67. Está tudo acabado entre nós

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POV Natália.

Assim que disse a última letra, me arrependi. Não podia falar aquilo pra ele, que há muito tempo estava do meu lado. Ele tinha errado sim, mas era passado, enterrado, e se eu não estivesse tão nervosa, nunca lembraria daquilo. Luan estava sendo um marido incrível e eu devia desculpas, mas não conseguia pedir, simplesmente de medo dele me rejeitar. Não queria ouvir um "Não, está tudo acabado entre nós dois.". Na viagem, reproduzi tudo que ele pedia, sem falar, sem questionar, mas estava odiando aquele clima e as quase três horas de viagem foram longas demais pra mim, que tinha vontade de pular do avião de saber que havia falado tamanha burrice. Eu não sabia como havia sido o ano longe de mim. Ele não gostava de falar sobre isso e eu não insistia, mas sabia que não havia sido nada fácil e sabia que um dos grandes tormentos pra ele era aquele dia, e eu não devia nem sequer ter tocado no assunto, ainda mais quando ele queria só me defender. 

E ele tinha toda razão. Agora, dentro do avião, conseguia pensar com clareza. Meus pais não mereciam meu perdão, ou pelo menos, não mereciam minhas lágrimas. Eu devia ter virado as costas com um sorriso no rosto e me juntado a minha família, mas preferi num ataque de culpa, jogar tudo de volta pra Luan. Estava doendo a perda, mas eu sabia agora que o certo era levantar a cabeça e seguir em frente, mas só faria isso com ele, que nesse momento tinha os olhos fixos e marejados na imensidão escura pela janela do avião. 

O tempo tinha fechado e o avião começou a balançar um pouco. As meninas estavam cada uma em um banco, em cadeirinhas que se prendiam a poltrona, Cecí ao meu lado, separadas por um pequeno corredor, de frente pra Luan, e Mel na minha frente e ao lado de Luan. Dormiam sem parecer se importarem com o clima horrível instalado alí, que fazia meu coração se apertar. O comandante avisou que passaríamos por uma turbulência e devíamos nos ajeitar, então me despertei um pouco, meio assustada. Coloquei a mão nas meninas, mas Luan me olhou, desviando a atenção pela primeira vez da janela. 

- Coloca o cinto! - Mandou, arrumando o dele e segurando as meninas da mesma forma que eu. - Pode soltar. 

- Não... - Disse meio assustada. 

- Calma, vai ficar tudo bem! - Ele disse, mas não me olhou nos olhos. - Estou segurando as cadeiras com força, se segura e só. 

Começou a tremer mais do que o normal e eu olhava pra Luan meio assustada. 

- Luan, se segura! - Pedi.

- Calma! - Ele pediu, mas vi que se assustou também com o solavanco que deu o avião.

- Estou com medo! Por favor, se segura! - Ele segurava as meninas e só estava preso pelo cinto.

- Calma! - Ele me olhou. - Se acalma. Vai ficar tudo bem, calma! - Ele parecia pedir mais pra ele do que pra mim e o vi fechar os olhos e rezar baixinho. 

Fiz o mesmo, tremendo. Os solavancos pararam, mas continuou a tremer. 

- É só o tempo, Natália, vai dar tudo certo. - Ele sussurrou. 

As meninas acordaram chorando, mas aos poucos a tremedeira diminuiu. Não parou, mas diminuiu. Luan conseguiu soltar elas e respirou fundo. Depois cada um acariciou e acalmou uma delas, assim, voltaram a dormir. Eu pensei que íamos nos falar, meu coração implorava, mas o silêncio ainda se tornou cada vez maior até pousamos. Eu sabia que precisava pedir desculpas, mas não sabia nem como.

Quando pousamos, chovia fraco em Londrina. Luan desceu com uma das meninas, coberta por um pano e seu pai esperava em frente a escada com um guarda-chuva. Depois voltou e pegou a outra, dizendo estar com medo pela escada escorregadia. Saí logo atrás dele, correndo na chuva, enquanto cobria a cabeça com uma bolsa e ele voltava pra pegar as malas. Acabei levando uma bronca assim que ele entrou no carro com o pai, por não ter esperado ele. Ele alegou que eu podia ficar resfriada e passar pras meninas pelo leite, mas saiu de novo resmungando, voltando pro avião. Sorri com a preocupação dele, mas quando Amarildo seguiu o filho me preocupei e me virei no banco de trás, olhando pelo vidro embaçado. Eles conversavam com o comandante e pareciam preocupados, mas voltaram logo e ao assumir o banco do passageiro, seu Amarildo virou mexendo nas meninas e me pedindo um beijo. Luan estava ao seu lado, e voltou a reclamar de eu ter saído na chuva. 

Fica (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora