A Cor de Marte

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Quando recobrei os sentidos, estávamos onde parecia ser um tipo de caverna ou gruta de pedra. Havia uma fogueira acesa e nossas roupas estavam secando próximas à ela. Vitória estava em cima de mim, chorando enquanto pressionava meu peito e fazia respiração artificial. Me virei de lado e gorfei a água que havia engolido.
“-Vitória, me afoguei...não sei nadar...”-Falei em meio a tosse e o refluxo.
“-Ana, eu tava desesperada. Por que tu não me falou que não sabia nadar?”-Falou, tentando se acalmar.
“-Sinceramente, nunca imaginei que tu ia arremessar a gente de um penhasco dentro de um rio.”
“-Aé, Ana? Tu preferia tomar tiro dos garimpeiros? Tu tá muito engraçadinha pra quem acabou de ser reanimada.”-Fez uma pausa e continuou.”-Me diz por que esse anel tá aqui?”- Pegou minha correntinha com meu anel de noivado.
“-Vitória, eu não roubei nada. Tu não lembra mas tu me deu esse anel.”-Falei chegando perto e tentando pegar da mão dela.
“-Eu te dei pra usar no dedo.”-Pegou minha mão e colocou o anel. “-E tu só vai tirar ele daí quando for pra trocar de mão.”-Me falou e me entregou a correntinha.
“-Vitória, tu lembrou de tudo? Tu lembra de mim?”-Falei emocionada pelo acontecimento.
Me olhou com a ternura daqueles olhos de cor indecifrável e disse:
“-Lembrei de uma tarde de outubro que conheci a mais bela moça que meus olhos avistaram. Lembrei de me apaixonar por sua inteligência, pelo seu cheiro, pela cor de seus cabelos, pelos seus olhinhos caidos cor de jabuticaba e sua voz de açúcar. Lembrei de querer ela pra mim desde a primeira vez e de fazer uma força tremenda pra não atacá-la enquanto ela dormia a noite do meu lado. Lembrei de querer conhecê-la e criar intimidade aos poucos porque sabia que ela não era mulher de uma noite só. É mulher pra minha vida inteira. Lembrei do dia que ela quis me envenenar com chá e quando ela enfrentou a amazona mais violenta de Lua Sangrenta pra devolver minha liberdade mas ela não sabia que, mesmo sem querer, já havia colocado suas amarras em mim. Eu só quero voar perto de ti, Ninha. Podem apagar minha memória mil vezes, que mil e uma eu vou me apaixonar por ti novamente.”-Colou sua testa na minha, passou seu nariz de leve no meu e me beijou sem pressa. Me senti feliz como há tempos não me sentia. O tempo poderia congelar naquele momento.
Vitória ainda colada em mim, foi parando o beijo devagar. Deu um suspiro e disse:
“-Ei, eu não gostei de te ver abraçada na Letícia, só pra ti saber.”-Falou esfregando os lábios nos meus.
“-E eu não gostei de te ver com duas amazonas à tira colo, só pra ti saber.”-Olhei no fundo dos seus olhos.
Vitória, num movimento brusco, retirou minha camisola e atacou meus lábios com força, chupando e mordendo, num misto de ciúmes e saudade. Me deitou no chão enquanto massageava meus seios.
“-Ana, eu tô passando vontade de ti faz tempo...vou te fazer minha a noite toda...”-Falou já levantando minhas pernas e colocando seu rosto entre elas. Ergueu meu quadril, lambeu e chupou meu sexo de forma voraz. Esfregou seu rosto dentro de mim, me causando arrepios e calores pelo corpo todo.
“-Vi...Vitória...meu Deus...eu vou...”-Eu já estava vendo estrelas quando ela enfiou os dedos em mim. Abocanhou meu seio, chupando e lambendo meu mamilo enquanto me penetrava. Moveu rápido os dedos, três, quatro, cinco vezes e alcancei o clímax.
Ela desceu os lábios até minha intimidade, lambendo e chupando os líquidos que lambuzaram minhas pernas. Sugou tudo com calma enquanto estocava seus dedos dentro de mim novamente.
“-Vitória, eu tô sensí..”-Me calou com seus beijos enquanto esfregava seu sexo no meu. Ela estava completamente molhada só de me tocar. Coloquei minha mão em sua intimidade penetrando facilmente meus dedos nela. Ela lambia meu seio enquanto dançava em meus dedos. Não demorou muito para que ela gozasse em mim mas não parou. Sentou e me puxou para seu colo. Sentei nela com as penas abertas e ela continuou a me penetrar, dessa vez com três dedos. Acelerei o movimento do meu quadril e mordi seu pescoço abafando meus gemidos.
“-Olha dentro do meu olho, Ana. Quero que tu goze me olhando.”-Fui uma boa menina e obedeci. Colei nossas testas olhei dentro daquele Universo em expansão e me deixei em seus dedos novamente.
“-Marte...tem cor de Marte...”-Falei e deitei  exausta, com Vitória em cima de mim já querendo meu corpo novamente.
“-É o que, Ana Clara?”-Ela falou beijando meu pescoço e acariciando meus seios.
“-Teus olhos, Vitória...tem cor de Marte...”-Falei sussurando em seu ouvido e arranhando suas costas. Ela desceu seus beijos pelo meu colo e minha barriga e eu entranhava meus dedos em seus cabelos.
“-Aé, Ninha? O que é Marte?”-Me perguntou e lambeu minha virilha.
“-É o quarto planeta e tem a cor avermelhada...aahh...a cor dos teus olhos...Ai, Vitória...”-Me chupava enquanto eu explicava. “-Deram esse nome...ahh...em homenagem ao deus romano da guerra... Marte...”-Vitória me lambia com força e brincava com seu dedo em meu clitóris.
Trocou sua língua por seu dedos e voltou a me penetrar enquanto me beijava.
“-É, Ana? Deus da guerra?”-Colocou força nos dedos e cheirava meu pescoço.
“-Uhum...”-Concordei jogando meu quadril para frente e para trás. “-Mas se te conhcessem quando nomearam o planeta, o nome seria Vitória...”-Falei me enxergando através de seus olhos.
Vitória acelerou os dedos e me fez gozar, me levando às estrelas mais uma vez.
Deitada, já sem forças e Vitória se aconchegou do meu lado.
“-Sabe, Ninha, eu amo quando tu me fala tudo sobre o mundo que eu não consigo debater.”-Ela disse com a cabeça em meu peito e brincando com meus dedos.
“-Tu é o ser mais bonito que eu tive a sorte de conhecer, Vitória. Tô até agora tentando descobrir o que tu viu em mim. Acho que tu era o bebê mais lindo do mundo quando nasceu.”-Falei e ela riu.
“-Te amo, pequena.”-Deixou um beijo na minha cabeça.
“-Te amo, Vitórinha.”-Deixei um beijo em seus lábios e adormeci.
O dia começou a clarear e levantei para separar as amostras de água. Procurei no coldre e vi que perdemos algumas.
“-Vitória, vamos ter que voltar lá na nascente pra pegar outra amostra. Perdemos a mais importante.”-Expliquei.
“-Ana Clara, nem pensar. Tu quer morrer? Aquela gente lá não tá de brincadeira.”-Falou furiosa.
“-Eu sei, Vi, mas se não pegarmos a amostra, será tudo em vão. O rio, os animais e as plantas ao redor vão morrer, isso sem falar nas vilas que o rio abastece.”- Respirei fundo e continuei: “-Vi, tu pode ir embora se quiser. Volta pra vila. Deixa que eu me viro aqui. Eu não posso deixar isso como está.”-Segurei suas mãos e as beijei.
“-Tá doidaé, NaClara! Lógico que não vou te deixar aqui sozinha no meio dos garimpeiros furiosos. Tu é teimosa que é a peste mas eu amo essa tua paixão pelo que tu faz.”-Vitória me beijou com doçura.
Juntamos as poucas amostras que restaram e fomos em direção à nascente do rio novamente.
Subimos novamente com cuidado mas quando chegamos lá em cima, fomos surpreendidas pelos guardas. Apontaram as armas para nós e nos pediram que os acompanhassem. Larguei a garrafa de aguardente que eu trazia como evidência sobre uma mesa ali no acampamento dos garimpeiros.
Chegamos em uma tenda onde estava o dono do garimpo.
“-Meu nome é Robert, sou o proprietário do garimpo.  O que as senhoritas procuram aqui?”-Perguntou com as pernas sobre a mesa e as mãos cruzadas sobre o peito.
“-Eu sou a Drª Caetano e essa é Vitória. Viemos aqui pedir que o senhor pare com o garimpo. O mercúrio que vocês usam está matando o rio. Muitas pessoas estão sendo envenenadas nas vilas.
“-Isso não é da minha conta.”-Falou como se fosse inocente.
“-Como não? O senhor está matando as pessoas e todo um ecosistema. O senhor é responsável, sim.”-Falei bastante alterada.
“Escute aqui senhorita, eu vou..”-No mesmo momento entrou um dos guardas bastante preocupado.
“-Chefe, seu filho está doente. Está reclamando de dores abdominais.”-Ele se levantou e correu para fora da tenda.
“-O que tu acha que vai acontecer agora, Vitória?”-Perguntei a ela.
“-Acho que eles vão nos matar e forjar como se fosse um acidente.”-Me respondeu sincera.
Sr. Robert voltou rapidamente:
“-Doutora, por favor, atenda meu filho. Ele está com muita dor.”
Saímos dali e fomos onde o rapaz estava. Um garoto de dezesseis anos, magrinho se retorcia sentado em uma cadeira.
“-Eu sou a Drª Caetano. O que tu tá sentindo?”
“-Muita dor abdominal, doutora, e um gosto de metal na boca.”-Eu já imaginava.
“-Tu bebeu a água do rio?”-Perguntei.
“-É claro que não. Ele sabe que não é pra beber essa água.”-Respondeu o Sr. Robert.
Apenas lhe olhei de canto de olho.
“-O que tu bebeu então?”-Precisava saber.
“-Bebi aquele aguardente daquela garrafa que estava na mesa dos garimpeiros.”
“-Aquela cachaça foi feita com água do rio. O homem que estava com ela morreu envenenado pelo mercúrio.”-Terminei de falar e Sr. Robert se desesperou.
“-Doutora, por favor, salve meu filho. Cure ele, é tudo que eu tenho.”
“-Eu estou sem medicamentos aqui e...”-Parei e pensei um pouco. Lembrei dos ensinamentos de Nayara.”-Tá, preciso de plantas medicinais. Vamos procurar atroveran e alfavaquinha. São plantas para fazer um elixir paregórico.
Felizmente achamos as plantas e fiz uma xaropada para ele tomar. Logo o rapaz estava melhor.
“-Sr. Robert, continue dando esse elixir paregórico à seu filho. Dê leite também e não deixe ele tomar água do rio, obviamente.”-Passei as recomendações à ele.
“-Doutora, nem sei como lhe agradecer.”-Me disse Sr. Robert aliviado.
“-Me agradeça parando o garimpo. Não contamine mais o rio. Seu filho foi salvo por sorte. O mercúrio logo afetará as plantas aqui da região e não teremos mais esse medicamento que seu filho tomou se o senhor continuar jogando esse metal no rio.”
“-Sim, senhora. Vamos parar o garimpo. Por pouco não perdi meu filho.”-Fez uma pequena pausa e ordenou: “-Rapazes, vamos recolher nossos equipamentos e fechar o garimpo.”
Muitas situações poderiam ser evitadas se as pessoas tivessem empatia umas com as outras mas, infelizmente, isso quase nunca acontece.
Voltamos à aldeia Pedra da Lua e todos comemoraram a retirada do garimpo. Em breve o rio se recuperaria e o ecosistema voltaria ao normal.

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora