Dra. Caetano mandou avisar pra vocês: “Cuidado com as fake news.”
Bora pro capítulo ;)
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Era mais um dia comum em Northfolk. Vitória me deu uma carona de charrete até o centro do vilarejo e depois deixaria as crianças na escola.
Chegando próximo à minha clínica, havia uma aglomeração de pessoas. Descemos todos e fomos ver do que se tratava. Manoela estava lendo a matéria do Westfolk Post, famoso jornal de grande circulação nas cidades, em voz alta para todos:
“-O cometógrafo mundialmente famoso, Dr. Jack Lancaster, afirma que na noite do dia 12, exatamente a meia-noite, um cometa desviará de sua órbita e se chocará contra a Terra. Extinguindo toda a vida e provocando um cataclisma.”-Os moradores espantados, começaram a comentar:
“-Isso é daqui três dias.”-Disse Vítor.
“-Pare com isso Manoela. Está assustando todo mundo.”-Tiago falou.
“-Esses cometógrafos não sabem de nada, assim como os outros cientistas.”-Jeff se pronunciou.
“-É verdade, mainha? Cientistas não sabem de nada?”-Arthur me perguntou segurando em meu vestido.
“-Claro que sabem. Mas nesse caso vou concordar com Jeff.”-Respondi.
“-Mas está no jornal, Dra. Caetano.”-Falou Maro, preocupada.
“-Mas não significa que seja verdade. E se fosse verdade que o cometa se chocaria com a Terra, os atrônomos já saberiam antes de hoje.”-Concluí.
“-Mas aqui diz que esse Dr. Lancaster tem certeza.”-Disse Manoela apontando para o jornal em suas mãos.
“-Eu nunca ouvi falar desse cometa. E esse famoso doutor tem alguma evidência científica que apóie sua teoria?”-Perguntei.
“-Ele diz aqui que virão terríveis tormentas e uma chuva de meteoritos, que encherão o céu da noite com bolas de fogo e trarão gases estranhos que causarão alterações em todas as coisas, tornando a água vermelha, alterando a cor e forma dos animais e fazendo com que a Terra abra suas entranhas causando erupções onde não existem vulcões.”-Manoela terminou de ler e as pessoas ficavam cada vez mais assustadas.
“-Isso não parece nada divertido.”-Falou Tiago, fumando seu charuto.
“-Não são evidências. São suposições tolas.”-Falei.
“-Aí não diz mais nada, Manoela?”-Lucas quis saber.
“-Pra mim isso é tudo invenção.”-Argumentou Greice, a proprietária do Café.
“-Mas esse é um jornal respeitado, o Westfolk Post!”-Defendeu Manoela.
“-O pessoal de Westfolk costuma saber das coisas.”-Vítor concluiu.
“-Ah, sim, Vítor, lá em Westfolk eles sabem de muitas coisas. Inclusive enganar os leitores do jornal. Bom gente, quem sabe vamos trabalhar e dar jeito na vida?”-Falei e todos começaram a dispersar.
O dia correu tranquilamente. Arthur e Agnes ficavam comigo na clínica depois da escola e à noite Vitória nos buscava.
Naquela noite, Arthur estava do lado de fora da clínica, observando as estrelas quando ouvimos uma explosão. O pequeno gritou:
“-Mainha! Vem rápido! O cometa!”-Saímos todas porta à fora para vermos o que havia acontecido.
“-O que foi, meu filho?”-Vitória perguntou.
“-Lá, mãe! Tem fumaça ainda!”-O pequeno apontou para um pequeno terreno abandonado. Fomos correndo até lá. “-Eu vi um risco de luz no céu e logo aconteceu essa explosão quando o cometa caiu.”-Arthur nos explicava o que tinha visto.
“-Isso não é um cometa, Arthur. Parece um meteorito.”-Falei enquanto olhava para o pequeno pedregulho ainda esfumaçando.
“-Aquele jornal não dizia que cairia uma chuva de meteoritos antes do cometa nos atingir?’-Disse Agnes, com o rosto preocupado.
“-Isso quer dizer que o mundo vai acabar, mãe?”-Arthur perguntou quase chorando.
“-Não, Arthur. O mundo com certeza não vai acabar.”-Tranquilizei nosso menino.
Em questão de poucos minutos, chegaram no local onde estávamos o reverendo Simas, Manoela, Guto e Lucas. Todos ouviram a explosão e correram para ver o que era:
“-Foi como o jornal disse! É um sinal”-Falou Guto.
“-Não é um sinal.”-Falei à eles.
“-Então é o que?”-Perguntou Manoela.
“-É uma pedra que atravessou a atmosfera com tal velocidade que se incendiou. É vulgarmente conhecida como estrela cadente.”-Falei enquanto Manoela anotava alguma coisa em seu bloco de notas.
“-E se caírem outras maiores?”-Lucas perguntou.
“-Reverendo, o senhor já ouviu falar em meteoritos maiores que esse?”-Perguntei ao pastor.
“-Eu? Não! Esse é apenas um meteorito. Um pequeno e simples meteorito. O primeiro e provavelmente o único que verei. Então eu sugiro irmos todos para nossas casas, certo Dra. Caetano?”-Falou Simas.
No dia seguinte, tudo parecia normal. As pessoas estavam tranquilas cuidando de suas vidas. Encontrei Manoela à caminho da clínica e estávamos conversando quando ouvimos o grito de Greice:
“-A água está vermelha!”
“-O que?”-Gritou Vítor lá do telégrafo.
“- A água está vermelha!”-Greice repetiu em pânico apontando para o poço que estava tirando água.
“-O que foi, Greice?”-Cheguei perto dela.
“-Doutora, veja a água.”-Puxou o balde e mostrou a água que parecia sangue.
“-Ela tem razão. Tá vermelha.”-Já havia uma multidão de pessoas ao redor do poço.
“-É outro sinal!”-Lucas exclamou.
“-Deve ser algum depósito mineral.”-Falei racionalmente.
“-Eu nunca vi um depósito mineral assim. Tá muito vermelha.”-Tiago pegou um pouco de água em sua mão.
“-Oh! É um sinal!”-Jeff que antes não acreditava, comentou.
“-Tenho certeza que tem uma explicação pra isso.”-Falei à todos.
“-Bom, eu não preciso de explicação. Eu preciso de uma bebida. Se o mundo vai acabar, vou beber. Tiago, quero seu melhor wisky!”-Jeff falou e os outros homens da vila o acompanharam até o Sallon.
“-Com prazer. Vamos.”-Respondeu o dono do Saloon.
Achei estranho o modo como eles se olharam mas eu estava muito intrigada com aquela água vermelha.
Voltei para a clínica e Agnes e Arthur chegaram junto comigo. As aulas deles acabaram mais cedo por conta do fim do mundo. Disseram que na volta para cá, viram Guto cavando um buraco para fazer um abrigo subterrâneo:
“-Nós não vamos cavar abrigo nenhum.”-Falei ríspida com Agnes.
“-O sr. Oliveira disse que é uma boa idéia.”-Ela respondeu e no mesmo instante, o som de um trovão se ouviu no céu.
“-Se esse cometa cair, se esconder na terra não vai adiantar.”-Vitória respondeu enquanto consertava o banco de espera.
“-Vitória!”- A repreendi.
“-Mas é verdade, Ninha. Se cair, seremos história.”
“-Não tem cometa algum. Não assuta as crianças.”-Respondi.
“-Mas como só a senhora tem tanta certeza, mainha?”-Arthur perguntou nervoso.
“-Por que conheço charlatanismo. São todos charlatões. Estão se aproveitando da ignorância das pessoas.”-Falei irritada.
“-Pode provar, mãe?”-Agnes quis saber.
“-Não, mas conheço alguém que pode.”-Deixei as crianças na clínica com Vitória e fui até o telégrafo.
Maro conseguiu se livrar da vida que levava trabalhando para Tiago e casou-se com Vítor. Ela estava grávida de cinco meses e agora auxiliava-o no telégrafo. Cheguei lá e enquanto Vítor telegrafava, conversávamos:
“-Acha mesmo que ele saberá se um cometa virá ou não?”-Maro perguntou.
“-O Dr. James ensinou astronomia por trinta anos na Universidade de Southfolk, onde me formei em Medicina. Ele saberá com certeza.”-Tranquilizei minha amiga.
“-Já enviei. Logo saberemos a resposta.”-Vítor me falou com um sorriso de esperança em seu rosto.
“-Obrigada, Vítor.”
Saí do telégrafo e vejo Jeff pregando placas em seu armazém dizendo:” Liquidação do Cometa. Nada de fiado. Resta um dia.” Havia muitas pessoas lá comprando. Quando cheguei, vi Greice negociando com Jeff um jogo caríssimo de porcelana:
“-Sr, Jeff, quero aquele jogo de pratos, xícaras e bule de porcelana.”
“-O de Westfolk?”-Jeff perguntou.
“-Não. O que veio da França. Quero que as pessoas vejam como meu Café é especial antes de partirmos e se pra isso eu tiver que gastar todo meu dinheiro, eu farei.”-Os olhos de Jeff se iluminaram.
“-Greice, por favor, não faça isso.”-Supliquei à ela mas nem me deu atenção. Contou todo o dinheiro, fruto de seu suor, e entregou a Jeff.
“-Mais alguma coisa, Greice?”-Jeff perguntou.
“-Sim, mande entregar, por favor.”-Virou as costas e voitou ao seu Café.
Guto saiu do armazém de Jeff com uma caixa com cobertores e uma pá:
“-Pra que tudo isso, Guto?”-Manoela quis saber.
“-Pro meu abrigo anti-cometas.”-Ele respondeu e Jeff deu uma garglhada.
“-O que é esse abrigo?”-Manoela abriu seu bloco de notas para escrever.
“-Eu estou indo pra lá. Te mostro agora. Tem lugar pra você lá.”-Guto levantou um pouco a aba de seu chapéu e piscou para ela.
“-Só quero escrever sobre ele, Guto. Eu estou registrando os últimos dias de Northfolk para enterrar numa caixa, para que alguém saiba o que houve aqui antes do cometa cair.”-Explicou Manoela.
“-Isso aí que você pegou vai custar vinte dólares, Guto.”-Jeff já cortou o assunto.
“-Por que não dá tudo de graça pro Guto, Jeff?”-Perguntei desconfiada.
“-Porque custa vinte dólares.”-Ele me respondeu ríspido.
“-Bom, se o mundo vai acabar, vai usar esse dinheiro onde?”-Desafiei-o.
“-Só quero ver o quanto consigo ganhar antes de sair dos negócios...pra sempre.”-Respondeu mas não me convenci.
“-Estou de olho em ti, Jeff.”-Estreitei meus olhos e voltei para minha clínica.
Chegando lá, só estava Vitória:
“-Ué, cadê as crianças?”-Perguntei.
“-Tu demorou, Ninha. Eu terminei o conserto do teu banco e levei eles pra casa. Agnes e Arthur disseram que cuidam de Maria porque eles não receberam lição de casa. Deixei os lanches deles prontos.”-Vitória sempre pensa em tudo. Ela fechou a porta e continuou: “-Então, Ninha, pensei que a gente podia fazer algo especial essa tarde.”-Ela disse sentando-se à minha frente.
“-Por que resta um dia antes do cometa nos atingir?”-Perguntei irônica.
“-Porque tu é a mulher que eu amo e eu quero passar a tarde contigo.”-Pegou minha mão e depositou um beijo. Ela continuou: “-E mesmo que nada aconteça agora, algum dia iremos partir dessa vida. E quando esse dia chegar, o que tu vai dizer? Queria ter lido mais livros de medicina ou ter passado mais tempo com as pessoas que amo?”-Vitória se levantou e parou do meu lado. “-Vamos fazer de conta: O que você faria hoje?”-Ela perguntou.
“-Não sou muito boa em faz-de-conta, Vitória.”-Falei tímida.
“-Então vamos praticar.”-Ela sentou-se novamente e ficou me fitando.
“-Bom...tem uma coisa que eu queria fazer...mas é bobagem.”-Dei de ombros e continuei escrevendo.
“-O que é bobagem? Agora eu quero saber.”-Vitória tirou o lápis da minha mão e esperou minha resposta.
“-Tô com vergonha de falar, Vitória.”-Coloquei minhas mãos em meu rosto pois sentia que estava corando.
“-Fala, Ninha. Sou eu, pode falar. Não vou rir seja o que for.”-Vitória retirou minhas mãos de meu rosto e aguardava minha resposta.
“-Tá bem...Pipas.”-Respondi.
“-Pipas?”-Vitória perguntou confusa.
“-Quando eu era criança, e da minha janela te via brincando, eu adorava ver as pipas de vocês sobrevoando por cima das árvores. Se eu fechar meus olhos, ainda consigo ver vocês correndo e escuto o som das risadas. Parecia tão divertido.”-Fechei meus olhos por um momento e quando abri, Vitória estava com o rosto á poucos centímetros do meu e disse:
“-Vamos soltar pipa.”-Sorriu e me deu um beijo estalado.
Chegamos em casa num tempo inacreditável. Vitória estava muito animada pra soltar pipa e saiu levantando poeira com a charrete. As crianças estranharam chegarmos tão cedo em casa. Entramos e Vitória foi organizar os materiais para construirmos nossas pipas. As crianças adoraram a idéia. Esquecemos por alguns minutos aquela história de fim do mundo. Vitória nos ensinou e ajudou a construir as pipas e saímos animados para o quintal de casa:
“-Vai, Ninha! Corre mais rápido! Agnes, Arthur, não percam pra ela!”-Vitória gritava e orientava enquanto corria com Maria no colo. A pequena segurava sua pipa com uma mão e gargalhava quando o vento beijava seu rosto.
“-A minha pipa vai voar mais alto!”-Agnes falou e passou correndo como um tufão de vento.
“-Solta mais a linha, Ninha! Olha a do Arthur como tá alta!”-Vitória deu a dica.
As três pipas estavam voando alto e próximas umas das outras, quando a linha da pipa de Agnes, cortou a linha da pipa de Arthur:
“-Ah, Agnes! Minha pipa!”-O pequeno falou triste, vendo sua pipa voar para longe.
“-Pega a minha, filho. Mainha vai descansar um pouco.”-Entreguei à ele que saiu saltitando.
Sentei do lado de Vitória que embalava Maria:
“-Eu não tenho passado um tempo de qualidade com vocês. Tu tem razão, tu sempre tem. Eles tão crescendo tão rápido e eu estou perdendo isso.”-Encostei minha cabeça no ombro de minha esposa e acariciei os cachinhos de Maria.
“-Ninha, nós sabemos que tu ama tua medicina. É uma parte grande do que tu é. Mas se tu quiser chegar uns dias da semana mais cedo em casa, a gente vai gostar muito.”-Falou e deixou um beijo na minha testa. ”-Arthur comprou um joguinho de xadrez e queria que eu ensinasse à ele. Eu não sei jogar xadrez, Ninha. Tu podia ensinar pra gente.”-Me pediu.
“-Prometo que vou dar mais atenção à vocês.”-Voltei a observar Arthur que agora ria porque havia conseguido cortar a linha da pipa de sua irmã e Agnes resmungava.
No outro dia, fui um pouco mais cedo para a clínica pois havia abandonado o consultório no dia anterior. Fui com Ventania, pois Vitória iria até Corre Ventos. Amarrei as rédeas da égua e percebi uma movimentação estranha. Alguns cavalos estavam soltos pela vila e Tiago e Jeff levavam dois cavalos brancos para trás do estábulo. Fui me esgueirando para que não me vissem:
“-Mas o que tá acontecendo aqui? Estão se divertindo?”-Jeff estava com uma lata de tinta azul pintando os cavalos. Jeff se assustou quase derrubando a tinta. Peguei a lata de sua mão e esperei as explicações:
“-Caetano, não é o que tu tá pensando...”-Tiago tentou argumentar.
Peguei o cavalo pela rédea e levei até o centro da vila.
“-Atenção! Atenção! Esse é outro sinal que o mundo vai acabar. Tiago e Jeff estavam pintando esse cavalo de azul.”-Gritei no meio da vila.
“-A gente só tava se divertindo.”-Falou Tiago na maior cara de pau.
“-E suponho que também colocaram algo na água do poço pra que ela ficasse vermelha, não foi?”
“-Vocês fizeram isso?”-Manoela perguntou incrédula.
“-Foi divertido.”-Disse Iorc.
Na mesma hora, a terra começou a tremer, derrubando parte das mercadorias dos comerciantes que ficava exposta na rua. O tremor parou e próximo a Igreja, uma erupção no chão jorrou uma coluna de água quente. Os moradores começaram a correr desesperados e não eram nem dez horas da manhã ainda.
“-Gente, se acalmem! É só um geiser.”-Ninguém me ouviu e foram todos correndo para a igreja.
De repente, o céu escureceu. Trovões cortavam o céu e rajadas de vento levavam embora as placas dos estabelecimentos. Os cavalos se agitavam e as pessoas gritavam que era o fim do mundo.
Vitória chegava com as crianças:
“-Vitória, tu trouxe eles no meio dessa tormenta?”-Reclamei.
“-Eles tavam com medo, Ninha. Queriam ficar contigo.”-Vitória falou preocupada.
Nesse momento, Greice chegou apoiando Lucas em seus ombros:
“-Dra. Caetano, Lucas está passando mal.”-Greice falou desesperada.
“-Doutora, meu peito dói muito.”-Lucas chegou reclamando com a mão no peito. Virei para Vitória e disse:
“-Vão indo pra Igreja que eu encontro vocês lá, eu prometo.”-Vitória levou as crianças e fui atender nosso amigo.
Entrei com Lucas na clínica e comecei alscultando seu coração:
“-Meu coração disparou, comecei e sentir falta de ar e meu peito inteiro doía. ”-Me falou com dificuldade.
“-Quando isso começou, Lucas?”
“-Agora, quando comecei a pensar naquele cometa chegando em cinco horas.”-Respondeu.
“-Vou te dar uma medicação mas não se preocupe que é à base de ervas.”-Pinguei em um copo com água algumas gotas de um elixir que fiz à base de camomila e maracujá e entreguei para ele tomar. Deixei-o deitado em repouso por alguns minutos e ele falou.
“-Doutora, já estou me sentindo melhor. A aceleração do meu coração diminuiu e a dor passou.”
“-Tu vai ficar bem, Lucas.”-Falei enquanto media seus batimentos cardíacos.
“-Me senti um idiota quando vi meu coração se entregando.”-Ele falou encabulado.
“-Não tem porquê se sentir assim, Lucas. Todos estamos meio à-flor-da-pele esses dias. Tu fez a coisa certa vindo aqui.”- Tranquilizei o ferreiro.
“-Bom, melhor irmos para a Igreja. A senhora vem, Dra. Caetano?”-Greice perguntou.
“-Sim, vou sim. Minha família está me esperando. Podem ir na frente, vou terminar de arrumar algumas coisas aqui na clínica e já vou.”
Alguns minutos depois, fechei minha clínica e o vento estava muito mais forte. Tiago estava na frente do Saloon, observando a tempestade de raios que havia começado. Passei em frente ao Telégrafo e Vítor me parou:
“-Dra. Caetano, chegou um telegrama para senho....aahhh!”-Ele deu um grito de dor, colocou a mão em seu abdomen e caiu no chão.
“-Vítor! O que aconteceu?”-Ele só gemia de dores e reclamava com a mão na barriga. “-Tiago, me ajude a levá-lo para clínica.”
“-Eu tô ocupado.”-Ele falou com desdém.
“-Tiago! Tiago!”-Gritei e ele não vinha. Um raio cortou o céu nesse momento. Ele jogou seu cigarro no chão e veio me ajudar.
“-Pra depois você não dizer que deixei ele ser atingido por um raio.”-Pegou Vítor do chão, colocou em seus ombros e carregou-o para clínica.
Comecei os procedimentos operatórios em Vítor:
“-Graças a Deus a apendicite não estourou. Não há risco de peritonite. Por favor, me passe o forceps.” -Estendi a mão para Tiago. Ele me olhou sem entender. “-Ao lado do bisturi, quero dizer, daquela faca menor.”-Expliquei.
“-E quanto ao cometa, Caetano. Tu não tá com medo.”-Ele perguntou enquanto olhava o céu pela minha janela.
“-Não. Bisturi, por favor.”-Falei rapidamente.
“-Nada assusta a Dra. Caetano, não é?”-Ele disse ironicamente.
“-Ilumine aqui para mim.”-Pedi à ele. “-Às vezes fico com medo, Tiago, igual à todo mundo.”
“-É? O que te dá medo?”
“-O mesmo que dá em todo mundo. Perder as pessoas que amo.”-Falei já terminando a sutura. “-Pronto. Ele vai dormir por mais algumas horas.”-Guardei minhas coisas e já fui saindo quando Tiago me perguntou:
“-Vai deixar ele aqui sozinho?”-Iorc quis saber.
“-Minhas crianças precisam mais de mim nesse momento e além do mais, ele não vai ficar sozinho. Tu vai ficar observando ele pra mim. Boa noite, Tiago.”-Dei um sorriso e saí deixando ele lá cuidando de Vítor.
Cheguei na Igreja e todos estavam juntos entoando cânticos. Tentei entrar discretamente mas meus filhos me perceberam.
“-Mãe!”-Agnes correu em minha direção, seguida de Arthur e Maria. Abracei meus pequenos:
“-Onde está Vítor?”-Maro veio até mim e perguntou.”
“-Ele desmaiou no meio da rua e Tiago me ajudou a levá-lo para clínica.”-Maro tentou sair para vê-lo mas não deixei-a sair. “-Não vá, Maro, tem uma tempestade de raio. É muito perigoso. Não se preocupe, ele está em boas mãos. E tente se acalmar, mulher, tu tá de cinco meses.”-Tentei tranquilizá-la.
O relógio da Igreja inciou suas doze badaladas nos mostrando que já era meia-noite. Meus filhos e Vitória me abraçaram com força. As pessoas deram-se as mãos e oravam baixinho. Quando a última badalada soou, um raio rompeu o céu...
E logo depois o silêncio se fez presente..
Olhei para todos e consegui ver o alívio em seus rostos. Agradeci em silêncio pelo mundo não ter acabado. Meus filhos riram aliviados e Vitória disse:
“-Viram? Eu disse que o mundo não ia acabar.”-Todos riram.
Todos na Igreja se abraçavam e comemoravam por estarmos vivos.
Saímos para rua e a noite estava com o céu amplamente estrelado, nos mostrando um belíssimo espetáculo.
Narrador PoV:
Enquanto isso, na clínica da Dra. Caetano, Vítor sussurrava algo. Tiago pegou a bacia de água fria e colocou uma compressa na testa do rapaz do telégrafo:
“-Tiago..o telegrama...no meu bolso.. tem que lê-lo...”-Vítor pediu ao dono do Saloon.
Tiago foi até o casaco do rapaz, pegou o telegrama e quando virou-se para entregar à Vítor para lê-lo, viu que o rapaz havia dormido novamente.
“-Droga...provavelmente não é nada importante.”-Apenas deixou o telegrama sobre a mesa de Dra. Caetano, pois não sabia ler.
O telegrama dizia:
“-Completa bobagem. Não existe tal cometa. Ass. Dr. James Edward, Universidade de Southfolk.”
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Dra. Caetano
FanfictionNo ano de 1867, Ana Clara Caetano retorna à cidade onde nasceu, Northfolk, para trabalhar como médica numa vila rural onde cresceu. Uma das poucas médicas num mundo de médicos, ela mostra-se uma mulher à frente de seu tempo, não só por suas atitudes...