Ela estava assustada com a minha presença e ficou sem saber como agir. Eu sabia que não seria fácil, que tinha que tomar uma atitude. Sorri pra ela.
- Tudo bem?
- O que você está fazendo aqui?
- Estava dando uma passada aqui perto e vim ver como você estava. Todo mundo lá em casa está com saudades. - Tentei parecer o mais descontraído possível.
- Estou bem. - Ela sorriu mais calma já.
- Inteira! - Brinquei rindo e ela sorriu.
- Estou com tanta saudade deles, manda um beijo, por favor.
- Por que não vem nos visitar amanhã? Um almoço! - Me aproximei e sentei no banco perto dela, pedindo uma bebida.
Natália se sentiu surpresa com o convite, podia ver nos seus olhos.
- Eles sabem daqui?
- Não. Achei que não tinha necessidade. - Mostrei o banco ao lado dela. - Por que não senta e conversamos?
- Não sei. - Ela ficou séria.
- Igual estamos fazendo agora. - Tentei passar confiança e ela se sentou. - O convite ainda não foi respondido.
- Não sei, é essa minha resposta.
- Tudo bem. - Olhei pra ela e decidi perguntar uma coisa que estava se passando pela minha cabeça. - Por que está aqui fora? Você...
- Não. Eu disse que não faria isso, Luan.
- É um alívio escutar isso.
- Eu só ando por aqui e os clientes gostam, e não fico presa lá dentro. Tem alguns quartos do lado e não é legal. - Ela riu fraco.
- Eu imagino. - Quis pedir pra ela voltar, mas não podia, iria estragar tudo.
Fiquei olhando ela alguns segundos e percebi como não era mais a minha menina. Era uma mulher, um mulherão, diga-se de passagem. Segura, confiante e sedutora. Ela exalava sedução agora, mas sem perder a sua delicadeza. Queria que ela tirasse a máscara pra ver seus olhos direito, mas não seria bom.
- Um amigo seu estava aqui esses dias.
- Amigo?
- Sim, não me lembro o nome dele, mas ele ia em casa as vezes. Veio, viu a dança e depois não vi mais ele. Foi embora ou pra um dos quartos.
- Eu vi a dança também, hoje. - Ela me olhou surpresa. - Você está cada vez melhor nisso. E mais bonita do que sempre foi... - Fiz uma careta e ela riu. - Eu ainda acho que não é lugar pra você, mas...
- Que bom que tem o mas nessa frase. - Ela ficou séria e depois riu.
- Você está rindo do que? - Ri.
- De você.
- Por que?
- Porque é um idiota, Luan. - Ela sorriu.
- Ao que devo a honra do elogio?
- Aqui, agindo como se nada tivesse acontecido.
- Eu acho que o tempo cura. - Fui sincero e olhei dentro dos seus olhos. - Não estou fingindo, eu só acho que quero mostrar pra você que sou um cara legal. Não sou quem você conhece. E como esse cara, queria seu perdão. Mas eu sou realista e paciente, e também não quero que saia correndo daqui. Porque eu errei, mas esse tempo me mostrou que errei, mas fui sincero no que te falei na última vez que te vi.
Estava pronto pra ela começar a brigar e eu perder o ano todo em que jurei dar o espaço pra ela.
- Eu te perdoei. - Ela me olhou séria.
- Sério? - Fiquei ainda mais surpreso.
- Você acha que estaria sentada aqui com você se não tivesse, Luan?
- Bom, eu não sei.
- Eu perdoei sim. Com o tempo, eu... Consegui entrar na sua cabeça. Vi seus medos, seus pensamentos.
- Não justifica. - Abaixei a cabeça.
- Não, você tem razão. Mas você é um humano como eu.
- Não entendo, sério. - Ri. - Você me pegou de surpresa. Se fosse eu no seu lugar, eu...
- Quem sou eu pra não perdoar alguém? Olha pra mim. - Ela se apontou.
- É diferente.
- É sim, mas sou tão errada quanto!
- Eu sinto muito. Mesmo, por tudo. - Olhei nos seus olhos.
- Não sinta. - Ela pegou sua bebida e me olhou com um sorriso sedutor. - Mas não pense que é por você. Não é. É por mim. O perdão me levou a paz. É muito mais fácil seguir em frente sem o coração pesado. Não importa se você merecia o perdão, importa que eu merecia ser livre de toda aquela dor.
- Sua bondade me surpreende sempre. Eu acho que não te conheço, mesmo ao seu lado tanto tempo...
- Acredite, me surpreendi também.
- Bom, você me desconcertou todo agora e eu saí dos planos, então acho que vou indo.
Eu precisava sair dali. A música não me deixava pensar e eu queria muito isso. Precisava refazer os planos e pensar no que aquilo significava. Precisava decifrar Natália.
- Tudo bem. - Ela sorriu. - Acho que vou ficar aqui bebendo um pouco.
Me levantei e meio sem graça me despedi sem beijos ou abraços. Eu ainda tinha receio de chegar perto e ela não gostar. Lembrava cada virgula das palavras dela. Quando estava saindo, ela me chamou.
- Luan, eu aceito o convite. - Sorriu.
- Meus pais vão ficar muito felizes, e eu também. - Sorri.
- Onze horas eu apareço amanhã. Pode ser?
- Não quer eu que venha te buscar?
- Não se incomode. Onze horas estarei lá.
- Perfeito. Até, então! Boa noite.
- Boa noite.
Assim que sentei no carro eu sorri. Respirei fundo. Eu não esperava aquilo. Mas me lembrei das suas palavras. Lembrei que "seguir em frente" saiu de seus lábios e eu fiquei nervoso. Seguir em frente não era a palavra que eu queria, porque seguir em frente significa me deixar pra trás.
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Fica (Luan Santana)
Fanfic(CONCLUÍDA) Uma história de anos marcada de um lado pela falta de amor, e de outro pelo excesso dele. Natália e Luan são casados, mas a moça, apesar de amá-lo incondicionalmente, não recebe um tratamento a altura. Uma história marcada por marcas do...