† CAPÍTULO 22

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COMBO 1/4

Poesia acústica 06, parte Azzi
"Vou descer, vou dançar, esquecer, do meu próprio valor..."

Sol Santiago

- Não tô afim não. - cubro meu rosto com o travesseiro.

- Vamo, pó, larga mão de ser chata.

Dayane me puxa da cama.

- Bora, rapariga, tu não manda em si mesma. - Eve me empurra pro banheiro.

É isso, fui obrigada mesmo.
Quando desço as escadas os três estão me olhando com cara de besta. Eu hein...

- Amiga, tu tem que me dar um pouco dessa sua bunda. - Eve fala e eu dou risada.

A quadra tá mais cheia que a última vez. O povo começa a olhar a gente.
Celebridades da favela.

- Sol arrasando. - Dayane brinca, tirando o capacete.

Reviro os olhos e sigo eles pela muvuca de homens armados até o dente. Tombo em um cara de fuzil e ele me lança um sorriso.
Gatinho.

O cheiro de droga é tanto que acho que tô drogada só pela fumaça, namoral.

- Se liga, é disso que eu gosto! - Victor grita.

- NÃO VOU PERDOAR PORQUÊ NÓS É BANDIDO MAU...

Olho em volta procurando Gabriel, mas não acho ele em lugar nenhum.

- Aê, vou chegar no Bruno, já volto. - Dayane avisa.

Sou tão cega que só agora vejo. Ele está no camarote com uma morena, que tá sentada no colo dele na mó intimidade.
A mulher fala algo e ele ri.
Escroto. Ai que ódio!

- BANDIDO MAU - Victor dança e chega mais perto de mim.

Me encara antes de seguir meu olhar.

- Quer meter o pé?

Olho pra ele e dou uma risada amarga.

- Claro que não, pago de emocionada não, bê. Vim pra curtir.

E é a verdade, vim pra esquecer dos meus problemas e assim será!

Peço uma vodca e começo a dançar no meio das mulheres. Música acaba, música começa e bebida pra dentro.

Dá em nada isso, nem bebendo esqueço.

- Ei. - Uma mulher de cabelo curto me chama.

Olho para ela, mas continuo dançando de boas.

- Qual a tua com o Gringo? Vocês tem o quê?

Ih, a oferenda se acha importante, é mole?

Caralho, acho que a essa altura minha risada já soa estranhamente histérica, porque a mulher abre um olhão.

- Coé, e tu é o que, mulher dele? - Dou as costas à mulher. - Se quer tanto saber, pergunte a ele mesmo, flor.

Aponto pro camarote, bem debochada mesmo.

- Tá lá em cima com uma nega de trança.

Volto a dançar, distraída pra ouvir a resposta da mulher, canso e me sento perto do bar.

- Cansou, foi?

Ouço a voz de Vinícius e sorrio.

- Um pouco. - Dou risada e faço toque com ele. - Eai, cara.

Vinícius deixa o rádio de lado pra me encarar.

- Falou com seu filho?

Ele nega, sério.

- O filho da puta não quis falar comigo não - mordeu o lábio. - O moleque só tem seis anos, mas tem um gênio forte pra caralho.

- Teve a quem puxar.

Ele ri e chega mais perto, fica me encarando mó sério.

- Nunca te vi beber assim, colfoi?

Balanço a cabeça.

- Muita coisa na cabeça.

- Eu não preciso de motivo pra beber. - ele pega um copo. - Vamo esquecer da porra do mundo.

Olho pro camarote no mesmo momento que Gabriel sai do quartinho com três mulheres. Assim que me vê ele faz cara feia.
Dou risada e levanto meu copo pra encher com mais vodca.

- Quero tua ajuda com uma parada e pá...

- Diz aí.

OPOSTO$  [Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora