A Mina

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Obrigada a todas pelos 10k de visualizações. É realmente uma coisa grande :)
Sem mais, bora pro capítulo.
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Passadas as festas de final de ano, iniciou-se um 1868 cheio de oportunidades para Northfolk. A cidade estava crescendo aos poucos. Estava expandindo para novas oportunidades de trabalho e muitas pessoas estavam vindo de outras cidades tentar a vida aqui. Era uma manhã de janeiro e eu estava chegando na clínica quando vi uma aglomeração perto do mercadinho. Fui lá ver, lógico:
“-Eu estou recrutando jovens homens que queiram trabalhar pelo desenvolvimento de Northfolk.”-Disse o senhor que tinha alguns panfletos nas mãos.
“-Que tipo de trabalho?”- Um jovem perguntou.
“-Vamos escavar uma mina de carvão para fornecer esse minério para outras cidades.”-Explicou o contratante.
“-Senhor, não é perigoso, partindo do princípio que vocês usarão explosivos, contratar meninos inexperientes?”-Perguntei ao contratante.
“-Senhorita, eu estou aqui oferecendo uma oportunidade para esses rapazes ajudarem suas famílias.”- Ele falou, saiu distribuindo os panfletos e não respondeu minha pergunta.
“-Caetano, deixa os meninos trabalharem. É bom para o comércio aqui da cidade. Depois eles vão lá no meu Saloon gastar com minhas meninas.”-Falou Sr. Iorc. Sujeito insuportável.
“-Sim, olha aqui no panfleto. Ele tá oferencendo cinquenta centavos de dolar por hora trabalhada. Vai aquecer o comércio na cidade.”-Falou o Sr. Jeff, o dono do mercadinho.
“-Vocês não estão pensando nos meninos. Os garotos serão expostos à umidade, roedores, pó de carvão e sem falar da pólvora e dinamite. Não tem como ser bom para eles essa exposição a tantas coisas prejudiciais.”-Tentei argumentar.
“-São imigrantes, Caetano. Ninguém se importa se alguns ficarem doentes.”-Falou Tiago.
“-Eu me importo! Que vergonha, Sr. Iorc, desejando o mal desses meninos.”-Virei minhas costas e fui para clínica.
Eu estava trabalhando na manipulação de medicamentos quando um senhor entrou na clínica.
“-Boa tarde, doutora, a senhora pode me atender?”- Me perguntou um senhor com as roupas e o rosto sujos de carvão.
“-Claro. O que o senhor está sentindo?”-Me levantei e fui atendê-lo.
“-Estou há dias com uma tosse que não pára...”-Falou em meio ao ataque de tosse.
“-O senhor trabalha na mina?”- Perguntei já separando um vidro de xarope para ele levar.
“-Sim. Eu vim com o Sr. Johnson lá do Leste. Trabalhava nas minas de lá. Os minérios ficaram escassos então viemos para cá.”-Falou e tossiu.
“-Entendo. Tome esse xarope para sua tosse, use de seis em seis horas. Se a tosse não melhorar, volte para eu fazer alguns exames.”-Falei abrindo a porta. Me pagou, agradeceu e saiu.
Estava fechando a porta e Vitória entrou:
“-Roi, NaClara.”-Me agarrou pela cintura e me beijou.
“-Vitória, tô muito feliz com teus beijos mas o que tu tá fazendo aqui?”-Perguntei enlaçada em seu pescoço.
“-Além de vir ver minha noiva, vim trazer Sabrina. Ela queria comprar aquela linha que vocês usam pra sutura. A mocinha não pára de praticar.”-Disse mordendo meu queixo.
“-Tu acabou de me dar uma idéia, Vitória. Quero ajudar esses trabalhadores da mina e vou chamar Sabrina pra me ajudar. Tu acha que Sabra vai deixar?”-Perguntei fitando seus belos olhos.
“-Óia, Ana, as muié da minha família são tudo rendida por ti. Sabrina vai adorar te ajudar e Sabra, que faz tudo pela filha, vai deixar com certeza.”-Falou e deixou um beijinho no meu nariz.
Aprontei alguns medicamentos e Vitória me ajudou a carregar. Fomos para o local da mina.
Chegamos lá e haviam muitos jovens trabalhando. Estavam animados por receberem seus sustentos. Olhei ao redor e vi uma tenda montada. Era um espaço grande usado para descanso dos trabalhadores. Poderia ser usado como hospital de campanha, caso fosse necessário.
Avistei o Sr. Johnson e fui falar com ele:
“-Boa tarde, Sr. Johnson. Sou a Drª Caetano. Gostaria de cuidar da saúde do seu pessoal.”
“-Bem, doutora, acho que não começamos muito bem lá no centro da cidade, mas eu apreciaria muito sua ajuda. Tenho alguns rapazes doentes lá dentro. Se a senhorita puder atendê-los, lhe agradeço e pagarei por consulta.”-Disse já tirando uma mascada de dinheiro do bolso.
“-Nós vemos isso depois, Sr. Johnson, agora vou examinar os rapazes.”-Entrei na tenda e encontrei garotos muito jovens com as mãos e pernas mordidos por ratos. Eu teria muito trabalho lá. Pedi à Vitória que buscasse Sabrina e Letícia. Eu precisava de toda ajuda possível.
Os dias se passavam e o trabalho só aumentava. Sabrina e Letícia me auxiliavam nos atendimentos e Vitória, Sabra, AnaB e AnaLu escaldavam as bandagens para reutilizarmos e buscavam medicamentos quando era necessário.  Eu já nem estranhava as explosões de tão frequentes que eram, apenas rezava para que a mina não desabasse com os meninos lá dentro. Parece que ninguém me ouviu.
Uma explosão e gritos abafados:
“-Socorro! Estamos presos!”-Ouvi um rapaz gritando.
Saímos todas correndo do hospital improvisado e fomos em direção à mina. Estava com a entrada coberta por pedregulhos.
“-Vitória, vou na vila buscar ajuda. Vão tentando tirar as pedras. Os meninos não vão aguentar muito tempo lá sem ar.
Montei em Trovão, por ser mais veloz,  e fui a té a vila buscar socorro.
Minutos depois cheguei com os reforços. Todos os homens da vila se ofereceram para ajudar.
Com muito esforço e algumas alavancas, conseguimos retirar uma pedra enorme que cobria uma parte da entrada. Os rapazes estavam saindo bastante machucados. Cortes na cabeça, braços quebrados, pernas sangrando pelo desabamento. Encaminhei todos ao hospital de campanha e começamos os atendimentos. Dei falta de Vitória. Ela devia estar ajudando os homens a tirar as pedras.
Alguns minutos se passaram e ouvimos outro desabamento. Em seguida, Sabra entrou desesperada no hospital e disse:
“-Vitória ficou presa dentro da mina! Ela entrou para retirar um rapaz e a mina desabou!”-Meu braço adormeceu, meu coração parecia que ia saltar fora do corpo. Saí correndo de lá para ajudar a remover as pedras.
“-Ajudem! Vitória tá la dentro!” -Falei em meio aos prantos.
“-Calma, doutora, estamos fazendo todo possível.”- Falou Guto, retirando algumas pedras.
Os homens colocaram um tronco entre algumas pedras e fizeram uma alavanca. Fizeram força, todos juntos e moveram mais um pedregulho, liberando um espaço pequeno. Eu passaria por ali. Corri até o hospital, peguei minha maleta e entrei pela fresta da mina. Andei pelas galerias lá dentro procurando por Vitória. Dois rapazes passaram por mim. Levei eles até a saída. Aquilo era um labirinnto. Perguntei se haviam visto Vitória e negaram. Voltei pra dentro das galerias e a mina estava ruindo novamente. Era questão de minutos até tudo aquilo desabar.
“-Vitória!”-Gritei ecoando minha voz pelas galerias.
“-Ana, aqui!”- Ouvi a voz de Vitória ao longe.
Corri procurando por ela e encontrei. Estava tentando tirar uma pedra enorme de cima da perna de um rapaz, que não devia ter mais de quinze anos.
“-Ana, me ajuda! A perna dele tá presa aqui embaixo!”-Disse Vitória com água quase pela cintura. A água quase chegava na cabeça do rapaz.
“-Vitória, vamos ter que amputar a perna do menino. Essa pedra nem se mexe.”-Falei já abrindo a maleta para pegar a serra.
“-Não, Ana, espera. Já volto.”- Mas onde ela iria numa hora dessas?
Dois minutos depois, Vitória voltou com um barril pequeno de pólvora e uma banana de dinamite.
“-Ma o que tu pretende com isso, criatura?”-Perguntei incrédula.
“-Vou explodir a pedra, ué!”- Me falou como se fosse uma coisa natural.
“-Tá maluca, Vitória, vai desmoronar tudo aqui.”
“-Não, Ana, presta atenção, vou raspar bem no meio da pedra, abrindo uma valeta, colocar um pouco de pólvora e a dinamite. O explosivo é pequeno, vai rachar essa pedra no meio. Vai dar certo.”-Falou como quem sabia o que estava fazendo e assim fez: raspou a pedra com a faca, abrindo um caminho na pedra, colocou pólvora e a dinamite. Cobriu o rosto do rapaz com um pedaço de madeira para os estilhaços não lhe atingirem e acendeu a pólvora, batendo duas pedras, uma na outra. Corremos para nos abrigar da explosão e nos abraçamos.
Uma fumaça densa se formou e Vitória correu para buscar o menino. Ele desmaiara pela explosão, mas sua perna estava livre e inteira por milagre. Vitória voltou com o garoto no ombro e corremos para a saída. Os moradores que estavam ajudando na retirada das pedras haviam conseguido liberar mais um espaço. Passamos o garoto desmaiado pela abertura, logo depois eu passei mas Vitória não conseguiu.
“-Tá desabando!”-Guto gritou e me arrastou para longe da mina.
“-Vitória!-Gritei tentando voltar para buscá-la.
Mais um desabamento e Vitória estava presa lá dentro. O som cessou. Ninguém ouvia os gritos de Vitória. Sabra chorava com as mãos na cabeça. Me livrei de Guto e corri para tentar retiar as pedras mais uma vez. 
Todos estavam exaustos pela força excessiva que estavam fazendo. Já era noite quando os homens resolveram parar. Continuei com Sabra e AnaB a retirar as pedras quando vi o braço de Vitória.
“-Guto! Jeff! Vitor! Me ajudem, por favor! Achei Vitória!”-Eles vieram correndo e retiraram as pedras mesmo exaustos. Conseguimos liberar Vitória e a trouxemos para o hospital. Obrigada Deus, ela ainda respirava.
Vitória tinha ferimentos pelo corpo todo, principalmente na cabeça. Havia um absesso no lado direito da cabeça. Letícia disse que precisávamos esperar para ver se o inchaço diminuia. O tempo passava e Vitória não acordava.
No terceiro dia, após o desabamento, Vitória acordou:
“-O que aconteceu?”-Me perguntou com a o rosto ainda inchado pelos ferimentos.
“-A mina desabou quando tu ia sair lá de dentro.”-Falei fazendo carinho em seu rosto.
“-Que mina?”-Falou tirando minha mão de seu rosto e continuou: “-E tu, quem é?”-Perguntou partindo meu coração.
“-Ah, não...”

Nota da Autora: AnaVitoria shipper não tem um minuto de paz. Até sábado que vem ;)

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora