O Desafio

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Obrigada a todos (as) pelas visualizações. Estou muito feliz que vocês estão gostando. Sexta-feira publicarei o próximo capítulo. Um beijo e se cuidem ;)

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Já faziam quinze dias desde a epidemia. O surto de gripe havia passado e a vila estava voltando ao normal. As cartas e mercadorias que vinham de outras cidades estavam chegando normalmente. Aos poucos tudo retornaria ao que era antes. Consegui um pouco mais de respeito na cidade. As pessoas vinham buscar minha ajuda, o que me deixava muito feliz.
O dia estava quente e eu não tinha nenhum paciente. Resolvi acordar cedo e arrumar a casa. Estava na varanda varrendo quando vejo no horizonte uma juba bastante conhecida num galope veloz. Ajeitei o óculos para ver melhor e percebi que Vitória tinha um semblante de preocupação. Entrei rápido, guardei a vassoura e peguei minha maleta.
Foi o tempo de colocar o pé na porta e Vitória falou:
“-Ana! Vem comigo. Preciso de ajuda na aldeia.”- Subi na mesma hora e Trovão disparou à galope para Corre Ventos.
O caminho até a aldeia era cheio de subidas e difícil acesso,mas quando fomos chegando próximo às terras das amazonas, pude sentir um agradável perfume de flores. Era quase o cheiro de Vitória. Logo avistei vastos campos floridos e de árvores frutíferas. Era divino!
“-Vitória! Que lindo aqui!”- Falei com muita admiração.
“-Outra hora te trago aqui pra te mostrar melhor. Agora temos uma emergência de família. A filha de Sabra precisa de ajuda médica.”- Oh! Vitória tem uma sobrinha! Me dei conta que poderia aprender um pouco mais sobre Vitória hoje.
“-O que aconteceu com ela, Vitória? Tem algum sintoma que vocês identificaram?”-Comecei perguntando pra ficar à par do assunto.
“-Ela acordou sentindo muita dor abdonimal e tá toda encolhida. Não consegue estender a perna. Ela não é manhosa, Ninha. Acho que é algo grave.”-Terminou de falar e chegamos à aldeia.
Trovão nos deixou na porta da casa de Sabra. Vitória desceu e me ajudou a descer. Entramos correndo pela casa, indo até o quarto da garota. Tinha muita gente no quarto da menina.
“-Bom dia. Sou a Drª Caetano. Vim dar uma olhada na menina.”-Me apresentei pois não conhecia todas ali.
“-Doutora, que bom que chegou. Minha filha está com fortes dores no abdomem. Está sentindo náuseas e vomitou muito também.”- Sabra me passou o relatório.
Cheguei próximo a menina que chorava de dor e disse:
“-Oi, moça bonita. Qual teu nome?”- Perguntei ascultando seu coração e checando os sinais.
“-Sabrina.”-Disse ela em meio ao choro.
“-Sabrina, logo, logo essa tua dor aí vai passar, tá. Eu prometo”. –Falei calma para tranquilizar a menina.
Apalpei o abdomem dela e senti o inchaço. Ela não conseguia estender a perna direita, bem como Vitória havia dito.
“-Preciso de uma bacia de água limpa pra eu lavar minhas mãos e outra vazia para cirurgia.”-Pedi a uma das amazonas.
“Cirurgia?”- Sabra quis saber.
“-Sabrina está com apendicite. É uma inflamação que pode se deslocar pro lado direito do abdomem. Por isso ela não consegue esticar a perna. Vou retirar o apêndice e a dor vai sumir.”- Falei o mais simples possível. “-Vou precisar de uma ajudante, mas não pode ser Vitória nem a mãe da criança.”-Completei.
“-Eu lhe ajudo, doutora.”- Falou a amazona com um cocar que parecia xamânico. “-Me chamo Nayara, muito prazer.”
“-Ah, tu que é Nayara, é?  Vitória me contou que tu me tratou quando fiquei doente. Te sou muito grata, viu?”-Agradeci humilde.
As amazonas se retiraram do quarto, ficando apenas nós três ali. Lavei minhas mãos e pedi a Nayara que passasse o pano com clorofórmio no nariz da Sabrina para anestesiá-la.
“-Nayara, vou começar a incisão. Se tu perceber que ela vai acordar, passa o paninho nela de novo. Não deixa ela acordar enquanto eu tiver operando.”-Dei a instrução à ela.
A cirurgia durou duas horas. Operei a menina com todo cuidado. Limpei bem toda região do apendice. Não podia deixar nenhum resto fecal lá dentro para não infeccionar.
Nayara foi muito bem me auxiliando. Ela tinha muita experiência tratando pessoas.
Terminei de fechar a incisão e agora era esperar Sabrina acordar.
Lavei minhas mãos sujas de sangue enquanto Nayara foi chamar a família.
Enquanto Sabra e outra moça entravam, Sabrina acordou.
“-Mães!”-Disse a menina.”- A dor passou.”- Falou sorrindo pra elas. E que sorriso sincero.
“-Drª Caetano, obrigada  por curar minha pequena. Meu nome é Ana Luiza. Sou a outra mãe de Sabrina.”- Agradeceu se apresentando.
“-Essa doutora é boa mesmo!”-Falou uma menina cacheada parecida com Vitória, me abraçando por trás e me tirando do chão.
“-Obrigada pelo elogio. Qual teu nome?”-Perguntei.
“Sou Ana Beatriz, irmã caçula de Sabra e Vitória.”-Disse sorrindo.
Cheguei perto de Sabrina e perguntei: “-A dor foi embora?”
“-Sim, doutora! Obrigada!”-Me agradeceu e adverti:
“-Tem alguns cuidados por enquanto tá? Cuida pra não molhar o curativo quando for tomar banho e tenta não fazer esforço. Nada de sair andando por aí. É repouso e alimentação. Pode comer de tudo.”-Terminei de passar as recomendações às mães e senti falta de Vitória no quarto.
“-Bom, eu já vou indo então. Um bom dia a todas vocês.”- Sabra me acompanhou até a porta.
Fui andando em direção á saída da aldeia observando tudo. Era uma aldeia muito bonita e organizada. Várias cabaninhas com seus gramados no quital, algumas crianças brincando e mulheres trabalhando. Algumas construíam casas, outras ordenhavam as vacas, outras plantavam. Foi quando avistei Vitória. Estava nervosa, gesticulando com as mãos. Parecia discutir com alguém. Ao me aproximar, consegui ouvir Vitória dizer à moça que estava com ela:
“-Deixa de ser maluca, mulher! Não vou me casar contigo! Não entra nas conversas de mainha.”-Ãh? Vitória vai se casar?
“-Oi, Vitória. Já tô indo embora. Tua sobrinha vai ficar bem.”-Não quis me prolongar muito pra não transparecer minha tristeza.
“-Ana, eu te levo. Não tenho mais nada pra falar com Tâmara.”
“-Quem é essa mulher, Vitória?”-Essa mulher? É sério?
“-Sou a Drª Caetano. E tu é quem?”-Falei direto nos olhos dela.
“-Tâmara, a noiva de Vitória.”-Fez questão de enfatizar a palavra noiva. N O I V A.
“Não é minha noiva coisa nenhuma. Não inventa, Tâmara.”- Se defendeu Vitória.
“-Ah, não? Tenho aqui uma certidão assinada por mim e por tua mãe, que me deu tua mão em casamento, selando o acordo.”-Casamento arranjado. Isso é bem comum nos dias de hoje.
“-Moça, ela não quer casar contigo. Tu não ouviu ela falando? Tu acha certo obrigar alguém a fazer algo que não quer?”- Me meti na conversa.
“-Não me importa o que Vitória quer. É um casamento importante pra ambas aldeias. Não se meta nos nossos costumes, branca!”
“-Aé?”-Já tava mais que irritada. Tava explodindo com a arrogância daquela mulher. “- E tem algum costume se uma das pessoas não quer se casar à força?”-Arrisquei perguntar.
“-Se uma terceira pessoa tem coragem e interesse em uma das partes que vai casar por conveniência, pode desafiar a rival. Se vencer numa luta justa, o noivado é anulado.”-Terminou de explicar o costume.
“-Ana, não!”-Interferiu Vitória.”-Tâmara é muito treinada! Não faça o...”-Mostrei a palma de minha mão à ela pedindo pra ela parar de falar.
“-Então tá decidido! Tâmara, pela liberdade de Vitória, eu te desafio. Se eu ganhar, tu anula esse casamento e devolve a liberdade dela.”-Falei séria encarando Tâmara dentro dos olhos.
“-Baixinha abusada, quando eu ganhar, vou casar com Vitória e tu vai parar de vê-la. Não quero mais contato entre vocês. Uma semana é o tempo que tu tem pra se preparar pro combate.”-Terminou com um sorriso sádico nos lábios.
Não sei por que fiz isso. Pai, me ajuda!

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora