93. Não se protege nada com mentiras

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POV Luan

Se agora eu tinha um outro arrependimento, era não ter sido pra Natália o que sempre fui, amigo e companheiro. Eu tinha errado e muito em não ter contado pra ela o que estava acontecendo enquanto ela estava longe e perto também! Mas errei com as melhores das intenções, a de proteger ela e nosso amor, mas já devia saber que não se protege nada com mentiras. Principalmente eu, já que depois de tudo que passamos, era minha obrigação saber disso. 

Conversei com a minha mãe, ela me apoiou e me deu colo. Ficou abismada com tudo que Tais aprontou e disse que eu devia ter paciência com Natália, já que ela estava com toda a razão de ficar louca comigo.

- Ela disse que me perdoou, mas eu sei que ela vai ficar com isso na cabeça. 

- Claro que vai, meu filho!

- Agora que tudo ia dar certo... - Me queixei. 

- Você vai ter que ganhar a confiança dela de novo, com muita calma.

- Vai dar certo, ela não vai querer se separar não...

- Claro que não, filho! Vocês se amam... Se não existisse amor, ou ele fosse fraco demais, eu acreditaria nisso, mas não! Quando tem amor, por mais errado que tudo esteja, a gente aceita e perdoa, porque o amor é generoso e acima de tudo e todos. Então tenha paciência que as coisas se ajeitam... E não podemos falar essa história pro seu pai nem brincando! - Ela disse preocupada.

- Que bom que ele não ouviu a gritaria que fizemos.

Conversamos mais um pouco e depois ela foi fazer o jantar. Meu pai acordou e eu decidi conversar um pouco com ele. Tinha que falar sobre a saída da Taís e como antes conversado com a minha mãe, decidimos falar que ela tinha dado em cima de mim e Natália percebeu, então nada mais normal que ela ir embora, sem grandes detalhes.

- Mas a Natália ficou brava? - Ele riu.

- Um pouquinho. - Disfarcei. - Me botou de castigo pra dormir aqui hoje, mas amanhã já fica tudo bem! - Eu ri.

- Não precisa de outra, filho, sua mãe pode me ajudar com o que ela fazia, agora que já sei como fazer os exercícios e o tipo de comida e tudo mais.

- Eu sei, pai, ela logo iria embora também. - Dei de ombros. - Melhor assim!

Logo jantamos juntos e depois ficamos vendo TV na sala. Estava passando uma matéria que gravei pra um programa, mas eu não consegui prestar atenção, queria ligar pras meninas e saber se estava tudo bem, mas achei melhor dar aquele tempo a Natália. Diante de tudo isso, fui deitar cedo, mas tardei a dormir, demais. Fiquei rolando na minha cama a noite inteira olhando a aliança que já tinha voltado pro meu dedo. Apesar de saber que as coisas ficariam bem, tive um medo incrível de perder Natália.

Quando consegui dormir, não descansei completamente, mas estava acordado antes do almoço. Tomei café da manhã por causa que minha mãe ficou me pressionando, mas assim que terminei de comer meu lanche, já estava saindo pela porta apressado, ouvindo meus pais rirem de mim ao se despedirem. Nessa hora Natália e as meninas já estavam acordadas e minha princesa devia estar preparando o almoço enquanto as princesinhas brincavam. Cheguei procurando elas e já dei de cara com as meninas na sala, mexendo em um monte de brinquedos espalhados pelo chão. Fiz uma grande festa com elas e depois perguntei da mãe, e elas me indicaram a cozinha. Quando cruzei a porta sorrindo pra ela, ela me olhou, mas não sorriu.

- Bom dia. - Disse.

- Bom dia, meu amor. - Respondi e me aproximei.

Não sabia bem como agir, mas eu não podia me afastar. Fui até ela e peguei seu rosto, aproximando nossos lábios, mas ela virou o rosto me obrigando a beijar sua bochecha. Seus olhos estavam inchados, certamente tinha chorado. Queria pedir desculpas, mas suas palavras da noite anterior me pedindo pra não falar mais sobre isso não deixaram. E então um angústia forte tomou meu peito e toda a animação pra voltar pra casa sumiu. 

Eu fiquei muito chateado por ter noção da forma como tinha magoada aquela mulher que me amava tanto. Mas por outro lado, tinha consciência da justificativa do que eu fiz. Mas agora tinha aprendido a lição e sabia que nunca mais deixaria de lhe contar nada. Saí da cozinha pensando numa forma de ajudar a melhorar o clima com ela e me redimir e fui brincar com as meninas. Elas me mostraram mais coisas que tinham trazido da viagem e me pediram pra ver os shows durante as férias, mas eu não consegui dar uma resposta porque antes precisava conversar com Natália. Sem ela nas viagens eu não podia cuidar de duas meninas sozinho e não sabia se com tudo isso ela iria querer me acompanhar, além de que era uma decisão séria pra ser tomada em conjunto. 

- Vou ver com a mãe de vocês! - Respondi, feliz por se interessarem cada vez mais pelo meu trabalho. 

Natália era uma mãe e tanto e eu sabia que grande parte da admiração que elas tinham pela minha profissão vinha do grande trabalho da mãe que um dia foi minha fã. Ela cultivava demais esse amor incondicional das meninas por mim e eu a agradecia muito por isso.

Natália logo nos chamou pra comer e fui levando Melzinha no colo, que estava mais dengosa que a irmã, que já havia saído correndo pra cozinha. Comemos com as duas tagarelando sem parar, muito ativas. 

- Mamãe, sabia que papai vai deixar a gente ir de avião com ele nas férias? - Cecí disse, me assustando um pouco e olhei pra ela e pra Natália que me encarava sem entender.

- Ah, é? Ele vai levar vocês? - Ela perguntou. 

- Não foi bem isso que eu disso, Cecília. - Repreendi ela e depois virei pra Natália. - Elas me pediram e eu disse que conversaria com você e ela já está achando que tem que arrumar as malas! - Falei explicando.

- Ah, entendi, achei que não ia me contar isso. - Ela alfinetou e sorriu de canto pra mim.

- Natália, eu disse que conversaria com você, mas não fazem nem 10 minutos que ela pediu. Que tal me dar um voto de confiança? - Estendi a mão pra pegar na dela por cima da mesa.

Ela ficou olhando por alguns instantes e depois sorriu colocando sua delicada mão sobre a minha. Levei até a boca em um gesto gentil e soltei acariciando, um pouco mais feliz. Ficamos conversando num clima mais calmo e Natália foi mais gentil comigo.

Assim que ela foi levar as meninas mais tarde na casa de uma amiguinha mas mal se despediu de mim, eu soube que tinha que fazer alguma coisa pra arrumar a situação, porque do contrário, ia ficar sendo evitado por um longo tempo. Na hora me deu uma idéia incrível, mas eu precisava ter um pouco de paciência, tempo e muita sorte pra conseguir fazer o que queria, reconquistar ela da melhor forma que sabia: cantando.

Como ela antes de sair me avisou que passaria a tarde no salão, como possível plano de me evitar mais, eu sabia que teria tempo pra compor as coisas que já surgiam na minha cabeça como um turbilhão de frases. Assim que peguei o violão, o caderno e sentei na sala já preparado pra ver quando ela chegasse, comecei a ver que não era tão fácil. Precisava juntar as idéias e as frases e precisaria de um tempo realmente. 

Quando as meninas da minha vida voltaram no fim da tarde eu não tinha quase nada, mas tinha o caminho que sabia que estava encaminhado. 

Mas a grande surpresa foi encontrar minha mulher entrando pela sala ainda mais loira! Na verdade, agora loira por completo. Olhar pra ela me fez perguntar mentalmente por que ela nunca tinha feito isso antes, porque realmente combinava com ela. Sem pensar muito me levantei e fui em sua direção. Apertei ela num abraço, ainda hipnotizado, mas ela não retribuiu e então se afastou me olhando com um sorriso discreto. 

- Você está linda! - Fiz menção de beijar ela, mas novamente ela se virou e depois se afastou sorrindo e agradecendo, olhando pra trás. 

Eu tinha certeza que ela estava querendo me provocar pra me mostrar que eu tinha sido um idiota. O duro que ela sabia certinho como me deixar caidinho por ela, mas nunca me passou pela cabeça que minha menina podia usar essa tática. Ela havia crescido e amadurecido muito, e talvez devesse ver mais ela como mulher e não a menina inocente que eu engravidei com 17 anos.

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{Fotozinha da Nat loira pra vocês 💛}

Fica (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora