Quando eu comecei a escrever Dra. Caetano, achava que não passaria dos 10 capítulos. Ontem terminei de escrever o capítulo 40 e ainda tenho pelo menos 10 idealizados. Muito obrigada de verdade à todas que estão gostando. Bora pro capítulo ❤️
🍀🍀🍀🍀🍀🍀🍀🍀🍀🍀🍀🍀🍀🍀“-Foi em uma noite sombria de novembro que eu completei o resultado de meu trabalho. Já era uma da madrugada, a chuva golpeava continuamente as janelas e minha vela estava quase se apagando quando, pela luz quase extinguida, eu vi o inerte olho amarelo da criatura...se abrir...”-Nesse momento um trovão rompe no céu e Arthur se assusta, dando um grito.
“-Calma, meu filho, é só uma história.”-Vitória disse acariciando os cabelos do pequeno que saltou para seu colo.
“-Não tô com medo, mãe...foi só...”-Tentou convencer-nos que não estava assustado.
“-Frankestein é pra ser assustador mesmo. A história é sobre um monstro.”-Agnes argumentou.
“-É mais que a história de um monstro. Ela explora as maravilhas da ciência médica. A possibilidade de extrair vida da morte.”-Falei complementando.
“-Mainha, a senhora acha que poderia fazer uma pessoa?”-Arthur me perguntou.
“-A verdadeira questão é se isso seria ético, filho.”
“-O que é ‘ético’?”-Meu pequeno curioso quis saber.
“-Se seria certo fazer isso ou não.”-Expliquei.
“-Mas a senhora conseguiria fazer?”-Me perguntou sério. Coloquei minha mão no queixo, fiz uma cara pensativa e falei:
“-Quem sabe um dia, Arthur, quem sabe?”- Vitória balançou a cabeça em negação.
“-Talvez...talvez seja o monstro do Dr. Frankestein que esteja vagando pela floresta. O senhor Tiago disse que alguma coisa está comendo os animais das armadilhas dele. ”-Agnes falou.
“-O senhor Jeff disse que viu pegadas perto do riacho. São duas vezes maiores que a pegada de um urso pardo.”-Arthur falou gesticulando com as mãos.
“-Hum...talvez seja alguém pregando uma peça de Halloween.”-Falei de modo sensato.
“-Eu não sei se tem algum monstro ou não, mas algo com certeza andou levando as armadilhas.”-Vitória falou.
“-Bem, espero que depois dessa história, vocês consigam dormir. Hora de ir para cama.”-Falei me levantando da poltrona enquanto Vitória pegava Maria, acompanhada de Agnes e se encaminharam para o quarto das crianças. Arthur permaneceu ali do meu lado.
“-Vou conseguir dormir se a senhora me contar mais um pedacinho da história. Por favor, mainha, eu não tenho medo de monstros. ”-Arthur falou com os olhinhos brilhando.
“-Tá bom.”-Sentei novamente e puxei ele para meu colo: “-Vou ler algo dito pelo monstro: -Quanto mais eu via os camponeses, mais eu desejava clamar por sua proteção e bondade. Meu coração ansiava por ser conhecido e amado...”-Ele me interrompeu:
“-Não parece muito com um monstro.”-Concluiu.
“-Na verdade ele era só um homem solitário.”-Falei.
“-Por que ele era tão solitário?”
“-As pessoas o julgavam por sua aparência. O temiam mas nem sequer o conheciam. Na verdade, ele era uma boa alma.”-Ele recostou a cabeça em meu peito e bocejou.
Fechei meu livro e levei o pequeno para cama.
No dia seguinte, Vitória saiu com as crianças para buscarem algumas abóboras para decorarmos para o Halloween que seria no final do mês.
Vitória’s PoV:
Acordamos cedo, aliás, fomos acordadas cedo pelas crianças que estavam animadas com a proximidade do Halloween.
Tomamos nosso café, conversando e Ninha contando algumas histórias de monstros que as crianças adoravam e em seguida, Agnes, Arthur e eu partimos para floresta procurarmos algumas abóboras. Como era sábado, Ninha ficou em casa com Maria Vitória.
“-Arthur, não vá muito longe. Cuidado com os animais selvagens.”-Adverti o menino.
“-Tá, mãe, vou lá perto do riacho procurar as abóboras.”-Partiu correndo no meio da mata.
Eu queria aproveitar para mostrar para Agnes como montar armadilhas que não machucassem os animais. Eu era totalmente contra as armadilhas que Tiago usava. Elas eram pontudas e de ferro. Quando os animais caiam nelas, morriam demorada e dolorosamente. Era uma forma muito cruel e desnecessária de caçar. Estava amarrando a corda na árvore, quando ouvimos Arthur gritar:
“-Mãe! Um monstro! Mãããeee!”-O menino correu em minha direção.
“-O que foi, meu filho?”-Falei angustiada.
“-O monstro, mãe! O monstro do Dr.Fankestein! Lá perto do riacho. Vem , mãe!”-O pequeno me puxava pela mão.
Corremos até onde Arthur teria visto o tal monstro e chegando lá, encontramos a “criatura”. Era um homem muito alto, devia ter aproximadamente um metro e noventa de altura, trajando roupas esfarrapadas e com o rosto parcialmente coberto por cicatrizes de queimaduras. Ele estava com uma das pernas presa em uma das armadilhas de Tiago e se assustou quando nos viu. Ele não falava. Apenas emitia alguns sons:
“-Calma, senhor, não puxe sua perna daí porque ela vai ficar ainda mais presa.”-Fui me aproximando devagar, com as mão levantadas para que ele visse que eu estava desarmada. “-Vou livrar sua perna, tenha calma.”-Tentei tranquilizá-lo mas ele estava agitado.
Ele continuava relutante em não me deixar ajudá-lo quando Arthur irterferiu:
“-Por favor, senhor monstro, deixa minha mãe lhe ajudar.”-Suplicou com aqueles olhinhos que ninguém negaria nada.
O homem parou de se debater, olhou para meu menino, me olhou e acentiu com a cabeça, permitindo que eu o ajudasse. Usei um pequeno tronco para fazer uma alavanca e abri a armadilha, liberando a perna do homem. Ele levantou-se rapidamente, pegou uma caixa grande que carregava e tentou fugir para o meio da mata mas sua perna ferida não deixou, fazendo com que caísse há poucos metros de nós:
“-O senhor está bem? Consegue caminhar?”-Perguntei à ele que gemia de dor. “-Precisamos cuidar dessa tua perna. Deixa a gente lhe ajudar.”-Falei calmamente tentando acalmá-lo mas ele negava com a cabeça.
“-Por favor, senhor, minha mãe é doutora e das boas. Ela vai arrumar sua perna bem rapidinho.”-Arthur falou com um sorriso bangela que amolecia qualquer coração duro. Por fim, o homem pensou e resolveu aceitar nossa ajuda.
Voltamos para casa e colocamos o homem ferido no celeiro. Eu já estava indo chamar Ana Clara, quando ouvimos ela chegando.
Ana Clara’s PoV
“-Por que demoraram tanto? Cadê as abó...Santo Rei Poderoso! Quem é essa pessoa?”- Falei visivelmente muito surpresa.
“-Mainha, por favor, ajude ele. A perna dele está machucada. Ele ficou preso em uma armadilha do senhor Iorc.”-Arthur logo deu o recado. Parei e fiquei olhando o rosto do homem, cheio de cicatrizes. Parecia que ele havia se queimado em um incêndio.
“-Agnes, por favor, traga minha maleta.”-Cheguei perto do homem, me ajoelhei perto de onde ele estava sentado e comecei a examinar sua perna. “-Não tenha medo. Como isso em seu rosto aconteceu?”-Perguntei ao homem que nada respondia.
“-Acho que ele não consegue falar, Ninha.”-Vitória falou.
“-Tá tudo bem.”-Agnes chegou com minha maleta e começamos os procedimentos de limpeza na perna do homem. Enquanto eu limpava o ferimento, ouvimos barulhos de cavalos chegando. Vitória, Agnes e eu fomos ver do que se tratava:
“-Boa noite.”-Disseram Tiago, Guto e Jeff montados em seus cavalos.
“-Boa noite. O que traz vocês aqui essa hora da noite?”-Vitória perguntou.
“-Estamos caçando um monstro. Temos um grupo nos esperando na encruzinlhada.”-Falou Guto.
“-Ah, Guto, vocês não estão acreditando nessa história de monstro, não é?”-Perguntei com ironia.
“-Bom, alguma coisa está andando por aí. Há uma hora eu ouvi barulho de vidros se quebrando. Eu desci a escada e as janelas da minha loja estavam quebradas.”-Disse Jeff com uma tocha na mão.
“-Poderiam ser alguns meninos fazendo travessuras por causa do Halloween.”-Vitória falou sensata.
“-Não eram meninos travessos. Era um monstro e vamos achá-lo.”-Tiago puxou sua pistola e engatilhou-a. “-Imagino que queira vir conosco, Vitória. Você podia montar Ventania que é bastante rápida.”-Ele quis saber. Vitória me olhou e eu prontamente inventei uma desculpa.
“-Ventania está manca, infelizmente ninguém pode montá-la por enquanto.”
“-Eu vou com vocês. Conheço a floresta de olhos fechados. Eles estão certos, mãe, se tem algum perigo aí fora temos que achá-lo.”-Agnes sabia que eles não iriam desistir de levar Vitória junto então pensou rápido.
“-Então boa sorte.”-Falei e dei-lhe um sorriso irônico. Ela piscou para mim e partiu com os homens.
Assim que partiram, Vitória e eu votamos para o celeiro:
“-Não foi ele que quebrou as janelas, mainha, ele estava com a gente na floresta.”-Arthur quis defender o homem.
“-Eu acredito em ti, Arthur.”-Tranquilizei meu menino. Olhei para o homem e perguntei.”-Você pegou as armadilhas do Tiago?”-Ele balançou a cabeça afirmando.
“-Roubou as armadilhas por que estava com fome?”-Vitória quis saber. Ele negou com a cabeça.
“-Talvez ele tenha pego por pena dos animais.”-Arthur falou de modo simples. O homem balançou a cabeça afirmando.
Continuei fazendo o curativo na perna do homem enquanto Vitória foi buscar algumas cobertas para ele dormir. Esconderíamos o homem provisóriamente até que ele se curasse.
Entramos em casa e enquanto Vitória preparava a janta, fui olhar Maria que dormia tranquilamente. Voltei para a cozinha com meu livro sobre a história da medicina para estudar. Precisava saber se havia algum jeito de tratar aquelas cicatrizes. O julgavam ser um monstro por causa delas então, aquela noite eu não dormiria até encontrar algo que me auxiliasse.
Já era madrugada, Agnes já havia voltado da “caça ao monstro” e eu ainda estava estudando na cozinha quando uma bela amazona parou no batente da porta e me obsevava:
“-Ninha, vem pra cama, tá frio lá sem tu.”-Me falou com a voz rouca e manhosa. Levantei meus olhos e vi a mulher mais bela do mundo, com uma carinha de sono e enrolada em uma mantinha:
“-Que foi, minha rainha? Perdeu o sono?”-Ela balançou a cabeça positivamente, esfregando os olhos. É a coisa mais linda do mundo.
Fechei meu livro, guardei minhas anotações e puxei minha esposa para nosso quarto.
Vitória sentou na cama e, enquanto eu vestia minha camisola, perguntou:
“-Descobriu alguma coisa, Ninha? De como reparar aquelas cicatrizes?”
“-Na verdade descobri, amor.”-Fui em direção à cama, me sentei à seu lado peguei sua mão e entrelacei nossos dedos. “-O corpo humano é extraordinário. Nossa pele é capaz de voltar a crescer. “-Levei sua mão à altura de minha boca e deixei um beijo nela. “-Quando os médicos descobriram isso, criaram um novo tipo de cirurgia chamada de ‘plástica’. “-Subi meus beijos pelo seu braço chegando até seu ombro. Percebi sua respiração ficando mais intensa e suas pupilas dilatadas.
“-Ninha, eu queria que um dia tu me amasse tanto quanto tu ama a tua medicina.”-Me falou com um tom de tristeza em sua voz.
“-Mas eu te amo além, amor.”-Subi meus beijos para seu pescoço e maxilar. “-E também, se não fosse por ela, talvez a gente não tivesse se encontrado...sou muito grata à medicina por que ela me trouxe pra ti.”-Subi minha mão até sua nuca e a massageei com as pontas dos dedos, subindo e descendo. Senti Vitória relaxar. De olhos fechados, ela jogou a cabeça um pouco para trás e entre abriu sua boca. Puxei-a calmamente para um beijo quente e com gosto frutado. Intensifiquei nosso beijo, deitei-a gentilmente na cama e me deitei sobre ela sem parar o beijo. Vitória gemia carregada pelo desejo:
“-Ninha, por favor...quero que me toque...”-Suplicou.
Escorreguei minha mão pela lateral de seu corpo, chegando em sua coxa e deslizando até onde ela me queria. Entrei com dois dedos em sua intimidade que já estava encharcada. Ela jogava seu quadril contra meus dedos enquanto eu fazia movimentos circulares em seu clitóris. Ela gemeu baixo. Estava extremamente excitada quando entrelaçou suas pernas em minha cintura. Levei meus dedos até sua entrada e comecei a estocá-la com força. Vitória gemia contra minha boca afim de abafar seus gemidos. Ela agarrou meus cabelos me puxando para um beijo desesperado enquanto chegava ao orgasmo.
Não deixei Vitória se recuperar e continuei meus beijos por seu corpo. Beijei e mordisquei de leve seu seio direito, massageando o esquerdo. Fui descendo os beijos pelo seu abdomem quando senti suas pernas laçando minha cintura. Num movimento brusco, Vitória inverteu nossas posições, me jogando de costas na cama e montando em meu quadril.
“-Agora é minha vez, doutora.”-Deixou um sorriso safado em seu rosto e começou as carícias em meu corpo. Levantou minha camisola e percorreu as laterias do meu tronco com as pontas dos dedos. Saiu de cima de mim e afastou minhas pernas para que pudesse entrar com seu rosto. Inspirou profundamente minha intimidade e disse:
“-Teu cheiro me deixa louca.”-E invadiu meu sexo com sua língua, dando estocadas fortes e profundas. Lambia e chupava meus grandes lábios demoradamente enquanto brincava com seus dedos em meu clitóris. Abafei meus gemidos mordendo meu antebraço. Ela sabia que eu já estava quase atingindo o climax então ela parou, sentou-se entre minhas pernas, colocando minha perna esquerda sobre a sua direita e me puxou, fazendo nossos sexos se colarem. Com sua perna direita, fez um gancho e deixou apoiada em minha região lombar, me travando colada nela. Me abracei em seu pescoço e fiquei com minha testa colada na dela enquanto esfregávamos nossas intimidades. Ela me olhou no fundo dos meus olhos e me hipnotizou. Por algum tempo, não sei quanto, fiquei admirando aqueles olhos e lembrando que eu sempre quis ser vista por eles e naquele momento eu tive certeza de que não importava o que acontecesse no futuro contanto que estivéssemos juntas. Uma onda de calor me tirou dos meus devaneios e me trouxe de volta quando atingi o orgasmo. Caí deitada no colchão puxando ela junto comigo. Ela se aninhou em mim e fazia carinho em meu braço com as pontas dos dedos.
“-No que tu tava pensando, Ninha?”
“-Que quero mais um filho contigo.”-Ela quase gargalhou, mas abafou a risada.
“-Acho que três crianças já tá bom, Ninha.”-Falou deixando beijinhos em meu pescoço e continuou: “-Tu acha que vai conseguir fazer o procedimento no rosto do homem?”
“-Sempre sou confiante, Vi, mas realmente não sei. Esse campo da cirurgia plástica ainda é bem experimental mas eu gostaria muito que ele aceitasse. Pensa na quantidade de pessoas que a cirurgia pode ajudar no futuro. Logo mais, vamos lá conversar com ele e ver se ele aceita. Vou precisar da ajuda de Sabrina e de Agnes nessa operação. Provavelmente levaremos horas operando mas não posso negar que eu estou bem animada.”-Ela deixou um beijo em meus lábios e dormiu em meus braços.
Logo pela manhã, começamos nosso plano para transportar o homem para minha clínica. Como ele estava sendo caçado, teríamos que levá-lo na calada da noite, para não levantarmos suspeitas.
Vitória foi cedo até Corre Ventos buscar Sabrina e levar Maria e Arthur para ficarem com a avó enquanto fazíamos a logística e então, quando a noite já estava bastante adiantada e não corríamos perigo de sermos visto, o levamos até a clínica.
Desinfetei e preparei meus instrumentos, colocamos nossos aventais e preparamos o paciente na maca. Comecei explicando como faríamos:
“-A primeira coisa que vou fazer é procurar a pele mais suave e adaptável de sua testa e então a utilizarei para reconstruir seu nariz.”-Falei enquanto apalpava a testa do homem. “-Depois vou usar a pele da sua perna para reparar seu pescoço.”- Peguei meu lápis e disse à elas:”-Agora vou fazer um tracejado em sua testa.”-Risquei com o lápis da sobrancelha até o couro cabeludo.”-Depois de retirar sua pele, vou costurá-la. Vai ficar uma cicatriz pouco perceptível. Esse é só o primeiro passo. Está pronto?”-Perguntei ao homem que afirmou com sua cabeça. “-Moças, estão prontas para fazerem história?”-As meninas, animadas, davam pulinhos no lugar.”-Clorofórmio, por favor.”-Pedi para Agnes anestesiar o homem. Agnes ficaria responsável por não deixar o homem acordar e me iluminar quando necessário e Sabrina me auxiliava passando os instrumentos e suturando quando eu necessistasse.
A cirurgia corria muito bem.
“-Preciso que mantenha essa parte da pele esticada, Sabrina.”
“-Assim?”
“-Sim, tá perfeito. Agora vou cortar esse tecido morto do pescoço. O ferimento é só superficial mas preciso tomar cuidado para não aprofunar o corte. Pronto, agora vamos fazer o enxerto.”-Sabrina largou o bisturi e, com muito cuidado, com a pinça, me passou o pedaço de pele que eu havia retirado para enxertar. “-Temos que imobilizar o enxerto com muito cuidado senão ele não vai receber o sangue.”-Muitas horas já haviam se passado e o dia já clareava.
Eu estava terminando de enxertar a pele quando ouvimos uma batida na porta. Felizmente eu tinha acabado essa parte crítica então desci para ver quem era.
“-Ah, Jeff.”-Fechei rapidamente a porta atrás de mim.
“-Quando começou a trancar a porta?”-Ele quis saber.
“-Bom, eu...não tava esperando ninguém hoje.”-Desconversei.
“-Como não? Eu entrego teus pacotes de suprimentos todas as segundas-feiras.”
“-Puxa vida, Jeff, eu me esqueci, desculpe. Mas estou com pressa, se me dá licença preciso voltar. Estou muito ocupada no momento.”
“-Mas o que você está fazendo lá dentro? Seu avental tá todo sujo de sangue?”-Jeff sempre muito curioso e observador.
“-É..bom eu...tô fazendo algumas experiências. É isso.”
“-Essa experiência te deixa coberta de sangue? Não entendo que experiência possa ser...”
“-Bom, tem muitas coisas que tu não entende de medicina, assim como eu não entendo dos teus negócios. Bom dia, Jeff.”-Entrei rapidamente e tranquei a porta novamente.
Muitas horas se passaram até que terminamos a cirurgia no rosto do homem. O enxerto havia aderido bem e estava sendo irrigado pelo sangue. Só teríamos que esperar alguns dias para os cortes desincharem e cicatrizarem e então, eu tiraria os pontos. Como já era tarde da noite, pedi à Vitória que levasse as meninas para casa enquanto eu terminava os procedimentos.
“-Eu sei que parece estranho agora, mas a cirurgia correu como esperado. O enxerto funcionou e daqui mais uns dias eu posso tirar os pontos.”-Falei ao homem que estava agora acordado. “-Quero deixar seu rosto sem as faixas para que cicatrize mais rapidamente assim, livre.”-Expliquei á ele. “-Eu vou lá em casa buscar um pouco de sopa que minha esposa está fazendo pra você e já volto. Descanse enquanto isso.”- Eu saí do consultório, tranquei a porta da frente mas não esperava pelo que iria acontecer. Apenas trinta minutos, foi o tempo que fiquei fora, e Manoela, a moça que escreve o jornal da cidade, havia entrado em meu consultório pela porta dos fundos, me procurando e encontrou meu paciente. Ela saiu gritando da clínica quando eu a parei:
“-Manoela, o que está fazendo?”
“-Eu entrei no seu consultório mas não quis bisbilhotar. Subi até o segundo andar pra lhe procurar e vi aquele corpo morto deitado lá. Dra.Caetano, eu ouvi rumores que você estava fazendo uma experiência maluca em seu consultório e eu sempre te defendi!”-Manoela falava apressada e muito nervosa.
“-Ele não está morto. Está se curando.”-Falei tranquilizando-a.
“-O que? Curando? Mas pra quê? É uma criatura horrível!
“-A cirurgia foi recente, Manoela, ele está cicatrizando. Está inchado ainda. Por favor não fale nada a ninguém. Esqueça que o viu.”-Implorei mas não adiantou. Guto, Jeff e Tiago forçaram Manoela a contar oque ela havia visto e então, à noite quando eu estava me preparando para ir par casa, a vila toda foi para frente da minha clínica com tochas e pedaços de pau dispostos a lincharem o ‘monstro’.
“- Mas o que vocês querem?”-Gritei com Guto que chutava minha porta e me chamava.
“-Nós sabemos o que você está tramando e vamos detê-la.”
“-Do que tu tá falando?”-Falei em meio aos gritos da população.
“-Ele está aí, vamos pegá-lo!”-Tiago gritou tentando forçar a entrada.
“-Aqui é propriedade particular! Não podem entrar!”-Me coloquei na frente e gritei mais alto.
“-A cidade corre perigo.”-Guto falou.
“-É melhor sair do caminho. Entraremos à força se preciso.”-Tiago ameaçou. Eles forçaram a entrada e subiram até o segudo andar. O homem que estava lá, ouviu a gritaria e fugiu pela janela.
Vitória chegou bem na hora e tentou levar o homem até um lugar seguro mas sua perna ainda estava machucada pela armadilha de Tiago e ele não conseguiu correr.
Os moradores, furiosos, correram atrás dele com paus e pedras. Vitória se colocou na frente dele, protegendo-o.
“-Vitória, saia da frente ou vamos te apedrejar junto.”-Gritou Jeff.
“-Deixem ele em paz!”-Vitória berrou. Corri até ela e fiquei ao seu lado.
“-Como vocês ousam a fazer isso?”-Falei desesperada.
“-Ele é um monstro!”-Tiago gritou.
“-Ele é meu paciente! Eu estou o tratando!”
“-Ouvimos que você anda trabalhando com...cadáveres.”-Jeff falou.
“-Como você pode perceber, Jeff, esse aqui está bem vivo!”-Falei irônica. “-Eu estou trabalhando e vocês não tem o direito de interferir!”
“-Temos sim, quando você nos coloca em perigo.”-Guto argumentou.
“-Não estou colocando ninguém em perigo. Essa é uma pessoa e tem sentimentos. Vocês deviam se envergonhar. Vocês é que são os monstros aqui.”-Peguei meu paciente pela mão e seguida de Vitória, voltamos para clínica.
Alguns dias se passaram e o rosto do homem estava completamente cicatrizado.
“-Ana Clara! Se alguém tivesse me dito eu não ia acreditar!”-Vitória falou admirada passando os dedos no rosto do homem. “-É inacreditável!”
“-Ficou incrível!”-Agnes entregou um espelho para o homem. Ele se viu e reconheceu seu reflexo, caindo em lágrimas. Se levantou da cama e me abraçou apertado.
“-Obrigado.”-Falou baixinho.
“-É claro que vai demorar um tempo pra você se acostumar, mas eu acho que ficou ótimo.”-Falei orgulhosa.
“-Ótimo? Ficou sensacional! A senhora é muito modesta, tia Ana”-Disse Sabrina muito admirada.
“-Bom, nosso trabalho terminou. Já posso lhe dar alta. O senhor está livre para viver sua vida. Não precisa mais se esconder.”-Ele apertou minha mão e foi embora. Observei-o da janela e enquanto ele passava, as pessoas percebiam que ele não era monstro algum.
Naquele mesmo dia, descobrimos que quem quebrou as vidraças de Jeff haviam sido mesmo algumas crianças travessas. A noite de Halloween chegou e a cidade organizou uma grande festa. Arthur foi fantasiado da criatura do Dr. Frankestein, Vitória não foi fantasiada por que cada vez que ela vestia a fantasia de múmia, Maria Vitória, que estava fantasiada de coelhinha, chorava. Agnes, Sabrina e eu fomos fantasiadas de Dr. Frankestein, por que de médico e louco, todos nós temos um pouco. Feliz Halloween!
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Dra. Caetano
FanficNo ano de 1867, Ana Clara Caetano retorna à cidade onde nasceu, Northfolk, para trabalhar como médica numa vila rural onde cresceu. Uma das poucas médicas num mundo de médicos, ela mostra-se uma mulher à frente de seu tempo, não só por suas atitudes...