Minha vida tinha entrado mais em parafuso do que quando Natália engravidou. Aquilo só podia ser castigo, e dos bravos. Eu não sabia mais o que fazer e nem tinha idéia, então se tornou uma opção me distrair. Melhor do que ficar pensando nela.
Então eu comecei a beber mais do que devia. Bebia nos dias de folga, até aí tudo bem. Quando não estava procurando ela, estava em casa assistindo TV com uma latinha de cerveja na mão. Mas as coisas começaram a piorar a medida que o tempo passava e eu procurava e não encontrava. Passei a beber nas viagens, depois dos shows, de madrugada nos hotéis ou na van. Sempre tinha bebidas no meu camarim, antes acabavam ficando lá, porque eu não bebia, mas agora eu levava tudo embora. O pessoal começou a estranhar.
- Rober, pega algumas bebidas pra mim?
- De novo?
- Eu quero, ué. - Olhei feio pra ele.
Ele fez o que eu pedi, mas percebi que tinha ficado meio cismado com aquilo.
Quando Arleyde me acompanhou, ela não disse nada, mas ficou olhando e depois peguei ela e Rober cochichando.
- O que estão sussurrando aí?
- Nada. - Testa respondeu.
- É, porque estão de segredinho. - Aquilo tinha me irritado.
Aliás, eu não tinha pavio mais nem pra isso. Estava constantemente sendo irritado por tudo.
Até nisso Natália era lembrada. Se ela visse, tomaria cada uma das bebidas da minha mão. Se tinha algo que odiava, era aquilo, principalmente quando estávamos de boa em algum lugar, sem festas ou churrascos.
As coisas começaram a fugir do controle logo. Todo mundo achava que eu estava mais feliz, cogitaram até a possibilidade de um filho, só porque comecei a fazer os shows mais alegre. Mas o que ninguém sabia é que o motivo era que comecei a beber nos shows também. Mas eu jurava que sabia o que estava fazendo. Mas eu não sabia.
Um dia desses, estava sozinho com a equipe e o atendimento durou mais que o normal. O rodeio não acabava e eu tive que esperar. Bebi muito enquanto fazia isso e acabou que sem perceber, fiquei bêbado demais. Parei um pouco antes de entrar, mas não me sentia bem. Roberval estava bravo, sabia que eu não estava bem, e ficou me criticando.
- Isso está passando do controle!
- Eu sei o que eu tô fazendo.
- Não, não sabe! E quando seu pai está aqui você não faz isso.
- Eu sou grandinho demais, para de colocar meu pai nisso.
- Está até falando enrolado!
- Claro que não!
- Luan, é bom isso parar porque se não eu vou falar com ele e sua mãe.
Bebi muita água e subi ao palco. Fiquei mais quieto, mas no meio do show não estava mais aguentando. Meu estômago revirava e eu estava meio tonto. Não sabia o que estava fazendo e acabei errando a letra de diversas músicas.
Mas o pior foi quando no meio de uma delas, eu não aguentei e corri na lateral do palco e vomitei. A equipe juntou em mim e Roberval me olhou repreendendo. Me ajudou e assim que me recuperei, voltei, pedindo desculpas. Depois de alguns minutos, logo o show acabou e eu fui embora pra casa porque era perto de lá. Passei mal o caminho todo e ninguém na van dizia nada. Quando percebi a van parar na casa dos meus pais, estranhei.
- Eu vou pra casa.
- Eu liguei pro seu pai e ele mandou te trazer pra cá.
- Porra, Roberval! - Fiquei irritado descendo da van e logo meu pai apareceu saindo de casa.
- Cadê ele? - Perguntou pro Rober.
Eu apareci e ele veio até mim.
- Vai fazer com sua carreira e com sua vida o mesmo que fez com Natália? - Disse bravo partindo pra cima de mim.
- Calma, pai!
- Não me acalmo porque não te criei pra virar alcoólatra!
- Desculpa! Mas não é bem assim também...
- É assim, sim! - Nunca tinha visto ele tão bravo. - Está proibido de beber, está me ouvindo? Não quero conversa com você!
- Pai! - Me assustei.
- E antes que diga que tem idade pra isso, eu te lembro que sou seu pai e você vai me respeitar!
- Tudo bem. - Abaixei a cabeça.
- E vai tomar um banho pra ver se melhora.
Entrei em casa de cabeça baixa e passei reto pela minha mãe. Eu estava envergonhado e não queria encarar eles. Assim que cheguei ao meu antigo quarto ouvi a van sair. Eu sabia que agora ele tinha ficado realmente puto e não ia ficar fácil pra mim.
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Fica (Luan Santana)
Fiksi Penggemar(CONCLUÍDA) Uma história de anos marcada de um lado pela falta de amor, e de outro pelo excesso dele. Natália e Luan são casados, mas a moça, apesar de amá-lo incondicionalmente, não recebe um tratamento a altura. Uma história marcada por marcas do...