Mudando o Coração

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O tempo passava depressa e a ferrovia de Northfolk estava praticamente pronta. Os trilhos já estavam terminados e a estação de trem, localizada no centro da cidade estava sendo terminada. A central de correios e telégrafos expandiu seus serviços, ganhando assim, um novo local, maior e bem próximo à estação de trem. Cheguei cedo na central dos correio para buscar uma correspondência que eu estava ansiosa para ler:
“-Está aqui, Dra. Caetano! Achei finalmente!”-Vítor falou me entregando o grosso envelope que estava perdido no meio do montante de cartas. Estava tudo um pouco bagunçado ainda.
“-Obrigada, Vítor.”-Agradeci já abrindo o envelope.
“-Deve ser bastante importante. A senhora perguntou por isso a semana toda.”-Ele falou curioso.
“-Tô nervosa, Vítor! A Sociedade Americana de Medicina votou para aceitar mulheres médicas. Publicaram uma pesquisa sobre os médicos mais renomados do país.”-Eu estava com o livro em minhas mãos mas nervosa demais para ler se eu havia sido aceita. “-Vítor, por favor, leia você.”-Entreguei para ele. Ele procurou na letra “A” os nomes aceitos e disse:
“-Dra. Ana Clara Caetano! Está aqui! O primeiro nome da lista! Parabéns, doutora, a senhora foi aceita!”-Ele me entregou o livro e me deu um abraço me felicitando.
“-Obrigada, Vítor.”-Agradeci muito emocionada.
Me despedi de meu amigo e corri até o restaurante da Greice onde Vitória e as crianças me esperariam para tomarmos café. Corri até lá e o restaurante estava bem movimentado:
“-Vitória! Adivinha só?”-Falei muito animada.
“-Tu foi aceita na Sociedade Médica.”-Ela falou bebendo seu chá.
“-Ah! Que sem graça, Vitória.”-Falei finjindo que fiquei magoada.
“-Mas é bonitinha!”-Ela falou me puxando pra perto de si e me dando vários beijos no rosto. “-Parabén, NaClara! Tu é incrível!”-Ela dizia esfregando seu rosto no meu.
Arthur e Maria riam da nossa interação mas Agnes parecia distante e melancólica, suspirando enquanto bebia seu café.
Nesse instante, Jeff chegou até nós, e sentou-se em nossa mesa:
“-Ei, Agnes, tu anda deprimida há dias. Tem que ficar com gente da tua idade.”-Ele chegou já puxando um pedaço de pão que estava em nossa cestinha e começou a comer conosco. “-Não gosto de te ver assim.”-Greice chegou para servir-lhe o café.
“-Sr. Jeff, eu estou bem. Obrigada pela preocupação.”-Ela disse sorrindo fraco.
“-Então, você lembra da Melanie, a prima de Manoela? Pois ela está na cidade e quer passear contigo. Tá doida pra te conhecer.”-Jeff falou bebendo seu café.
“-Jeff, acho que Agnes agradeceria se tu não se metesse na vida dela.”-Greice falou repreendendo-o.
“-Olha, Jeff..”-Agnes foi interrompida por ele.
“-Passear com uma garota é ótimo para passar a tarde. Não é mesmo, Lucas?”-Disse Guto, se sentando junto à nós, juntamente com Lucas que trazia Nahoa consigo. Quem convidou toda essa gente para nossa mesa?
“-Sim! Eu não diria “não” para uma garota bonita.”-Lucas se acomodou ao lado de Vitória, que pegou Nahoa no colo.
“-O que diz, Agnes?”-Jeff indagou à minha filha.
“-Eu aprecio o convite mas...”
“-Sabe, é que mais ou menos eu já disse que tu ia.”-Jeff falou bebericando seu café.
“-Disse que eu ia?”-Agnes falou balançando a cabeça.
“-Ela tá ansiosa pra conversar contigo, Agnes.”
“-É que...eu não tô pronta pra namorar ainda...”-Ela falou envergonhada.
“-Mas quem falou em namoro? Eu não falei nada sobre namoro. É apenas um passeio não é, rapazes?”-Lucas e Guto confirmaram.
Agnes olhou para Vitória como se pedisse algum tipo de conselho:
“-É contigo, pretinha.”-Vitória disse divertida com uma sobrancelha erguida.
“-Bom, se tu disse que eu ia, então acho que tenho que ir né, Jeff.”-Ela disse conformada.
“-Ótimo, ótimo! Vamos lá agora mesmo!”-Disse Jeff terminando de tomar seu café e já se levantando.
“-Agora? Já?”-Disse Agnes um pouco assustada.
“-Sim, o dia está lindo para um passeio.”-Ele se levantou, pegou Agnes pela mão e levou-a consigo.

Narrador PoV:
Jeff arrastava Agnes pela mão, que tentava ajeitar seu cabelo, um pouco bagunçado pelo vento, quando chegaram no Armazém:
“-Oh! Agnes! É um prazer finalmente poder conversar contigo. Eu sou Melanie, prima de Manoela. Que bom que tu aceitou passear comigo.”- A moça foi cumprimentá-la muito animada.
“-Por que vocês não vão caminhando na frente e Manoela e eu vamos atrás?”-Jeff propôs.
“-Vejo vocês mais tarde, tio e Manoela. Até mais.”-A jovem enganchou seu braço no de Agnes e partiu apressada para seu passeio. Ela logo começou a puxar conversa:
“-Então, sempre viveu aqui em Northfolk?”-Melanie perguntou.
“-Eu nasci...”-Agnes não pôde concluir.
“-Eu acabei de chegar de Westfolk! Que cidade linda! Depois que meu pai morreu, minha mãe e eu decidimos sair por aí e conhecermos as cidades, sabe? Respirar uns ares diferentes e aqui o ar é muito bom. Tu já esteve numa cidade grande como Westfolk?”
“-Na verdade eu...”-Novamente foi interrompida.
“-Eu quero conhecer todas as cidades grandes! Quero ir para Southfolk e também pegar um navio para conhecer Paris ou Londres. Mas não irei antes de me casar, é claro. Tu pretende se casar?”-A moça falante perguntou.
“-Eu...”
“-Mas é calro que quer! Que cabeça a minha! Todo mundo quer se casar. Não há propósito em crescer se não se casar, tiver filhos...”-Agnes rapidamente deu a volta com sua acompanhante, voltando para o armazém e ela continuava: “-Eu quero ter muitos filhos, um rancho enorme e fazer uma horta pra plantar todo tipo de coisas. E sabe, eu gostaria de um lindo jogo de porcelanas...”
Já estavam novamente próximas ao armazém de Jeff e Melanie nem havia percebido:
“-Sabe, tu é tão quietinha. Aposto que tem muitas aventuras pra me contar. Eu já tive uma, foi na exposição de Eastfolk. Me separei da mamãe e fiquei sozinha por uma hora inteira antes que me achassem e...”
“-Sr. Jeff, eu preciso ir trabalhar.”-Agnes disse massagenado suas têmporas e entregando Melanie ao seu tio.
“-Ah, que pena..mas já? Podemos contar contigo no piquenique semana que vem? O reverendo me pediu pra fazer um discursinho sobre minha cidade natal e tu tem que ir.”-Ela disse se aproximando de Agnes que deu dois passos para trás.
“-Ah...desculpe mas eu vou estar fora da cidade semana que vem. Obrigada pelo convite e prazer em te conhecer.”-Agnes partiu rapidamente dali antes que a moça desandasse a falar novamente.
A filha da Dra. Caetano correu pela rua sentido o vento em seu rosto e rindo da situação que acabara de passar com a jovem. Ela ria enquanto corria. Chegando perto do restaurante da Greice, foi chamada por Vítor e Maro que almoçavam lá:
“-Ei, Agnes, venha! Por favor, sente-se conosco.”-Vítor convidou-lhe.
“-Obrigada, Vítor. Como vai tia Maro?”-A morena perguntou.
“-Vou bem, Agnes. E me conta como foi o passeio com a sobrinha do Jeff?”-Maro perguntou curiosa.
“-Ela é uma moça adorável, não é?”-Vítor perguntou.
“-Bem ela...”-Agnes foi interrompida pelo reverendo que sentou-se junto à eles.
“-Então você está cortejando ela?”-Simas perguntou.
“-Não! Nada de cortejo.”-Agnes riu baixinho e continuou. “-Apenas passeamos.”
“-Bom, isso é ótimo!”-Vítor disse animado e continuou: “- É que minha prima, Sophia, vem nos visitar e...eu ficaria muito grato se tu a acompanhasse enquanto ela estiver por aqui.”-Agnes respirou fundo, colocando a mão na testa.
“-Tu nos faria um grande favor, Agnes. Prometemos à ela que se divertiria enquanto estivesse aqui.”-Maro falou.
“-Prometeram? Eles prometeram, Agnes.”-Pastor Simas disse olhando para Agnes. Ela apenas olhou para o casal acentindo que iria.
Agnes conversou por mais alguns minutos e logo se levantou para ir trabalhar. Ela havia combinado com Tiago que, pela tarde, tomaria conta do Sallon enquanto ele estivesse fora. Tiago havia ido até uma cidade vizinha para entregar algumas caixas do whisky que ele mesmo fabricava. Agnes relutou no início pois não simpatizava muito com o dono do Sallon, porém ele a queria pois soube de sua experiência administrando um pequeno sallon na construção da ferrovia. Tiago lhe ofereceu uma quantia bastante interessante e ela trabalharia apenas meio período.
Agnes estava quase chegando no Sallon, quando ouviu gritos das meninas que trabalham lá. Ela correu até lá, entrando rapidamente. Chegando, viu um homem que tentava agarrar uma das meninas à força, ameaçando-a com uma garrafa quebrada:
“-Vamos pro quarto agora!”-O homem gritava agarrando o braço da moça.
“-Não!”-A menina gritava aos prantos, tentando puxar seu braço do agarrão do homem.
“-Ei!”-Agnes puxou o homem pela gola do casaco afastando-o da garota.
“-Quem é você, pirralha?”-Aqui não é lugar pra ti. Volta pra barra da saia da tua mãe.”-O homem falava apontando a garrafa para Agnes.
Ela levantou os braços, mostrando que estava desarmada e começou a balançar sua mão esquerda, como se estivesse abandando para ele. O homem se distraiu olhando para a mão da garota que lhe abanava e nem percebeu quando com seu punho direito, Agnes socou-lhe o queixo. O homem caiu desacordado no chão do Sallon.
“-Diacho de queixo duro.”-Agnes falava e ria enquanto balançava sua mão direita.
Ela pegou o homem desmaiado pela gola do casaco e arrastou-o, atirando para fora do Sallon. Voltando, foi ver como a moça estava:
“-Obrigada, Agnes. Por favor não conte ao Tiago que eu me neguei a fazer o programa...ele vai me...”-A moça falava muito nervosa.
“-Eu não vou falar nada pra ninguém. Aquele homem era um idiota. A culpa não é tua.”-Agnes foi para trás do balcão e preparou uma dose de whisky para a garota. “-Eu te faria um chá, mas só tem bebidas alcoólicas aqui.”-Ela alcançou o copo para a moça. A garota, trêmula, pegou e sorveu  o líquido devagar.
Agnes ficou observando o pulso machucado da menina e resolveu ajudar. Colocou sua mão no bolso, retirou uma latinha redonda e pegou um pouco do conteúdo com seus dedos e espalhou por sobre um dos pulsos da moça, massageando devagar:
“-Essa é uma pomada muito boa. Sou desastrada e me bato em tudo.”-Agnes puxava um assunto aleatório para acalmar os ânimos. “-Minha mãe não me deixa sair de casa sem levar uma dessas no bolso.”-A moça achou graça e riu.
“-O que foi aquilo que tu fez com a tua mão antes de bater nele?”-A moça terminou seu drink, colocando o copo sobre o balcão.
“-É um truque que minha mãe, Vitória, me ensinou. Tu deve conhecê-la. É uma amazona braba com cabelo cacheado igual ao meu.”-Agnes falou terminando a massagem e fechando sua latinha.
“-Sei quem é. Já a vi caminhando aqui pelo centro da cidade. Ela sempre olha com cara de apaixonada pra Dra. Caetano. Eu acho tão bonito.”-A moça, já mais calma, confirmou.
“-É ela mesma. Eu era pequena, acho que tinha uns dez anos de idade e ela me treinava. Algumas vezes ela me pegou nesse truque. Ela queria que eu aprendesse a me concentrar e não me distrair. Era cada tapão que eu levava no ouvido quando me distraía...”-A garota riu alto da história que Agnes contava. “-Bem, eu tô um pouco envergonhada porque não perguntei teu nome.”-Agnes falou tímida.
“-Meu nome é Emily.”
“-Emily, tu acha que consegue trabalhar hoje ou precisa descansar? Eu preciso terminar de repôr as bebidas porque o movimento vai começar daqui à pouco.”-Agnes perguntou entregando à ela sua latinha. “-Pode ficar com a pomada.”
“-Eu posso trabalhar. Obrigada por se preocupar.”-Emily sorriu agradecida.
O resto da tarde correu sem maiores problemas. O movimento estava grande quando ela passou o turno para Guto que cobriria o turno da madrugada. Era tarde da noite quando Agnes foi para casa com a sensação do dever cumprido.
Chegou em casa, abrindo a porta devagar e sem fazer barulho para não acordar a casa toda. Mas tinha uma pessoa que ainda à esperava acordada:
“-Demorou, filha.”-Dra. Caetano levantou seus olhos de seu livro.
“-Oi, mãe. Insônia?”-Agnes perguntava, retirando suas botas ainda na porta de casa.
“-Eu tô lendo alguns artigos. Daqui à pouco vou deitar. Mas me conta, como foi o passeio com a sobrinha do Jeff.”-Dra. Caetano se ajeitou na cadeira para ouvir sua filha.
“-Ah...foi interessante. Ela é bastante comunicativa.”-Agnes riu ao lembrar do passeio pela manhã.
“-E o que aconteceu com a tua mão?”-Dra. Caetano perguntou cruzando os braços em frente ao peito, percebendo o inchaço na mão de Agnes.
“-Isso? Não foi nada, mãe, não se preocupe.”-Agnes tentou disfarçar.
“-Sabe, tua mãe me apareceu com a mão assim algumas vezes. Tu tá te metendo em briga, Agnes?”-Dra. Caetano perguntou séria.
“-Foi um incidente no Sallon. Um homem tentou agarrar uma das meninas à força. Desculpa, mãe.”-Ela falou envergonhada.
“-Já te falei que não gosto que tu brigue por aí.”-Dra. Caetano se levantou e pegou algumas bandagens em sua maleta. “-Derrubou o infeliz pelo menos?”-Ela perguntou enrolando as bandagens na mão de sua filha.
“-Derrubei.”-Agnes falou sorrindo.
“-Muito bom. Mas não quero que tu brigue por aí.”-Ela terminou o curativo, levantou-se deixando um beijo de boa noite na cabeça de sua filha e foi para seu quarto.
No outro dia, Agnes lembrou do passeio que faria com a prima de Vítor e logo, levantou-se da cama.
Chegou um pouco atrasada em frente aos correios e telégrafos. Vítor e Maro, juntamente com Sophia, já a esperavam:
“-Agnes! Que bom que veio! Quero te apresentar minha prima Sophia.”-Vítor falou empolgado.
“-Prazer em conhecê-la.”-Agnes estendeu sua mão para a garota que nada disse e também não lhe deu a mão. Agnes recolheu a sua, bastante envergonhada.
“-Ela é um pouco tímida. Vamos, diga ‘olá’.”-Maro insistiu mas a moça nada dizia.
“-Ela vai ficar mais à vontade assim que sairmos.”-Vítor ajudando Maro à entrar na carruagem. Sophia sentou-se no banco de trás acompanhada por Agnes. Nenhuma palavra foi dita o caminho inteiro.
O silêncio era tão constrangedor que Agnes riu quando pensou em Vitória rindo dela até o outro dia, quando ela lhe contasse sobre o passeio.
No final do passeio, Agnes pediu a Vítor que lhe deixasse perto do armazém de Jeff, onde estava Caramelo. Ela só queria montar em seu cavalo e cuidar de sua própria vida, algo que parecia impossível aquela semana:
“-Agnes, talvez possamos marcar um outro passeio, o que acha?”-Vítor perguntou descendo da carruagem para abrir a porta para Agnes.
“-Sinto muito, Vítor, tenho coisas à fazer essa semana. Não conseguirei acompanhar vocês.”-Agnes se despediu apressada e foi em direção á seu cavalo. Chegando próximo ao armazém, foi chamada por Jeff:
“-Agnes, venha conosco ao piquenique da igreja. Melanie gostou muito de conversar contigo.”-Jeff lhe pediu sorrindo.
“-Jeff, desculpe, não posso ficar para conversar. Tenho coisas à fazer.”-Ela montou em seu cavalo e saiu à galope dali.
Tiago que havia retornado de viagem, tentou chamá-la para agradecê-la por ter tomado conta de seu Sallon e pagar-lhe, apenas viu a bela moça saindo em disparada em seu cavalo. O dono do Sallon, então, teve uma ideia que talvez fizesse a moça ‘relaxar’ um pouco.
Agnes havia chegado em sua casa há algum tempo e estava no celeiro, alimentando os animais e arrumando as rédeas e celas dos cavalos quando ouviu uma batida na porta:
“-Quem é?”-Ela perguntou desconfiada.
“-Oi, Agnes.”-Emily entrou e fechou a porta atrás de si.
“-Emily, o que faz aqui?”
“-Tiago me mandou vir aqui.”-A moça disse um pouco constrangida.
“-Tiago? Por que?”-Agnes perguntou sem entender.
“-Ele disse que tu precisa relaxar...então ele me mandou aqui.”-Emily falou já desabotoando seu vestido.
“-Não faça isso, por favor.”-Agnes chegou perto de Emily e abotoou seu vestido novamente.
“-Ele me disse que você estava solitária. Que precisa de compania.”
“-Tiago não sabe nada da minha vida. Eu não estou solitária. Agradeço muito o que todos estão tentando fazer por mim, mas eu só quero ficar em paz.”-Agnes sentou-se em um banquinho perto de Caramelo.
“-É um belo cavalo o seu. Como é o nome dele?”-Emily puxou um assunto qualquer para amenizar a situação. Tal como Agnes havia feito na ocasião da briga no Sallon.
“-Caramelo.”-Agnes falou escovando o pelo de seu amigo.
“-Caramelo. É um nome lindo. É por causa da cor?”-Ela perguntou e Agnes riu.
“-Sim. É pela cor.”-Agnes sorriu com suas lembranças.
“-De quê tá rindo? Eu falei algo engraçado?”-Emily perguntou desconfiada.
“-Não. Não falou nada engraçado. É que o cavalo nem sempre foi meu. Tua pergunta me trouxe uma boa recordação. Obrigada.”-Agnes sentiu-se leve como há muito não se sentia.
Emily não havia entendido mas ficou feliz por ter ajudado de alguma forma. A moça suspirou e disse:
“-Tiago vai ficar zangado comigo por eu voltar tão cedo para o Sallon.”-Falou pensativa.
“-Vou me certificar que ele não vai brigar contigo. Eu te levo.”-Agnes foi preparar a cela em Caramelo.
“-Não precisa, Agnes. Eu volto a pé.”
“-Nada disso. Além do mais, ele tá me devendo.”
“-E tu? Tá zangada comigo porque eu vim aqui?”-Emily perguntou.
“-Não...não tô zangada.”-Pela primeira vez, Agnes olhou dentro dos olhos de Emily e então reparou o quão belos eram seus olhos. Era a mesma cor dos olhos de Vitória.
Elas ficaram por um tempo perdidas em seus olhares num silêncio confortável quando foram tiradas da bolha por Caramelo que relinchou.
“-Temos que ir. Vamos. Te deixo no Sallon.”-Agnes falou num tom mais sério.
Agnes montou em Caramelo e estendeu sua mão para ajudar Emily a subir. A moça se ajeitou atrás de Agnes, abraçando sua cintura. Cavalgaram em um ritmo lento, aproveitando o vento e a paisagem.
“-Eu costumava a cavalgar com meu irmão menor. Claro que eu guiava o cavalo, levando ele atrás.”-Emily falou distraída..
“-Eu também levava meus irmãos menores. Agora meu irmão está com quase quinze anos e já monta sozinho. Às vezes levo Maria, nossa irmã caçula.”-Agnes conversava descontraída. Nem perceberam quando enfim, chegaram no Sallon.
“-Ei, Agnes! Gostou do presente que te mandei? Tenho outros presentes mais bonitos aqui se tu preferir.”-Tiago ria enquanto fumava um cigarro de palha na porta do Sallon.
Agnes desceu e ajudou Emily a descer de Caramelo:
“-Elas não são objetos, Tiago. Trate-as com respeito. Vim buscar meu dinheiro.”-Agnes parou séria em frente ao dono do Sallon. Emily acenou para Agnes se despedindo e entrou no estabelecimento.
Tiago tirou o dinheiro de seu bolso e entregou a Agnes.
Do outro lado da rua, onde ficava a clínica de sua mãe, Agnes avistou Vitória que colocava algumas caixas em sua carroça. Ela correu até lá.
“-Filha, o que tu tava conversando com Tiago?”-Vitória perguntou curiosa.
“-Ah...Tiago mandou uma das meninas lá em casa, sabe...pra...”
“-Aé?”
“-Eu não fiz nada, mãe. Trouxe ela de volta na hora.”-Agnes falou rápido se justificando.
“-Não precisa ficar nervosa, filha. Eu sei que tu não fez nada com ela.”-Vitória tranquilizou sua filha.
“-Ela é legal e tudo, sabe mãe....mas...”
“-Tu pensou em Belle.”
“-Pensei. Não parecia certo estar com outra pessoa...”
“-Olha filha, eu nunca fui uma pessoa muito fácil de se relacionar romanticamente. Eu ficava com uma pessoa a cada semana sem nem me importar com os sentimentos de quem estava comigo naquele momento. Pra mim estava ótimo do jeito que era até que apareceu Ana Clara. De repente estar com ela virou uma necessidade e eu não queria mais ninguém. Era um sentimento novo que me fez sentir viva.”-Vitória falava com carinho.
“-Não sei se consigo, mãe...acho que seria melhor se eu não sentisse nada...”
“-Filha, quando a pessoa certa aparecer, tu não vai ter escolha.”-Vitória puxou sua filha e deixou-lhe um beijo no rosto.

Nota da Autora: Capítulo simplezinho, sem tiros nem explosões, mas escrito com muito carinho, pra dar uma acalmada nos nossos corações. Prometo que o próximo teremos um pouco mais de agito ;) Beijos e um Excelente final de semana à todas ;*

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora