† CAPÍTULO 02

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Sol Santiago, Caxias


  Só pelo movimento sei que é um baile, e dos grande!

Me perco com facilidade no meio da multidão, quando noto já estou na quadra, observando o mesmo homem que encarei poucos minutos atrás.

  Que deus grego é esse que nunca vi nos meus estudos de filosofia?

Troco duas ou três palavras com ele e até danço — oportunidades tem que ser aproveitadas, né? — mas me lembro que nem devia tá ali.

— Adianta, Caralho. — O  homem grita já distante.

  Ele não disse o nome, só diz que é vapor do Escorpião, mesmo assim, quem ele pensa que é pra agir assim?

— Lerdeza da porra, pô.

— Meu querido, não tenho culpa se minha perna é pequena. — digo, sem fôlego. — Cadê sua educação?

O cara ri.

- Quanta petulância.

E eu que sou a petulante.
Tô sentindo uma puta duma dor de facão depois de subir essa ladeira do Satanás.

— Chegamo!

Abro a boca porque não esperava que a casa dele fosse tão bonita. Paramos de frente a uma casa de dois andares amarela, com janelas de vidro fume, e sacadas de madeira.

É sem dúvidas a mais bonita entre todas do morro.

Tá ligado aquelas casas de gente rica? Pois bem, acho que só um vidro da sacada tem o valor do meu rim.

De longe, acho que sempre tive o sonho de viver em uma casa assim, só não pensei que seria dessa maneira.

— Fala Escorpião, trouxe a mina que tu pediu aí. — anuncia o cara.

— Beleza, Boca. Gringo tá precisando de tu lá em cima.

— Suave. — ele sai.

Escorpião sai da cozinha rindo, bebendo algo em um copo de alumínio, com a blusa no ombro.

— Tu tá bem?

— Tenho que responder mesmo? —  suspendo o rosto pra olhar ele. — Cara, que merda de ladeira é aquela?

Ele abre os braços.

— Bem vinda a Caxias, meu morro, sua filha da puta mal-agradecida. — ele bebe mais. — Devia agradecer por te deixar ficar aqui.

Reviro os olhos, sabendo que realmente devo minha a vida a ele.

•••

Pra ser bem sincera, tô apavorada, mas pra quem uma vez disse que odiava traficantes, estou me saindo uma boa hipócrita.

Escorpião me mostrou o quarto onde vou ficar, tem uma vista linda pra caralho.

Posso até ver a vida dos outros!

  Depois que ele saiu a casa ficou vazia, fico completamente desconfortável com isso. Deito no sofá pra assistir e acabo dormindo, quando acordo dou de cara com dois homens mal-encarados fumando no sofá na minha frente.

  Grito e o cara de trás grita também.

— Que susto! — ele se levanta do chão —  Caralho! Tu é maluca?

Me sento no sofá, aérea.
Ainda tô fazendo o download da minha alma.

— Quem são vocês?

O homem de gorro ri e eu reconheço ele imediatamente — é o cara gato que eu tava encarando ontem, o cara com quem dancei.

Gatinho, nego não, mas deve trabalhar com o Escorpião também.

— A bela adormecida acordou. 

— Tu que é a estranha aqui, então quem faz as perguntas é nois, princesa. —  O outro fala e eu reviro os olhos.

— Obrigada pelo elogio, princeso. —  sorrio. — Meu nome é Sol, quer o sobrenome também não?

— É bom. — o de gorro sorri torto — Quiser passar o telefone também, pó... Tô disponível.

Dou risada e ele levanta o celular na minha direção e desvia.

— Eu ia te dar, cara.

Ele levanta a sobrancelha, achando graça e eu jogo a cabeça pra trás, rindo também.

Boca entra na sala, cantando desafinado pra caralho.

— Coé, já conheceu os traste? Gringo e o feio aqui é o Rato.

Cruzo os braços.

— Nomes?

— Coisa sigilosa, fi, não pode sair dizendo não. — diz, serinho.

Gringo solta a fumaça do cigarro, me olhando.

Um homem alto e gatinho entra na sala.

— Gabriel, filha da puta!

Ele faz cara feia.

— Tá bom, Gabriel.

OPOSTO$  [Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora