Senti uma gota d'água cair em meu ombro desnudo. O vento frio tocava meu corpo, deixando um arrepio passear pelo meu corpo ao passar. A chuva não estava prevista para hoje, muito menos essa queda brusca de temperatura, então não estava provida de um casaco. Eu me abraçava cada vez mais forte para manter o pouco calor do meu corpo presente.
Meu carro estava em conserto, devido a batida que deram nele quando estava estacionado. O energúmeno do motorista do outro veículo saiu como se nada tivesse acontecido. E eu, que estava no trabalho durante o ocorrido, só fui descobrir do estrago quando estava indo para casa; e tive que pagar pelo conserto.
Resumindo, tenho que ir para casa de ônibus.
A chuva torrencial ia aos poucos se tornando uma garoa leve. Entretanto, o vento cortante continuava a assobiar, gelando cada célula do meu corpo.
A alguns passos de mim, ouvi o som de uma bota pesada mergulhando nas poças d' água espalhadas em diferentes pontos da calçada. O barulho do líquido espirrando e o atrito do material da sola com o cimento ia se intensificando cada vez mais. Eu sentia a presença de alguém se aproximando de mim; podia perceber a sombra crescendo. Minhas suspeitas foram confirmadas quanto senti o toque de dedos em meu braço, dedos que, por mais estranho que pareça, estavam mais gelados que minha pele. A aspereza na ponta desses, deslizando pela extensão de meu corpo, fez com que eu me arrepiasse ainda mais.
- E aí, princesa?
Meu sangue congelou ao som da desconhecida voz masculina.
- Eu tenho namorado.
- Ah, verdade? - perguntou, em um tom debochado, passando o braço pelos meus ombros. Minhas tentativas de me desvencilhar foram em vão. - Engraçado... Não estou vendo ele.
Eu me via sem saída. O homem de aparência suja e cabelo grisalho, apesar de ter um corpo esguio, tinha o dobro do meu tamanho; eu não tinha chance alguma.
- Mesmo que você esteja falando a verdade, seu namorado não precisa saber...
- Não preciso saber do quê?
Viramos abruptamente em direção da voz profunda. Ela tinha um tom de raiva e irritação perceptível.
O homem logo se afastou de mim, encarando os braços musculosos do garoto, que cruzou esses, dando a impressão de ser ainda mais forte. A expressão em seu rosto fez o cara ao meu lado engolir em seco.
- Eu fiz uma pergunta.
- Ahn... é que... - ele gaguejou.
- "É que" o que? - insistia, soando cada vez mais irritado. - O que estava fazendo com a minha garota?!
Talvez, em qualquer outro momento, a ênfase no "minha garota" teria surtido algum efeito, porém eu estava petrificada vendo o desenrolar da situação.
- Me desculpe, cara...
- Não é para mim que você deve um pedido de desculpas!
Pedir perdão para uma mulher parecia uma tarefa hercúlea para o homem, que lançou um olhar de desprezo em minha direção antes de sair andando, sem nem olhar para trás.
- Obrigada.
- Não precisa agradecer! - assegurou, sua expressão fria esvaindo-se, sendo substituída por um sorriso acolhedor. - Você está bem?
Contra a minha vontade, meu corpo se contraiu com a menção do garoto de avançar em minha direção. O medo foi perceptível, e o garoto imediatamente recuou. Agradeço ele por isso também.
Parado no sinal, avistei que o ônibus que me levaria para casa estava quase chegando no ponto. Ainda me sentindo pouco segura, chamei a atenção do garoto, que já se encaminhava para seu destino.
- Ei, moço.
- Jisung, prazer. - respondeu, seu sorriso ainda brilhando no rosto.
- Pode me chamar de Gabi. - essa resposta foi involuntária. - Será que você poderia me acompanhar até meu destino? Tenho medo de encontrar outro cara como aquele. Se não puder, eu-
- Esse é o ônibus que precisamos pegar? - me interrompeu, já ao meu lado.
O veículo não tardou nem um segundo para chegar à nossa frente e abrir suas portas. Entramos e, logo após pagar a taxa, nos acomodamos em dois assentos, um ao lado do outro.
A maior parte do trajeto foi mergulhado em um silêncio confortável. Só voltamos a conversar ao estar a apenas três pontos de distância da minha parada, quando o agradeci novamente.
- Ei, já falei que não precisa agradecer, Gabi. - reafirmou. - Eu fiz o que qualquer pessoa deveria fazer face a uma situação como essa. Não fiz nada de extraordinário, ou que seja motivo de agradecimento.
Jisung tinha um bom ponto. Espero poder encontrar mais homens homens com essa mentalidade.
Apertei mais a bolsa que carregava contra o meu corpo, me preparando para descer. O garoto se levantou junto a mim, em um movimento quase sincronizado ao meu. O ônibus pararia em questão de minutos, então já comecei a me despedir.
- Bom, mais uma vez, obrigada por me acompanhar até aqui. Eu posso andar sozinha até meu destino; o ponto é praticamente do lado. Você pode seguir seu caminho agora. - ri meio sem graça.
As portas se abriram atrás de mim e desci os três pequenos degraus até a calçada. Antes do ônibus retomar sua viagem, ouvi a voz de Jisung uma última vez.
- Espero te encontrar novamente, Gabi.
Sorri.
- Eu também.
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Oneshots ⭒✧° SKZ
Fanfiction୭̥ Oneshots dos integrantes do Stray Kids [OT8] ୭̥ Se quiser fazer um pedido de oneshot, pode me mandar mensagem por aqui ou na DM do Instagram (_kapopinho__straykids) ୭̥ Todos as oneshots estão presentes no Instagram, principalmente no _kapopinho__...