† CAPÍTULO 60

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Victor Lima| Vulgo Rato


Coloco a flor no túmulo do Neto junto com a de Bruno e a do Gabriel.

Tô ligado que pode parecer uma parada estranha pra se dizer, mas sinto que aqui é o lugar de paz, não um fim.

  Não consigo pensar nisso de outro jeito, pô. Não consigo pensar que uma pessoa morre pra ir pra um lugar ruim.

Kayla aperta minha mão.

— Quem era o Neto?

Olho pro túmulo.

— Meu parceiro. Irmão do Gringo. — ela assente. — Tu deve ter conhecido ele, era braço direito do Escorpião.

— Ele morreu por isso?  Ele era envolvido, né?

Concordo, triste pra caralho.
Em pensar que Neto foi o primeiro a entra pra essa vida e o primeiro a sair, bate uma dor foda.

Como pode.

— Não consigo mais pensar em como podia ser se o César tivesse vivo, sacas? Eu fico pensando e me perguntando se tudo fosse diferente e isso me persegue. — ela diz. — Eu queria ter dito tanta coisa e  não disse.

— Tô ligado como é, pô. Mas pensa assim, a gente tem que viver cada dia como se fosse o Último. Tu tem que fazer as coisas que quer enquanto ainda tá viva.

Ela concorda, se aproximando de mim e me abraçando.

— Então, deixa eu ser sincera. — ela ri, falando no meu ouvido. — Eu gosto de você.

Dou risada, beijando ela.

— Sei que você gosta da tal Cristina, mas eu não tô aqui pra te pedir nada. 

— Tu tem certeza disso aí?

Kayla sorri, segurando minha mão.

— Confia em mim.

•••

Gabriel Andrade | Vulgo Gringo

Coloco minhas flores no túmulo e fico abaixado por um tempo.

Nunca sei o que dizer, papo reto, eu fico tentando achar algo mas sei que nada que fale, vai mudar as coisas.

— Desculpa.

Sinto a lágrima escorrer no meu rosto.

— Tu não teve culpa, pô.

Lumena tá abaixada, colocando as  flores dela.

De nois tudo, ela é a única que vem aqui todo dia, pô. Eu venho duas vezes na semana, mas ela não.

Fico pensando se um dia ela vai cansar de vim ver ele, mas sei que isso nunca vai acontecer.

Porque essa é a parte boa dela.

Ninguém nunca quer abrir mão da sua parte boa, ainda mais quando só se tem uma.

Mas eu deixei pra trás todas as minhas partes boas, e esse foi o maior erro que cometi, pô. Namoral, se eu tivesse percebido isso tudo antes, talvez tivesse feito tudo diferente.

•••

Gabe Freitas | Vulgo Escorpião

Tô sentado vendo o relatório dos lucros nos últimos meses quando a maluca entra.

Sol a cada dia fica mais folgada, slc.
Também não posso reclamar de porra nenhuma, sou igualzinho.

Continuo olhando os papel e ela continua em silêncio.

Parada estranha da porra. Sol em silêncio?

— Quelé? O que tá pegando?

— Nada ué. — ela olha pra janela.

Olho pra ela, sem entender caralho nenhum.

— O que teve pra tu tá assim?

Sol da embros e eu fico mais cismado ainda.

— Não sei se tu sabe, mas eu fico sabendo de tudo que acontece nesses morro. Se tu não me falar logo…

—  Eu quero ir pro Canadá.

Encaro ela, pra saber se ela tá tirando com minha cara.

— Tu que o que?

— Escorpião… — faço cara feia. — Gabe, eu quero sair daqui, não aguento mais esse mata mata de vocês. Eu não quero fazer parte disso.

Ela senta na cadeira de frente pra janela, olhando o morro.

— Pode não parecer, mas eu sou grata por tudo que você me ajudou. — ela me olha. — Independente do que rolou, te agradeço. Mas eu não quero mais fazer parte disso.

— Tu não pode escolher do que faz parte.

Ela me olha, irritada pra caralho.

— Pare de falar como se eu fosse obrigada, Escorpião. Eu não sou obrigada a viver nisso.

Levanto da cadeira, indo pra frente dela.

Será que essa menina não entende que a vida não é a porra de um conto de fadas?

— Você já é isso ou tá esquecida de quem tu é? Minha filha, é filha de uma puta que andava pegando os líder de duas facções diferentes. Tu é isso aqui, caralho. Seu sangue tá unido a essa porra tanto quando eu tô!

— Fala sério, eu não sou você, eu não ando por aí vendendo droga e matando pessoas. Eu não sou um mostro.

Passo a mão no rosto.

Porque tive que ter filha mulher?

— Olha isso aqui. — viro ela de frente pra janela, fazendo ela olhar pro morro inteiro. — Isso aqui é tudo teu, caralho.  Tu pode.. 

— Eu não quero isso, Gabe.

Ela tira minha mão do ombro, puta.

— Namoral, tá vendo aquelas pessoas lá em baixo? — ela aponta pra um grupo de mulheres que cozinham em um fogão de lenha. — elas sofrem, sabia? E aqueles. — ela aponta pra um grupo de meninos sentados na calçada. — São só crianças, sabia? Elas tem sonhos, tem a vida pela frente…

Ela nega.

— Tá vendo aquelas pessoas alí? — ela aponta pra boca, onde os meus vapor trabalham. — Tu tá matando elas também.

Eu dou risada, fazendo uma carreira de cocaína na mesa.

— Tu é o único responsável pela tua morte.

Ela concorda, ficando calada.

— Eu não vou ser responsável pela minha então.

Sorrio, tentando entender o onde ela quer chegar com essa porra toda.

— Eu quero uma família… Quero ter o que nunca tive e eu vou ter, sacas? Eu não quero que meu filho viva do jeito que vivi. 

—  Tudo vai ficar bem.

Não consigo pensar do mesmo jeito.
Tô ciente que no final das contas, isso não vai dá certo.

OPOSTO$  [Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora