† CAPÍTULO 26

9 5 0
                                    

Poesia acústica 8
"Eu queimo como fogo e apago a erupção
Você nunca vai poder me ter na palma da sua mão..."

Sol Santiago

Eu já disse que não entendo o Gabriel? Sério mesmo, pó. Ele xinga, grita, me beija.

Sinceramente eu não entendo.

Já tô atolada de problema e tenho que lidar com os surtos dele, tenho paciência não!

Agora o maluco cismou com o Vinícius.

- Entra logo nesse carro, porra. - ele grita.

- Já te falei pra parar de gritar comigo...

- Se tu obedecesse eu não tava gritando. Aperta a mente não.

Entro no carro e bato a porta com força.

Gabriel passa a mão no rosto, ajeitando o banco do carro com a outra.
Ele já bebeu e usou uma pá de coisa, nem devia tá dirigindo, pó.

- Eu disse que ia sozinha.

Gabriel aponta o dedo.

- Namoral, tu tá muito saidinha. O carro nem seu é.

- Vá se fuder, Gringo.

Ele me olha feião e real, nem ligo.

O cara se enche de droga pra ficar descontando a raiva nos outros. Se você não tiver paciência faz uma loucura.

- Só dirige esse caralho logo então.

Encosto cabeça no banco do carro.

Sinceramente, já tô cansada. Tô cansada de pessoas que só servem pra julgar, humilhar... Tô cansada de ficar escutando as coisas calada.

- Ô o jeito que tu fala...

Nem dou bola, tô ligada que é isso que ele quer.

- Coé, Sol.

Limpo meu rosto com o dorso da mão, mas continuo olhando pra janela.

- Ei, pó. -- ele coloca a mão no meu ombro. - Sol...

- Só dirige aí, pó! Tu fica falando suas merdas.

Cruzo os braços e ele vira meu rosto.

- Vai ficar tudo bem, se ligou?

Encaro seus olhos.

- Cê fala isso porque tem sua família, mas eu não tenho mais ninguém.

Gabriel não fala nada.

- Eu só tenho a Tina e o meu irmão, se eu perder eles, vou ficar sozinha, sacou? Você...

- Quem disse que tu vai ficar sozinha?

- Você pode não ligar pra porra nenhuma, mas eu ligo e eu não quero ficar sozinha.

Gabriel ri e tira o gorro da cabeça.

- Claro que eu me importo, pó.

- Tanto faz, pó, só dirige. Só dirige!

Ele me olha bolado, mas nem rende nada, dá partida no carro e vai o caminho todo assim.

...

Victor Lima | Vulgo Rato

Assim que Gabriel e Sol deu as caras no hospital deu pra sacar que o clima tá tenso.

O filho da puta do Gabriel voltou a fumar, eu não digo mais nada a ele, se ligou? Ele sabe das consequências do bagulho, né mais criança não!

Ele já tinha parado a uns quinze dias, eu sabia que ele ia recair, mas sei lá, pó.

Eu tava botando fé que agora ele ia parar.

Quem disse que parou?

Sol tá com o olho vermelhão, tava chorando na certa.

- Onde ela tá? - pergunta, mó preocupada.

- O playba ali disse que tão tirando a bala da perna dela.

-Você atirou nela?

Levanto os braços.

- Eu não. - Sol cruza os braços. - Ela tava me seguindo no meio da noite na favela, caralho, tu queria que eu fizesse o que?

- Olhasse quem era antes de sair atirando, porra.

Gabriel ascende um cigarro.

Ela acha que nós tem tempo. A parada é diferente com a gente, gata.

Sol olha pra ele, com raiva.

- Sério, pó, nem fala mais comigo. - ela vira as costas. - Ainda bem que tu tá no hospital, já entra logo na emergência.

- Senhor, não é permitido fumar aqui dentro. - Uma enfermeira fala.

Gabriel olha pra ela e pro cigarro.

- E eu com isso?

OPOSTO$  [Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora