† CAPÍTULO 47

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Favela vive
"Saber que o pó que cheiras
Financia berretas e munições
Que faz pretinho de peneira
Transforma heróis em vilões"


Victor Lima | Vulgo Rato

  Os tiros começaram no meio do morro; o que quer dizer que os caras tiveram tempo suficiente pra entrar, pô.

  Eles tiveram uma brecha pra chegar tão distante do portão principal.

   Todo mundo tá ligado que tem um traidor no meio da gente, na real.  E por conta desse filho da puta, a gente já perdeu duas pessoas e uma delas é inocente.
   E é só o começo das mortes.

   Tô na contenção com Boca, Amora e Leite, passando a visão pros moleques.

  Movimento insano.

— Tranca as portas de casa, jaé? — Boca fala no telefone. — Eu vou voltar. Cuida do… moleque.

Ele desliga.
Fico feliz  pra caralho por ver eles se acertando, namoral.
  
   Ligo o radinho:

— Se ligue, aqui tá tranquilo. K9, me passa a visão de onde eles tá!

O áudio de K9 sai um ruído, antes de conseguir ouvir sua risada.

— Coé… Eles tão indo pra aí!

— Falô! Passa a visão pro Gringo.

— Já, já o Escorpião cola aí com reforço.

Desliguei.

Quem precisa desse vacilão?

Comecei a descer a escadaria da contenção, mas Leite vem atrás de mim.

— Quer que tu quer, maluco?

— Vai descer sem reforço? — fala debochado.

  Vejo dois caras e atiro sem dó. A bala é certeira, entre a vida deles e a minha, não tem muito o que pensar.

   Eu ainda quero ter uma cria, sacas? Quero dá pra ele o que não tive. Quero ter uma mulher, uma família.

  Amora e boca descem atrás, atirando nos próximos, que já caem pra morte.

— Vem com esperteza pro meu lado! — digo, boladão, atirando nos outros filho da puta.

O grupo se divide, cercando a gente. Somos só quatro pra um esquadrão inteiro, pô. Não tem como, mas nós sempre dá um jeito.

  Atravesso a rua e fico encostado em um poste, perto do Bruno, que tá com um fuzil.

  Vi um cara se aproximando de Amora, que tá pertinho do Leite, mas eu não tenho mais bala.  Leite sorri de lado e eu vejo a maldade no olhar. 

  Dá pra ver de longe, que ele não se importa.

  Grito Amora, mas já é tarde demais, o cara leva dois tiros certeiro.
    Atravesso a rua, quando um carro para e Leite entra dentro em dois.  Fico na mira da sua arma.

— Eu disse que tu precisava de reforços. — Sorriu.

Pensei em Sol, pensei em Maria, na promessa que tinha feito pra ela, pensei nos meus parceiros. Principalmente, pensei em Cristina.
  Ouvi um tiro, seguido pelo barulho de uma moto derrapando, pô.

  O carro de Leite sai em alta. Vejo Gabriel tirar o capacete da cabeça, me estendendo a mão, com o braço sangrando pra caralho.

— Colê, achou que eu ia deixar tu aqui? 

Levantei do chão e olhei pro corpo de Amora, não contive a tristeza.

Me abaxei no chão e notei que os olhos dele ainda estão aberto. Coloci minha mão, fechando.

— Desculpa.

   Abaixo a cabeça. 

— Rato. — Gabriel me chama, mas tô chorando e não quero que ele veja.

Não devia terminar assim.

— Victor.

Olho pra ele, malzão.

— Você não tem que ver mais isso.

O carro do Escorpião chega e ele nem olha pro corpo do nosso parceiro estirado no chão.

OPOSTO$  [Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora