† CAPÍTULO 17

11 5 0
                                    


Chis, Se você quiser
"Se você quiser
A gente acorda antes do sol nascer
Com você, mulher
Eu decidi que eu quero viver…"

Gabriel Andrade | Vulgo Gringo


— Pó, não entendendo mais porra nenhuma. — Cruzo os braços. — Tu tá falando do que?

  Já tô bolado, sem ideia. Dou moral pacas com a mina e ela paga de maluca. 

—  Cínico, cara… — Ela aponta o dedo. 

— Caralho, véi, o que eu fiz?!

   Sol levanta o dedo e mostra um anel e não é qualquer anel, é um igual do Nicolas. Mas não pode ser dele. 

   O Nicolas tá morto. 

— Onde tu achou isso? — Olho pra ela.

— E isso tem o que a ver?  

       Começo a rir, quando entendo a merda que ela tá pensando. 

— Seu mal é esse, você leva tudo na esportiva… nem sei pra que tô aqui desperdiçado meu tempo.

— Tu tá entendo tudo errado. 

Ela continua com os braços cruzados. 

—  Me explica então. 

— Tu acha que sou moleque, é? Tive que ver uns bagui do trabalho. Eu falei na mensagem, pó. 

— Mas não falou que tinha mulher. 

— Se eu não tenho, maluca! Puta que pariu, vai ficar nessa?

   Os vida dos outros começa a olhar pra gente e já dá vontade de perguntar da qualé. Meto bala sem dó! 

— O povo tá olhando. 

— Ninguém liga, porra. 

— Eu ligo, vai que tua mulher aparece e cisma comigo? 

Dessa vez ela sorri.

— Até parece que você ia ficar com medo, do jeito que tu saiu no pau com a Lumena. 

—  Não brigo por causa de homem não, — olho pra ela — Daquela vez foi diferente, ela me xingou de vadia. Aposto que se alguém te xingasse, tu ia fazer a mesma coisa ou pior. 

   Gargalho e começo andar, puxo ela atrás de mim.

—  Tá indo pra onde?  

     Ajudo ela a descer a escada de pedra; poucos sabem que essa escada serve como atalho e em pouco tempo já tamo na praia.

   Eu queria aproveitar um pouco aqui, mas Sol começa a falar do que eu não queria. 

   

— Por que você entrou nisso?

Tanto assunto e logo esse, namoral? É só da intimidade.

 Dou risada e nego. Falar disso pra que? Não muda nada. 

— Dinheiro. Poder. Mulheres... — ela revira do olhos. 

   A praia tá vazia, a não ser por nós dois, a moça do pastel e um homem feio que tá mais afastado. 

    Daqui dá até pra ver o morro. 

— Sabe o que eu acho? Que tem mais coisa...

— Não quero falar disso não — digo, sério. 

— Mas...

— Não, pó, esquece. 

    Sol assente, pega o pastel na mão da moça, espera eu pegar o meu e o refrigerante. Andamos até se aproximar mais da água. 

   Amo o cheiro de maresia.

— E tu? O que você quer fazer?

— Sei lá. — Ela dá de ombros, se sentando do meu lado na areia.   

 Nem ela mesmo sabe o quer, malucona mesmo. 

   Mas é só isso que nós tem em comum.

— Queria fazer alguma coisa útil. — diz.  — Mudar alguma coisa, por mais insignificante que seja, sacas?

— Caô, tipo o que? 

— Ir além do morro... É bobeira, tô ligada, mas sei lá. 

    Pra uns pode ser sim, mas só quem sonha consegue entender a parada. 

   Deixa eu mandar um papo: Sonhar não é errado, o errado é não sonhar quando é só isso que se tem.

— Construir uma família. 

— Jaé, nisso eu posso ajudar.  — Digo e ela sorri.

   Sol se levanta, tira o chinelo e anda um pouco na areia, fico encarando ela por um tempo e quando ela repara dá um sorriso torto.

— Não tô falando isso porque gosto de você não, convencido. 

   Coloco a mão no peito. 

— Pegou pesado, caralho.

— Mas é sério, pó. 

— Tu acha que tô brincando?  — Levanto a sobrancelha. — Dois moleque correndo pela casa batendo um baba ou se não uma guria.

    Não sei que diabos ela tá pensando, mas tá me encarando com uma cara de psicopata, bicho. 

— Diz aí, o que é isso que a gente tem? 

 Coço a cabeça. 

— Não quero te magoar, tá ligado? Não vou prometer uma parada que sei que num vô cumprir. 

Ela assente.

— Tô sendo limpo, se ligou? Papo reto mesmo.

— Eu sei... — sorri — Foi bom te ver dançando.

Sorrio de lado, ajeitando meu boné. 

   Queria que ela tivesse me conhecido antes, pó, que pudesse ver mais daquele cara que viu na quadra. 

   O foda é que não sou mais aquele muleque.

— Pensei que nunca mais fosse te ver. — Confesso de boas. 

— Privilégios.

  Suspendo a sobrancelha. 

— Sério?  — tiro a mão no bolso —  Fala assim não, pó, vou ficar com medo de não te ver mais. Mó Mal.

— A gente mora na mesma casa, cara. Larga de ser dramático. 

  Dou risada.

— Colê, ficou puta não, né?  — pergunto, subindo a escada. 

— Fica sussa, pó. Sou louca não, sei que você foi sincero. 

   Abro a boca pra falar, mas ela coloca a mão no meu rosto do nada, fi...

    Feiticeira do caralho. 

 
   Já falei dos olhos dela? Não? Deixa eu só falar que é um cor de mel, que tu tá doido! 

— Foi bom te ver de novo.

    Tô prestes a desenrolar a parada, mas do nada alguém começa a gritar muito perto da gente.

   Mesmo longe pra caralho, consigo ver alguém caído.

OPOSTO$  [Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora