Trevo (Tu)

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Os dias corriam a passos largos aqui em Northfolk. Letícia voltou para Westfolk após meu casamento, mas não sem antes provocar Vitória dizendo que se não me fizesse feliz, ela voltaria para me buscar. Meus pais passaram dois meses conosco, nos ajudando com Maria Vitória. Ela é uma criança que não dá trabalho, mas por ainda estarmos adaptando nossa rotina em função dela, eles terem ficado foi de grande ajuda. Meus pais foram conosco até o cartório de Westfolk, registrar nossa filha. Infelizmente, pudemos registrá-la apenas com meu sobrenome, pois nosso casamento não é reconhecido pela lei dos homens. Vitória estava bem com isso. Segundo ela, melhor Maria ter um sobrenome do que nenhum. Já estávamos entrando no mês de novembro, Maria já estava com quase dez meses e crescia muito saudável e feliz. Vitória estava indo poucas vezes até Corre Ventos mas conseguiu terminar a escola que estavam construindo e as crianças da aldeia já estavam frequentando as aulas.
Estavamos passando por um período de seca na região. Não chovia há quatro meses e já estávamos racionando água.
“-Vitória, Nayara não disse quando vai chover novamente?”-Perguntei à minha esposa enquanto amassava umas frutinhas para Maria.
“-Não, Ninha, ela falou com os espíritos mas não recebeu nenhum sinal por enquanto.”-Vitória respondeu enquanto brincava com Maria.
“-Tá difícil achar água, né. O riacho ali atrás de casa já secou.”-Dei o pratinho com as frutas para Vitória alimentar Maria.
“-Se a coisa piorar, vamos ter que procurar água potável mais ao norte da região. Posso pedir a Sabra que me empreste uma carroça pra gente trazer alguns barris de água.”-Vitória argumentou.
“-Então vamos amanhã que o nosso reservatório já tá secando e não teremos água nem pra nós, nem pros bichos.”- Mostrei pra ela os potes vazios.
“-Então vamos. Amanhã deixamos Maria lá com mainha, pegamos a carroça de Sabra e vamos buscar  água.”-Vitória disse embalando Maria para dormir. Ela comeu todo pratinho de frutas e tomou uma mamadeira cheia de leite. Essa menina vai crescer forte, sem dúvida.
No dia seguinte, como combinado, pegamos nossa filha e fomos até Corre Ventos. Vitória perguntou para Sabra onde poderíamos achar água potável rapidamente, mas o local não era tão perto assim. Levaríamos meio dia de viagem e talvez, na volta, demorrássemos mais por causa do peso que traríamos.
Passamos pelos campos, outrora floridos e agora secos pela falta de chuva. A grama era queimada do sol e as árvores estavam somente com galhos secos.
“-Vitória do céu, olha como tá o campo!”-Falei com tristeza.
“-É, Ninha, tomara que chova logo.Eu nunca tinha visto uma estiagem durar tanto tempo.”-Vitória falou esperançosa.
Andamos mais alguns quilômetros e encontramos o córrego que Sabra nos indicou, com água prórpia para consumo. Enchemos nossos três barris e estávamos voltando quando Vitória percebeu algo errado.
“-Ninha, tá ouvindo?”-Me perguntou ela, parando a carroça.
“-Não tô ouvindo nada, Vitória.”-Fui sincera.
“-Shh! Escuta.”-Me falou cobrindo minha boca com sua mão.
Me concentrei e comecei a ouvir sons de gritos que vinham com o vento.
“-Vitória, alguém precisa de ajuda! São gritos!”-Nem terminei de falar, Vitória acelerou com Trovão, que puxava a carroça, o mais rápido que pôde.
Chegamos em um vilarejo que havia sido incendiado por uma tribo rival. Descemos da carroça e fomos ao socorro das pessoas. É uma cena que se repete. Parecia um dejavú.
Vitória ouviu um grito de criança e entrou em um casebre que estava pegando fogo.
“-VITÓRIA!”-Gritei desesperada e fui correndo na direção da casa mas não deu tempo. A casa desabou, em chamas. “-Não! Vitória, não me deixe!”-Caí de joelhos no chão. A dor tomou conta de mim, um aperto forte no peito e meu pranto não cessava. Levantei minha cabeça e vi um vulto em meio a fumaça e era ela, minha amazona. Me levantei rapidamente e corri em sua direçao.
“-Vitória, pelo amor do Senhor, eu pensei que tu tinha me deixado!”-Falei agarrada em seu pescoço. Ela conseguiu resgatar as crianças. Trazia em um de seus braços, uma menina, de aproximandamente onze anos, e no outro, um menino de uns seis anos de idade. Quando olhei diretamente nos olhos do menino, me apaixonei à primeria vista. Ele tinha um olhinho triste, igual ao meu. Seu olhar era de medo, o pobrezinho estava apavorado e não era pra menos. Cheguei perto do menino e perguntei: “-Tu tá bem? Tá machucado em algum lugar?”-Ele não me respondeu. Apenas me olhava, torcendo sua camisa.
“-Ele não fala muito.”-A menina respondeu. Fui até ela ver se tinha alguma queimadura ou algum tipo de machucado. “-Eu estou bem, essa moça nos tirou da casa bem à tempo, obrigada.”-Ela pegou o menino pela mão e estavam indo para algum lugar.
“-Ei, onde vocês vão?”-Vitória quis saber.
“-Vamos achar um lugar para morar.”-Ela respondeu  como se fosse algo óbvio.
“-Como assim? Vocês não tem nenhum parente? O que vocês são um do outro?”-Obviamente não iríamos deixar duas crianças andando sozinhas por aí.
“-Só temos um ao outro. Minha mãe me abandonou quando eu tinha seis anos. Desde então, ando por aí. Encontrei Arthur quando ele tinha três anos. Trago ele comigo desde que o encontrei. Ele é meu irmão.”-Olhei para Vitória que já estava chorando.
“-Eu sou Ana Clara. Teu nome qual é?”-Perguntei
“-Meu nome é Agnes.”-Agnes era uma linda menina de cabelos cacheados e negros, assim como sua pele, uma princesa de ébano e seu irmão Arthur, era um menino magrinho, com traços indígenas, um príncipe mestiço.
“-Prazer te conhecer, Agnes. Me chamo Vitória e sou uma amazona. Quero que vocês venham conosco. Vamos cuidar de vocês.”-Vitória falou ajoelhada próximo à eles.
Agnes olhou para o irmão como se perguntasse alguma coisa. Eles se olharam por um tempo até que Agnes quebrou o silêncio:
“-Posso trabalhar para vocês contanto que não machuquem meu irmão. Faço as tarefas da casa de vocês, mas não toquem nele.”-Não sei pelo que eles passaram mas a vida não tem sido boa com essas crianças.
“-Quê? Como assim trabalhar? Ninguém aqui quer que vocês trabalhem. Ana e eu vamos cuidar de vocês e é só isso mermo.”-Vitória explicou.
“-Desculpa, mas não estou entendendo. Até hoje as pessoas só nos acolhiam em troca de trabalho. Passamos por vários lares mas sempre me exigiram que eu trabalhasse.”-Agnes falou desconfiada.
“-Agnes, na nossa casa crianças não trabalham. Prometo que ninguém vai machucar à ti ou teu irmão. Só queremos cuidar de vocês, se puderem nos dar essa honra.”-Vitória falou ajoelhada perto da menina. “-E tem mais, posso te treinar e assim tu vai defender teu irmão ainda mais.”-Vitória falou e sorriu.
Arthur olhou para Agnes e a puxou pela mão em direção a nossa carroça. Subimos e fomos para Corre Ventos buscar Maria.
Chegamos em casa passando da meia-noite. Fui aquecer a água do banho das crianças e Vitória foi preparar algo para comermos.
“-Agnes e Arthur, aqui é o quarto de vocês. Podem ficar à vontade enquanto eu preparo o banho de vocês.”-Falei e deixei-os à vontade. Eles estavam extremamente tímidos e acho que Agnes ainda não confiava em nós.
Ajudei-os no banho, pois ainda precisava dar banho em Maria. Estavam bem maltratados pela vida que levavam. Dei uma olhada de relance nas mãos de Agnes e vi calos feitos pela enxada. Certamente obrigavam a menina a trabalhar nos campos. Infelizmente é comum pessoas pegarem órfãos para trabalharem como escravos.
Depois de secos e vestidos, pedi que se sentassem com Vitória à mesa para comerem enquanto eu dava banho em Maria.
“-Ei, por que vocês não jantaram ainda?”-Perguntei saindo do banho com Maria.
“-Vamos jantar todos juntos. Somos uma família.”-Vitória disse arrumando os pratos na mesa.
Jantamos em silêncio. Vitória perguntava uma coisa ou outra e Arthur apenas confirmava ou negava balançando a cabeça.
Terminamos o jantar e fui ajudar Vitória com a louça, mas Agnes fez questão de ajudar. Disse que não se sentiria bem se não ajudasse. Vitória deixou meio relutante, mas acho importante que as crianças sejam ouvidas. Estamos em um período de adaptação e é fundamental que elas se sintam à vontade.
Peguei meu livro de Anatomia e voltei para a mesa para estudar. Arthur parou do meu lado:
“-Oi, pequeninho, tu quer ver o que eu tô fazendo?”-Ele me fitava com aqueles olhinos tristes e curiosos, acenando que “sim” com a cabeça.
Coloquei-o sentado em meu colo e ia mostrar as gravuras do livro mas pensei melhor. Não eram ilustrações para mostrar à uma criança de seis anos. Pedi à Vitória que me alcançasse um livro com ilustrações de animais. Ele ficou encantado com as figuras.
Dei papel e lápis para ele, caso quisesse desenhar. Fiquei uns minutos admirando o pequeno príncipe quando me atentei para o horário:
“-Vitória, já é madrugada e essas crianças ainda acordadas. Deixa isso pra amanhã e vamos para cama.”-Me levantei com Arthur no colo, Vitória pegou Maria e chamou Agnes para deitar.
Agnes não queria se separar do irmão então, acomodamos as crianças juntas, na cama grande no quarto delas, e não demorou muito para que caíssem no sono. Saímos devagar, sem fazer barulho.
Já em nosso quarto, deitadas, Vitória me perguntou:
“-Ninha, tu tá com medo dessa nossa nova vida? É que eu nem te consultei antes de ficar com as crianças.”- Meu par de olhos favoritos quis saber.
“-Olha Vi, eu fiquei um pouco surpresa quando tu disse que queria cuidar das crianças, mas medo mesmo não tive, não. Vou trabalhar um pouco mais pra sustentar essas crianças e contigo do meu lado, eu enfrento o que for.”-Falei acariciando seu rosto.
“-Obrigada por me apoiar e me acompanhar nessa aventura.”-Vitória beijou a palma de minha mão.
“-Tu é a única pessoa com quem eu quero essa aventura.”
Vitória chegou mais perto, roçando seu nariz no meu e começou a me beijar calmamente. Sua língua se aprofundava e explorava minha boca, como se mapeasse todos os lugares.
Desceu seus beijos pelo meu pescoço, lambendo e chupando onde ela sabe ser meu ponto fraco. Eu já estava sentindo minha intimidade umedecendo.
“-Geme baixinho, Ninha, vai acordar as crianças.”-Certamente é mais fácil falar do que fazer.
Abafei meus gemidos com o travesseiro enquanto Vitória descia sua boca pelo meu corpo, contornando meus seios com sua língua. Escorregou sua mão por meu abdomem até minha intimidade e eu já estava pronta quando ouvimos um chorinho:
“-Ninha, tua filha acordou.”-Disse Vitória dando risada.
“-Não achei graça, Vitória. Olha a situação que tu me deixou.”-Mostrei à ela sua prórpia mão molhada.
Vitória não parava de rir da minha cara de frustração mas não tinha outro jeito. Nos levantamos e fomos ver as crianças.
Chegamos no quarto e vimos Arthur com Maria no colo, tentando ninar a pequena e Agnes tentando ajudar. Quando Agnes nos viu no batente da porta, se lançou sobre Vitória:
“-Não vou deixar que bata nela!”-Disse a pequena guerreira defendendo seus irmãos, braba como uma onça.
Vitória pegou a menina no ar e puxou para um abraço:
“-Eu não sei pelo que vocês passaram e tu não precisa me falar se não quiser. Ninguém aqui vai maltratar vocês.”-Vitória finalizou deixando um beijo na cabeça de Agnes. “-Ninha, traz os dois e vamos sentar no tapete.”-Vitória me pediu. Peguei Maria e Arthur e fomos para sala.
Vitória sentou-se no tapete com perninhas de índio e Agnes sentou-se à seu lado. Entreguei Maria para ela e Arthur se sentou do outro lado de Vitória.
“-Ninha, pega o violão e tenta me acompanhar.”-Prontamente fui buscar o violão. Achei que ela fosse cantar a música que fez para Maria, mas não era.
Vitória começou a se balançar, embalando assim as três crianças juntas e iniciou sua canção:
“-Tu é trevo de quatro folhas
É manhã de domingo à toa
Conversa rara e boa
Pedaço de sonho que faz meu querer acordar pra vida
Ai, ai, ai...”
Vitória me olhava e ria pela forma que eu tentava acompanhá-la no violão. Maria já havia adormecido e os dois já estavam se entregando ao sono. Continuou:
“-Tu que tem esse abraço casa
Se decidir bater asa
Me leva contigo pra passear
Eu juro, afeto e paz não vão te faltar
Ai, ai, ai...”
Ela olhava diretamente em meus olhos enquanto cantava essa parte da música. Errei os acordes o tanto de vezes que meu coração errou as batidas:
“-Ah, eu só quero o leve da vida pra te levar
E o tempo para
Ah, é a sorte de levar a hora pra passear
Pra cá e pra lá
Pra lá e pra cá
Quando aqui tu estás.”
Quando Vitória terminou sua belíssima canção, os três estavam dormindo em seu colo:
“-Ninha, me ajuda, pega Maria que levo os dois.”-Me falou susurrando.
Larguei o violão e peguei Maria. Vitória logo se levantou com Arthur e Agnes levando um em cada braço.
Com as crianças já acomodadas, voltamos para nosso quarto e Vitória estava pensativa:
“-Sabe, Ninha, eu não lembro dos meus pais biológicos. Acho que Sabra lembra mas AnaB nem chegou a conhecê-los. Tivemos tanto carinho e amor por parte de mainha que eu nem tinha pensado nisso até hoje. Essas crianças, mesmo com a pouca idade, já sofreram tanto que nem consigo imaginar. Quem é que tem coragem de abandonar uma criança com seis anos e outra com três? Não consigo aceitar isso.”-Minha Vitórinha é realmente o ser mais bonito que eu tive a sorte de conhecer.
“-Ô, meu amor, a gente vai cuidar deles. Não fica assim, triste.”-Puxei-a para perto de mim e fiz cafuné em seus cabelos.
“-Sabe a música que eu cantei antes pras crianças?”-Levantou a cabeça e perguntou me olhando.
“-É linda, vida! Que música mais linda que tu fez pras crianças.”-Falei emocionada.
“-Que bom que tu gostou porque eu fiz ela pra ti. Tu é meu trevo de quatro folhas, Ninha.”-Sorri e ela me beijou.
Nem percebi quando adormeci. Acordei com um barulho no quintal. Era Vitória e Agnes treinando enquanto Arthur as observava.
“-Bom dia, família linda.” Dei um bom dia sonolento encostada na porta. Arthur veio me abraçar. “-Bom dia, príncipe.”-Deixei um beijo em sua cabeça. “-Já tomaram café?”-Perguntei.
“-Sim, Ninha, ja dei café pra esses dois e Maria ainda tá dormindo.”-Vitória disse enquanto ensinava alguns movimentos à Agnes.
Entrei para tomar café e Arthur veio comigo. Servi meu café e enchi um copo com suco, que Vitória deixou pronto, pra ele.
“-Quer um pãozinho também? Esse pãozinho da Vitória é meu preferido mas não fala pra ela porque senão ela fica convencida.”-Ele deu uma risada baixinha, colocando a mão na boca para abafar o riso.
Enquanto preparava o pãozinho pra nós, continuei conversando:
“-Tu pode rir se tu quiser, Arthur. Nós queremos que tu te sinta à vontade e saiba que aqui, mais que tua casa, é teu lar.”-Falei e ele pediu colo. Tomamos café em silêncio enquanto as duas pareciam que se espancavam lá na rua. Espero que Vitória não pegue muito pesado com a menina. Arthur estava apaixonado pelo livro com as figuras de animais que havia dado à ele na noite anterior. Vez em quando passava a mão retirando a franja dos olhos enquanto olhava as figuras.
“-Ei, tu quer cortar o cabelo?”-Fez que “não” com a cabeça. “-Só a franja então, pra não te atrapalhar quando tu for olhar as figuras?”-Acenou que “sim” com a cebeça.
Peguei Maria e a deixei deitada, dormindo, no tapete da sala para ouvirmos caso ela acordasse.
Fomos para rua, coloquei uma toalha em seus ombros, sentei-o em uma cadeira e ia começar a cortar a franja quando Agnes gritou:
“-Ei, o que está fazendo com meu irmão?”-Veio correndo descontrolada na minha direção mas foi abalroada por Vitória.
“-Nunca dê as costas pro teu oponente.”-Falou perto da menina que estava caída no chão.
“-Vitória! Precisava derrubar a menina?”-Questionei.
“-Shhh, quieta Ninha, eu tô ensinando.”- Eu também aprendi a lição de não questionar a autoridade materna.
Vitória foi até a menina e ajudou-a se levantar. Ela limpava os joelhos da menina enquanto falava:
“-Tu não precisa falar sobre as coisas que vocês sofreram se tu não quiser mas tu precisa dar uma chance pra gente te provar que queremos ficar com vocês. Eu já disse que queremos cuidar de vocês. Também sou uma filha da guerra e só conheci o que era o amor porque me permiti conhecer.”-A pequena olhava Vitória com atenção.
“-Vitória, leva ela pra dentro e lava os machucados. Daqui a pouco eu entro pra fazer os curativos.”-Falei enquanto terminava de cortar a franja do pequeno.
Vitória colocou Agnes em suas costas e ia entrando quando a pequena falou:
“-Eu vou ficar forte, Vitória, e um dia também vou te carregar em minhas costas.”-Disse abraçando a amazona no pescoço.
Entrei com Arthur e exibi seu cabelo:
“-Vejam esse belo príncipe com essa franja muito bem cortada.”-Fiz uma graça e ele riu, dessa vez sem abafar o riso.
“-Mas que homem lindo. Digo sem dúvidas que é o homem mais bonito de Northfolk.”-Vitória, já com Maria em seu colo, pegou o pequeno pela mão e o fez dar uma voltinha.
“-Tá lindo, mano, agora consigo ver teus belos olhos.”-Disse Agnes acariciando o rosto do irmão.
Peguei meu kit de primeiros socorros e fui fazer os curativos em Agnes. Limpei com cuidado para não lhe causar mais dor. Vitória fazia o almoço quando lembrei:
“-Vida, preciso ir até o acampamento dos imigrantes vacinar as crianças. Vou levar um barril de água para eles, tá?”-Sabia que Vitória não negaria.
“-Claro, Ninha, leva água pra eles. Tá difícil sem chuva.”-Vitória falou com pesar.
Fui logo depois do almoço. A vacinação demorou mais que o esperado e voltei para casa já era tarde da noite.
Cheguei e a casa estava silenciosa. Fui até o quarto das crianças e não estavam lá. Onde esses quatro se meteram?
Fui para nosso quarto e me deparei com Vitória deitada no centro da cama, com os braços abertos, com Maria dormindo sobre seu peito, Agnes dormindo em seu braço esquerdo e Arthur em seu braço direito. Troquei de roupa em silêncio e me deitei devagar ao lado de Arthur. Passei a mão em seus cabelos e ele se mexeu, rolando para meu lado. Enterrou sua cabeça em meu peito e disse:
“-Mainha...”-Era a voz mais doce do mundo. Meus olhos se encheram d’água. Eu era sua mainha.
Vitória abriu os olhos, virou a cabeça para o meu lado e eu falei baixinho:
“-Ele me chamou de mainha.”-Falei num sorrisão.
“-Eu ouvi e confesso que fiquei com um tiquinho de ciúme. Meus braços estão dormentes há uma hora e ninguém me chamou de mainha hoje.”-Falou tentando não rir alto.
“-Eu te amo, mamãe mais bela de todas!”-Beijei meus dedos indicador e médio e fui andando com eles como se fossem perninhas e depositei nos lábios de Vitória.
“-Eu te amo, minha vida.”-Me puxou com Arthur mais pra perto de si e dormimos todos aconchegados no abraço casa da mamãe leãozinho.

Nota da autora: Parece que a família cresceu, não é mesmo? Capítulo pra deixar o coração quentinho. 😘

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora