Victor Lima | Vulgo Rato
Coloco mais uma carta na mesa e João revira os olhos.Acho que ninguém percebeu que já escureceu, tá todo mundo vidrado no pegar a bolada que tá em cima da mesa.
- Caralho, Gringo. - Juan fala, bate na mesa e se levanta.
Leite empurra a mesa e levanta também.
- Colfoi, vai desistir, Leite? - Gabriel pergunta, rindo.
- Tu é muito ladrão, véi. Puta que pariu.
- Eu? Tu que não sabe perder, mano. Eai, Rato?
Pode até ser só um jogo de cartas, mas sou competitivo, sacas? Ainda mais quando tem dinheiro envolvido, pó.
Bato com força na mesa.
- Porra! - Bruno grita. - Comediou, Gringo.
Se liga, já ouviu que as aparências enganam? Daqui da laje o morro não parece o mesmo onde tanta gente morre, namoral, a vista daqui é oposto.
Se imaginar isso com lugares, imagina com pessoas?Leite tá brincando com fogo, já tem uma cota que tá dando alfinetada no Gabriel, mas o cara tá calado.
Por enquanto.
- Ele morreu por culpa de quem, nessa porra?
Gabriel ascende outro cigarro, o quinto.
- Ele foi atrás de quem?
Gabriel passa a mão no rosto e encara Leite.
- Cala a porra da boca, filho da puta! - Grito com Leite.
- E ainda defende? Aqui todo mundo sabe que se o Neto morreu foi culpa dele!
Gabriel levanta e bate duas vezes em Leite, que cai no chão.
- Tá doido, bicho?
- Pega a visão de como tu fala comigo, vem cantar galo não que eu cobro sem dó!Leite limpa o sangue da boca e se levanta.
Não vou nem falar nada, todo mundo tá ligado de como o Gabriel é quando fuma.Ainda mais quando falam do Neto.
...Gabriel Andrade | Vulgo Gringo
As vezes paro pra pensar nas paradas que fiz e nada parece fazer sentido.
Só entrei nisso pra me vingar e agora acho que sou tão filha da puta quanto quem jurei matar.
- Tu tem três dias pra dar a porra do meu dinheiro, tá ligado?
O cara continua calado, suando mais que tampa de quentinha, quando Gabe puxa a pistola e atira na perna dele.
- Eu prometo. Eu vou pagar, Escorpião.
Gabe ri, debochado.
- E eu lá boto fé no seu juramento? Coloca isso na sua cabeça, filho da puta,- ele aponta o dedo - quem ousa dar uma de espertinho pra cima de mim, não vive pra contar a história.
- Eu não tenho dinheiro.
- Isso é problema seu.
Me viro pra sair da casa.
- Tu tem três dias. - diz, saindo atrás de mim. - Se não der a porra do meu dinheiro até sexta, tu pode preparar seu caixão.
Devia ser assustador, né? Hoje pra mim não é nada, só um acerto de contas.
Aqui isso é normal e nossa lei é clara: Se deve ou tu paga certo ou paga com sua vida, xará.
O estranho é que já tô tão familiarizado com tudo, que não sinto mais porra nenhuma.
...
Sol Santiago
- O Gabe tá em casa?
Coloco a bolsa em cima do sofá.
- Missão. - Victor responde, largadão sofá. - Colfoi?
Balanço a cabeça.
- E o Gabriel?
- Deu perdido também.
Victor dá de ombros, sento do seu lado e ele coloca a cabeça no meu colo.
Tão fofo meu amigo, cara!
- O que foi, migo? - Pergunto, passando minhas unhas de leve no cabelo dele. - Sua cara de cú tá mil vezes pior hoje.
Ele levanta o dedo.
- Só me maltrata, essa porra.
Dou risada.
- Te amo, cê sabe.
- Meu pau, vagabunda. - beijo a bochecha dele e mordo seu braço. - Desgraçada.
Victor fica sério.
- Bô pedir comida, menor?
- Pizza?
Ele faz cara de nojo
- Hambúrguer?
- Você vai ter que ir buscar lá em baixo, o motoboy não entra aqui.
Tentei comprar um yakisoba um dia desses e o motoboy me fez descer o morro todo só pra pegar!
- Puta que pariu... Bô chegar colar no pastel.
Alguém tosse, olho pra trás e vejo Gabriel.
- Coé, Gabriel. Vamo sair, tá afim de ir?
Gabriel nega, serinho.
Dá pra notar daqui que ele tá malzão.Gabriel vai na cozinha pega um isqueiro, tira do bolso um cigarro de maconha e acende.
- Tô suave.
Mesmo que eu conheça ele a pouco tempo, sei quando ele está mentindo.
Tem alguma coisa errada.Bato mais duas vezes na porta, mas quem disse que o filho da puta abre?
- Mete o pé, Victor! - ele grita com a voz alterada.
- Gabriel, sou eu.
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OPOSTO$ [Vol.1]
Romansa|LIVRO 01| EM REVISÃO Eu queria ter um futuro, mas já não sabia sequer se ia sobreviver por mais algumas horas, minutos ou segundos. Vivíamos em uma Roleta Russa, cuja a vítima poderia ser qualquer um e a qualquer hora. Mas eu queria que minh...