⭒✧° Jisung (Parte 1)

1.5K 43 6
                                    

Jisung POV

Estava chovendo. As gotas se tornavam cada vez mais espessas conforme eu acelerava o passo. Tentei esconder meu celular e minha lanterna sob o casaco impermeável que eu utilizava, porém os objetos não se salvaram cem por cento; uma ou outra gota os alcançava.

Encharcado da cabeça aos pés, os cabelos pingando no concreto seco do grande caminho coberto que levava até a entrada do castelo, acalmei minha pressa, tentando recuperar o fôlego. Meu coração batia descontroladamente e faltava ar em meus pulmões, então resolvi sentar no chão até que meu corpo se acalmasse da recente corrida. Mantive minha cabeça baixa, os olhos fechados, respirando fundo e calmamente.

- Eu não tenho a noite toda, sabia?

Me afobei novamente, levando um susto com a voz no meio do som da tempestade. Levantei meu olhar para a mulher que se posicionava em minha frente, fixando sua atenção em mim. Alguns fios de seu longo cabelo caíam-lhe no rosto, me tentando a levantar e colocá-los atrás de sua orelha. Reprimi meus desejos e abri um sorriso envergonhado, pronto para me desculpar pelo atraso.

- Sinto muito, ahn.. - foquei no crachá que ela portava ao redor do pescoço. - (S/N). Acabei me enrolando em casa...

- Não me importa. - falou áspera, claramente cansada e irritada. - Vem, vou abrir a porta para você. Anda logo.

Me apressei em levantar e seguir a garota que já se encontrava muitos passos à minha frente. Não havia ninguém ali fora além de nós dois, fazendo eu me sentir culpado por ter deixado essa tal (S/N) me esperando.

- Pronto, minha flor de lótus. Pode entrar. - o tom debochado não me incomodou. Ela indicou a enorme porta agora destrancada e aberta,mandando-me entrar.

- Obrigado. - antes mesmo que eu pudesse terminar de agradecer, a porta foi fechada em minhas costas.

Mal educada.

A sua arrogância, entretanto, não me afetou por mais do que alguns segundos. Eu logo fiquei encantado com o que via, mesmo que as pequenas janelas que filtravam os raios lunares não iluminassem muita coisa. Com a lanterna em punho, a acendi, passeando sei feixe luminoso por toda a superfície visível do ambiente. Era simplesmente esplêndido.

Entrar naquele castelo era quase como voltar ao passado; era uma máquina do tempo. Cada pedra que compunha as altas paredes, cada objeto que brilhava sob a luz da lanterna me faziam viajar pela Idade Média, levando minha mente a cenários que nunca imaginei. Era encantador.

Para contextualização, estou no castelo mais antigo do meu país. Sempre foi um sonho visitá-lo e, desde que o transformaram em uma espécie de museu, me sinto realizado. Abriram o espaço para visitação durante o dia, porém, recentemente, o abriram para exploração à noite. Claro que o valor para se entrar nos horários posteriores às nove da noite, uma hora e meia após o fechamento para o grande público, é muito maior; venho economizando há quase um ano.

Eu cheguei uma hora atrasado do horário em que estava marcado para o grupo dessa noite entrar, o que resultou no fato de eu não fazer ideia de quem também está vagando por aí, muito menos se tem alguém de fato. Não há um número fixo de turistas por noite; pode variar de cinco a dez visitantes. Ou eu posso estar sozinho.

Ah, detalhe importante: quem vem visitar durante a noite, está fadado a permanecer no castelo até a manhã seguinte. Medidas de segurança, segundo os organizadores. Aparentemente, deixar a chave conosco é arriscado, pois podemos abrir para quem não pagou entrada e coisas desse tipo. Não posso discordar deles; com tudo que vemos por aí, é uma preocupação razoável. É natural que muitos apreciadores de história queiram visitar o lugar mas não tenham meios de pagar; essa é a "solução" que encontrariam.

Contudo, não vou mentir: não estou aqui somente pelo passado histórico.

Estou aqui pelas estórias.

Depois de longos minutos inspecionando a entrada principal do castelo, segui meu caminho por um corredor estreito na lateral direita, entre duas grandes estantes de madeira maciça que comportavam muitos objetos de decoração no lugar dos livros. Passei o indicador pela estrutura escura, e meu dedo saiu cinza de poeira. Alguém deveria limpar isso daqui.

A pouca luz que o lugar recebia não alcançava os demais cômodos do lugar, muito menos os corredores. Alguns quartos, estou certo, apresentavam uma ou outra fresta na parede que poderíamos considerar como uma janela, mas a maior parte se encontrava imersa na escuridão. Medidas de prevenção, acredito eu.

Minha lanterna não era muito potente, permitindo que eu visse não mais do que dois metros à minha frente. Eu frequentemente baixava meu olhar para o chão, garantindo que eu não estaria pisando em nada. Estava andando mais devagar do que uma lesma, olhando para todos os lados, mesmo que eu estivesse apenas num corredor onde não havia mais nada além de pedras. Subiu-me um calafrio pela coluna quando percebi que a bateria da lanterna tinha esgotado.

Merda! Tinha esquecido de recarregar.

Rodeado por borrões pretos, parei de andar. Nada era distinguível, e eu me esforçava para conseguir enxergar alguma coisa. Encostei minhas costas contra as pedras ásperas da parede, permitindo-me um momento de descanso para meu coração agora acelerado. Cada barulhinho fazia minha pele se arrepiar.

"Respire, Jisung. Há mais pessoas aqui com você, não se esqueça disso. São eles fazendo barulho."

Criando coragem e sufocando a crescente ansiedade que insistia em me invadir, retomei meu caminho assim que meus olhos se acostumaram com a ausência da luz, sendo agora possível delimitar os contornos do que eu via.

Andando com ainda mais calma, cheguei até o cômodo no final do corredor. Adentrar um ambiente tão amplo depois de longos minutos atravessando um corredor extremamente estreito era tranquilizador. O teto parecia estar ainda mais alto agora.

Vaguei meu olhar. Silhuetas de candelabros abandonados por suas velas estavam espalhadas pelas paredes. O contorno daquilo que me parecia ser um sofá fazia-se presente na sala, tornando o lugar um pouco intimidante. Tudo preto e escuro; parecia monocromático. Em uma das altas paredes, se distinguia uma gigantesca estante, repleta de livros que aparentavam estar em um estado deplorável; as capas rasgadas eram perceptíveis. As grandes janelas estavam escondidas atrás de espessas cortinas; não deixavam passar um feixe de luz.

Não havia nada de muito chamativo, nada que desencadeasse grande interesse de minha parte, levando-me a continuar meu passeio. Virei bruscamente em direção à outra porta, uma que me levaria por outro caminho tortuoso através de um corredor escuro. Quase tropecei com uma garota que não havia percebido que estava ali; esquivei no último momento antes de trombar com ela. De relance, ela se parecia muito com a garota que abriu a porta para mim. Meu eu curioso falou mais alto que o racional, e voltei minha atenção à ela.

De fato, se não era ela própria, era sua sósia. A semelhança era inacreditável. Ela também estava olhando para mim, o que fez minhas bochechas esquentarem. Fiz um breve aceno com a cabeça antes de retomar meu caminho. Estava quase na passagem quando parei novamente ao ouvir sua voz.

- Consegue me ver?

Oneshots ⭒✧° SKZOnde histórias criam vida. Descubra agora