Vitória’s PoV:
Acordei cedo, como todos os dias, e comecei a fazer nosso café. Desde que me desliguei do cargo de Agente Indígena, meus dias são sempre iguais. Oh, não, por favor não pense que estou infeliz ou algo do tipo. Eu amo a vida que levo junto de Ana Clara e meus filhos, é só que sinto falta da rotina do trabalho. Estou muito satisfeita que estejamos em paz, finalmente. O que eu não contava era com esse vazio. Queria ser mais útil.
Eu já terminava de passar o café e ouvi os passos de meu filho pela casa:
“-Bom dia, mãe. Tudo certo pra hoje?”-Ele disse, já muito disposto, com seus cadernos de desenho embaixo do braço, aproximando-se de mim e me dando um beijo demorado de bom dia.
“-Claro, filho. Nós vamos deixar tua mainha na clínica e depois vamos pra lá.”-Falei colocando o pão de milho que eles tanto gostam, na mesa.
“-Vão onde?”-Perguntou minha esposa, ainda com cara de sono e esfregando os olhos. Andei até ela e a puxei em meu abraço.
“-Vou levar Arthur lá nas montanhas pra ele terminar o desenho dele.”-Arthur havia decidido ficar mais alguns dias conosco. Iria voltar para a Universidade logo depois do Baile dos Apaixonados, que seria no próximo sábado.
“-Tá...mas levem Maria também. Ela tem que fazer um trabalho de ciências sobre geodos. Ajudem-na a conseguir pedras pra ela levar pra escola.”-Ana Clara pediu sentando-se para o café.
“-Tu já convidou tua noiva pro baile?”-Ana perguntou à Arthur.
“-Ainda não...”-Ele disse suspirando.”-Já sei que ela vai negar ou inventar uma desculpa pra não ir...”-Falou triste.
“-Ué? Por que, meu filho?”-Perguntei curiosa.
“-Ela não gosta de dançar, mãe. Sempre diz que não sabe, que tem dois pés esquerdos, que não tem ritmo, que...”-Interrompi por que iria durar o dia todo.
“-Tá bom, entendi. Mas tu vai se ela não for?”
“-Claro, mãe! Eu gosto muito de dançar. Eu vou e vocês vão ter que dançar comigo se ela não quiser.”-Ana Clara achou graça e Maria disse que também dançaria com o irmão.
Logo que terminamos o café, arrumamos nossas coisas e fomos levar Ninha para clínica. Em seguida, partimos para a montanha da Pedra Vermelha.
Sentamos ao pé da monanha, em uma sombra e Arthur já pôs-se a desenhar. Maria observava e procurava por pedras diferentes para seu trabalho escolar:
“-Sabe mãe, eu acho que não tem lugar no mundo mais lindo que esse.”-Arthur falava sem tirar seus olhos de seu caderno de desenho.
“-Eu nunca vi lugar mais lindo que esse, filho.”-Falei me deitando na grama.
Estávamos ali em um silêncio bom, quando ouvi o grito de um falcão. A ave fez um vôo razante, logo caindo no gramado.
“-Mãe! O que foi isso?”-Arthur disse se levantando.
“-Um falcão, filho.”-Me levantei e fiu em direção à ave que estava caída.
Devagar, caminhei até ela e a cobri com meu casaco. Quando eu ia pegá-la, meu filho gritou:
“-Mãe! Cuidado!”-Só tive tempo de proteger meu rosto. O falcão macho vôou sobre mim, me arranhando com suas unhas afiadas.
“-Tá tudo bem, filho. Ele só tá protegendo a parceira.”-Me aproximei mais da fêmea que estava no chão. “-Eu acho que ela não vai conseguir voar. Se a deixarmos aqui, os leões da montanha vão pegá-la.”-Peguei-a com cuidado para não machucá-la ainda mais e vi seu parceiro sobrevoando sobre nós.
Maria achou por ali, alguns galhos secos e algumas folhas e improvisou um ninho para transportarmos a ave sem mais traumas.
“-Ela vai ficar bem, mamãe?”-Ela perguntou acariciando a cabeça da ave.
“-Espero que sim, filha. Vamos levá-la pra casa e cuidaremos dela. E também preciso limpar meu braço.”-Subimos em nossa carroça e fomos para casa.
Acomodamos a ave, em seu ninho, em um local seguro dentro do celeiro. Maria e Arthur ficaram conversando com o falcão, dizendo que tudo ficaria bem e que logo ela voltaria à voar.
Deixei-os ali, encantados com a ave e fui para casa cuidar do meu ferimento.
Logo que saí do celeiro, vi um homem bem vestido batendo em nossa porta:
“-Pois não, senhor? Posso ajudá-lo?”-Perguntei desconfiada. Ele virou-se para mim e falou:
“-Procuro pela amazona de nome Vitória Falcão.”
“-Eu sou Vitória. Que é você?”-Ele retirou seu chapéu e veio em minha direção estendendo sua mão:
“-Sou Wellen Smith, senhora. Que bom que lhe encontrei. Vim de Whashington D.C prar lhe oferecer um emprego.
Narrador Pov:
Enquanto isso, no centro de Northfolk, Agnes acompanhava Emily até o mercado. Elas haviam almoçado juntas e agora que seus intervalos terminavam, estavam voltando aos seus afazeres:
“-Obrigada pelo almoço, Agnes. Me diverti muito com tuas histórias.”-A jovem agradeceu.
“-Que bom. Fico feliz em ouvir isso. E tu quer jantar comigo essa noite?”
“-Eu queria muito mas tenho muitas encomendas pra terminar.”-Emily falou animada.
“-Pro baile, né? Puxa, que coisa boa.”-Agnes falou sincera.
Elas se despediram com um beijo casto nos rosto e logo ao entrar, Emily ouviu Jeff falar:
“-Aff, agora que eu me acostumei contigo, acho que tu vai embora.”-Ele falou varrendo o mercado.
“-Ir embora?”-A moça perguntou.
“-Tu vai me deixar logo. Daqui á pouco tu te casa com Agnes e não vai mais querer trabalhar aqui comigo.”-Jeff falou sentido.
“-Quem vai casar aqui?”-Ela perguntou sorrindo se debruçando sobre o balcão.
“-Eu vi vocês duas ali, pela janela. Todas melosas uma com a outra. Tá na cara que vão se casar.”-Ele disse e Emily riu.
“-Eu acabei de abrir meu negócio. As coisas estão começando a dar certo pra mim e aina não estou pronta pra me casar.” Ela afirmou.
“-Bom, se é o que te incomoda, a gente pode combinar alguma coisa. Tu pode trabalhar meio período.”-Jeff propôs.
“-Obrigada, Jeff, mas não quero trabalhar meio período. Quero trabalhar todos os dias, o dia todo.”-Ela agradeceu, passando a mão no rosto de Jeff.”- Confeccionar vestidos foi tudo que sempre sonhei.”-Ele assentiu e voltou para seu trabalho.
Ela sentou-se em sua máquina de costura e ao abrir uma de suas gavetas, retirou um envelope. Retirou a carta de dentro que recebera no início da semana. Nela continha um convite para o show da Sra. Marília Mendonça, em Londres.
Vitória‘s PoV:
Me direcionei, juntamente com o Sr. Smith, até o restaurante da Greice para que pudéssemos conversar melhor sobre a tal proposta de emprego. Lá nos encontramos com outro senhor, que se chamava Artie, e era o responsável e idealizador do projeto:
“- O Artie aqui levou três anos para me convencer que era uma boa ideia. E eu levei mais dois para convencer o congresso a ouví-lo.”-Ele parou de falar um momento enquanto Greice enchia sua xícara de café e logo, continuou: “-Na próxima semana o presidente Grant assinará a lei 392 no senado.”-Ele puxou um papel de seu bolso e começou a ler: ”-Veja, aqui está: ‘Um ato para estabelecer uma certa extensão de terra como parque nacional.’
“-Parque Nacional?”-Perguntei não habituada com o termo.
“-É um jeito bonito de dizer ‘Terra Protegida’.”-Artie me explicou.
“-Explique à ela como fez isso, Artie.”-O Sr. Smith pediu.
“-Bem, eu fiz um trato com o pessoal lá de cima. Convenci que essa terra era inabitável. Quero dizer, que não prestava para agricultura. Resumindo, completamente inútil.”
“-A chamamos de Parque Nacional Yellowstone. O que acha?”-O Sr. Smith me perguntou.
“-Eu gostei muito da idéia de ter esse parque preservado.”-Respondi.
“-Bom, isso nos trouxe até você, Vitória. Precisamos de alguém lá para demarcar os limites, para fazer relatórios sobre a natureza e proteger os búfalos.”-Disse Artie.
“-Vocês tem búfalos?”-Perguntei incrédula.
“-Claro que temos. Acho que temos umas duzentas cabeças correndo naquela terra. Pelo que eu sei, é a última manada que restou no continente americano.”-Artie bebeu um pouco de seu café e continuou:”-Esses animais ficarão protegidos se pudermos impedir que caçadores os matem para retirarem suas peles.”
“-Nós ouvimos muito sobre seus feitos como agente indígena, Vitória Falcão. Eu estou convencido que é a pessoa que irá lutar para defender essa terra. E então o que me diz, sra. Falcão? Posso dizer ao presidente que aceitou nossa oferta?”-Indagou o Sr. Smith.
“-Até quando precisam da resposta?”-Questionei.
“-Precisamos de você em Yellowstone até o final da semana.”-Ele respondeu.
Aquela tarde, fui para casa pensando em como eu diria à minha esposa que eu queria esse emprego.
Ana Clara’s PoV:
Eu cheguei em casa, no final da tarde e meus filhos estavam no celeiro, paparicando um falcão fêmea. Eles me contaram que encontraram a ave ao pé da montanhada pedra Vermelha. A ave, me parecia bem, apenas com a asa machucada. Mesmo assim, examinei-a:
“-Ela não parece ter quebrado nenhum osso.”-Falei apalpando calmamente a asa do falcão.
“-Por que ela não se move?”-Maria perguntou.
“-Ela deve ter contundido o peito na queda.”-Nesse momento, Vitória chegou. Ela estava calada. “-Quando eu pressiono seu peito, mesmo com delicadeza, ela se agita. Ela não vai conseguir se mexer até que a dor passe.”-Expliquei à Maria e Arthur que prestavam muita atenção naquilo.
“-Quanto tempo vai demorar, mainha?”-Foi a vez de Arthur perguntar.
“-Um dia, no máximo dois.”-Falei tranqulizando-os.
“-Tomara que ela consiga achar o caminho de volta para seu ninho.”-Arthur comentou.
“-Vamos garantir que ela volte.”-Vitória falou contida.
“-E temos que fazer isso. Falcões ficam juntos a vida toda. Ficariam perdidos um sem o outro.”-Falei olhando em seus olhos e ela continuava pensativa.
Entramos após deixarmos a ave confortável em seu ninho, e Vitória começou a preparar a janta. Maria e Arthur começavam uma animada partida de damas e eu me sentei à mesa para ler e revisar alguns artigos antes de enviar para publicação.
“-Sabe Maria, eu sinto tanto a tua falta quando eu tô na escola.”-Arthur disparou. Vitória virou-se apontando a colher de pau para nosso filho que continuou: “-Não só tua falta, claro. Sinto falta de todas vocês.”-Ele emendou.
“-Pode desistir de tudo e voltar pra casa, mano.”-Maria falou rindo e retirando as peças que havia capturado.
“-Maria!”-A repreendi em tom de brincadeira. Ela riu mais ainda.
“-Ás vezes eu queria mesmo. Mas a escola é muito importante também.”-Ele disse.
“-Fico feliz em ouvir isso.”-Falei voltando às minhas leituras.
“-Mas tem uma coisa sobre ir embora e...que faz eu me sentir estranho quando eu volto.”-Ele comentou.
“-Como assim ‘estranho’?”-Maria quis saber.
“-Bom, é que você nem percebe que sente falta de casa mas, quando sai de dentro do trem e vê o lugar que você conhece, pessoas que te conhecem e tudo como você tinha deixado quando partiu...você fica feliz mas fica triste ao mesmo tempo.”-Ele disse melancólico. Me levantei do lugar onde estava e fui até ele.
“-Isso é por que tuas raízes estão aqui, filho.”-Sentei ao seu lado, abraçando-o.”-Você quer crescer e se desenvolvermas também tem que saber que seus pés estão firmemente plantados no solo de seu lar.”-Finalizei deixando um beijinho em sua bochecha.
“-Nunca pensei sobre as pessoas terem raízes.”-Maria falou refletindo.
“-Eu acredito que as pessoas precisam de raízes, assim como as árvores.”-Expliquei para nossa mais nova.
“-E tu mãe? Acha que as pessoas precisam criar raízes?”-Maria perguntou, surpreendendo Vitória.
“-Acho que nunca pensei muito sobre isso...”-Ela respondeu vagamente.
Jantamos e logo as crianças foram para seus quartos pois estavam cansados das atividades que fizeram durante o dia. Terminei de lavar a louça e fui me sentar com Vitória que estava nos degraus da varanda de casa:
“-Essa é a minha parte favorita do dia.”-Falei ajeitando meu xale e sentando ao seu lado. Ela apenas deu um sorriso fraco. “-Tu tá bem quieta hoje né, Vi? Tu tá preocupada com alguma coisa?”
“-Só tava pensando na nossa vida aqui, Ninha...lembrando de tudo que a gente já passou até aqui. As coisas boas e as não tão boas...”-Ela falava melancólica.
“-A gente viveu coisas bastante intensas, né?”-Falei me aproximando mais dela. “-Mas por que tu tá pensando nisso agora?”
“-Eu...só passou pela minha cabeça agora...só isso.”-Ela me deu aquele meio sorriso e envolveu meus ombros em um abraço, me puxando pra junto de si.
Vitória’s PoV:
No outro dia, acordei cedo como sempre, preparei o café e como Ana Clara não iria trabalhar, avisei à Arthur para deixá-la dormir até mais tarde. Peguei algumas ferramentas e fui até a casa de Agnes pois ela precisava de ajuda nos reparos em sua carroça.
Chegando lá ela já estava acordada e havia começado a trabalhar na manutenção. Conversávamos amenidades quando ela derepente, disparou:
“-Mãe, quando tu soube que era hora de pedir mainha em casamento?”-Aquela pergunta vindo de Agnes me deixou um pouco chocada, confesso.
“-Bom, filha, acho que isso de pedido de casamento cada um tem seu momento. Mas pra mim foi quando eu percebi que não fazia sentido eu deixá-la ir embora. Toda vez que ela não podia ficar lá em Corre Ventos comigo e eu a levava de volta pra casa, parecia que um pedaço de mim ia junto. Eu ficava tão triste e contava os minutos pra poder ficar com Ana de novo. Mas por que a pergunta assim, derepente? Tu e Emily tem planos?”
“-Eu tive pensando sobre isso, mãe. Ás vezes me sinto bem sobre isso de casamento...”
“-E outras vezes?”-Questionei.
“-Ás vezes me sinto péssima. Não me sinto nada bem.”-Ela disse lavando suas mãos.”-Ela veio até mim e sentou-se ao meu lado. “-Não sinto por ela o que eu sentia por Isabelle.”
“-Então o que tu vai fazer, filha?”
“-Quero fazer o que é certo.”
“-Então diga à ela como tu te sente. Eu sei que tu não quer magoá-la mas se tu não disser a verdade, vai magoá-la mais ainda. E isso me lembrou uma coisa muito importante. Tenho que falar com tua mãe sobre algo que talvez ela não goste.”-Terminei de arrumar as rodas da carroça de minha filha e voltei para casa. Precisava falar com Ana Clara.
“-Yellowstone? Mas fica tão longe! Vamos ter que desistir de tudo pelo que lutamos tanto! Nossos amigos, minha clínica e não podemos levar Agnes e Arthur...”-Ana Clara falou confusa e um tanto indignada.
“-Eles querem minha resposta até o final da semana, Ninha.”
“-Preciso de mais tempo. Por que não me falou noite passada?”
“-Por que eu sabia que tu não ia aceitar.”
“-Então por que estamos discutindo isso agora?”-Ela falou irritada cruzando seus braços em frente ao corpo.
“-Eu quero ir, Ninha. Quero aceitar o trabalho...”
“-E espera que eu aceite tão rápido?”
“-Não é ‘tão rápido’, Ana Clara. Eu pensei bastante sobre isso e só te peço que pense também.”-Ela ainda estava irritada quando saiu pisando duro pela casa e batendo a porta do nosso quarto. Droga!
Deixei que Ana Clara se acalmasse antes de voltarmos a conversar. Voltei na casa de Agnes por que eu precisava que ela me fizesse um favor.
Narrador PoV:
A noite logo chegou porém a irritação da Dra. Caetano continuava. Se sentia traída por sua esposa não ter lhe contado que pretendia aceitar um emprego em outro estado. Tentou espairecer os pensamentos, conversando com seu filho, que desenhava sentado no chão da sala:
“-Filho, convidou tua noiva pro baile?”
“-Convidei, mainha. Fui hoje à tarde lá em Corre Ventos falar com Gabi. Ela disse que não pode por que amanhã vai levar um carregamento de grãos em uma aldeia que fica nas montanhas e vai voltar só domingo. O baile é no sábado. E o pior é que dessa vez é verdade mesmo. Minha vó confirmou.”-O rapaz suspirou derrotado.
“-Não fica triste filho. Tu pode ir. Esse ano o pastor Simas vai fazer uma dinâmica diferente. Os rapazes que não tiverem um par pra dançar, terão os nomes colocados em fichas que serão vendidas na barraquinha da Greice. É uma forma de arrecadar uma ajuda pra Igreja.”-A Dra. Caetano explicou.
“-Mãe, tu acha que a Gabi não vai se chatear se eu for? Quero dizer, se fosse comigo, eu acho que ficaria chateado se a visse dançando com outros rapazes.”
“-Bom, filho, tu que sabe mas não acho que haja problemas. Não vai ninguém estranho no baile. As pessoas são todas nossas conhecidas. Duvido que alguma moça seja mais ousada contigo.”
“-Acho que vou então. Se a senhora acha que não tem problema, pode dizer pro Pastor colocar meu nome nas fichinhas.”-Ele sorriu, animado para as danças.
Eles conversavam ainda sobre o baile quando Agnes entrou pela porta:
“-Filha? Não sabia que tu vinha aqui hoje. Tu já jantou? Posso aquecer a comida pra ti...”-A doutora já ia apressada para a cozinha quando Agnes respondeu:
“-Não, mãe, não se preocupe. Eu já jantei. Só vim passar um tempo com Arthur.”-Ela piscou o olho pro seu irmão.
“-Ah, sim, desculpa mainha, esqueci de te avisar que Agnes viria hoje aqui.”-Arthur falou tentando esconder a risada.
“-O que tá aconetcendo aqui? Vocês tão me escondendo alguma coisa?”-Dra. Caetano falou desconfiada.
“-Mãe, mãe, o falcão! Tu precisa vir até o celeiro, rápido!”-Maria gritou entrando correndo pela porta.
A doutora correu para a porta, acompanhada de seus filhos e quando parou em frente sua casa, Vitória a esperava montada em Ventania:
“-Vitória? O que...”-A amazona nem esperou sua mulher terminar e a agarrou pela cintura, puxando-a pra cima do cavalo.
“-Crianças, cuidem da casa. Nós voltaremos amanhã.”-Vitória gritou para seus filhos conforme se afastavam, galopando.
“-Não sei se mainha gosta muito de ser sequestrada.”-Maria falou achando graça, enquanto Arthur gargalhava.
“-Vocês sabem como a mãe é. Ela falou que era importante. E achei até bom por que elas precisam de um tempinho só pra elas.”-Agnes abraçou seus irmãos e entraram para uma noite de jogos, petiscos e risadas.
Um pouco mais tarde, Vitória, que havia sequestrado a esposa, chegava onde havia preparado o acampamento para as duas:
“-Vitória, eu não acredito que tu me trouxe pra floresta no meio da noite. E se as crianças precisarem da gente?”
“-Vai ficar tudo bem, Ninha. Eu disse pra Agnes onde estaríamos. Eles sabem.”-Vitória disse descendo da montaria e ajudando sua esposa à descer. “-E depois, é bom termos um tempinho juntas, só nós duas.”-A amazona falou preparando os gravetos para acender a fogueira.
“-E se alguém ficar doente e precisar de mim?”-A doutora perguntou preocupada.
“-Eu falei com Sabrina hoje à tarde e pedi pra ela ficar na clínica até voltarmos.”-Ela falou já acendendo o fogo.
“-Podia ter me falado...”-A doutora falou mais calma.
“-Acho que teria aparecido alguma ‘emergência’ que nos impediria de vir.”-Vitória falou aproximando-se de sua esposa. Ela tocou suavemente o rosto da esposa e a beijou lentamente.
“-Não esperava ser sequestrada.”-Dra. Caetano disse ainda com sua testa colada na da esposa.
“-Foi uma surpresa.”-Vitória sorriu, envolvendo sua mulher em outro beijo calmo.
A noite estava iluminada pela luz da lua, o que fez a doutora perceber que estavam próximas ao lago. O lago que Vitória dizia ser delas. Tantas foram as noites que namoraram vendo as estrelas ali.
Elas se abraçavam cada vez mais forte à medida que o beijo se intensificava. Vitória respirava Ana Clara, a desejava e não pararia nem se o chão se abrisse sob seus pés, pois cada segundo, os beijos se tornavam mais ousados, mais intensos. Suas bocas se separavam por segundos para que Ana Clara beijasse seu pescoço, sugando, demarcando o que já era seu e logo voltavam a colidir seus lábios ainda mais necessitadas.
“-Tire minha roupa.”-A doutora falou ofegante contra a boca de sua amazona.
Vitória moveu-se devagar, deitando sua esposa com cuidado sob a toalha que havia preparado para admirarem a noite juntas.
Custou-lhe alguns segundos ofegantes ao ver a imagem de sua mulher, parcialmente iluminada pela lua, com seus cabelos bagunçados, com a respiração acelerada, os lábios vermelhos e a luxúria em seu olhar. A amazona despiu-a rapidamente e logo em seguida, tirou sua prórpia roupa, ainda ajoelhada entre as pernas de sua mulher.
Os olhos cor de Marte se perderam nas curvas da doutora para logo depois se encontrarem nos olhos cor de jabuticaba. Por imperceptíveis segundos, conversavam apenas com os olhares. Ana Clara moveu seus dedos entre os cachos claros de sua amazona que se encaixou entre as pernas da doutora. Vitória arrastou seus lábios pelo pescoço da esposa, descendo até o vale entre os seios, beijando-os e chupando-os sem pressa.
Ouviu Ana Clara gemer pelo contato. Esta moveu seu quadril e apertou-se mais contra o corpo de Vitória, completamente perdida nas carícias que recebia. Inclinava mais seu corpo que implorava por ser tocado, contorcia e se arrepiava. A mão de Vitória vagou pelo corpo de Ana Clara, até chegar onde ela mais precisava. O calor abrasivo do corpo nu de Ana Clara e suas mãos, percorriam o corpo de Vitória que também implorava por atenção. Pairou seus dedos na intimidade de Vitória que já estava com seus dedos dentro da sua.
Úmidas, suadas, quentes e...arrepiadas. As línguas se colidiam em uma vertigem insana. Deslizavam seus dedos dentro uma da outra por vezes lentamente, por vezes loucamente. Não passou despercebido por Vitória quando sua esposa se inclinou, abrindo a boca ao sentir o líquido escorrer entre suas pernas. Seu gemido baixinho e sequencial durou o tempo necessário para sua amazona se derramar também, em um forte orgasmo.
Sentiram o respirar intenso ao aprofundar seus lábios em uma nova busca pelo prazer, refletindo que uma satisfaria a outra por todos os momentos de sua vida. Era claro que nunca iriam se desvencilhar. Amor...
Os primeiros raios de sol batiam no rosto da doutora, impedindo-a de permanecer em seu merecido sono. Passara a noite amando sua esposa e queria ter pelo menos doze horas de sono o que infelizmente não era possível.
Espreguiçou-se abrindo seus olhos lentamente até acostumá-los com a claridade. Virou-se para o lado e avistou sua amazona, já bebendo seu chá, sorrindo observando-a acordar.
A doutora enrolou-se no lençol e andou até onde estava sua esposa, sentando-se ao seu lado.
“-Tá com fome, Ninha?”
“-Muita.”
Vitória descobriu o prato com o pão de milho que sua mulher amava, já fatiado. Ana Clara serviu-se de chá enquanto era alimentada por sua esposa, que lhe dava pequenos pedaços de pão em sua boca.
“-Me conta sobre como é esse parque nacional Yellowstone, Vi.”
“-Disseram que são três mil milhas quadradas de floresta rodeada por montanhas, com canyons de trinta mil metros e geisers que lançam água quente à uma altura maior que as das árvores.”-A amazona disse olhando nos olhos da esposa.
“-Parece lindo. E quantas pessoas irão pra lá?”
“-Bom, serão tu, eu, Maria e uns duzentos búfalos.”
“-E onde é a cidade mais próxima?”
“-Há uns doze quilômentros.” -Ela percebendo o incômodo de sua esposa, continuou: “-Ana, eu não queria ter essa conversa pra te angustiar. Eu sei o quanto Northfolk é importante pra ti. Teu trabalho, teus amigos...eu também vou deixar minha mãe e minhas irmãs aqui e...”
“-E tudo que lembra nós duas. Onde nos conhecemos e construimos nossa família.”-Dra. Caetano sussurou.
“-Acontece que não paro de pensar nisso. Se ninguém se interessar em proteger a terra, o que acontecerá com ela? O que vamos deixar para nossos netos e pros netos deles?”-Vitória suspirou, pegando nas mãos de sua esposa e prosseguiu:”-O que eu acho é que eles também tem direito de compartilhar isso tudo.”-A Dra. Caetano refletia atenta sobre as palavras da amazona. Tomou seu tempo em pensamento e falou:
“-Eu não sei como vou me sentir sobre desistir de tudo que construimos aqui. Tu sempre esteve aqui por mim. Sempre que eu andei perdida, nossos caminhos voltavam a se encontrar. Tu é minha parceira e agora isso é importante pra ti, então eu vou contigo.”-Vitória sorriu largo ao ouvir as palavras de sua mulher e a abraçou forte.
Elas voltaram para casa ainda pela manhã mas combinaram de conversarem com seus filhos sobre a mudança depois do Baile dos Apaixonados.
Agnes despediu-se dos irmãos e de suas mães e voltou para sua casa.
Chegando lá encontrou Emily, sentada na varanda. Estava lhe esperando:
“-Oi, Emily. Que surpresa.”-Agnes disse descendo de sua montaria.
“-Espero que não se importe que eu tenha vindo. Surgiu uma coisa e eu queria falar contigo.”
“-Não me importo. Na verdade eu também preciso falar contigo.”-Agnes disse retirando seu chapéu e convidando-a para entrarem.
Agnes passou um café e ofereceu alguns biscoitos à jovem. Elas sentaram-se uma em frente á outra e Emily começou:
“-Agnes, tu lembra da sra. Marília Mendonça? A cantora?”-A jovem estilista perguntou.
“- Não dá pra esquecê-la.”-Agnes falou sorrindo.
“-Ela me escreveu me oferecendo um emprego. Pra viajar com ela e fazer seus vestidos.”-Emily mostrou a carta à Agnes que lia atenta. Ela prosseguiu:”-O caso é...sobre nós...”-Ela falou incerta.
“-Eu queria falar contigo sobre isso.”-Agnes disse devolvendo o papel para Emily
“-Eu quero aceitar o emrpego, Agnes.”-Ela falou apreensiva mas Agnes lhe sorriu.
“-Eu acho que tu deve aceitar. Tu tem muito talento pra ficar aqui.”-Agnes falava com sinceridade.
“-Eu nem sei como te agradecer pelo tanto que tu fez por mim. Quando eu decidi parar de trabalhar no Saloon e ninguém me aceitava, tu foi a única que...”
“-Emily...eu nem percebi que tava ajudando. Tu sabe que eu não tava muito bem. Eu te contei sobre as circunstâncias da morte de Isabelle e tudo mais. Tu me permitiu ficar triste.”-Agnes suspirou e continuou: “-Eu gosto de te ter por perto e quanto mais eu fico perto de ti, melhor eu me sinto. Mas vou ficar melhor ainda se eu souber que tu tá feliz.”-Emily sorriu com as palavras de Agnes, levantando-se de seu lugar e puxando Agnes para um abraço.
Enquanto isso na casa dos Caetano Falcão, Vitória limpava e arrumava a casa, pensando na conversa que tivera com sua mulher. Suspirava pensando se havia tomado a decisão correta para si e para sua família. Perdida nos seus pensamentos, ela bateu seus olhos no caderno de desenho de Arthur. Nele o rapaz havia desenhado a montanha da Pedra Vermelha, em todos os seus detalhes e toda a vida vegetal que lhe cercava. Com seus olhos fixos no desenho, pensou que realmente ali era o lugar mais lindo do mundo, conforme seu filho havia comentado. Então, perdida nos seus pensamentos e no desenho, teve uma ideia que precisava compartilhar com sua família:
“-Ninha! Arhtur! Maria! Venham aqui, rápido!”-Ela gritou e eles saíram correndo de seus quartos em direção à amazona.
“-Que foi mãe? Tá passando bem?”-Arthur perguntou preocupado.
“-Que gritaria é essa, Vitória?”-Dra. Caetano perguntou já pegando sua maleta.
“-Arthur, prepara a carroça. Vou pegar o falcão e vamos todos até a montanha da Pedra Vermelha.
Sem entenderem nada, fizeram o que a amazona pedira e se direcionaram até a montanha.
Chegando lá, um falcão revoava próximo onde a fêmea havia caído. Provavelmente seu ninho era por ali. Vitória ergueu seu braço onde o falcão fêmea descansava e ordenou que ela voasse. A ave abriu suas asas e alçou seu vôo, planando ao lado do macho. A amazona olhou para sua esposa e disse:
“-Não há lugar no mundo como esse.”
“-O que?”-Dra. Caetano perguntou ainda sem saber o que a esposa falava.
“-Foi isso que Arthur me falou quando viemos para cá. Me fez pensar. Se vou lutar, deve ser por essa terra. Aqui onde formamos nossa família. Foi onde começamos.”-Vitória falou acariciando as costas de sua esposa.
“-Vai recusar o emprego em Yellowstone?”
“-Acho que o congresso pode transformar aqui em um parque nacional também. Arthur logo se formará engenheiro. Podemos fazer um projeto para a preservação dessa terra e apresentarmos os senadores. Vai dar muito trabalho, talvez leve anos, mas posso convencê-los. Tu me ajuda, filho?”-Vitória direcionou o olhar para o rapaz.
“-Mãe, não tenho ideia do que a senhora tá falando mas é claro que lhe ajudo.”-Ele puxou Maria pela mão e juntos, abraçaram suas mães.
Ficaram por ali, abraçados por um tempo até que Vitória separou o abraço:
“-Espera, quero pedir mais uma coisa.”-Ela falou direcionada para Dra. Caetano.
“-O que é, amor?”
“-Ana Clara, me daria a grande honra de ir ao baile comigo?”-Ela perguntou balançando suas sobrancelhas, fazendo todos rirem alto.
A noite logo chegou e o baile estava muito movimentado. Todos estavam bem arrumados e dançavam animados ao som da banda. Já dançavam há algumas horas quando o pastor anunciou:
“-Agora é a hora, senhoritas. As fichas estão sendo vendidas na barraca da Greice. Temos esses belos rapazes aqui esperando para dançar com vocês.”-Ele terminou de falar e as moças correram até Greice que teve as fichas esgotadas em poucos minutos.
As moças tiravam so rapazes para dançar, mas Arthur continuava sem ser escolhido por ninguém. Carlinhos, seu amigo estava com a camisa suada de tanto dançar e mal conseguia descansar pois logo alguma moça lhe entregava a ficha que havia comprado com seu nome.
Dra. Caetano observava ao longe, o filho triste, sentado esperando que alguém lhe tirasse pra dançar.
“-Vi, espera aqui que vou ali na Greice comprar uma ficha pra dançar com Arhtur.”-Ela foi se afastando mas Vitória não deixou-a ir.
“-Espera, mulher. Deixa ele ali. Já, já uma moça vai tirar ele pra dançar.”-A amazona não perdeu tempo e puxou sua esposa pro meio do baile e já foi rodopiando com ela pelo salão.
Arthur suspirou vendo que todos se divertiam e decidiu ir embora. Ninguém queria dançar com ele.
O rapaz levantou-se e encaminhou-se para a saída, afastando-se do baile. Ele olhou para o céu e percebeu que a noite estava bastante agradável para uma caminhada até sua casa. Colocou suas mãos nos bolsos e sentiu uma mão lhe puxando pelo braço, lhe arrastando para trás da Igreja:
“-Gabriele!”-A amazona puxou seu noivo pela camisa e beijou-lhe os lábios.
“-Voltei mais cedo.”-Ela disse colada nele.
“-Eu já tava indo embora. Tu já comeu? Quer que eu busque alguma coisa pra ti? Hoje tem aquela maçã do amor que tu gosta.”-Ele disse afagando os cabelos de sua amazona.
“-Não quero comer agora. Eu vim correndo só pra dançar com o moço mais bonito desse baile.”-Ela puxou de seu coldre uma pequena bolsa com as vinte fichas com o nome de Arthur e entregou à ele.
Lá dentro, os músicos começaram a tocar uma música lenta. O som dos violinos ecoava pela cidade.
Agnes tirou Emily para dançar. Aquela foi a última dança das duas.
Lá fora, Arhtur dançava com Gabrielle que, a cada passo, pisava em seu pé. O rapaz apenas ria e explicava que era ‘dois pra cá e dois pra lá’. Aquela foi a primeira dança deles. Logo vieram as outras. Dançaram no dia da formatura do rapaz, nos aniversários e em seu casamento.
A família Caetano Falcão permaneceu unida, feliz e cheia de amor, contando suas histórias para as gerações futuras. Afinal os falcões ficam juntos a vida toda.
Fim.
Nota da Autora: Bom, com esse capítulo, encerro minha história. Espero que vocês tenham gostado, que tenham se emocionado, que tenham rido e chorado junto comigo e passado um pouco de raiva também.
Acho que tô sofrendo daquela Síndrome de Estocolmo. Quando o refém sente empatia pelo sequestrador, sabem? Pois é. Tô me sentindo assim. Fiquei refém dessa fic por todos esses meses e não consigo me desligar dela. Ainda trarei pra vocês o Epílogo (prometo que será bom) e talvez uns dois capítulos bônus. Mas isso será mais pra frente. Por hora, vou descansar um pouco agora que sei que é loucura trazer um capítulo por semana. kkkkk
Quero pensar também numa nova fic. Não pretendo parar de escrever. Espero que vocês venham comigo nas próximas histórias.
Um beijo enorme para JANATV144, fiigss, biacalmeida, keykeyy_, MarianaMenezes2044 e MariMariaPrin que foram as que mais comentaram. Vocês são tudo pra mim.
Um beijo enorme também pra quem não comenta mas lê sempre que pode e coloca Dra. Caetano em suas listas de leitura. Fico muito vaidosa com o carinho de vocês.
Bom, por enquanto é isso. Um grande beijo pra todas (os) e se cuidem. Usem máscara e lavem as mãos. Nos veremos em breve ;)
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Dra. Caetano
FanfictionNo ano de 1867, Ana Clara Caetano retorna à cidade onde nasceu, Northfolk, para trabalhar como médica numa vila rural onde cresceu. Uma das poucas médicas num mundo de médicos, ela mostra-se uma mulher à frente de seu tempo, não só por suas atitudes...