⭒✧° Seungmin

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Entediante.

Uma ótima palavra para definir o novo percurso que minha existência tomou.

Eu nunca quis a imortalidade. Sério mesmo; a ideia sempre me pareceu péssima. Talvez por isso eu tenha me tornado. Talvez o universo goste de fazer isso com as pessoas.

Confuso? Deixe-me explicar melhor.

Eu não sou um ser humano com algum super poder ou algo do tipo. Não sou um ser humano que vaga pelas ruas da cidade sem preocupação de ser atropelado, já que não pode morrer. Não sou um ser humano incomum.

Não sou um ser humano.

Não desde que perdi minha vida um ano atrás.

Podem me chamar de... morte.

Ou Seungmin, se se sentirem mais confortáveis.

Para resumir a história, um cara do qual não me lembro o nome governa o reino dos mortos. Ele é quem decide quais dos meros mortais são dignos de exercer o papel da "morte". Esse papel consiste em, basicamente, levar a alma da pessoa falecida para seu devido lugar para que viva sua vida na eternidade. Mas ele não é responsável por decidir quem morre, quando morre ou porque morre, então não precisam odiar ele; pelo menos não por isso. Contudo, podem odiar ele à vontade, pois ele é completamente odiável. Porém, voltando ao que interessa: a morte.

Ou melhor, as mortes.

Sim, existe mais de um ser que se ocupa de carregar as almas para fora do mundo. Você achava mesmo que uma só pessoa daria conta do recado?

Rá, até parece.

Bom, nossa rotina é baseada nas ordens do cara intitulado de chefe. Ele designa para cada um de nós qual alma devemos levar e quando. Porém, nossas agendas não são tão cheias quanto parece, então passamos boa parte do tempo fazendo qualquer coisa para enxotar o tédio.

Tudo isso só para explicar o porquê de eu estar vagando pela terra sem rumo.

Gosto de passear entre os mortais; entre aqueles que foram parecidos comigo um dia. Bom, fisicamente ainda somos parecidos, mas vocês pegaram o espírito. Eles morrem. E eu sou um dos grandes responsáveis por tirar a vida deles.

- Você poderia virar um pouquinho para a direita? - ouvi alguém falar em um tom alto demais.

Não me dei ao trabalho de olhar o que acontecia ali perto para entender a origem da frase. Não cativou minha curiosidade o suficiente.

- Moço?

Agora, por algum motivo, resolvi olhar. Como alguém poderia não ter ouvido a pessoa falando tão alto? Seria alguém surdo?

Se fosse possível, eu teria caído com o susto que levei. Uma jovem, de altura mediana e cabelos brilhosos estava olhando na minha direção. Diretamente para onde eu estava. Diretamente para mim. Seu sorriso era simpático e ela segurava uma câmera branca entre os dedos finos. Mas tinha algo errado. Algo muito errado.

Ela não deveria estar me vendo. Os humanos nos vêm apenas nos seus últimos momentos de vida, quando estamos prestes a tirar a alma de seu corpo. Ou, em outra ocasião muito inoportuna.

Quando eles desejam a morte.

- Como se chama? - a garota perguntou.

- Seungmin - respondi, indo em sua direção.

- Nome bonito. - disse, o sorriso genuíno estampado nos lábios. - Sou (S/N), a propósito.

- Prazer. - minha voz soava fraca. Não estava acostumado a usá-la.

A garota se sentou em um banco que só percebi que estava atrás dela naquele momento. Copiei seus movimentos, sentando-me ao seu lado. Analisei seu rosto com muita cautela, observando cada detalhe delicado. Gravando cada traço.

- Ouvir os pássaros cantando é tão agradável, não acha? - (S/N) olhava para o céu azul com um brilho nos olhos.

- Sim. É muito agradável, sim.

Ela fechou seus olhos, satisfeita com uma resposta positiva. Baixinho, começou a cantarolar. Sua voz... tão suave. Antes de conseguir me impedir, estava pedindo para a garota cantar para mim, mais alto.

- Você tem uma voz bonita. - completei, me dando conta do que estava fazendo. Eu não deveria estar aqui, deveria?

- Ah, sério? - ela parecia meio sem graça. - Não sou de cantar para os outros. Não confio muito no meu potencial como cantora.

- E por que não tenta? Estamos só nós dois aqui. - falei, indicando a falta de pessoas no parque.

Com mais algum esforço para criar coragem, (S/N) começou a cantar. E cantou com uma paixão que me lembrava do quão simples os humanos podem ser. Nem todos precisam de tudo no mundo para serem felizes na vida.

E aquela voz, a suavidade dela, me tocou de uma maneira que não consigo explicar. Me... apaixonou.

Brega, eu sei.

Um som agudo no meu tímpano me fez lembrar da minha realidade que, por um momento, me tinha fugido da memória. Abençoada seja essa garota.

Eu precisava voltar para o meu lugar, infelizmente. O dever me chamava. O cara do nome desconhecido precisava que eu levasse alguma alma. Droga.

Levantei, relutante, e (s/N) parou de cantar na hora. Antes que ela pudesse supor qualquer coisa, fui logo falando.

- Daria o mundo para continuar ouvindo sua voz, mas o trabalho me chama. Foi um prazer te conhecer, (S/N).

- Digo o mesmo. - respondeu, sorrindo. Os olhos se fechavam quando seus dentes apareciam. - Nos vemos por aí.

Nos vemos por aí.

Porque, sim, eu vou voltar.

Não, você não vai se livrar de mim.

Sim, eu vou te salvar.

Nós, seres do reino dos mortos, tecnicamente não devemos nos comunicar com os mortais. Bom, com aquelas raras pessoas que encontramos capazes de nos ver sem estarem em seus últimos momentos de vida. Contudo, não é porque não devo que não posso, certo? Nenhuma regra me impedia de falar com ela.

De agora em diante, eu tenho um novo objetivo para a minha interminável existência: salvar aquela garota. Fazer ela deixar de me ver. Me esquecer, porque, sim, ela me esquecerá assim que seu desejo for embora.

Falando assim, soa triste e deprimente, mas não é assim na prática. Eu preciso que ela seja incapaz de me enxergar para que eu possa seguir meu caminho tranquilamente.

Por que, você deve estar se perguntando.

Honestamente, não tenho uma resposta para você. Decepcionante, eu reconheço isso. Mas algumas coisas simplesmente não tem explicação.

Ou talvez eu tenha uma não muito comovente.

Como eu disse, nunca quis isso. Não tive escolha. E ela não estava prestes a partir; não era meu dever tirar a vida dela. Eu sou proibido de proteger alguma alma, alguma alma que já tem sua sentença escrita. Não sou impedido de salvar alguém que planeja o seu fim.

Ela tinha algo especial que me prendeu. Algo que me encantou. Algo que, estranhamente, lembrava a mim. Alguém que... queria ir. E eu sei como pode ser a vida fora da terra; fora do mundo dos vivos. Vamos dizer que não é um lugar onde podemos observar os pássaros cantando; ou sequer cantar.

Ela me deu uma objetivo na vida. E eu estava disposto a gastar meu tempo com ela; disposto a passar por todos os sentimentos que fossem necessários. Até que apenas as minhas memórias a tivesse em seus braços.

Oneshots ⭒✧° SKZOnde histórias criam vida. Descubra agora