⭒✧° Felix

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Em pé na frente da sala, meu olhar passeava por entre os meus colegas de turma enquanto esperava nossa professora terminar de falar para que meu grupo pudesse iniciar a apresentação do trabalho.

Baixei o olhar rapidamente para as minhas mãos. Elas estavam suadas e escorregadias ao esfregar uma na outra. A humilhação seria agora.

De quem, você se pergunta.

Bom, ele achava que seria a minha.

Seus amigos achavam que seria a minha.

Eu sabia que seria a dele.

Com ele, eu me refiro ao meu namorado nem um pouco amável. Digo isso pois tudo que ele viveu comigo não passou de fingimento; um jogo. Resumindo, um grande babaca.

Para ser mais específica: ele e seu grupinho de amigos começaram um jogo entre eles. "Quem é mais escroto", como eu gosto de chamar. Basicamente, eles deveriam arranjar uma garota qualquer para namorar por um tempo e, depois, terminar com ela de uma forma humilhante.

Como na frente da sua turma antes da apresentação de um trabalho, por exemplo.

- Bom, turma, agora vamos para a apresentação do último grupo. - a professora anunciou, antes de nos passar a fala.

- Com licença, mas eu gostaria de falar algo antes de apresentar. - meu namorado falou. Não, não me darei ao trabalho de falar seu nome.

Ele se virou para mim. Eu me virei para ele, com um semblante sereno.

- (S/N), não dá mais. Estou terminando com você. - falou, fingindo um resquício de tristeza.

- Ok.

- Ok? - ele pareceu confuso e incrédulo ao mesmo tempo. - Como assim "ok"?!

- Você quer terminar? Ok, então terminamos. - um sorriso se abriu em meu rosto quando vi sua expressão facial. - Você esperava que eu fosse chorar? Ha! Eu não vou chorar por homem, amor. Muito menos por você.

Ele não conseguia formular uma frase, tamanha indignação. Os alunos prestavam toda sua atenção no drama que se desenrolava diante de seus olhos.

- Desculpe estragar seu joguinho.

Agora, sim, ele parecia surpreso.

- Co-como você sabe?

- Sinto em te informar, mas você não é tão discreto quanto imagina. Nem tão esperto. E é péssimo em fingir sentimentos, se quer saber. - fiz uma pausa. - Olha, eu adoraria continuar minha conversa contigo, mas temos um trabalho para apresentar. Então, se não se importar, pode lidar com sua derrota depois? Esse projeto tem um peso enorme na nossa média.

Me virei novamente para olhar minha turma, mantendo a melhor pose que conseguia. Como se nada pudesse me abalar. Algumas das pessoas tentavam segurar o riso enquanto olhavam para o garoto imóvel ao meu lado. Outras cochichavam, tentando passar despercebidas.

Pode soar horrível, mas me senti vitoriosa.

- Você está bem? - ouvi alguém ao meu lado perguntar baixinho em meu ouvido. Me arrepiei dos pés a cabeça.

Virei bruscamente em sua direção. Não era atoa que não conseguia reconhecer a voz; nunca tinha visto aquele garoto na vida. Ele tinha cabelos loiros claros, seus olhos eram amendoados e tinha sardas que adornavam seu rosto. Ele abriu um sorriso caloroso quando olhei para ele, assustada.

- Desculpe-me. - ele riu. - Não nos conhecemos ainda. Sou Felix, aluno novo. Faço parte da sua turma.

Ele estendeu a mão para mim, a qual apertei. Sua mão era pequena, fofa.

Por que está reparando na mão dele?

- (S/N). - me apresentei, vendo ele se sentar na cadeira ao meu lado na mesa do refeitório.

- Sim, sim. Eu sei. - comentou, ainda sorrindo. - É um prazer te conhecer, (S/N).

Sorri de volta. Felix era simpático.

- Mas você ainda não me respondeu. - falou de repente, prendendo mais uma vez minha atenção. - Você está bem?

- Claro. Por que não estaria?

- Você é boa em esconder seus sentimentos, mas não perfeita. - disse, pegando uma das batatas de seu prato. - Sei que, no fundo, toda aquela ceninha lá na sala de aula te abalou. Posso ver nos teus olhos.

- O que tem nos meus olhos?

- O mesmo fundinho de decepção que tinha nos meus quando algo parecido me aconteceu. Sei reconhecer algo que passou meses junto de mim. - agora ele soava abalado. Senti uma imensa vontade de o abraçar. - Mesmo que a gente saiba que foi mentira desde o princípio, é impossível não se apegar, nem que só um pouquinho, a tudo o que você viveu com a pessoa.

Fiquei analisando seu rosto por alguns instantes antes de voltar a falar.

- Sinto muito.

- Ah, não sinta. Isso é passado. - falou, seu sorriso voltando ao seu rosto. - Não vim aqui falar sobre coisas tristes. Vim aqui animar você. E – ele me impediu de falar. - não adianta me dizer que você não precisa, pois eu sei que é mentira.

Antes de levantar e me puxar pelo pulso, Felix olhou de um lado para o outro, analisando todo o refeitório, à procura de algo que pudesse o impedir de executar seus planos.

- Vem.

Se corrêssemos, pareceria suspeito, então andamos o mais rápido possível até a saída do local, com Felix me guiando pela mão. O azul que tingia o céu algumas horas antes tinha sido substituído por um cinza escuro, que indicava a chuva que vinha por aí.

- Aonde estamos indo?

- Matar aula tomando sorvete. - ele virou para me olhar, mas logo voltou sua atenção ao caminho que percorríamos. - Ou tomar chuva, aparentemente.

- A gente não pode matar aula, Felix! - reclamei, deixando a menina certinha dentro de mim falar mais alto.

- A gente não deve; não quer dizer que a gente não possa. - respondeu simplesmente. - Perder algumas aulinhas não vai acabar com o mundo, (S/N).

Meu nome foi abafado pelo som da trovoada. Gotas grossas de chuva começaram a cair em nossas peles quando atravessamos a rua que separava o campus da outra quadra.

- Ok, ficamos com o plano B, então. Banho de chuva!

A animação do garoto era contagiante. Seus pulinhos de alegria me davam uma estranha vontade de me juntar a ele. Imitei sua posição (os braços abertos, o rosto virado para cima com os olhos fechados) e comecei a girar. Era relaxante e, definitivamente, tudo que eu precisava naquele momento.

- Felix. - o chamei depois de um tempo, subitamente incomodada por ele estar sendo tão legal comigo.

- Meu nome.

- Por que está fazendo isso?

- Porque amo chuva! - explicou, pensando que me referia à sua dancinha animada.

- Não é sobre isso. - expliquei. - Por que está sendo tão... bom comigo? Nós nos conhecemos hoje.

Ele voltou sua atenção para mim, prendendo seu olhar nos meus olhos.

- Eu estou tentando ser para você o que eu sempre quis que alguém fosse para mim. - explicou, sorrindo.

- Mas por que eu?

- Você parece estar precisando de um amigo. E gostei de você, então, porque não dar uma chance para nós dois?

Sorri.

Por que não?

Oneshots ⭒✧° SKZOnde histórias criam vida. Descubra agora