Me Encontra

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Olar! Eu aqui de novo. Obrigada pelo 1k de visualizações. Quando comecei a escrever Dra. Caetano não imaginava que seria uma experiência tão libertadora. Obrigada por lerem e prestigiarem minha história.
Esse capítulo é um dos que mais gostei de escrever. Tem uma pequena revelação no final. Espero que gostem. Um beijo grande e se cuidem. Terça-feira que vem, tem mais um capítulo ;)
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Eu estava tão concentrada desafiando Tâmara que nem percebi a multidão que se formou ao nosso redor. As amazonas pareciam animadas com o desafio. Algumas batiam palmas, outras gritavam e era tipo um grito de guerra. Vi ao longe Ana Beatriz passando e recolhendo dinheiro. Elas estavam apostando?
Vitória ainda estava com a boca aberta, incrédula no que acabara de acontecer. Na verdade , eu também. Nunca briguei com ninguém fisicamente. No que eu estava pensando?
“-Ana, vou te levar pra casa.”-Disse Vitória me puxando pela mão.
“-Vitória! Sem contato com ela até o dia do desafio. Está nas regras do combate. Mande Sabra ou outra qualquer levá-la”-Disse Tâmara olhando com ódio para nós.
“-Vou deixá-la em casa. Eu a trouxe, eu a levo de volta. Dane-se suas regras.”- Vitória disse me puxando pra fora da aldeia.
Subimos em Trovão saímos trotando.
O caminho foi silencioso. Deixei Vitória com seus pensamentos. Era um silêncio agradável até.
Chegando em casa, a convidei para entrar e ela perguntou:
“-Tu vai levar a diante essa maluquice mesmo?”
“-Lógico, Vitória. Não vou me abaixar pra aquela mulher lá. Não tenho medo dela. É grande mas não é duas.”-Falei tentando parecer confiante.
“-Então não vou poder entrar. Não posso te ver essa semana. Sábado que vem, quando for a hora do desafio, Sabra vem te buscar.”-Disse Vitória brincando com meus dedos.
“-Tenha fé em mim, Vitória. Vai dar certo. Vou te liberar desse compromisso forçado. Aquela mulher é maluca. Não vou deixar ela te colocar numa gaiola.”-Terminei de falar e a abracei.
Ficamos um tempo abraçadas. Eu poderia morar naquele abraço. Era como estar em casa.
Vitória deixou um beijo na minha cabeça e segurou meu rosto em suas mãos e ficou me fitando. Ah... Vitória. Que cor terão seus olhos? Eu amava me enxergar dentro dos olhos de Vitória. Era tão bonito de lá.
“-Se tu ganhar o desafio, vou te levar pra ver o campo florido.”- Me falou e sorriu.
“-É uma promessa, Vitória. Não pode quebrar.”- Falei descontraída.
“-Prometo.”-Sorriu e saiu em direção ao cavalo.

Vitória’s PoV:
Não sei o que Ana estava pensando mas espero que saiba o que está fazendo. Tâmara era a melhor lutadora de Lua Sangrenta. Era forte como um Mustang. Não vou pensar nisso agora. Mas por via das dúvidas, vou vir espiar os treinos de NaClara ao longo da semana.
Escondida atrás de uma árvore, vi Ana amarrar uma corda entre duas árvores e praticar esquivas. Dava um passo pra frente e jogava a cabeça para um lado da corda e de outro, esquivando. Fez isso muitas vezes. Fazia as esquivas, lendo um livro. Lendo numa hora dessas, NaClara?
No segundo dia, subiu na corda e praticou equilíbrio. Andava pela corda bamba lendo seu livro. Acho que era o mesmo de ontem.  Mas que tipo de treino é esse? Cadê os treinos de força?
No terceiro dia, praticou velocidade. Dava tiros curtos. Corria de uma ponta a outra dando arrancadas velozes.
No quarto dia ela repetiu o primeiro treino, o de esquivas. No quinto dia repetiu o segundo, o treino de equilíbrio. No sexto dia repetiu o terceiro treino, o de velocidade e no sétimo dia descansou.
Sabra foi buscar Ana Clara ao entardecer. O desafio seria à noite.
Ana Clara chegou muito tranquila. Pelo menos foi o que pareceu. Sabra emprestou à ela uma roupa de Sabrina. Ela cabia na roupa de uma menina de doze anos. Deusa! Proteja Ana Clara!
Foi montado um rigue no centro da aldeia. Um espaço cercado por cordas. Quem saísse do ringue, apagasse ou fosse nocauteado perderia a luta. Sabra era a juíza.
Tambores davam o ritmo para as canções e gritos de guerra que as amazonas entoavam. Todas estavam muito empolgadas. Eu estava tensa.
Sabra, no centro do ringue, pediu silêncio e começou:“-Combatentes, quero uma luta limpa e justa. Sem trapaças. Nada de puxar cabelo e nem jogar areia nos olhos da adversária. As armas serão apenas os punhos. Fui clara?”- Explicou as regras.
“-Sim!”- Elas responderam enquanto se encaravam.
“-Comecem!”-Autorizou Sabra.
No mesmo momento, Tâmara correu em direção a Ana Clara que permaneceu parada. Quando Tâmara chegou perto para agarrá-la, Ana Clara deu um passo pro lado, esquivando do abraço certo de Tâmara e foi pra suas costas. Ana pisou contra articulação do joelho de Tâmara, na parte de trás da perna, fazendo a amazona se ajoelhar. Ana abraçou Tâmara por trás e tentou pegar o pescoço de Tâmara. Tâmara segurou o braço de Ana arremessando a pequena por cima de seu ombro, fazendo ela cair com as costas no chão. Tâmara se levantou, colocou a mão na parte de trás da perna e falou:
“-Tem coragem pra me colocar de joelho, branca!”-Quis tirar a concentração de Ana, ao que ela respondeu:
“-Olha, moça, só lhe digo uma coisa: quanto maior a altura, maior a queda. Eu já sei onde errei e tu vai cair é agora!”- Ana Clara falou confiante enquanto se levantava e limpava a poeira da roupa.
Tâmara espumava depois de ouvir as palavras de Ana e foi correndo de novo em sua direção. Ana deu outro passo pro lado mas dessa vez deixou Tâmara passar por ela e a empurrou contra as cordas. Tâmara ricocheteou e voltou sem controle na direção de Ana Clara que deu um chute nas pernas de Tâmara, passando uma rasteira e fazendo-a cair novamente. Sem perder tempo, Ana montou nas costas de Tâmara, que corcoviava igual um cavalo brabo. Ana se equilibrava perfeitamente nas costas dela. Foi nesse momento que Ana atacou o pescoço de Tâmara. Passou o antebraço por sua garganta e fechou um cadeado com o outro braço terminando o movimento do mata-leão.
Tâmara estava se debatendo de um lado para outro com Ana colada em suas costas e com o mata-leão encaixado. Ana rolou pro lado sem soltá-la e posicionou suas pernas travando as da amazona . Tâmara não podia mais se mexer. Ana deu uma barrigada pra cima e apertou mais o cadeado. Sabra estava deitada perto delas observando a hora de parar a luta. Foi quando ouvimos o ronco da garganta de Tâmara e ela parou de se mexer. Ana botou Tâmara pra dormir, literalmente.
“-Acabou!”-Gritou Sabra
Ana soltou o mata-leão e saiu debaixo de Tâmara que ainda estava apagada. Se levantou e Sabra ergueu seu braço, quase tirando Ana do chão: “-Caetano venceu!”- Sabra confirmou sua vitória. Ao mesmo tempo, várias amazonas invadiram o ringue. Ergueram Ana e comemoraram. Eu ainda não estava acreditando no que estava vendo.
As amazonas trouxeram Ana até mim e a deixaram na minha frente.
“-Vi! Eu ganhei!”-Disse ela tão incrédula quanto eu.
“-Ana, aquilo foi maravilhoso! Tu vai me ensinar essas tuas técnicas de combate aí!”- Falei muito admirada.
“-Não tenho força física, Vitória. Tinha que usar minha inteligência e um pouco de sorte. Deu certo!”- Disse ela toda orgulhosa.
“-Vem, vou te levar pra minha casa e te fazer uns curativos. Tu tá toda machucada.”-Falei já trazendo ela comigo.
Comecei lavando o rosto dela que estava todo sujo de terra e ela começou a falar:
“-Sabe, Vitória, acho que eu tô sob efeito da adrenalina que meu corpo liberou. Vou te contar uma história.”- E começou:
“-Quando eu era criança, já te contei que eu era muito doente, né? Eu não podia brincar com as outras crianças, nem ir pra escola. Então eu ficava na janela do meu quarto olhando as outras crianças brincando na rua, na frente da minha casa. Eu achava a coisa mais linda te ver brincando com as outras crianças. Lembra do Deco? Ele é meu primo. Ele sempre ia lá em casa e saía pra brincar contigo. Tu sempre derrubava ele. Eu achava tão engraçado porque não sabia que as meninas podiam ser mais fortes que os meninos. Acho que tu foi meu primeiro estímulo pra  eu ser assim como sou. Teve um dia que eu fiquei muito doente e não consegui nem ir na janela ver vocês brincarem. Daí, alguma coisa aconteceu e o Deco te derrubou, eu acho. Os meninos gritavam torcendo pro Deco e eu juntei o pouco ar que tinha e gritei: -Levanta, Vitória! Se fez um silêncio e logo depois o Deco entrou todo sujo de lama. Eu rí muito aquele dia. Enfim, eu sempre te olhava mas tu nunca me viu. Era só isso mesmo.”-Terminou a história e eu não consegui segurar as lágrimas.

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora