Agente Indígena

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Nota da Autora: Oi, gentes. Passando rapidinho pra dizer que esse capítulo é mais extenso e pode ser um pouco cansativo mas é importante para a história. Não me abandonem por isso. Bora lá pro cap e que as tretas comecem kkkkk
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Northfolk estava à caminho do progresso. O governo federal decidiu que uma ferrovia passaria pela cidade causando alvoroço entre os moradores. O conselho de Northfolk se reuniu na Igreja para votarmos sobre a chegada dos trilhos até o centro de nossa cidade.
Reverendo Simas começou a reunião dizendo:
"-Um trem faz muita fumaça e é barulhento. Vamos acordar à noite com a barulheira."-O pastor disse seu ponto de vista.
"-Mas então não deixaremos o trem andar à noite."-Jeff tentou argumentar.
"-Não podemos opinar sobre isso, Jeff. E nem sobre quem compra as passagens. Santos e pecadores pegam o mesmo trem. Não sabemos que tipo de gente a ferrovia trará para nossa cidade."-Houve um burburinho entre os moradores que assistiam a reunião.
"-Chega de falatório. Vamos votar."-Guto começou. "-Eu primeiro. Acho que deveríamos gastar todo dinheiro da tesouraria para trazer essa ferrovia para cá e quem ficar no caminho desse trem, será atropelado. Meu voto é sim." -Os moradores aplaudiram Guto. O próximo a votar foi Jeff:
"-Sou um homem de negócios. Gosto de fazer dinheiro. Com a ferrovia eu faria muito mais dinheiro. Assim como todos aqui. Ficaremos ricos!"-Terminou seu discurso inflamado sob o aplausos dos moradores e disse: "-Meu voto é sim!". O seguinte à votar foi o reverendo:
"-Eu nunca vi tanta ganância e ambição juntos. Houve uma mudança aqui. Uma mudança que não gosto. Meu voto é não."-O reverendo disse e foi vaiado por alguns participantes. Eu fui a próxima a votar:
"-Acho que uma ferrovia é bom para a cidade mas não gosto da idéia dos trilhos passando por entre as montanhas. Existe uma aldeia lá, a aldeia de Pedra da Lua. Trilhos passando por lá, significa a morte de cada animal e vegetal que vive lá. Não posso pensar somente no meu bem e no da minha família nesse momento. Preciso votar pelos moradores de lá também. Meu voto é não."-Fui vaiada e criticada por defender o povo das montanhas.
"-Silêncio!" -Guto pediu batendo o martelo e continuou: "-São dois votos à favor e dois contra. Vítor, é sua vez de votar."
Vítor se levantou e começou dizendo:
"-Eu vivi toda minha vida numa cidade pequena e sem recursos. Minha esposa está grávida e eu gostaria que meus filhos vivessem em um lugar melhor e com mais recursos. Meu voto é sim."-Guto bateu o martelo encerrando a reunião e dispensou à todos.
À noite, no jantar conversávamos sobre a ferrovia:
"-O sr. Jeff disse que a ferrovia é a melhor coisa que acontecerá à cidade."-Arthur falou animado.
"-A ferrovia não é boa para todo mundo."-Vitória falou seca.
"-Vitoria, não precisava estragar a alegria do menino."-Falei.
"-Só acho que ele tem que saber o verdadeiro significado dessa ferrovia vir para cá."-Falou e nem olhou para mim.
"-Mas pra ele a ferrovia tem um significado diferente."-Falei servindo um copo de suco para ela.
"-Ninguém aqui se importa com o significado da ferrovia para mim?"-Vitória disse me encarando.
"-Vitória, por favor, o que podemos fazer contra isso? A votação aconteceu e eu fui contra. Tu fala como se a culpa disso fosse minha."-Não gosto de discutir com ela na frente das crianças mas precisei desabafar.
"-Ninha, eu só quero defender nosso modo de vida e não quero que ninguém seja despejado de suas próprias terras."-Vitória falou pensativa. Ela se levantou da mesa, veio até onde eu estava sentada, me puxou pela mão e me colocou sentada em seu colo. "-Quero que tu me ajude em uma coisa."-Ela falou com o rosto descansando em meu pescoço.
"-Ajuda em quê, Vi?"
"-Nisso." -Puxou do bolso e me mostrou a Gazeta. "-Vai abrir um concurso pra agente do governo. Quero que tu me ajude a estudar pra passar nisso aqui. Pra eu poder fazer alguma coisa pelo meu povo indígena."-Peguei de sua mão para ler. O governo estava recrutando agentes para monitorar as reservas e em teoria, cuidar do povo indígena. Pensei comigo que se precisava de um agente para cuidar dos índios, isso não era bom sinal. Cuidar por que? Eles nunca precisaram de ajuda federal. Mas enfim, aceitei o pedido de Vitória.
"-Tá, amor, vou te ajudar a estudar. Eu acho que veio uma cópia da constituição junto com os livros que meu pai mandou. Amanhã vou até a biblioteca buscar. E é bom tu estudar direitinho que eu vou cobrar, hein!"-Falei deixando beijinhos em seus lábios.
Algum tempo se passou e Vitória estudou demais. Ela devorou a constituição. Todas as noites eu fazia um questionário sobre algumas leis, direitos e deveres dos cidadãos e ela acertava todas. Prestou o concurso e passou. Enfim, hoje fomos até o centro da cidade para sua nomeação como Agente Indígena:
"-Bem, vejo que trouxe muitos amigos para sua nomeação, senhora Caetano Falcão." Disse o sr. Hazen, supervisor dos agentes indígenas. "-Bem vamos começar. Reverendo, o senhor me empresta sua Bíblia?"
"-A contribuição de nossa cidade para o dia de hoje."-O reverendo entregou o livro com um sorriso no rosto.
"-Coloque sua mão esquerda sobre o livro sagrado e erga sua mão direita."-Sr. Hazen pediu para Vitória.
"-Não podemos começar ainda."-Minha esposa falou.
"-Por que não?"
"-Por que o povo de Pedra da Lua ainda não chegou."-Vitória respondeu.
"-Achei que essa tratado fosse para mantê-las na reserva."-Disse Guto.
"-O tratado é para que possamos nos entender."-Falei intrometida.
"-Podemos nos entender sem elas."-Tiago falou.
"-O cargo é de Agente Indígena. Significa que sou tão agente delas quanto do governo."-Explicou minha amazona.
"-Bem colocado."-Sr. Hazen concordou com a cabeça.
Nem esperamos muito e logo a líder de Pedra da Lua, Júlia Pak, chegou com Nayara, sua esposa e mais alguns representantes da aldeia. Nayara deixou Corre ventos e casou-se com Júlia há dois anos atrás.
"-Ahow!"-Nayara e Júlia vieram ao encontro de Vitória para cumprimentá-la e ficaram ao nosso lado.
"-Agora sim."-Disse Vitória colocando uma de suas mãos sob a Bíblia e levantando a outra.
"-Vitória Caetano Falcão, você como representante do governo dos E.U.A, se compromete a manter a confiança do povo indígena, a convencê-los de nossos desejos de paz e justiça e a devotar-se ao seu bem-estar e melhoria de vida?"
Vitória olhou para as amazonas que estavam ao nosso lado e respondeu:
"-Sim."
"-Pelo poder investido em mim, como Supervidor Distrital de Assuntos Indígenas eu a proclamo Agente Indígena do governo dos E.U.A."- O supervisor encerrou a nomeação sob os aplausos dos moradores.
Sr. Hazen chamou Vitória para uma pequena reunião entre eles dois para conversarem sobre as atribuições de Vitória.

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora