108. Luan era tudo que um dia pedi a Deus

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Fiquei parada, a princípio de longe vendo os bombeiros trabalharem, mas decidi me aproximar. Tentei não atrapalhar eles, e o policial me acompanhou. Cheguei o mais perto possível e consegui ver Luan dentro do carro amassado, preso, e imóvel. Meu desespero foi aumentando ao ver o estado do carro, muito danificado, mas principalmente o lado do Luan, e onde Luan colocava a cadeirinha do Heitor, estava até inteiro. 

- Seu marido foi um herói. - O policial falou, mas não consegui olhar em sua direção. - O outro carro ia bater bem onde estava o filho de vocês mas ele conseguiu girar ele. 

- Como? - Perguntei assustada.

- Coisa de pai.

Meu coração passou a pular, parecia que iria sair do meu peito. Luan era tudo que um dia pedi a Deus, ele era meu porto seguro, minha vida, o super pai que pedi pros meus filhos. E aquilo que o policial me disse só me confirmou o que eu já não tinha dúvidas. Eu precisava dele ao meu lado, protegendo a mim e nossos filhos. Precisava do meu anjo. 

Quando me dei por mim, estava cada vez mais próxima. Queria entrar lá no meio e arrancar ele de lá, mas senti uma mão em meus ombros e logo essa mesma mão me puxou pela cintura, me afastando um pouco do carro. Era Roberval, que me virou e me acolheu em seus braços.

- Xi, tá tudo bem, ele vai ficar bem. - Disse tentando me consolar, abraçado comigo, mas eu vi sua expressão de pânico e sabia que assim como eu, ele também estava muito assustado.

- Eu amo ele, eu preciso dele por isso. - Disse baixo. - Eu não sei viver sem ele, Roberval. 

- Mas quem foi que disse que vai precisar viver sem ele? Ele é forte, vai sair dessa... Logo mais tá dando trabalho pra gente de novo. 

- O carro, está destruído! - Falei secando minhas lágrimas.

- Luan é forte, não perde a fé agora. 

Fiquei em silêncio tentando digerir tudo aquilo, mas os nós que se formaram na minha cabeça foram foram ficando cada vez maiores. 

- Tenho que avisar a Mari. - Disse pegando no celular.

- Ela já sabe. Recomendamos eles irem pro hospital, acho que seu carro já parou o trânsito demais por aqui, né? - Ele riu forçado. - Eles vão receber as meninas, e Ju vai ficar com elas lá na casa dos pais do Luan. Daí os dois vão ver o Heitor.

- Meu filho, meu Deus! - Levei a mão na cabeça. 

- Ele está bem, o Fábio foi pra lá e eu decidi vir aqui. Ele está bem, nada aconteceu com ele. - Ele falou calmamente, como se fosse pra fixar essa idéia. 

- Tem certeza? 

- Sim. 

- Quero ver ele...

- Vamos junto com Luan pra lá, tudo bem? Ou quer ir antes e esperar lá?

- Vou esperar o Luan. - Disse meio perdida e muito nervosa, passando a mão pelo cabelo. - Isso não acaba nunca?

- Não olha. - Ele me puxou e me abraçou de forma que ficasse de costas pros bombeiros e pro trabalho deles. 

Alguns bons minutos se passaram até que então eu percebesse um progresso e o fim, quando eles comemoraram discretamente e a maca foi trazida pra perto. 

- Graças a Deus! - Disse me aproximando dele. 

Quis chegar perto, tentar relar nele, mas fui barrada.

- Moça, a senhora não pode agora, temos que levar ele pro hospital.

- Me deixa ver ele... - Pedi chorando.

- Não posso, senhora. 

- Natália, vem aqui! - Rober me puxou. - Vamos acompanhar ele, se acalma. 

Assim que tiraram ele das ferragens do carro e colocaram na maca com muito cuidado, pude ver sua perna muito machucada, cheia de sangue. 

- Meu Deus! - Respondi chorando mais, mas fui puxada por um Roberval ainda mais assustado em direção ao meu carro. 

- Vem, vamos atrás!

Em prantos, enquanto Rober dirigia em silêncio, segui ele até o hospital em que estava meu filho também. Meu coração parecia querer explodir de nervoso e eu só sabia pedir a Deus pra que ficasse tudo bem.

Assim que pisei no hospital, eu desejei muito ver meu filho, mas como sabia que ele estava bem, segui com Luan até ele entrar na sala de cirurgia. O estado dele não foi comentado, e eu chorei quando encontrei com Mari e Amarildo. 

- Ele não está bem, eu sinto. - Disse em prantos.

- Vai dar tudo certo, minha filha, a gente tem fé, lembra? - Amarildo me disse, mas eu senti que ainda mais que eu, Mari tinha medo. 

Lembrei na hora do meu filho e corri pra ver ele. Estava deitado, na cama, dormindo. A enfermeira me explicou que ele não sofreu o impacto como o pai e o cinto e a cadeirinha o protegeram na hora que o carro capotou uma vez e voltou ao normal, antes do carro que havia provocado o acidente prensar a parte da frente, de Luan, no poste. Heitor, no banco de trás, só sofreu o susto do capotamento. 

Ela me explicou que o trauma de um acidente assim pra uma criança era grande e ele estava bem esgotado, então possivelmente ele dormiria a noite toda. 

Fiquei um bom tempo com ele, morrendo de dó e desejando que eu pudesse trocar de lugar com o meu menino, mas eu não podia. 

Depois de quase uma hora fui assustada por Rober, que veio me buscar pra ir jantar no restaurante do hospital. 

- Eu não tô com fome. 

- Eu sei, mas vamos lá, Luan ainda vai demorar na cirurgia. Mari não quer ir também, então pensei que você pudesse dar uma forcinha. - Ele sorriu fraco. 

- Tudo bem. - Dei um beijinho no meu filhinho e depois acompanhei ele.

Jantamos em silêncio, em uma tensão extrema. Mari ainda estava mais nervosa que eu e Fábio mal conseguiu comer enquanto o telefone tocava toda hora. O acidente já era uma notícia e o escritório estava tentando lidar com aquilo, mas todo mundo queria uma notícia sobre ele. Notícia essa que nem a gente tinha. Eu sabia que tudo estava uma confusão lá fora, e tentava não pensar nisso. Comi pouco, assim como Mari, e logo voltamos pra sala de espera. Espera de mais uma hora até o médico aparecer. Nós ficamos em alerta na hora, mas não recebemos notícias boas.

- A cirurgia foi um sucesso. O ligamento da perna esquerda foi restabelecido, tudo normal. A outra perna está engessada, mas nada demais, uma fratura normal que vai ser tratada normalmente com o gesso. Mas ele sofreu traumatismo craniano com as batidas da cabeça. - Eu sentia meu coração bater mais forte, angustiada, esperando ele dizer que tudo iria ficar bem. - Mas a lesão é leve, não é grave. Mas mesmo assim ele está em estado de coma, mas eu acredito que não é por muito tempo, é somente até ele se estabilizar, o corpo se recuperar. Ele vai ficar bem, ele não corre risco de vida, pelo menos até esse momento. 

Eu agradeci a Deus por ele estar bem. Agradeci muito e rezei mentalmente pra ele ficar ainda melhor logo. É claro que me assustei com o estado, com o coma, mas eu tinha fé e ouvi que ele ia ficar bem. 

- E sequelas? - Amarildo pediu.

- Não sei de nada ainda, só quando ele acordar posso dizer, mas eu acredito, pelos exames, que não teremos nenhum problema. Só poderão ver ele amanhã. Ele está sendo cuidado num lugar excelente, e vai ficar bem.

A notícia acalmou nosso coração, mas abriu uma nova aflição e a espera pela volta da consciência dele.

Fica (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora