Estrela de Lata

211 19 7
                                    

A ferrovia funcionava à todo vapor e com o trem chegando até Northfolk, o fluxo de pessoas transitando na cidade triplicou. O comércio estava bastante animado com o crescimento das vendas porém não foi somente o consumo que aumentou.
Naquele dia de manhã cedo,Vitória, Agnes e eu fomos até o telégrafo buscar minha encomenda :
“-Bom dia, Vítor. Meus livros chegaram?”-Perguntei.
“-Desculpe, Dra. Caetano, não sei como isso foi acontecer...”-Vítor disse nervoso.
“-Isso o que?”-Vitória perguntou.
“-Eu perdi a mala do correio ontem.”
“-Tu deve ter colocado em outro lugar, Vítor.”-Tentei acalmá-lo.
“-Ou tu foi roubado.”-Guto veio até nós.
“-Mas por aqui não se rouba correspondência, Guto”-Minha filha falou.
“-Talvez não no passado, mas Northfolk agora tem três vezes mais pessoas do que antes.”-Guto tinha um ponto interessante.
“-Eu não tinha pensado nisso. Bem, eu posso colocar um cadeado na mala do correio.”-Vítor falou pensativo.
Enquanto conversávamos com Vítor, ouvimos uma conversa alta vindo do estábulo de Lucas. Corremos até lá:
“-Não vou pagar por isso.”-Um homem que discutia com Lucas, falou.
“-Eu fiz o que você me pediu!”-Lucas retrucava.
“-É melhor tomar cuidado”-Outro homem que estava junto, empurrou o ferreiro.
“-Qual o problema aqui?”-Vitória chegou empurrando um dos homens.
“-Esses vaqueiros não querem me pagar pelo conserto da sela que fiz.”-Lucas disse.
“-Pedi pra ele consertar meus estribos e não a sela.”-O vaqueiro falou.
“-Lucas é um homem de palavra. Qualquer um aqui pode confirmar isso.”-Intercedi por ele.
“-Eu digo que é um mentiroso.”-Um dos homens falou.
“-Vocês é que são mentirosos!”-Agnes se alterou e partiu para cima de um deles. Os outros dois homens puxaram suas armas.
“-Ela não está armada!”-Falei me colocando na frente de agnes.
“-Deveria estar”-O homem falou apontando a arma para nós.
“-Ali atrás é o escritório do xerife. Não quer vir até aqui resolver isso, xerife?”-Vitória gritou.
“-Por favor, paguem o que devem à Lucas e vão embora.”-Falei com as mãos para o alto.
“-Parece que o xerife não está por aqui.”-O vaqueiro falou num tom irônico. Eles colocaram suas armas na cintura, montaram em seus cavalos e partiram sem pagar pelo serviço.
“-O xerife não está aqui porque não temos um.”-Lucas falava revoltado.
“-Talvez seja a hora de pensarmos em ter um xerife.”-Vitória pontuou.
Conversávamos com Lucas quando ouvimos tiros vindo do Sallon:
“-Ei! Estou sendo roubado! Segurem eles!”-Tiago gritava correndo atrás de dois homens que dispararam a galope em seus cavalos.
“-De novo não!”-Exclamei colocando as mãos na cabeça.
Guto, Tiago e Jeff sairam correndo e atirando contra os bandidos. Agnes iria atrás deles mas Vitória a segurou para que ela não fosse.
“-Nós poderíamos ter ido atrás deles, mãe.”-Agnes argumentou.
“-Não era da nossa conta, Agnes.”-Vitória falou.
“-Não deveríamos deixá-los fugir só por que o sallon não é nosso.”-Agnes disse.
“-Eu não disse isso. Não fomos porque não é responsabilidade nossa. Vítor já telegrafou para o delegado de Westfolk.”
“-E o que fazemos até ele chegar? Deixamos que roubem a cidade toda?”-Agnes falou revoltada.
“-Até ele chegar Guto, Tiago e Jeff vão sair por aí atirando em qualquer um. E eu não acho que tu gostaria de estar junto.”-Disse minha esposa.
“-Precisamos de alguém que possa fazer as leis do território serem obedecidas.”-Falei no momento em que Guto chegou até nós, todo suado e ofegante por correr atrás dos fora da lei:
“-Dra. Caetano, precisamos da senhora na clínica. Acertamos um dos homens e Tiago levou –o para seu consultório.”-Guto terminou de falar e Agnes já se preparava para ir comigo.
“-Filha, por favor, vá pra casa e fique com Arthur e Maria. Não sei que horas vou terminar e eles já ficaram muito tempo sozinhos. Maria deve tá deixando Arthur de cabelo em pé.”-Deixei um beijo em minha filha que foi embora contrariada.
Chegando na clínica, rapidamente acomodamos o fora da lei em uma maca e logo comecei o procedimento para extração da bala.
“-Tiago, pode guardar tua arma. Ele não vai sair daqui.”-Falei enquanto suturava a perna do homem.
“-Com certeza não vai á lugar nenhum. Ele é meu prisioneiro.”-Tiago falava girando sua arma.
“-O delegado vai cuidar dele quando chegar.”-Falei.
“-Nós mesmos podemos cuidar dele.”-Tiago falou.
“-Tu não tem autoridade pra isso, Tiago.”-Vitória disse.
“-Não preciso de autoridade. Ele me roubou e será enforcado.”-Ele retrucou.
“-Se quer enforcá-lo, por que o trouxe pra cá? Por que não o deixou morrer?”-Perguntei.
“-Porque há um jeito certo e o jeito errado.”
“-Sim. E por isso esse homem deve ter um julgamento.”
“-Isso nós veremos.”-Tiago falou irônicamente.
Enquanto eu terminava de fechar o ferimento, Vitória foi para casa começar o almoço e mandaria Agnes vir me buscar.
Uma hora depois, eu já havia acabado. Tiago levou o bandido para deixá-lo preso na delegacia e Agnes veio me buscar:
“-Mãe, passei no telégrafo e Vítor te mandou essa correspondência.”-Ela me entregou o envelope.
“-Ah, não..é do delegado de Westfolk..aqui diz que ele vai demorar um mês para chegar.”-Era  o que o conteúdo da carta dizia.
“-Um mês? O que vamos fazer com o cara que roubou o sallon?”-Agnes perguntou enquanto fechava a clínica.
“-Ué? Vamos detê-lo até o delegado chegar.”-Caminhávamos pela rua em direção ao armazém do Jeff.
“-E como vamos saber se ele vem mesmo?”-Agnes perguntou abrindo a porta do mercado, quando um homem que saía correndo lá de dentro, esbarrou em mim, me derrubando no chão. Agnes pulou sobre ele e o rendeu.
“-Esse homem me roubou!”-Jeff saiu correndo do armazém.
Agnes se levantou, torcendo o braço do homem e levando-o consigo.
“-Tu tá bem mãe?”-Acenti com a cabeça, me levantando do chão. “-Eu não vou esperar por delegado nenhum. Essa cidade prescisa de um xerife pra vigiar a cadeia. E o xerife serei eu.”-Ela falou arrastando o homem pela rua em direção à cadeia.
Enquanto ela arrastava e o trancava na cela, uma multidão de pessoas curiosas, se reunia do lado de fora:
“-Tem certeza que tu quer fazer isso, Agnes?”-Pastor Simas perguntou assim que minha filha saiu de dentro da delegacia.
“-Tenho certeza.”-Afirmou.
“-Precisamos mesmo de um xerife.”-Guto concordou.
“-Eu pensei o mesmo.”-Disse Tiago chegando pelas costas de Agnes.
“-Bom, já que Agnes é a única voluntária, então eu acho...”-Pastor Simas foi interrompido por Tiago.
“-Não é, não. Também estou me oferecendo. Na verdade, eu sou o único com experiência aqui. Capturei Belle Star e esse outro cara que tentou me roubar. Eu tenho que ser o xerife, é lógico.”-Disse ele, fumando seu cigarro.
“-Nem todo mundo pensa assim, Tiago.”-Agnes falou olhando séria para ele.
“-Como tu vai resolver isso, prefeito?”-Manoela perguntou.
“-Farei uma eleição, é claro.Vamos deixar que as pessoas decidam.”-Disse Guto, bastante calmo.
Enquanto Guto acertava os detalhes da eleição, fui até a cadeia trocar os curativos do assaltante que havia sido baleado por Tiago. Agnes e Vitória me acompanharam até lá. Eu examinava o homem e elas conversavam:
“-Tu sabe o que significa ser um xerife, Agnes?”-Vitória indagava à nossa filha.
“-Significa manter as pessoas em segurança.”-Ela respondeu.
“-Significa portar uma arma todos os dias. Eu preciso te lembrar o que as armas já causaram em todos nós?”-Vitória falou séria.
“-Se tu tivesse armada, aqueles vaqueiros teriam atirado em ti.”-Falei saindo de dentro da cela. “-Tu nunca fez algo assim, Agnes. Tu não tá preparada.”-Falei e ela trancou a cela onde o homem estava preso.
“-Eu estou pronta, mãe. Vocês é que não estão prontas.”
“-Há outras coisas que tu pode fazer, Agnes.”-Vitória falou.
“-Coisas que não deixem vocês preocupadas comigo?”-Ela falou cruzando os braços em frente ao peito.
“-É errado eu odiar te ver andando por aí carregando uma arma.”-Confrontei-a.
“-Não. Também não gosto disso, mãe. Mas se todos que chegam na cidade portam uma arma, então é melhor eu portar uma também.”
“-Portar uma arma não te faz uma expert em usá-la, filha.”-Vitória falava com razão.
“-Escutem, antes tu disse que precisamos de alguém que faça as leis do território serem obedecidas. Eu quero ser essa pessoa.”-Agnes concluiu e saiu da delegacia nos deixando lá.
O homem que estava preso na cela, levantou-se, veio até as grades e falou:
“-Quer ser alguém, é?”-Ele riu com desdém. “-Essa garota de vocês que quer ser xerife não será ninguém. Meu pessoal vem me buscar.”-O homem disse com frieza, voltando para sua cama.
Vitória e eu não gostamos nada do que aquele homem dizia. Tentamos por tudo fazer com que Agnes desistisse da idéia mas a menina era teimosa igual as mães dela.
Guto havia marcado a eleição para o novo xerife para o dia seguinte. De manhã, bem cedo já o centro de Northfolk já estava agitado. Manoela já havia impresso a Gazeta e estava ditribuindo aos eleitores:
“-Você acha que Tiago será melhor xerife que eu, Manoela?”-Agnes perguntava com a Gazeta em suas mãos com a manchete que dizia: ‘ Notícias para a comunidade: Tiago para xerife’.
“-Agnes, sei que tu quer ajudar as pessoas mas sabe, pra ser xerife tu precisa ser mais   madura. Acho que tu seria uma ótima assistente.”-Manoela falou.
“-Manoela tem razão.Precisamos de um homem como Tiago para xerife.”-Jeff comentou.
“-Nós precisamos é de alguém como Agnes.”-Greice opinou.
“-Precisamos de uma pessoa adulta para o trabalho, Greice.”-Disse Tiago.
“-Eu sei. Por isso que vou votar em Agnes.”-A mulher disse e sorriu com ironia.
“-Pra ser xerife, precisa manter a cabeça no lugar. Quando os problemas começarem quero Agnes pra impedir que vire um caos.”-Lucas falou.
“-Alguns de vocês acham que eu não poderei dar conta por que me conhecem desde pequena. Só quero lembrar à vocês que eu não sou mais criança. Tiago só quer ser xerife para poder enforcar o cara que o roubou.”-Agnes falava encarando Manoela.
“-Nem é por isso. Quero ser xerife porque tenho um negócio em expansão e quero mantê-lo seguro, assim como os negócios de todos os outros, para continuarmos prosperando.”-Tiago fez seu discurso.
“-E tu, Agnes? Por que quer ser xerife?”-Guto indagou.
“-Por que prosperar é mais do que só fazer dinheiro. E ser xerife é mais do que só tomar conta dos comércios das pessoas. Quero cuidar de todos da cidade e não só de quem tem  mais dinheiro.”-Agnes acabou seu pequeno discurso aplaudida por muitos trabalhadores e deixando muitos ali, pensativos.
“-Bem, vamos começar a eleição.”-Guto falou pedindo à todos que se encaminhassem até a barbearia onde estavam as cédulas e a urna.
A eleição ocorreu tranquilamente e depois de três horas, Guto nos revelou o vencedor:
“-Já temos um novo xerife. Agnes Caetano Falcão.”-Guto falou e o povo, aplaudiu.
“-Quero uma recontagem.”-Tiago disse chegando próximo ao prefeito.
“-Eu sei contar, Tiago. Tu perdeu por mais de cinquênta votos.”-Guto disse entregando um coldre e uma arma para minha filha. Ela rapidamente colocou em sua cintura enquanto Guto lhe colocava uma estrela na lapela de seu casaco. Muitas pessoas foram cumprimentá-la por vencer. Quando todos haviam ido embora, fui até ela:
“-Parabéns.”-Falei com uma cara de poucos amigos.
“-Eu não espero que tu fique feliz com isso, mãe, mas espero que tu saiba que eu tô fazendo isso pelas razões certas.”-Agnes falou pegando em minhas mãos.
“-Eu nunca quero vê-la baleada, deitada na minha maca, dizendo que foi baleada pelas razões certas. Não há razões certas para ser baleada.”-Falei com meus olhos lacrimejando.
“-Então por que foi até Washita, quando tu sabia que o exército tinha ido pra lá e tu podia ter sido baleada?”-Agnes foi direto ao ponto.
“-Foi uma decisão imprudente...”-Falei direcionando meus olhos para o chão.
“-Não! Não foi! Tu fez aquilo por que acreditava que era o certo. E agora eu tô fazendo o mesmo.”-Agnes me puxou para um abraço. “-Tomara que eu seja a metade da mulher que tu é, mãe.”-Ainda dentro do abraço de minha filha, coloquei a mão sobre a estrela, presa em seu peito. Senti seu coração disparado. Ela gentilmente, colocou sua mão sobre a minha.
Vitória havia ido buscar as crianças para almoçarmos todos na Greice. O restaurante estava bastante movimentado. Conversávamos tranquilamente enquanto esperávamos Greice vir nos atender:
“-A primeira coisa que quero fazer é arrumar aquele escritório.”-Agnes disse animada.
“-Eu ajudo!”-Arthur disse, orgulhoso de sua irmã.
“-Maria ajuda!”-Nossa pequena falou entusiasmada.
“-Obrigada! Vou adorar a ajuda!”
Greice veio até nossa mesa e enquanto anotava nossos pedidos, percebeu um homem que saía sem pagar:
“-Com licença, o senhor esqueceu de pagar a conta!”-Ela gritou e o homem não parou.
Agnes levantou-se rapidamente e se jogou sobre o homem, levando-o ao chão. Eles levantaram rapidamente e Agnes puxou sua arma:
“-Parado! Quanto ele te deve Greice?”-Ela perguntava sem tirar os olhos do homem.
“-Cinquênta centavos.”-A dona do restaurante respondeu.
O homem colocou sua mão no bolso e retirou algumas moedas, pagando Greice.
“-Se fizer isso de novo, te jogo na cadeia.”-Agnes disse séria, guardando sua arma.
“-Obrigada, Agnes. É bom ter alguém pra tomar conta das coisas por aqui.”-Algumas pessoas levantaram-se de suas mesas e foram até Agnes cumprimentá-la.
Logo após o almoço, Agnes partiu conosco para casa para buscar algumas de suas coisas. Como agora era a nova xerife da cidade, passaria a morar no andar de cima da delegacia pois faria algumas rondas à noite também. Isso era uma exigência de seu cargo.
Era de madrugada quando alguém bateu em nossa porta:
“-Quem será uma hora dessas?”-Já disse me levantando e fui abrir a porta.
“-Mãe! Preciso de ajuda! Atirei em Vítor! Foi um acidente!”-Agnes falava rápido e muito nervosa.
Vitória veio até a porta e saiu para preparar nossa carroça para irmos.
Chegamos na clínica e Vítor já estava nos esperando, amparado por Maro. Agnes o atingiu no braço.
“-Eu juro que não vi quem era...”-Agnes disse se justificando.
“-Vítor pensou que alguém estivesse tentando roubar o correio novamente. Por isso estava armado.”-Maro falou.
“-Ele vai ficar bem?”-Minha filha perguntou.
“-Vai sim, filha.”-Falei já terminando de retirar a bala.
“-Eu podia ter matado Vítor.”-Ela disse sentada com as mãos na cabeça.
“-Mas não matou, filha. Calma.”-Vitória falava passando a mão nas costas de Agnes.
“-Nem tive tempo de pensar. Eu o vi com a arma e atirei. Não quero que algo assim volte a acontecer.”-Minha filha disse pensativa.
“-Não quer mais ser xerife”-Perguntei enquanto suturava o ferimento.
“-Ainda quero ser xerife. Só acho que as pessoas não devam andar armadas por aí. Incluindo eu mesma.”-Ela falou seriamente.
No outro dia cedo, Agnes pediu uma reunião com o prefeito e com a Comissão para assuntos da cidade e com os moradores, para colocar em votação seu projeto: A Lei Contra Armas:
“-Lei Contra as Armas? Isso é um absurdo!”-Tiago se levantou e começou a xingar.
“-Eu não disse que não pode ter porte. Estou dizendo que não deveríamos andar armados na cidade.”-Agnes falou à todos.
“-Se não quer portar uma arma, devolva seu distintivo.”-Guto falou estendendo sua mão.
“-Há muitos lugares onde pessoas da lei atuam sem armas. Na Inglaterra, por exemplo.”-Falei intercedendo por ela.
“-Por isso perderam a revolução. Não sabiam atirar, nós sabemos.”-Jeff falou.
“-Só porque Agnes não quer portar uma arma não quer dizer que devo desistir da minha. Se eu tivesse sido eleito xerife...”-Tiago foi interrompido por Vitória.
“-Tu teria matado Vítor!”-Minha esposa esbravejou.
“-Se aprovarem essa lei, quem sabe o que vai vir em seguida.”-Tiago falou.
“-Tiago, estamos tentando fazer dessa cidade um lugar seguro pra se viver.”-Falei
“-Está bem!”-Guto falou batendo o martelo. “-Vamos acabar logo com isso. Eu voto ‘não’ ao desarmamento.”
“- E eu voto ‘sim’.”-Falei.
“-Concordo com a Dra. Caetano.”-Pastor Simas disse votando sim.
“-Eu discordo.”-Jeff votando não. O desempate caberia à Vitor. Ele levantou-se e falou.
“-Eu...eu não sei quantos de vocês já levaram um tiro. Mas eu posso dizer que dói muito. Eu nunca mais quero ver uma arma enquanto eu viver. Eu voto ‘sim’ ao desarmamento.”
“-Moção aceita.”-Guto disse contrariado batendo seu martelo.
“-De agora em diante ninguém aqui em Northfolk portará uma arma.”-Pastor Simas comunicou à todos.
Tiago levantou-se e saiu pisando duro. Vitória e eu fomos até Agnes cumprimentá-la.
Naquele mesmo instante Manoela chegou, apressada:
“-Agnes, posso falar contigo?”-Ele perguntou aflita.
“-Claro. Mas o que tu tiver que falar, pode dizer na frente das minhas mães.”-Agnes disse abraçada em Vitória.
“-Ele saiu da prisão, Agnes.”-Manoela disse entregando um jornal para minha filha.
“-Quem?”-Agnes perguntou confusa.
“-Zachary Brett, o irmão do homem que assaltou o Sallon e é teu prisioneiro.”
Agnes abriu o jornal e começou a ler em voz alta:
“-Zachary Brett, sentenciado a sete anos de prisão por roubo, foi colocado em liberdade condicional no dia de ontem.”
“-Já ouvi falar dele. É um pistoleiro. Ele poderá estar aqui amanhã.”-Manoela falou aflita.
“-Não posso fazer nada para impedir que ele venha pra cá.”-Agnes disse entregando o jornal para Manoela novamente.
Agnes se despediu de nós e voltou para seu escritório, na delegacia.
Decidi não trabalhar o resto do dia. Voltei para casa com Vitória e fui me deitar um pouco. Logo, Vitória entrou em nosso quarto me trazendo uma xícara de leite quente.
“-Vitória, e agora? O que podemos fazer? Aquele homem é um pistoleiro profissional. E se ele decidir atirar mesmo com ela desarmada?”-Disse sorvendo o conteúdo da xícara.
“-Quando se usa aquele distintivo, está aceitando que vai arriscar sua vida. Eu também quero muito protegê-la, mas não nos dá o direito de interferirmos mais na vida dela. Temos que aceitar isso.”-Vitória disse deitada ao meu lado, acariciando meus cabelos.
“- Eu não quero aceitar isso, Vitória. Eu quero mantê-la segura.”-Falei devolvendo a xícara para ela.
“-Ninha, nós não estamos criando nossos filhos de maneira que nós fiquemos tranquilas. A gente tá criando eles pra vida. Criando eles para que saibam cuidar de si mesmos e deixa eu te falar que estamos indo muito bem.”-Vitória acariciava meu rosto, limpando as lágrimas que caíam de meus olhos.
“-Mas não quer dizer que deixamos de nos preocupar...”
“-Não..não deixamos.”-Vitória me puxou pra junto dela e me aconcheguei, dormindo em seus braços.

Narrador PoV:
Vitória não havia conseguido dormir de preocupação com sua filha mais velha. Levantou-se cedo e decidiu que iria com toda sua família para a cidade dar apoio para Agnes.
O dia transcorria sem maiores problemas.
Guto estava em sua barbearia, atendendo seus clientes, Jeff varria a frente de seu armazém, Manoela escrevia seus artigos para o jornal, Dra. Caetano e Vitória, na clínica, jogavam cartas com Arthur enquanto Maria desenhava.
No fim da tarde, o trem chegou na estação de Northfolk apitando e deixando todos em alerta. Nele, um pistoleiro desembarcava, observando a cidade. Chegou até uma placa que dizia: ‘É ilegal o porte de armas de fogo em Northfolk. Todas as armas devem ser entregues ao xerife.’
O pistoleiro riu, entortando um pouco sua boca, pensando no quão fácil seria libertar seu irmão. Ele retirou sua arma do coldre e checou, mais uma vez, o pente de balas.
O homem dirigiu-se até a delegacia e Agnes já o aguardava, do lado de fora:
“-Boa tarde.”-Ela falou com um sorriso sarcástico em seu rosto. O homem parou em sua frente, apenas observando-a. Ela continuou:”-Nós temos uma Lei Anti Armas aqui.
“-Tudo bem. Não vou ficar muito tempo. Vim buscar meu irmão.”-O pistoleiro falava com a mão no coldre.
“-Ele foi preso por roubar o Sallom e vai esperar o julgamento.”-A xerife falou séria.
“-Não. Ele vai estar comigo quando aquele trem partir daqui.”
“-Ele vai ficar aqui. E se quiser vê-lo vai ter que me entregar sua arma.”-Enquanto Agnes falava, Lucas, Guto e Jeff se aproximavam.
“-Sabe, eu nunca vi um xerife sem arma.”-Ele falou sacando sua arma da cintura.
“-Agora já viu.”-A xerife respondeu.
“-Ou talvez tenha alguém escondido, onde eu não possa ver, apontando uma arma para minha cabeça.”-O pistoleiro falou olhando para os lados.
“-Ninguém está apontando arma para você. Armas são proibidas aqui. Já falei.”-Ela reiterou.
“-Acho que se eu atirasse em você, afastaria qualquer reforço seu.”-O pistoleiro falava com a arma engatilhada, apontada para a cabeça de Agnes.
“-Nós somos o reforço dela.”-Vitória falou, chegando com Dra. Caetano e seus filhos.
“-Mas ainda são só três.”-O pistoleiro falou com deboche.
“-Agora somos seis.”-Disse Lucas chegando perto de Agnes, juntamente com Guto e Jeff.
Quando o homem percebeu, haviam muitas pessoas ao redor deles.
“-A xerife tem a cidade inteira para apoiá-la.”-Manoela falou.
Agnes aproximou-se do pistoleiro, ficando há alguns centímetros do cano da arma, apontada para seu peito:
“-Se quer ver teu irmão, me dê tua arma. Do contrário, aquele trem vai sair daqui e tu só vai vê-lo no julgamento.”-Disse.
O homem olhava para os lados, se deparando com muitos olhos sobre sí. A cidade inteira aguardava seu próximo movimeto. Ele voltou seu olhos para os de Agnes e percebeu que eles nunca demonstraram medo:
“-É uma mulher de sorte, xerife.”-Disse desengatilhando sua arma.
“-Não tem nada a ver com sorte.”
“-Isso nós vamos ver. Da próxima vez que eu voltar aqui e tu não tiver tantos...amigos por perto..”
“-Essas pessoas estarão sempre aqui. Esse é o nosso lar.”-O homem cuspiu no chão e deu meia volta, indo em direção ao trem. Todos aliviados, se abraçaram ainda sem acreditarem no que havia acontecido. Lucas correu até seu estábulo e voltou com uma enorme placa que havia feito. Nela dizia: Xerife Agnes Caetano Falcão.
“-Tô orgulhosa de ti, xerife.”-Falou Dra. Caetano abraçando-a.

Nota da Autora: Agnes, minha filha, sossega essa periquita aí que tu vai matar tuas mães. Kkkk
Tenham um excelente final de semana 😘

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora