Abyss

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PRIMEIRA CARTA

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PRIMEIRA CARTA

Você veio fácil demais. E algo que aprendi é que tudo que vem fácil, vai fácil. Você chegou como um furacão, sem avisar, sem dar tempo para que eu me protegesse. Me pegou desprevenido, me arrancou de mim mesmo e me fez só seu, sem se importar se éramos amigos de infância ou se eu ainda respirava sem você. Pegou tudo que eu tinha para dar—meu tempo, minha sanidade, meu amor—e me deixou com nada além de vazio. Eu deveria ter percebido desde o primeiro beijo que você era um problema, um veneno que escorria pelos meus lábios enquanto eu, cego, bebia até a última gota. Eu me joguei inteiro nos seus braços, implorei por amor, mas tudo que você fez foi rir e me deixar no frio.

Me sinto um idiota, porque eu faria tudo por você. Pegaria uma granada, mataria, roubaria, sangraria até morrer, e nada disso faria diferença. Você não faria o mesmo. Você nunca faria. Eu soube que era loucura desde a primeira vez que transamos. Havia algo errado nos seus olhos, um brilho doentio, um prazer em me ver indefeso. Seus toques eram brutos, sem carinho, sem hesitação, e eu juro que senti medo. A pele ardia sob suas mãos, e minha mente gritava para que eu fugisse, mas era tarde demais. Você queria me ver quebrar. Você queria me ver sufocar. E eu, estúpido, deixei.

O pavor tomou conta de mim quando percebi que você queria mais do que apenas me possuir. Você queria me testar, queria me ver no limite da dor. Algemas, correntes, chicotes. Você disse que era amor, mas tudo que eu via era desespero. Naquele quarto abafado, onde o ar parecia sempre pesado, onde as paredes guardavam seus segredos sujos, eu achei que ia morrer. Só por um instante, eu realmente acreditei que aquele seria meu último dia. Mas talvez, no fundo, eu já estivesse morto há muito tempo. Desde o momento em que deixei você entrar na minha vida.

Pensei que morreria sob a mira do seu olhar obscuro. Não sabia o que era mais torturante: as chicotadas que rasgavam minha pele sem piedade ou o seu sorriso macabro, satisfeito com minha dor. Passei anos ao seu lado sem enxergar quem você realmente era, e quando percebi, já era tarde demais. Eu me odiei por não ter visto antes, por ter ignorado todos os sinais. Você nunca prestou. Nunca foi uma boa influência, nunca trouxe nada além de caos e desgraça. No nosso bairro, brigas aconteciam o tempo todo, e todo mundo sabia que você estava no meio de cada uma delas. A polícia já nem se dava ao trabalho de atender às chamadas, os vizinhos aprenderam a aceitar que você era um caso perdido. Porque é isso que você sempre foi, Zayn: um caso perdido. E não há polícia, não há regra, não há amor que possa mudar isso.

Mesmo sabendo de tudo isso, continuei ao seu lado. Eu deveria ter ido embora, deveria ter cortado você da minha vida como o câncer que era, mas não fiz. Você nunca me abandonou, então por que eu deveria abandonar você? Talvez porque você tenha me dado milhares de motivos para isso. Mas eu fiquei. Por teimosia, por masoquismo, por fraqueza. Fiquei porque não sabia viver sem você, porque o medo de perder você era maior que o medo de me perder no processo.

Mas talvez essa tenha sido a pior decisão da minha vida.

Houve noites em que fiquei acordado, olhando para o teto, imaginando sua morte. Eu desejava isso. Deus, como eu desejava! Queria que aqueles desgraçados da gangue rival finalmente o pegassem, que enchessem seu peito de balas, que o fizessem pagar por todas as merdas que você fez. Eu queria que você morresse, Zayn. E tudo isso porque você destruiu sua própria vida, e no meio do caminho, levou a minha junto. Você se afundou nas drogas e me arrastou com você. Me afundou em algo pior do que qualquer substância.

DEZ CONTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora