A perícia criminal pode ser difícil; ser perita não é fácil. Principalmente se você for perito em mortes violentas.
Você tem que gostar do que faz.
A cena era nojenta, para se dizer o mínimo. O cheiro do corpo em putrefação era tão forte que nem a máscara era capaz de filtrar, deixando minhas narinas inundadas no fedor. O odor era tão forte que me fazia querer vomitar.
Contudo, não é por isso que digo que a perícia criminal é difícil. Bom, não só por isso. Nós, enquanto peritos criminais, temos não apenas a função de analisar a cena do crime e chegar a uma conclusão sobre a causa da morte. Se tratamos de um homicídio, devemos encontrar, e é aí que mora o problema. O poder de condenar alguém à prisão ou livrar essa da pena está em nossas mãos. O futuro de alguém está na ponta da nossa caneta.
E nenhum criminoso quer ir à prisão, não é?
E esse era o principal problema com a cena em minha frente. Era claramente um homicídio. Como cheguei a essa conclusão sem ao menos ter tocado no corpo ainda? Bom, você vai ganhando experiência conforme os anos passam; há certos indícios que nunca erram.
- O que acha? - perguntou Changbin, perito que trabalha comigo. Apesar de não ser exatamente certo ou esperado, Changbin era minha dupla; somos uma dupla desde que ele entrou para a equipe. Posso dizer que somos amigos.
Bons amigos.
Caminhamos até o corpo sem trocar outra palavra; sim, meu companheiro não recebeu uma resposta. Já era natural entre nós, ele sempre perguntava isso, e eu sempre demorava para responder. Mas respondia.
O homem que havia encontrado a garota boiando na beira do lago estava sendo interrogado por uma policial atrás de nós. Changbin ajoelhou-se no mato úmido ao lado da lona escura estendida no chão. Seu uniforme subiu por um momento, deixando à mostra um pedaço de sua pele. Com a mão enluvada, encostou levemente no corpo.
- Ao menos não está se desfazendo. - comentou. - Não está há tanto tempo na água.
Sua face estava voltada para baixo, encostada na lona; víamos apenas a bagunça de seus cabelos claros. Na altura do peito, em suas costas, o cabo preto de um grande cutelo de cozinha reluzia os feixes luminosos das lâmpadas policiais. Sua camiseta ainda apresentava manchas de sangue de um tom claro, ofuscando as pequenas flores impressas no tecido branco.
- Definitivamente, homicídio.
Era disso que estava falando. De nenhuma forma humanamente possível ela poderia ter acertado aquele cutelo com tanta violência nas próprias costas. Ela até pode ter pedido para alguém, mas não foi ela que se matou. Outra pessoa esteve ali no dia de sua morte; no momento exato em que morreu.
- Christopher Chan, vinte e três anos, estava passeando com seu cachorro quando encontrou o corpo. - informou a policial que interrogava o homem há alguns minutos ao se aproximar de nós. - Não faz ideia de quem seja.
- Você o liberou? - questionou Changbin.
- É óbvio que não! Falei com ele por cinco minutos, ainda tenho mais a perguntar. - respondeu, parecendo ofendida. - Eu sou uma piada para você?
A mulher virou suas costas para nós e saiu andando. Já fora de sua vista, Changbin passou a imitá-la, fazendo uma cara de nojo.
- "Eu sou uma piada para você?" - repetiu, a voz fina. - Eu mereço. Só perguntei! Não precisa se doer assim.
- É o horário, Bin. - comentei, rindo.
- Ela que enfie o horário onde o sol não brilha.
- Na sua goela?
- Ah, cala a boca. - pediu, socando de leve meu ombro e abrindo um sorriso logo em seguida.
A equipe legista da perícia chegou ao nosso lado com um saco mortuário em mãos, prontos para embalar o corpo. Com um singelo sinal de cabeço, concedi a afirmação de que nosso trabalho com o corpo já estava feito.
- Já estamos livres? - perguntou Changbin, mesmo sabendo a resposta.
- Rá! Sonha. - ri. - Nosso trabalho está só começando.
Ou o meu está só começando.
Não consegui distinguir a origem da bala, apenas seu destino. A alguns centímetros de mim foi onde ela aterrissou; ao meu lado, na cabeça do meu colega. Do meu amigo.
Tentei não me desesperar, mas não adiantou de nada. Ele era a única pessoa que eu suportava nesse departamento. Ele era a minha dupla. E eu acabei de perder ele. As lágrimas eram inevitáveis.
Vocês certamente lembram do que disse sobre a vida de perito criminal, certo? Bom, permitam-me corrigir uma pequena parte.
A pior parte de trabalhar com a perícia criminal não é definir o destino de um indivíduo ou lidar com as cenas nojentas dos crimes. Isso conta, mas não é o pior. Tem algo que torna tudo ainda mais difícil.
Nós nunca estamos seguros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Oneshots ⭒✧° SKZ
Fanfiction୭̥ Oneshots dos integrantes do Stray Kids [OT8] ୭̥ Se quiser fazer um pedido de oneshot, pode me mandar mensagem por aqui ou na DM do Instagram (_kapopinho__straykids) ୭̥ Todos as oneshots estão presentes no Instagram, principalmente no _kapopinho__...