65. Não inverte as coisas, você!

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Eu dirigi o mais rápido que consegui de volta pro hotel. Em silêncio, só as bebês começaram a chorar, mas não tiveram resposta de Natália, que tinha os olhos fixos pra frente, não se mexia. Comecei a entrar em desespero com elas chorando, eu dirigindo e ela naquele estado. Parei o carro numa rua qualquer.

-  Natália! - Ela não me respondeu, então respirei fundo e saí do carro, abrindo a porta de trás e mexendo em Cecília, que chorava mais. - O que foi, filha? - Perguntei pegando ela no colo, balancei um pouco e senti um cheiro desagradável. 

Que legal, não era hora e nem lugar. Peguei Melissa e assim que balancei, ela parou, verifiquei a fralda e percebi que chorava porque a outra tinha começado. 

- Essa história de ficar chorando porque a outra abre o berreiro não dá, né? - Ri entrando de volta. 

Antes de colocar o cinto, olhei pra Natália. Na mesma posição, ela agora chorava. 

- Olha pra mim. - Peguei seu braço e então ela se virou. - Não vale a pena esse choro. Não vale uma lágrima sua.

Ela continuou a me olhar da mesma forma, com tristeza, mas não disse uma palavra. Respirei fundo e soltei seu braço, depois voltei a dirigir. Eu não sabia o que esperar dela, mas eu sabia que iria passar. Mas não imaginava que seria tão difícil lidar com aquilo naquele momento. 

Um pouco nervoso, chego meio irritado ao hotel. Natália desceu e correu pro elevador, me deixando sozinho com as meninas, mas eu relevei pela situação. Peguei as duas, já acostumado com aquilo e segui também para o elevador, mas tive que esperar um pouco porque Natália já havia subido. Enquanto ele subia, eu pensava em como agir com ela, mas lembrei das palavras do meu pai e decidi mostrar que ela não precisava deles. Entrei em silêncio e as meninas voltaram a chorar, mas percebi que Natália estava na varanda. Deixei Mel no berço e decidi trocar sozinho a fralda de Cecília. Já tinha feito isso com Natália junto, mas nunca sozinho, então demorei um pouco pra conseguir. Elas pararam de chorar e depois de acariciar um pouco as duas e achar que Natália já estava sozinha com seus pensamentos há um tempo suficiente pra falar comigo, deixei elas no berço e fui até a varanda. Abracei ela por trás e beijei seu ombro. 

- Você não precisa deles.

- São meu pais, Luan. - Ela disse inconformada. - Sou a única filha deles. 

- Eu sei, mas você não merece derramar uma lágrima por eles.

- Não tem essa! - Ela se soltou e se virou pra mim nervosa. - Eu perdoei. Eu perdoei e amo eles! Não fiz nada demais pra eles...

- Eu sei disso, e você fez sua parte. - Peguei em sua mão. - Mas eles não fizeram a deles. 

- Mas é minha família! 

- Sua família é eu e nossas filhas! - Falei firme. - Quem faz o que fez e não te recebe de volta não é sua família, Natália!

- E o que eu fiz? 

- Você não fez nada! - Disse já irritado. 

- Como não? - Ela estava nervosa. 

- E o que você fez, Natália? Saiu pra passear? Dormiu com um cara? - Tentava fazer ela entender que a culpa dela era mínima. 

- Não só isso, mas engravidei também! - Ela debochou e sua atitude estava me deixando nervoso.

- E assumiu o que fez! Eles estão invertendo as coisas, fazendo você sentir uma culpa que devia ser deles. Foram eles que não te apoiaram e te colocaram pra fora grávida! Enxerga isso!

- Eu perdoei. Demorei, você sabe disso, mas eu perdoei. 

- Eles não merecem perdão. - Fui sincero.

- Você diz isso assim, facilmente, porque seu pais ficaram do seu lado! Você vê eles quando quer!

- Natália, você passou mal assim que chegou na minha casa. Levou uma gravidez de risco por causa daquilo. Você perdoou tudo isso e eles não podem te perdoar? - Disse inconformado. - Você podia ter perdido o bebê aquele dia!

- Mas eu não perdi! - Ela já começou a gritar e eu não me controlei.

Queria abrir a cabeça dela e fazer ela perceber que aquela situação era ridícula, mas ela estava cega pelo amor que sentia por eles. Irritado, gritei no mesmo tom.

- Mas você podia ter perdido! 

- Não inverte as coisas, você! - Ela respondeu me zombando. - Não foi por culpa deles que aquele menino não está aqui. A culpa foi sua e todo mundo sabe disso! 

Eu não podia esperar por aquela resposta e me choquei. Na mesma hora ela percebeu o que estava fazendo, enquanto ainda olhava perplexo pra ela. Ela respirou forte e levou as mãos na cabeça, virando de costas. Eu não estava acreditando naquilo. 

Fica (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora