Inferno Sobre Trilhos

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Quem aí tava sentindo falta de uma treta em família levanta a mão \o
kkkk Bora pro cap ;)
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Vitória’s PoV:
Aos poucos retomávamos nossas rotinas. As feridas estavam se curando mas teríamos sempre que conviver com as cicatrizes. Ana Clara retomou sua rotina de consultas, as crianças estão indo à escola normalmente, eu voltei a caminhar sem dificuldades e continuo trabalhando em casa e para o governo, e Agnes, bem, ela é bastante fechada sobre seus sentimentos o que nos levou a acreditar que ela estava bem. Fazem dez dias que ela está em Corre Ventos. Disse que queria ficar um tempo na aldeia, cuidando do rebanho de minha mãe. Dei minha antiga casa para que ela ficasse o tempo que quisesse afinal, o que é meu, é de meus filhos. O problema é que Ana Clara passa o tempo todo suspirando e chorando pelos cantos pela falta da filha:
“-Ninha, o que foi?”-Senti ela me abraçando por trás enquanto eu preparava a janta.
“-Tô com saudade da minha filha.”-Falou quase que num sussurro abafado contra minhas costas. Me virei e a abracei.
“-Ana, ela tá em Corre Ventos. É importante a gente dar espaço pra ela.”-Falei afagando seus cabelos.
“-Eu quero vê-la, Vitória. Vamos lá amanhã?”-Olhou pra mim com aqueles olhinhos lindos de jabuticaba bem marejados.
“-Claro, amor. Vamos amanhã vê-la.”
Como prometido, no outro dia, pegamos as crianças e fomos até Corre Ventos. Fomos direto para minha antiga casa mas Agnes não estava. Partimos direto para casa de minha mãe e qual não foi nossa surpresa com a notícia que recebemos:
“-Não, fia, Agnes partiu há três dias atrás. Ela disse que recebeu uma proposta de trabalho, levou algumas roupas e partiu com Caramelo.
“-Mainha, como assim proposta de trabalho? Pra onde ela foi?”-Falei assustada.
“-Oxi, fia, ela é uma menina ajuizada, bem mais do que tu era quando tinha a idade dela. Ela vai ficar bem, Vitória.”-Dona Isabel falava tudo calmamente, descascando sua laranja.
“-Por que ela não avisou a gente, Vitória?”-Ana segurava nervosa minha mão.
“-Calma, Ninha, ela não é de fugir. Talvez queira se isolar um tempo.”-Falei tentando acalmá-la. Mas a verdade é que eu também estava nervosa.
“-Fia, ela também é uma Falcão. Deixa ela voar, Vitória.”-Minha mãe parecia estar se divertindo com minha preocupação. Agora sei o que ela passava conosco.
Dona Isabel não nos deixou sair sem que almoçássemos com ela então, passamos o resto da manhã e a tarde com ela. Já era noite quando chegamos em casa:
“-Mãe, que cheiro bom. É cozido?”-Arthur perguntou me espiando cozinhar.
“-É sim, ó, experimenta.”-Dei uma colherada de carne com molho para ele.
“-Hummm! Que gostoso...mãe...será que Agnes tá se alimentando?”-O pequeno me perguntou com os olhinhos tristes.
“-Tá sim, filho. Ela tá bem.”-Abracei o pequeno
“-Ela podia ter escrito pra gente...pra falar como ela tá.”-Arthur falou.
“-Talvez onde ela esteja não seja possível enviar cartas. Logo, logo a gente terá notícias, filho. Agora, me ajuda. Pega esses pratos e vai colocando na mesa.”-Ele pegou nossos pratos e talheres e pôs na mesa.
Ninha, que havia dado banho em Maria, se juntava à nós para o jantar:
“-Arthur, quer fazer a oração?”-Ana pediu e nós demos as mãos.
“-Obrigado Senhor pelas bênçãos que nos dá e...poderia  cuidar de Agnes por favor...e trazê-la logo pra casa? Amém!”
“-Amém!”-Todas respondemos.
Fazíamos nossa refeição em silêncio, quando ouvimos uma batida na porta.
“-Eu abro.”-Levantei e fui em direção à porta.

Ana Clara’s PoV:
“-Boa noite, senhora Vitória, a Dra. Caetano está?”-Era Shang, um garoto chinês que chegou aqui com a família quando tinha oito anos e agora com dezesseis, domina bem o nosso idioma.
“-Estou sim, Shang. Entre e jante conosco.”-Convidei-o.
“-Obrigado doutora, mas tenho um pouco de pressa.”-Ele falou aflito.
“-Aconteceu algo na ferrovia?”-Shang e outros imigrantes trabalhavam na construção dos trilhos.
“-Por isso eu vim, doutora, muitas pessoas estão ficando doentes lá. Desmaiam, tem febre. Não podem trabalhar.”
“-Quantas pessoas?”-Perguntei
“-Três ou quatro na última segunda-feira, mas a cada dia mais pessoas adoecem. Agora acho que tem quinze ou vinte pessoas doentes.”
Corri no quarto buscar minha maleta e voltei rapidamente para a sala:
“-Eu vou contigo, Shang.”-Falei já pegando meu casaco.
“-Não, Ninha, as estradas estão em péssimo estado. Vocês vão levar a noite toda. Todos nós vamos junto.”-Vitória falou já colocando seu coldre e pegando uma bolsa grande.
Vitória pegou algumas cobertas, agasalhou bem as crianças, encheu a bolsa com roupas nossas e das crianças e partimos para o trecho da ferrovia que estava sendo construída. Chegamos ao amanhecer. O local era bastante amplo e haviam muitas tendas montadas para os trabalhadores. Parecia uma cidade:
“-Vitória, espera aqui fora com as crianças. Pode ser contagioso.”-Ela permaneceu do lado de fora e eu entrei na tenda.
“-Dra. Caetano, não é nessa tenda.”-Shang falou mas eu já havia entrado. Ao entrar, encontrei minha filha lavando alguns copos.
“-Agnes!?”-Ela se virou tão surpresa como eu.
“-Mãe?!”
“-Agnes!”-Arthur entrou correndo e grudou na cintura de sua irmã, logo seguido por Maria. Vitória e eu também nos juntamos no abraço em Agnes.
“-Shang, por que tu não disse que Agnes tava aqui?”-Questionei ao garoto.
“-Desculpe doutora, eu pensei que vocês soubessem.”-O rapaz se retratou.
“-Quando vai voltar pra casa, Agnes?”-Arthur perguntou.
“-Eu não sei, mano.”-Ela falou acariciando os cabelos de seu irmão.
“-Mas eu sinto tua falta...todos nós sentimos.”
“-Vamo pra casa, mana?”-Maria perguntava abraçada nas pernas de sua irmã.
“-Ô pequena, a mana tá trabalhando aqui agora...”-Agnes falou beijando as bochechas de Maria.
“-Aqui?”-Perguntei surpresa.
“-Como isso aconteceu?”-Vitória perguntou.
“-Bom, o último bartender roubou o dinheiro de uma semana e sumiu. Então o chefe, Sr. Riggs, me pediu para ficar. Eu estava trabalhando antes na construção, então posso dizer que foi uma promoção.”-Agnes explicava enquanto limpava as mesas do pequeno sallon.
“-Tu é bartender?”-Arthur perguntou assustado.
“-Eu administro essa tenda.”-Ela respondeu, pegou alguns copos sujos e voltou para seu trabalho.
Aquilo tinha me tirado fora do eixo. Fui tirada de meus pensamentos por Shang:
“-Dra. Caetano, a senhora poderia dar uma olhada no pessoal que está doente agora?”-O rapaz pediu meio sem jeito.
“´-Claro, desculpe Shang. Pode por favor ceder uma de suas tendas para Vitória e as crianças ficarem? Eu já vou atendê-los.”-Peguei minha maleta e me dirigi até onde os doentes estavam.
Shang levou Vitória e as crianças para uma tenda que estava vazia e lá, se acomodaram. Logo ele voltou para me levar até onde estavam os doentes:
“-Aqui, Dra. Caetano, pode entrar.”-Abriu a cortina da tenda com gentileza. Haviam quinze homens, deitados nas macas. Me esterilizei para examiná-los e pedi à Shang que traduzisse o que eu perguntava à eles:
“-Vou apertar seu estômago devagar.”-Comecei a tocar o abdomen de um dos trabalhadores. “-Tem conseguido comer?”-Shang traduziu em mandarim para que o rapaz entendesse. O homem que estava muito fraco, apenas negou com a cabeça.
“-Vou lhe dar um composto com algumas ervas paregóricas. Você está muito desidratado. Quero que tome sopa de carne, mas tome apenas um gole de cada vez.”-Terminei de atender o primeiro paciente enquanto Shang explicava em sua língua.
Eu seguia atendendo os pacientes quando Vitória entrou na tenda:
“-Nossa, Ninha, já conseguiu descobrir o que eles tem?”-Vitória sentou-se ao meu lado.
“-Estão todos com desinteria. Pode ser algo que beberam ou comeram.”-Expliquei.
“-Tá. Vou descobrir de onde eles pegam água para beber.”-Vitória se prontificou á ajudar.
“-Ótimo! Eu acabei por aqui. Vou lá conversar com Agnes.”-Arrumei minhas coisas e já ia saindo da tenda quando Vitória me parou:
“-Tem certeza que é boa ideia, Ninha?”
“-Aqui não é o lugar dela, Vitória.”-Saí em diereção ao Sallon seguida por Vitória.
“-Nesse momento ela acha que não é de lugar nenhum...”
“-Vitória, escuta o que tu tá falando! Nós somos a família dela.”-Reclamei.
“-Olha, Ninha, escuta, talvez ela lembre de Belle e Washita quando está perto de nós...a cidade toda diz que a morte de Belle foi um livramento...Talvez seja por isso que ela se afastou.”-Não pude evitar de marejar meus olhos com a constatação de Vitória.
“-Eu entendi..”-Falei sencando minhas lágrimas. “-Mas a gente pode ajudar ela. Se ficar conosco, podemos curá-la.”-Expliquei.
“-Ana, as pessoas tem jeitos diferentes de se curarem. Algumas precisam ficar perto de quem amam, outras precisam se isolar...”
“-Não me impeça de tentar ajudar minha filha, Vitória.”-Virei as costas e fui ver como Maria e Arthur estavam antes de conversar com Agnes .
Algum tempo depois, Vitória chegou em nossa tenda e havia descoberto o motivo do contágio dos trabalhadores. Deixei-a com as crianças e fui em direção ao pequeno Sallon improvisado. Chegando lá, Sr. Riggs, encarregado pela construção da ferrovia, fazia o pagamento de Agnes:
“-Sr. Riggs, como vai?”-Cumprimentei-o
“-Dra. Caetano! Como vai a senhora? E como estão meus homens?”
“-Melhorando. Descobrimos a origem do problema.”
“-E qual é?”
“-Estão aqui há duas semanas e como sua bomba d’água está muito perto do banheiro, a água foi contaminada. Terão que pegar a água do riacho agora, Sr. Riggs.”-Expliquei o que Vitória me falou.
“-Certo. Vou trocar a bomba de lugar. Quando meus homens pode voltar ao trabalho?”-Me perguntou com seu sotaque sulista carregado.
“-Em alguns dias. Eles vão se recuperar logo.”-Tranquilizei-o
“-Muito obrigada, Dra. Caetano.”-Ele agradeceu sorrindo. “-eu tenho grandes planos para sua garota aqui. É uma moça muito honesta e trabalhadora, doutora. Se ela continuar trabalhando duro, levarei-a para me ajudar em outras obras.”-Falou colocando a mão sobre o ombro de Agnes.
“-Se importa se eu conversar um pouco com minha filha, Sr. Riggs?”
“-Sem problemas, doutora. Fique à vontade, por favor.”-Baixou a aba se seu chapéu e saiu nos deixando à sós.
No momento uma o som de uma explosão bradou. Me assustei e Agnes pegou em minha mão.
“-Não se assuste, mãe. Eles usam explosivos para derrubar alguma parede de pedras que esteja atrapalhando a construção.”-Agnes me explicou.
“-E tu, Agnes, tá se sentindo bem? Não se sente doente?”-Perguntei colocando a mão em sua testa.
“-Não...não tenho bebido muita água.”-Respondeu sorrindo fraco.
“-Filha...eu sei o que tu tá passando e eu queria...”
“-Não..tu não sabe, mãe.”-Ela virou as costas e foi se afastando mas peguei-a pelo braço.
“-Tu não pode fugir das coisas, Agnes. Elas acabam indo atrás de ti.”-Falei séria, olhando bem dentro de seus olhos.
“-Não quero falar sobre isso.”-Ela terminou suspirando forte.
“-Agnes, nós te amamos.”-Falei deixando um carinho no rosto de minha filha.
“-Talvez seja melhor vocês voltarem pra cidade.”-Ela virou-se e foi lavar os copos.
Deixei-a sozinha e saí para areijar a cabeça. Qual não foi minha surpresa quando saí da tenda e vi Guto e Jeff ali. Guto barbeava um dos trabalhadores e já tinha uma pequena fila para cortar o cabelo. Jeff trouxe alguns ítens para vender:
“-Cobertores de lã, sapatos, suspensórios e tudo que precisam vocês encontrarão aqui na minha loja.”-Ele fazia sua propaganda mas sem muito sucesso.
“-Jeff, não sabia que tinha negócios por aqui?”-Falei olhando alguns dos ítens.
“-Não tenho. Resolvi aproveitar a oportunidade e trouxe alguns ítens para vender mas não entendo. Já baixei o preço duas vezes e ninguém compra nada. Só passam e olham as coisas.”-Jeff falou irritado, balançando os braços. Nesse instante, chegou o Sr. Riggs:
“-Sr. Jeff, o senhor chegou atrasado. Semana passada um mercador trouxe muitas coisas e os trabalhadores compraram tudo dele. Ele veio bem no dia do pagamento. Vendeu os ítens pelo dobro do preço que o senhor está vendendo.”-Sr. Riggs falou num tom divertido.
“-Droga! Todo meu investimento!”-Jeff realmente estava muito chateado.
“-Calma, Jeff, não se preocupe. Vai dar certo.”-Guto disse calmamente enquanto barbeava seu cliente.
“-Como?”-Jeff quis saber.
“-De algum jeito. Te pago uma bebida depois que eu terminar aqui.”-Guto disse sorrindo.
Deixei os rapazes conversando e voltei para tenda médica administrar alguns medicamentos aos doentes. Arthur me ajudava guardando os frascos vazios nas caixas no momento em que Pastor Simas entrou na tenda:
“-Dra. Caetano! Eu soube da epidemia. Vim o mais rápido que pude.”-O reverendo se prontificou a ajudar.
“-É muita gentileza, pastor, mas o contágio já está controlado. Os homens já estão melhorando.”
“-Que bom! Então logo vocês irão para casa.”-Ele falou animado.
“-Não quero ir embora sem Agnes.”-Arthur que terminava de organizar os frascos, falou.
“-Agnes está aqui?”-Simas também estava preocupado com o sumiço dela.
“-Ela está administrando o Sallon, mas acho que ela não voltará com a gente.”-Respondi à ele.
“-Mãe, talvez o pastor possa falar com ela. Talvez ela escute e venha com agente.”-Arthur veio perto de mim e se agarrou em minha cintura.
O Pastor Simas acentiu com a cabeça e saiu em direção ao sallon.

Pastor Simas PoV:
Logo que saí da tenda médica, avistei Agnes próxima à uma carroça. Ela estava descarregando uma caixa de bebidas. Fui até ela para conversar. Depois de um tempo conversando amenidades, resolvi tocar no assunto enquanto nos dirigíamos para o Sallon:
“-Escute, Agnes, tudo acontece por um propósito mesmo que não possamos entender. Deus tem suas razões. Ele tem planos maiores. Não podemos esperar que Ele nos diga todas as suas razões.”-Falei.
“-Que tipo de...pai amoroso puniria as pessoas sem dizer o porquê?”-Agnes falou ressentida.
“-Deus só nos dá fardos que podemos carregar, por isso eu sei que tu vai superar isso, Agnes.”-Falei ajudando-a a descarregar as bebidas.
“-Não sei se isso é verdade, pastor.”-Ela me falou com tristeza.
“-Olha Agnes, sei que tu tá triste com tudo que aconteceu. Essa guerra foi longe demais.”-Respirei um pouco e continuei: “-Belle...ela lutou até o final para salvar uma vida. Eu acredito que Deus tenha planos maiores para ela. Ela está em um mundo maior.”-Quando acabei de falar, vi uma pequena lágrima brotar nos olhos de Agnes.
“-Desculpe, reverendo... o único mundo que conheço é esse.”-Ela pegou a caixa e entrou na tenda do Sallon.

Ana Clara’s PoV:
Estávamos saindo da tenda médica, Vitória e eu, carregando algumas caixas para nossa carroça, quando percebemos uma movimentação estranha no acampamento:
“-Temos Willbur e...o China alí. Paguem um dólar e façam suas apostas. O primeiro a pregar dez estacas leva o prêmio de vinte dólares.”-Guto falava anotando as apostas em seu caderninho enquanto uma multidão de homens começava a se formar ao seu redor.
“-Cinco dólares no China!”-Um homem entregou seu dinheiro à Guto.
“-O nome dele é Xiang Lu.”-Shang o corrigiu.
“-O China não é páreo para o Willbur. Olhe o tamanho daqueles braços! ”-Jeff falou admirado.
“-O maior nem sempre é o mais rápido, Jeff.”-Vitória falou se aproximando para observar.
“-Nesse caso é.”-Disse o sr.Riggs contando seu dinheiro e apostando no grandalhão.
“-Alguém mais quer competir?”-Guto gritou.
“-Eu quero!”-Disse Agnes saindo de sua tenda. Vitória e eu apenas observávamos.
“-Eu aposto um dólar na Agnes!”-Um dos trabalhadores falou.
As apostas corriam soltas enquanto alguns homens preparavam as madeiras de grossa expessura para colocarem as estacas de ferro.
“-Certo! As apostas acabaram!”-Guto gritou fechando seu caderninho.
Os dois homens e Agnes já estavam posicionados próximos às estacas que deveriam ser pregadas até o final do tronco de madeira.
“-Mantenham suas marretas no chão até que eu diga quando começar.”-Guto explicava e todos se aglomeravam ao redor dos competidores e torciam para os seus favoritos. “-Prontos? Comecem!”-Eles começaram a marretear as estacas rapidamente e com força.
Os homens gritavam, torcendo e incentivando os competidores. Eles batiam forte nas estacas, cravando-as nas toras de madeira. Agnes, Willbur e Xiang Lu estavam empatados com três estacas pregadas cada um.
“-Vai, Agnes!”-Arthur e Maria gritavam juntos torcendo para sua irmã.
“-Agnes foi para quarta estaca”-Guto gritou.
O ritmo das batidas aumentavam e quando Agnes chegou na quinta estaca, marretou de lado, derrubando a estaca fora do tronco de madeira. Ela correu até a estaca mas tropeçou, caindo e batendo o queixo.
“-Agnes! Machucou, filha?”-Corri para ajudá-la mas ela não me deixou. Se levantou com o queixo sangrando, estaca na mão e a recolocou no tronco, continuando as marretadas.
Voltei para onde eu estava e Vitória me abraçou de lado.
“-Willbur e o China estão empatados faltando duas estacas!”-Guto gritava atualizando à todos.
“-Vai, Agnes!”-Arthur era incansável.
Os dois homens estavam há apenas uma estaca do prêmio, quando Xiang Lu terminou de pregar a sua primeiro.
“-O China ganhou! Vinte dólares para ele! “-Guto anunciava o vencedor. Alguns vibravam, outros se lamentavam mas Agnes não parava de marretear as estacas com violência. Eu quis pará-la, mas Vitória me impediu, me tirando de lá.
Voltei para nossa tenda e me deitei um pouco. Eu estava exausta pelo calor fora de época e por tudo que estava acontecendo. Deitei e peguei no sono. Já havia anoitecido quando acordei e Vitória, sentada aos pés da cama, me observava.
“-Tá te sentindo bem, Ninha?”-Me alcançou um copo d’água.
“-Acho que esse calor me pegou. Me deu dor de cabeça. E as crianças já jantaram?”-Bebi o conteúdo do copo.
“-Dei a janta pra eles mas não comeram muito. Tinham se entupido de doce. Os trabalhadores daqui gostaram muito das crianças. Acho que é a saudade dos filhos.”- Vitória falou organizando nossas coisas nas bolsas. Respirei fundo e falei:
“-Vitória, eu não vou embora amanhã.”-Falei me sentando na cama. Ela parou o que estava fazendo e veio sentar-se ao meu lado.
“-Ninha, podemos esperar mais um dia ou uma semana que não vai fazer diferença.”
“-Não podemos deixá-la aqui assim. Ela tá perdida, Vitória.”-Me levantei e comecei a desfazer nossa mala.
“-Talvez ela precise ficar perdida por um tempo, Ana. Eu precisei.”-Ela sentou-se ao meu lado e segurou minhas mãos.
“-Vitória, eu vou tentar tudo que eu puder pra tirar essa dor dela. Eu queria que isso fosse em mim ao invés dela.”
“-Ana, escuta, tu não pode curar todas as feridas. Não dá pra gente consertar tudo.”-Vitória disse impaciente.
“-Vamos ficar mais um pouco, Vitória...só mais dois dias e depois eu vou embora sem reclamar.”-Pedi e ela aceitou meio contrariada.
No outro dia, as crianças nos acordaram cedo querendo café. Também pudera, nem jantaram direito. Fomos até uma das tendas onde serviam o café da manhã e nos sentamos em uma mesa. Tomávamos nosso desjejum e Arthur puxava uma conversa:
“-O que vai acontecer com Agnes, mãe?”-O pequeno perguntava preocupado ao mesmo tempo que mordia sua fatia de pão.
“-Bom, eu acho que ela vai ficar naquele Sallon por um tempo. Seguir a ferrovia e vai perceber que não é isso que ela quer...”-Vitória dizia enquanto cutucava seu omelete com o garfo.
“-E quanto tempo isso vai levar?”-Arthur perguntou.
“-Quem sabe...vai depend..”-De repente, ouvimos uma explosão muito perto de nós. Vitória correu e pegou Maria que balançava os braços pra cima e gritava ‘cabum’.
A explosão foi ali mesmo, no meio do acampamento. Corri para ver se havia gente ferida no local.
Todos corremos para o centro do acampamento e quando chegamos, haviam cinco homens caídos, queimados pela explosão e com alguns escombros de madeira por cima de seus corpos. Me abaixei para checar seus sinais vitais:
“-Algum sobreviveu, Dra. Caetano?”-Shang perguntou.
“-Um deles está vivo.”-Shang chegou perto de mim.
“-Xiang Lu.”-Shang falou.
“-Depressa, levem-no para a barraca!”-Os trabalhadores ajudavam retirando os pedaços de madeira de cima do rapaz. “-Cuidado com os braços dele. Estão queimados.”-Falei.
“-Vamos precisar substituir esses homens. Alguém aqui sabe trabalhar com nitroglicerina? Se não sabem é melhor alguém aprender por que não vamos embora sem derrubar aquele muro de pedras.”-Sr. Riggs perguntava à seus homens. Me dirigi rapidamente para a tenda médica.
Estava há algumas horas atendendo Xiang lu e Vitória entrou na tenda:
“-Ele vai sobreviver, Ninha.”-Vitória passou um pano úmido em minha testa.
“-Os ossos do braço estão esmagados e os tendões se partiram. Não vou conseguir reparar.”-Falei.
“-O que tu vai fazer?”
“-Vou ter que amputar. É a única chance dele. Me alcança a serra de ossos, por favor, Vi.”-Ela foi até meus instrumentos e me alcançou.
Apliquei mais clorofórmio para que ele não acordasse e vi que sua respiração estava estável. Realizei os procedimentos e horas depois, comuniquei à Shang que esperava por notícias, junto de Arthur. Maria havia ficado do lado de fora com Agnes pois tinha muito sangue e corpos dentro da tenda:
“-Doutora, como vai Xiang Lu?”-Shang perguntou.
“-Ele se saiu muito bem. Tem boas chances de sobreviver. Infelizmente, tivemos que amputar o braço dele. Eu lamento, Shang.”-Falei limpando minhas mãos. Vitória logo veio juntar-se à nós.
“-Ele...ele não vai mais poder trabalhar? Ele mandava dinheiro para alimentar sua família. Todos os homens mandavam. Não guardavam nada para eles mesmos. Doze homens perderam suas vidas trabalhando aqui desde que começamos.”-Shang falou com o olhar distante.
“-O que vai fazer com os pertences deles? Vai enviar para suas famílias?”-Vitória perguntou.
“-Não. Vamos enterrar com eles. E tenho que fazer lanternas.”
“-Lanternas? Pra quê?”-Arthur perguntou intrigado.
“-Acreditamos que o espírito precisa atravessar as águas escuras antes de entrar no céu. Então, acendemos uma lanterna para guiá-lo em sua jornada para casa.”-Estávamos atentos a explicação de Shang.
“-Posso ajudar?”-Arthur se ofereceu.
“-Claro. Será ótimo!”
Terminei de organizar meus materiais e recolher meus instrumentos. Já estava entardecendo quando fomos até o Sallon buscar Maria. Estava bastante movimentado pois os trabalhadores já haviam acabado sua jornada diária. Alguns jogavam cartas, outros apenas bebiam e conversavam:
“-Agnes, cadê Maria?”-Perguntei procurando a pequena.
“-Ela tá ali atrás do balcão. Deixei ela sentada lá.”-Agnes disse enquanto corria pra lá e pra cá, atendendo as mesas.
“-Tá aqui, Ninha, com a boca cheia de doce.”-Vitória trouxe a pequena com o rosto sujo de chocolate.
“-Depois essa menina não dorme com tanto açúcar.”-Peguei um paninho e passei no rosto de Maria. Arthur chegou perto e ela dividiu seu chocolate com ele e os dois saíram correndo para brincar.
“-Senhores, preciso de um minuto de sua atenção.”-Sr. Riggs entrou no Sallon e todos prestavam atenção. “-Cavalheiros, eu preciso de um voluntário.”
“-Não tem mais a sorte de achar um China para derrubar aquele muro.”-Um dos trabalhadores falou.
“-Cinquênta dólares extras mudariam a opinião de alguém aqui?”-Sr. Riggs perguntou.
“-Não me adianta nada cinquênta dólares se eu estiver morto.”-Outro homem falou bebendo sua cerveja.
“-Aqueles homens só não tiveram sorte. Há muito dinheiro à ser feito, se tiverem talento. Quem quer tentar?”-Sr. Riggs insistiu.
“-Eu quero tentar.”-Agnes se voluntariou. Olhei atônita para Vitória que também não estava acreditando naquilo.
“-Boa, garota!”-Sr. Riggs foi até minha filha e a cumprimentou. “-Pode fazer isso amanhã?”
“-Posso sim.”-Ela concordou. Sr. Riggs saiu da tenda e fomos falar com Agnes.
“-O que tu pensa que tá fazendo, menina? Não sabe nada sobre Nitroglicerina!”-Falei furiosa.
“-Vou aprender.”-Ela ia se afastando quando Vitória a puxou pelo braço.
“-Mas não em um dia. Leva meses pra aprender como usar.”-Vitória também esbravejou.
“-Se não explodirmos aquele muro, ninguém mais vai trabalhar.”-Agnes se soltou do agarrão de Vitória e foi para trás do balcão.
“-Agnes, não diga bobagens! Tu pode te explodir junto com a parede. Não viu o que aconteceu hoje?”-Tentei fazê-la ser racional.
“-Vou me arriscar.”
“-Por cinquênta dólares, filha?”
“-Não é pelo dinheiro, Dra. Caetano, não me importo com o dinheiro.”-Ela falou alterando sua voz.
“-Então é por quê? Com o que tu te importa?”-Esperei pela resposta que não veio. Agnes não me respondeu. Apenas saiu e foi atender mais mesas.
Vitória me tirou dali por que eu estava prestes a pegá-la pelos cabelos e arrastar de volta para casa.
“-Vitória, não podemos deixá-la jogar com a própria vida! Temos que pará-la.”-Falei massageando minhas têmporas.
“-Como, Ana?”
“-Tu também é mãe dela, Vitória! Ela sempre te respeitou mais. Vai lá e fala com ela!”-Eu estava nervosa com essa passividade dela.
“-Ela não vai ouvir ninguém agora, Ana.”-Vitória já ia se afastando para evitar o confronto.
“-Então segure-a! Não quero saber como. Amarre ela mas não deixa ela chegar perto daquele muro!”
“-Ana, ela já fez dezoito anos. Já é adulta. Mesmo que eu amarre ela, daqui à pouco ela vai achar outra coisa perigosa pra se arriscar.”
“-E tu espera que eu fique aqui parada?”-Ela ia me dizer alguma coisa mas interrompi antes que começasse: “-Chega, Vitória. Não quero mais discutir contigo. Vou lá ver onde as crianças estão.”-Deixei-a ali e fui até uma mesa onde as crianças estavam com Shang confeccionando as lanternas.

Vitória’s PoV:
Ana Clara pode ser mandona, super protetora, teimosa e muitas vezes intrometida querendo consertar tudo mas acima de tudo é a mulher que amo. Divido minha vida com ela e preciso aceitar o fato de que tem razão. Saí dali, depois que ela me deixou sem nem me olhar, e fui atrás de Agnes. Eu tinha que falar com ela e até imaginava onde ela estaria.
Cheguei perto do maldito paredão de pedras que ela deveria explodir e lá estava ela, com um tubo de vidro em sua mão, treinando como colocar por entre as pedras. Me aproximei devagar mas ela se assustou quando percebeu que não estava sozinha, deixando o vidro se espatifar no chão.
“-Sorte que esse aí tava vazio.”-Falei chegando mais perto.
“-Eu sei o que fazer, Já vi como eles usam isso.”-Falou limpando as mãos.
“-Já vi isso sendo usado algumas vezes também. Mas não quer dizer que eu saiba lidar com algo tão instável.”
“-Não vai acontecer nada quando eu estiver lá em cima, Vitória.”-Ela falou toda dona de sí.
“-Isso não é coragem, filha. Tu não tem coragem.”
“-Não tenho coragem? Sou a única com coragem pra explodir esse muro!”-Falou olhando dentro dos meus olhos. Vi tristeza e raiva através dos olhos de minha filha.
“-Não, tu foi a única estúpida o bastante pra não esperar por uma equipe de demolição.”
“-Foi pra isso que veio aqui? Pra me dizer que sou estúpida?”
“-Agnes, tu não é a única pessoa que perdeu alguém naquele lago...Eu passei meses andando em círculos dentro de mim, me perguntando ‘por que’? Por que tive que perder minhas irmãs de cor? Por que não consegui proteger Ana Clara e Isabelle? Mas não faz sentido perguntar isso. Aconteceu! A questão é: O que tu vai fazer? Vai se levantar ou se afundar? E deixa eu te falar, se afundar é um caminho de covardes!”
“-Eu vou explodir esse muro!”-falou e foi saindo. Puxei seu braço e ela tentou revidar me empurrando. Começamos ali uma troca de empurrões.
“-Vamo, Agnes! Me mostra essa tua raiva! Mostre que tem raiva de Isabelle por que partiu junto com Pedra da Lua!”-Berrei contra seu rosto.
“-Eu não tenho raiva de Belle!”-Ela gritou de volta.
“-Tem sim! E tem raiva de mim, por que não vou deixar que tu se exploda junto com esse muro por mais estúpida que tu seja!”-Vi minha filha cerrar os punhos e me preparei para receber o soco que ela queria me dar mas o golpe não veio. Eu realmente queria provocá-la para que colocasse pra fora toda raiva e tristeza contida em seu peito mas ela apenas ignorou minha provocação.
“-Não quero mais falar contigo.”-Deu-me as costas e saiu.
Aquela noite eu mal consegui dormir. Ana Clara me chutou a noite toda, agitada, e eu pensando em como ajudar minha filha.

Ana Clara’s PoV:
No outro dia, cedo, levantamos e dissemos para Arthur e Maria ficarem na tenda:
“-Por que não podemos ir?”-Arthur disse bebendo seu copo de leite.
“-Porque é perigoso demais.”-Vitória disse terminando de trocar a roupa de Maria.
“-Mas Agnes...”-Ele insistiu.
“-Nós vamos cuidar dela e trazê-la de volta.”-Tranquilizei meu garoto.
“-Fiquem na barraca. Voltaremos para buscá-los quando for seguro.”-Vitória disse deixando um beijo na cabeça de cada um e partimos até a barraca de Agnes para buscá-la.
Chegamos em sua barraca e ela não estava mais lá. Senti um aperto em meu peito. Olhei para Vitória que pegou minha mão e corremos até o alto daquele paredão maldito, onde ela seria pendurada para fazer a demolição.
Corremos o mais rápido que conseguimos mas não chegamos à tempo de impedí-la. Ela já estava dentro de uma espécie de cesto, junto com Shang, com o tubo de Nitroglicerina em sua mão, sendo descida pelo penhasco por dez homens que sustentavam a corda.
“-Agnes!”-Gritei. Sr. Riggs fez um gesto com a mão para que eu não gritasse. Se ela se assustasse e derrubasse o frasco, explodiria à todos nós. Vitória e eu chegamos perto do penhasco e ficamos vendo-a descer.
“-Desçam a corda devagar, rapazes.”-Sr. Riggs dava o comando com sua voz baixa para que nada tirasse o foco de Agnes.
Eles a desceram por mais alguns metros até que ela gritou:
“-Podem parar.”-Shang então passou para ela uma espécie de massa. Ela colocou na fenda que o tubo com Nitroglicerina seria alojado. Com cuidado, ela acomodou o tubo entre as pedras e acendeu o pavio. Shang deu o sinal para que os homens os puxassem. Eles faziam força e subiam rapidamente quando o cesto ficou preso entre algumas pedras do paredão. Shang empurrava o cesto, tentando livrar das pedras mas não se mexiam. Agnes apenas olhava o pavio queimando e ficou inerte.
“-Agnes! Reaja!”-Gritei lá de cima. Ela me olhou mas não se mexeu. Vitória correu para o final da fila de homens que içavam o cesto e ajudava puxando a corda.
“-Agnes! Me ajuda a empurrar o cesto..vamos morrer!- Shang gritava para ela.
“-Agnes!”-Ouvimos os gritos de Maria e Arthur que estavam no outro lado do desfiladeiro. Ao ouvir o som das vozes dos irmãos, ela parece ter despertado.
Maria escorregou o pé no barranco e estava caindo quando Arthur a puxou de volta.
“-Maria!”-Gritei junto com Agnes. Ela empurrou o cesto, livrando assim, do meio das pedras. Os homens e Vitória puxavam com força a corda que içava o cesto. Estavam quase no topo quando ouvimos a explosão.
“-Não! Minha filha!”-Eu olhava para baixo e só via uma nuvem preta de fumaça. Quando os homens terminaram de puxar, Agnes e Shang estavam caídos dentro do cesto, cobertos de fuligem.
“-Mãe!”-Agnes falou deitada, de olhos fechados. O alívio se fez presente em meu peito.
“-Vem, filha.”-Ajudei-a a sair do cesto e limpei seu rosto com meu lenço. Logo Arthur e Maria chegaram correndo em nossa direção e abraçaram Agnes.
Examinei rapidamente Shang e felizmente ele também estava bem. Sr. Riggs aproximou-se de Agnes e deu-lhe os cinquênta dólares que prometera. Ela por sua vez, dividiu o dinheiro com Shang.
Voltamos todos para o acampamento, arrumar nossas coisas para voltarmos para casa. Menos Agnes. Ela queria partir junto para a próxima obra com o sr. Riggs.
Fomos com ela até sua tenda por que ela queria que levássemos de volta algumas coisas que ela não iria precisar:
“-Então é isso, filha...tu vai mesmo embora?”-Falei segurando suas mãos.
“-Sim, mãe, com o ritmo que a ferrovia está sendo construída, mês que vem estaremos perto de Southfolk.”-Agnes guardou alguns livros em uma bolsa e me deu para levar de volta para casa.
“-Bom, a gente só pode te desejar o melhor, filha”-Vitória falava com a voz embargada pela emoção.
“-Sabe, mãe, eu queria ter viajado com Belle...”-Ela começou à se abrir, assim. “-Eu queria ir com ela pra Southfolk e mostrar pra ela o lugar que tu cresceu, mãe. Queria apresentá-la aos meus avós e ela me levaria para conhecer a cidade que ela nasceu, Westfolk...ela sempre me fazia rir...tinha um humor insuportável.”-Agnes riu fraco e sua voz começou a falhar. Ela respirou um pouco e continuou: "-Belle queria juntar dinheiro pra gente casar...ela disse que queria ter muitos filhos e assim, não ficaria nunca mais sozinha..."-Agnes não conseguia mais segurar suas lágrimas que já desciam livres por seu rosto: “-O dia que a enterrei foi tão triste, mãe...não tinha ninguém lá. Ninguém se importou...”-Nesse momento minha filha desabou em meus braços e Vitória abraçou-a por trás, em suas costas. “-Eu queria ter dito o quanto ela era importante pra mim...”-Eu nunca tinha visto Agnes chorar assim. Era muita coisa guardada dentro de si.
“-Ela sabia, filha. Não se preocupe. E ela não tava sozinha, filha. Tu tava sempre com ela.”-Vitória disse afagando os cabelos de nossa filha.
Ficamos com Agnes até que ela se acalmasse.
Havia anoitecido e Shang levou as lanternas que fez com Arthur para a cerimônia fúnebre dos operários que faleceram na explosão de ontem. Fomos todos até a margem vê-lo acendê-las e soltar no rio:
“-Posso acender uma?”-Agnes pediu a Shang.
“-Claro. Por favor.”
“-Eu fiz uma pra ti, Agnes. Maria me ajudou.”-Arthur mostrou sua lanterna com  o nome Belle Star escrito, com a letra bem caprichada.
“-Obrigada, Tutu.”-Ela agradeceu.
Shang retirou a parte de cima da lanterna e Agnes riscou um fósforo acendendo a vela que ficava na base de madeira fina. Shang fechou a lanterna novamente e ela pegou-a das mãos de Arthur colocando-a no rio.
“-O que significa quando a vela apagar?”-Arthur perguntou.
“-Significa que seu espírito chegou ao outro lado.”-Shang respondeu colocando as outras quatro lanternas no rio.
Alguns minutos depois vimos a vela da lanterna de Belle se apagar e no céu, uma estrela brilhante apareceu.
“-Adeus, Belle.”-Agnes falou baixinho. Ela abraçou Arthur e Maria que estavam perto dela e, juntos, vieram para perto de nós. Abraçada à mim e à Vitória, ela disse: “-Vamos pra casa.”

Nota da Autora: Oi, gente! Vim aqui agradecer à vocês que acompanham Dra. Caetano pelos 20k de visualizações. Agradeço demais por deixarem sempre Dra. Caetano no topo, dando visibilidade e fazendo com que ela seja lida por mais pessoas. Eu tenho as melhores leitoras do mundo todo! Um beijo em cada uma e que todas tenham um excelente final de semana  :*
Obs: Será que essa fic vai ter um minuto de paz? kkkkk

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora