antes com eles. Eu achei estranho e fiquei observando o tempo todo. Arthur brigou com eles quando descobriu que estavam lá para nos espiar tomando banho. Mas a coisa ficou feia mesmo quando um dos rapazes começou a tirar a camisa para entrar na água. Tutu puxou ele pelo braço e o garoto o empurrou. Eu não sei como, mas ele derrubou o garoto que era maior que ele e começou a socá-lo. Precisou três garotos para tirar Arthur de cima do moleque. Daí jogaram ele no rio e fugiram. Eu quis falar com Arthur e ver se ele tava bem mas ele correu quando me viu. Ele não foi brincar comigo hoje e fiquei preocupada. Ele tá machucado, tia?”-Ela despejou toda essa informação e eu só não conseguia acreditar que Arthur, um menino tão quieto, bateu em alguém. Águas calmas podem ser profundas.
“-Ele não tá machucado não, Gabi. Mas acho que tá com vergonha por que tu tava lá.”-Nesse instante, Arthur saiu do quarto abraçado em seu caderno de desenho. Cumprimentou Bárbara e Flávia e foi sentar-se no tapete, perto de Maria.
Gabi parou de falar comigo e foi conversar com o pequeno. Ela calmamente, sentou-se atrás dele, com perninhas de índio e começou a pentear os cabelos de Arthur com seus dedos. Ele continuava desenhando em seu caderno enquanto ela começava a trançar seu cabelo. Era como se fosse um ritual deles. Ela chegou um pouco mais perto dele para ver o que estava desenhando:
“-Que lindo, Tutu! É aquele pássaro que a gente viu aquele dia perto da montanha?”-Ele acenou que sim com a cabeça. “-Eu acho que o bico dele era mais fino.”-Gabi comentou. Arthur pegou a borracha, apagou e voltou a desenhar. Ergueu suas costas e se jogou para trás, apoiando-se no peito da amazona, mostrando para ela o desenho novamente. “-Agora sim tá igual, Tutu.”-Ele sorriu para ela e voltou a desenhar. Eles ficaram assim até a hora que chamamos para jantar.
Após o jantar, Bárbara foi brincar um pouco com Maria enquanto Vitória conversava com Flávia sobre a situação em Pedra da Lua. Eu fui lavar a louça e, de canto de olho, observava Gabrielle e Arthur. O pequeno desenhava sobre a mesa e Gabi, apoiada em uma de suas mãos, observava o pequeno. Tenho quase certeza que a cara dela tá igual a minha quando olho pra Vitória. Mas logo espantei esses pensamentos da minha cabeça. São duas crianças.
Terminei a louça e Bárbara e Flávia vieram se despedir. Arthur veio correndo e abraçou minha cintura:
“-Mãe, eu posso ir dormir na casa da Gabi hoje? Ela disse que hoje é lua cheia e flor que ela plantou vai abrir daqui à pouco, a Bela da Noite. Eu quero ver...deixa, mainha?”-Ele falou animado e com os olhinhos pidões.
“-É Dama da Noite, Tutu.”-Gabrielle o corrigiu colocando as mãos sobre os ombros dele.
“-Vitória, esse rapaz aqui quer dormir fora hoje. O que tu acha?”-Joguei pra cima da minha esposa.
“-Acho que tudo bem porque amanhã é sábado e não tem escola. E tu? O que tu acha?”-Me devolveu a bronca.
“-Acho que tu tem que levar uma roupinha pra dormir e tua escova de dente. E amanhã quero o senhor aqui antes do almoço. Tem alguém de aniversário amanhã. Gabi, tu venha também almoçar conosco. Agora vá lá arrumar tuas coisas que Flávia e Bárbara já tão indo ”-Ele partiu correndo feito um raio com Gabi atrás dele.
Nos despedimos deles e quando Arthur estava distraído, arrumando suas coisas na charrete, puxei Gabrielle de lado:
“-Gabi, olha..Arthur é muito sensível e meio distraído então...cuida do meu menino. Não deixa ele se machucar.”-Senti que precisava falar naquela hora.
“-Pode deixar, tia Ana, ele vai ficar seguro comigo.”-Gabi provavelmente não entendeu meu pedido mas mesmo assim, fiquel com o coração mais tranquilo.
Fiquei abraçada com Vitória, no batente da porta, observando a carroça de Flávia sumir. A lua estava belíssima, bem cheia e iluminava bem o caminho. Agnes chegou poucos minutos depois que as visitas haviam partido.
Vitória’s PoV:
Ana Clara estava muito sentimental com alguma coisa que não percebi. Ela me abraçou tão forte e vez em quando suspirava contra meu peito. Deixei que ela o fizesse sem lhe perguntar nada, até que seu coração se aliviasse.
Só a carroça de Flávia partiu, Manoela chegou trazendo Agnes. Manoela nos cumprimentou e não quis descer. Agradeceu a ajuda de Agnes e voltou para vila.
“-Filha, vai tomar teu banho que vou esquentar a janta pra ti.”-Ana foi colocar Maria na cama, que já estava passando da hora, enquanto Agnes entrava para o banho.
Ouvi batidas apressadas na porta. Achei que fosse Flávia ou Bárbara esquecendo algo mas não era.
“-Boa noite. Por favor, a Dra. Caetano está?”-Um rapaz torcia seu chapéu, angustiado. Ana Clara saiu do quarto assim que ouviu seu nome.
“-Boa noite, eu sou a Dra. Caetano.”
“-Doutora, por favor, minha mulher entrou em trabalho de parto. Nenhuma parteira quer atendê-la.”-As lágrimas corriam livres pelo rosto do rapaz.
“-Vou buscar minha maleta e já vamos.”-Ana Clara pegou suas coisas me deu um beijo e saiu à galope em Ventania, seguida pelo rapaz.
Agnes saiu do banho e perguntou pela mãe:
“-Ué? Cadê mainha?”-Se sentou comendo uma batata cozida.
“-Acabou de sair correndo pra fazer um parto. A lua virou e deve ter um monte de grávida dando à luz hoje.”- Que boca a minha. Nem cinco minutos que Ana Clara havia saído, bate Vítor em nossa porta, desesperado:
“-Vitória, por favor me ajude! Dra. Caetano precisa atender Maro! A bolsa estourou! Ela está gritando de dor e...”-Interrompi.
“-Calma, Vítor! Ana Clara foi fazer um parto agorinha. Agnes e eu vamos te ajudar.”-Deixei um bilhete para Ana, em cima da mesa, peguei Maria ainda dormindo enquanto Agnes se trocava para irmos.
Chegamos na clínica e Maro estava sentada no banco de espera, gemendo e chorando de dor:
“-Vítor, me ajuda a levar Maro pra dentro.”-Apoiamos Maro em nossos ombros e a levamos para dentro. Agnes colocou Maria em um dos quartos mais ao fundo para que ela não se assustasse com os gritos.
Enquanto Vítor tentava acalmar a esposa, Agnes desinfetava as mãos e os instrumentos:
“-Eu queria mainha aqui. Eu não sei se posso fazer isso sozinha, Vitória...e se der algo errado?”-Minha filha estava muito nervosa e insegura.
“-Tu já ajudou Ninha em vários partos, Agnes. Fica tranquila. Tu não tá sozinha. Eu vou te ajudar no que eu puder. Tu pode fazer isso, filha, eu sei que tu consegue.”-peguei em suas mãos e tentei tranquilizá-la.
“-Obrigada, mãe.”-Minha filha sorriu agradecendo.
Maro deu um grito de dor, nos tirando da nossa bolha e nos fazendo começar os procedimentos:
Eu secava a testa de Maro, que suava muito devido ao esforço que fazia e Agnes, posicionada aos pés da maca, examinava a gestante:
“-Tu tá indo muito bem, tia Maro. Continua empurrando.”
“-Eu me sinto tão cansada, Agnes...sinto que não consigo...”-Agnes olhava no relógio o tempo de cada contração.
“-Por que demora tanto?”-Vítor perguntava nervoso.
“-Isso demora mesmo, Vítor, e pode demorar a noite toda. Vá caminhar um pouco ali na rua, vá!”- Levei ele pra fora do consultório: “-Quando o bebê nascer, eu te chamo.”-Fechei a porta e ele ficou reclamando lá na rua.
O dia já estava clareando e nada do bebê nascer:
“-Agnes, tu não acha que tá demorando demais?”-Perguntei um pouco preocupada. Agnes lia alguma coisa em um dos livros de Ninha.
“-Dra. Caetano me ensinou a fazer o parto indo ao útero através do ventre. Mas tenho que abrí-la.”-Falou com uma ruga na testa. Ela estava muito insegura.
“-Agnes, faça o que tiver que ser feito. Maro está sofrendo demais. A criança vai passar do tempo. Tu pode fazer isso, filha.”-Ela respirou fundo e pegou o bisturi.
Mais alguns minutos e Maro deu à luz à uma menina linda, medindo cinquenta centímetros e pesando quatro quilos e meio. Agnes cortou o cordão umbilical e me passou o bebê para que a limpasse e fizesse a ficha do nascimento enquanto ela retirava a placenta e suturava Maro que dormiu de tão exausta.
Fui até a porta e chamei Vítor para entrar e segurar sua filha. Ele chorava igual a bebê.
Agnes terminou os procedimentos Vítor lhe agradeceu com um abraço forte. Fiquei embalando a pequena enquanto Vítor, deitou-se ao lado de sua esposa e lhe agradecia pela família que estavam formando.
Agnes sentou em uma cadeira e adormeceu, cedendo ao cansaço. Vítor adormeceu ao lado de Maro e eu continuei de pé, embalando a recém nascida, lembrando de quando Ninha chegou na cidade e a ajudei no parto de Isadora. Tantas boas recordações.
Logo, ouvi a porta da clínica se abrindo. Era Ninha. Me viu com a neném no colo e abriu um sorrisão que disfarçou um pouco sua cara de cansada:
“-Meu Deus, mas todo mundo resolveu parir essa noite?”-Falou sussurando e pegando a bebê.
“-Sim. Agnes fez o parto. Ela foi fantástica, Ninha. Parecia tu operando.”-Ela sorriu mais ainda, deixando uma lágrima escapar de seu olho. Ela foi até nossa filha, que dormia serenamente, deixando um beijo na testa da menina e disse: “-Feliz aniversário, filha.
Nota da Autora: Alguém por aqui ainda? Eita que foi quase uma história inteira. Escrevi esse capítulo pra aliviar um pouco a pressão do capítulo anterior kkkk Até sábado que vem ;)
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Dra. Caetano
FanfictionNo ano de 1867, Ana Clara Caetano retorna à cidade onde nasceu, Northfolk, para trabalhar como médica numa vila rural onde cresceu. Uma das poucas médicas num mundo de médicos, ela mostra-se uma mulher à frente de seu tempo, não só por suas atitudes...