† CAPÍTULO 59

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"Amor é fantasia por livre escolha."
- Poesia acústica 07

Lumena Souza


Sabe quando alguém fala que daria tudo pra voltar no tempo?

Acho que eu faria isso pra trazer o Neto de volta pra mim. Pô, se eu pudesse, eu não pensaria duas vezes e faria.

- Colfoi. - Gabriel aparece na cozinha, com a cara abatida pra caralho.

Olho em volta e não vejo a perfeitinha.

- Cadê ela?

Ele coça a cabeça e coloca o gorro.

- Foi embora.

Dou de ombros, voltando a fazer café.

- Se ligue, quero saber da qual foi. Tu não gosta da Sol, porque trouxe ela pra tua casa?

Deixo o coador na pia e olho pra ele.

Eu passo a porra do tempo todo dizendo isso.

- Porque ela te faz bem e tu sabe disso. - falo, relutante.

- Caô...

- Porra, Gabriel, seja homem e diga a verdade, caralho.

Ele me olha, bolado, mas eu nem ligo.

É horrível ver que a pessoa que tu gosta ama outra. Mas é pior ainda quando você não aceita isso.

A pior sensação.

Saio de perto dele e vou pro quarto, pego minha maleta de maquiagem e começo a fazer uma pele.

- Vai pra onde?

Olho através do espelho.

- Vou no cemitério. Era lá onde eu devia tá desde manhã.

Gringo senta na ponta da cama, olhando pro nada.

Eu posso ser o mais ruim que for, mas ver ele assim parte meu coração, sabe?

- Tu acha, acha que se eu tivesse lá no dia, teria sido diferente? Papo reto, tu acha?

Paro de passar o delineador e encaro ele.

Meu olho enche de lágrima só de lembrar da história toda e pior, saber que ele não sabe nem da metade, pô.

Saber que ninguém acredita em mim, é um dos piores golpes que tenho na vida.

- Não, Gabriel. Tu não ia poder mudar isso.

- Slc, eu não consigo esquecer não dá pra fingir que essa porra não aconteceu. - ele coloca a mão no rosto e começa a tremer.

E eu não consigo fazer nada pra ajudar ele a se sentir melhor.

Tudo o que posso fazer, é continuar fazendo o que sempre fiz, ficar com ele.

Querendo ou não, eu ainda sou completamente apaixonada pelo Gringo e não vou perder ele.

Não quero mais perder as pessoas que eu amo.

•••

Victor Lima | Vulgo Rato

Tô na biqueira tranquilão, esperando meu plantão acabar quando vejo ela passar com ele.

De imediato sinto uma raiva do caralho, pô.

- Colfoi daquele comédia? - Pablo aparece do meu lado.

- Se eu te der uma meta, tu manda ela pra vala pra mim?

Pablo sorri, apontando o fuzil lá pra baixo.

De longe, vejo Kayla subindo rapidão, com o olho arregalado.

- Que porra tu tá fazendo, cara? - Ela se mete na frente do fuzil.

Pablo olha pra mim, depois pra ela.

- Quer que eu dê um jeito nela também?

Suspiro.

- Não, eu conheço. - olho pra ela. - Colfoi, Kayla?

- Colfoi? Você perdeu o juízo?

Pablo ri e eu olho feio pra ele.

- Tua mulher ficou pistola.

- Aí, depois nós resolve isso. - Pablo desce a biqueira, indo em direção a boca. - Tu é uma intrometida, Kayla.

Kayla olho pra Cristina e o fulano lá em baixo.

- Não acredito que tu ia fazer isso, cara. Ia agir na covardia.

Ajeito meu fuzil nas costas, olhando o relógio.

- Namoral, aqui não tem isso.

- E você é igual a todos?

Olho pra ela, me odiando por ter sido igual a pouco segundos atrás.

Ela tá certa.

- Não, pô, eu não sou igual.

Olho pra Cristina indo pra fora do morro com ele, e fico pensando em como seria se eu tivesse no lugar.

Olho pro relógio. Meu plantão já acabou e nada do filho da puta do Boca.

Ele disse que ia ir no cemitério colocar as flores no túmulo do Neto e ia voltar pra assumir.

Até agora nada desse desgraçado.

- Tá com fome? - Kayla pergunta sorrindo, sorriso lindo do caralho mermão. - Segura aí.

Abro o saco, vendo um misto quente do jeito que eu gosto, pô. Nem sei como ela adivinhou isso.

Fico todo sem graça com essas parada.

- Porra, valeu.

- Cheguei nesse caralho. - Bruno apareceu cheio de terra. - Olha que desgraça que fizeram.

Me poquei de rir junto com Kayla.

- Colfoi aí, porra?

- Eu tava sentando atrás dos túmulo, colocando a porra da minha flor, quando a desgraça do coveiro jogou terra pra trás.

Kayla começa a rir de novo.

- Tu não fez nada não, né?

- Agora ele que cave a própria cova, filho de uma puta desgraçada.

Ele começa a limpar a roupa.

- Eu vou meter meu pé, bom trampo aí. - olho pra Kayla. - Tá afim de ir comigo?

Ela sorri de lado, segurando minha mão e tudo.

E eu não sei porque, cara, mas me sinto melhor agora segurando a mão dela.

OPOSTO$  [Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora