Os dias foram passando devagar e sem muitas novidades. E eu ainda tinha que lidar com a situação das perguntas sobre o estado de saúde de Luan a todo momento, sem contar os cuidados com meus filhos, que sentiam falta do pai e também que o ambiente não estava bom, estava pesado e tenso. Passava todos os dias com meus filhos a noite e a tarde ficava com Luan no hospital, então usava minhas manhãs pra descansar. Mari ia pela manhã e cuidava dos pequenos a tarde pra mim, já que eu sabia que nesse momento era a melhor coisa que eles se sentissem próximos de nós, família.
Os cuidados com ele estavam intensos e os hematomas estavam sumindo. Boa parte dos machucados da cabeça estavam desinchando e o médico disse que isso era bom, que podia ser um sinal de que ele estava se estabilizando e logo saíria do coma.
- É como se o cérebro dele causasse o estado dormente nele pra enfim poder se recuperar. - Ele me explicou sorrindo quando fez uma semana do acidente. - Pode comemorar, ele vai ficar bom logo.
- Isso é maravilhoso! - Sorri, feliz demais. - Mas estou preocupada com as sequelas que o senhor mencionou no início.
- Não acredito que teremos problemas, os exames dele estão bons. Mas só se pode afirmar quando ele acordar e novos exames forem feitos.
A cada dia que passava ele foi apresentando mais e mais melhoras e isso me deixava muito feliz e com esperanças que dali um mês, quando as férias de julho iniciasse, pudéssemos viajar, com tranquilidade e unidos. As meninas veriam os amiguinhos, Isa e Anna, e Luan estaria bem, ao nosso lado.
Dava café da manhã para as meninas enquanto Heitor ainda dormia. Ele não ia pra escola, mas dormia bastante, igual ao pai.
- Mamãe, estou com saudade do papai! - Cecília disse suspirando ao comer seu pedaço de pão.
- Eu também sinto muito, meu amor, mas ele volta logo.
- A gente não pode ver ele? - Mel questionou.
- Não, não podem, meu anjo. Somente rezar pra ele voltar pra casa logo. Mas que tal a gente se distrair um pouco hoje a noite? - Disse tentando fazer com que aquilo não ficasse muito pesado pra elas. - Mamãe leva vocês no cinema ou posso comprar aquela boneca que vocês querem! - Sorri.
- Não, mamãe! - Cecília disse toda nervosa. - Não podemos! - Mel afirmou com a cabeça.
- Por que? - Perguntei confusa.
- Tem que pedir pro papai, ele não deixa ganhar presente sem pedir pra ele! - Ela disse brava, me olhando feio.
Eu olhei pra minhas duas princesas sorrindo, encantada.
- Tudo bem, então, a gente espera o papai e pede pra ele. Logo logo ele está de volta, meus amores.
Aquilo me cortou o coração. Tinha medo, muito medo. Apesar de saber que Luan voltaria, não conseguia imaginar o que seria da minha família, dos meus filhos, caso isso não ocorresse mesmo.
Quando fez exatamente duas semanas do acidente eu tive uma surpresa maravilhosa. Entrei no hospital como estava fazendo a dias e estava andando normalmente pelos corredores quando vi Mari vir chorando na minha direção e me abraçou com força.
- Ele acordou, Natália, meu filho voltou!
- Meu Deus! - Abracei ela forte.
Mal cabia em mim de felicidade, então sentamos na sala de espera e comecei a chorar, lágrimas de alegria. E claro, agradeci muito a Deus por essa bênção.
- E como ele está? - Perguntei eufórica.
- Ele acordou meio confuso, assustado e agitado. Mas chamou meu nome quando me viu e o médico disse que isso é muito bom, significa que ele está bem de memória e reflexo, e principalmente a visão, que é uma das coisas que podem ser afetadas. Mas ele estava bem inquieto, começou a se mexer muito, querer gritar e os enfermeiros me tiraram de lá.
- E agora?
- Liguei pro Amarildo, ele ficou de avisar o pessoal da equipe. Vai deixar o Heitor com a Thomé, já que Bruna voltou hoje cedo pro Rio.
- As meninas estão na casa da amiga, foram brincar. O que doutor disse?
- O doutor disse que eles iam fazer muitos exames e analisar o caso agora. Dar um calmante pra ele e ver como ele está.
- E as sequelas?
- Eles vão ver tudo agora.
As horas passaram devagar e nós alí na sala de espera andando de um lado pro outro. Amarildo e Rober se juntaram a nós, assim como a Arleyde, que estava se desdobrando com as notícias e todos os sites de fofoca buscando informações. Quase duas horas depois que ele deu algum sinal o médico veio falar conosco.
- Precisamos esperar os resultados dos exames pra ver se tem sequelas, mas aparentemente está tudo bem. Demos um calmante e ele está meio confuso ainda, mas vai se ajeitar.
Fomos liberamos pouco a pouco pra ver ele, então os pais foram primeiro e eu fiquei toda nervosa sentada no banco, ansiosa. Assim que os dois voltaram eu andei rápido ao encontro dos meus sogros.
- Ele está louco pra te ver! - Amarildo disse me abraçando e eu mal esperei pra ouvir o resto.
Corri até o quarto, meu coração pulou de alegria ao olhar ele sorrindo ao me ver abrir a porta. Abriu os braços meio sem jeito e eu me aconcheguei neles. Alí era meu lugar, tão gostoso, tão meu, que nada podia provar o contrário.
- Você quase me matou do coração, meu amor. - Disse suspirando e deixando algumas lágrimas caírem.
- Perdoa, não vou dar mais sustos como esse. - Ele riu fraco.
- Não mesmo, está proibido! - Disse apontando sério pra ele. - Ou eu vou parir outro filho desse jeito.
Sua risada gostosa preencheu o ambiente e eu ri junto, me juntando dentro de seu abraço mais uma vez.
- Você salvou nosso menino, meu herói. - Disse emocionada.
- Eu sei, minha mãe me disse. Eu não lembro muito bem de nada.
- Melhor assim, melhor esquecer. - Sussurrei. - Seus filhos estão morrendo de saudade, e eu estava quase me matando. Como você está? - Comecei a passar a mão pelos seu rosto e sua cabeça, depois dei um selinho bem dado nele.
- Estou meio confuso ainda, algumas coisas embaralham na cabeça, principalmente do acidente, mas eu to bem, estou me sentindo ótimo. Só morrendo de vontade de apertar meus pequenos.
- Aquela casa não é a mesma sem você. Luan, você nunca pode me deixar, ouviu? Eu fico sem chão, eu não sei nem como ir a esquina, toda perdida, embaralhada, toda confusa. Não sei meus horários e nem meus caminhos. Você é minha direção. Eu te amo tanto, meu Deus! Pedi tanto pra Ele me ajudar, pra te proteger, colocar as mãos dele sobre você... - Disse agoniada. - Eu e seus filhos, não somos nada sem você, meu Deus! - Peguei seu rosto em minhas mãos.
- E você acha que eu sou? Tudo que eu faço é por vocês, eu respiro por vocês. Meu Deus, Natália, eu nunca vou sair do seu lado! - Ele disse emocionado.
A gente se abraçou forte e secamos as lágrimas sorrindo. E então o silêncio se espalhou. Eu só precisava sentir o calor das suas mãos nas minhas e ele só precisava sentir o meu.
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Fica (Luan Santana)
Fanfic(CONCLUÍDA) Uma história de anos marcada de um lado pela falta de amor, e de outro pelo excesso dele. Natália e Luan são casados, mas a moça, apesar de amá-lo incondicionalmente, não recebe um tratamento a altura. Uma história marcada por marcas do...