⭒✧° Minho

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O cheiro de queimado inundou minhas narinas. A fumaça penetrava minhas vias respiratórias sem aviso prévio. Tudo ao meu redor era uma grande bagunça de cores de tonalidade laranja emergindo de uma grande escuridão. O som de pessoas exclamando em surpresa e gritos incompreensíveis da voz de um homem funcionavam como trilha sonora para a minha confusão mental.

As formas aos poucos foram se tornando mais nítidas, e pouco a pouco consegui visualizar o que acontecia diante de meus olhos. Uma dezena de pedestres se misturavam aos bombeiros uniformizados e aos enfermeiros apressados descendo da ambulância barulhenta. esses fatores me diziam que algo realmente grave acabara de acontecer, mas o objeto de choque para uns e de preocupação para outros estava escondido pela corpulência dos curiosos.

Ninguém parecia notar minha presença ao passar por entre os presentes. Era quase como se eu não... estivesse ali. Eu andei tranquilamente até ultrapassar todos ali, mas talvez eu preferisse não ter chegado ali. A cena não foi nem um pouco bonita; meu coração errou uma batida.

De cabeça para baixo, um carro jazia no meio da rua movimentada, um farol quebrado enquanto o outro se esforçava para continuar brilhando, sua luz enfraquecendo a cada vez que piscava. Nos braços de um paramédico, uma garota com o rosto pintado pelo sangue que saía de um corte em sua testa se debatia, esperneava em desespero. O desespero era nítido em suas feições; ela esticava os braços em direção ao carro. Ou melhor, em direção ao que estava ao lado dele.

A pontada que senti em meu coração além de inesperada foi em uma intensidade maior que o comum; porém não era uma sensação nova. Tudo aquilo era estranhamente familiar, quase uma sensação de déjà vu. Eu via apenas os pés calçados por um all star preto com uma grande plataforma ultrapassando a última curva do carro que meus olhos conseguiam captar. Busquei a garota que há pouco havia visto; já não estava mais tão perto. Ainda agitada, ela era retida por um enfermeiro enquanto outro tentava limpar seus ferimentos com uma gaze. Ela queria a qualquer custo alcançar o garoto que continuava no asfalto, agora rodeado de inúmeros instrumentos médicos. Sua aparência era similar à minha quando mais nova; era como olhar um vídeo dos meus anos de juventude. Ou talvez fosse loucura minha.

- Você deveria parar de se torturar com isso, meu amor.

Virei em direção a voz, meu coração acelerado com o susto ao ouvir alguém se dirigir a mim. Bom, eu acredito que tenha se dirigido a mim.

- Quem é você?

- Você realmente não se lembra, não é? - riu fraco. - É melhor assim.

Estava ficando cada vez mais confusa. Quem era ele? Eu deveria saber? Por que seria melhor se eu não lembrasse?

- Ei, pare de forçar a sua cabecinha a lembrar de mim, (S/N)! - pediu, apertando delicadamente meu nariz - Lembrar de nós...

- Nós..?

- Sim, nós. Tivemos uma história, que infelizmente terminou antes do que eu gostaria...

História? O garoto não me era familiar... Não em um primeiro olhar, pelo menos. Fiquei um bom tempo encarando-o, memorizando suas feições, tentando associar a alguma lembrança escondida em meu subconsciente.

- Sou eu ali. - disse, apontando para a área próxima ao carro. - E você está ali. - apontou agora para a garota na ambulância. - Isso foi há três anos.

Tudo caiu sobre mim como uma chuva torrencial. O nosso último passeio, na montanha onde passamos horas observando o dia esvair-se, comemorando nosso quinto ano juntos... As risadas no caminho de volta enquanto ouvíamos música no rádio. A felicidade se tornando desespero no momento em que vimos o carro cortar na nossa frente. Ele lutando por cada batimento naquela maca. O pingo de esperança que tive quando ele abriu seus olhos por algumas horas, que logo se fecharam, para sempre...

- Minho?

Ele abriu um sorriso caloroso.

- Oi, minha princesa.

Sem pensar duas vezes, corri ao seu encontro, me jogando em seus braços. Como sempre, ele me recebeu como se já esperasse minha ação; como se estivesse esperando isso por muito tempo. Meus olhos estavam ardendo com as lágrimas.

- Eu falei que nos encontraríamos quando você fosse dormir. - sussurrou em meu ouvido.

- Volta pra mim, Minho... Por favor, volte para mim.

- Eu sempre estarei com você, meu amor.

...

- (S/N).

Eu sentia um impacto contra o meu corpo. Duas mãos na lateral do meu corpo, chacoalhando para frente e para trás.

- (S/N), acorda!

Acordei de repente, os olhos arregalados. Encarei o garoto que me olhava preocupado, mas com certo alívio por eu estar consciente agora. Passe a mão pelo meu rosto, sem conseguir discernir se a umidade provinha do suor ou das minhas lágrimas.

- O que aconteceu, Bin? - perguntei, tentando pensar em algo que explicasse a reação do meu namorado.

- Você estava tendo um pesadelo.

Pesadelo? Me esforcei para lembrar do recente sonho, mas nada. Apoiei minhas mãos atrás de mim, criando impulso para me sentar. A sensação áspera em minhas palmas fez com que eu descartasse imediatamente a hipótese de que estava em minha cama.

- Por que não estamos em casa? - indaguei.

- Não se lembra? Você saiu hoje mais cedo e não voltou desde então. Imaginei que estivesse aqui. - explicou tranquilamente. - Mesmo que não se lembre porque, você sempre vem para cá. É quase que um instinto seu.

Olhei para todos os lados. Aquele não era um lugar apropriado para dormir, e isso é fato. Na verdade, não sei como fui capaz de dormir em uma superfície tão dura. Antes de voltar minha atenção a Changbin, virei para trás, analisando o que me serviu de apoio. Uma foto em preto e branco emoldurada em dourado, acompanhada de duas datas também marcadas em cor brilhante. Ao lado, lia-se um nome: Lee Minho.

- Por que eu estou aqui? - fiz uma nova pergunta. Voltei a passar minha mão no rosto, sentindo as lágrimas escorrerem. - Por que eu estou chorando?

Com um olhar carinhoso, Bin se sentou ao meu lado, me envolvendo em um abraço.

- Você estava lembrando de tudo, (S/N). - falou. - Você estava sonhando com ele.

Oneshots ⭒✧° SKZOnde histórias criam vida. Descubra agora