Mais uma vez estávamos no campo antigamente florido. A poeira e os destroços cobriam quase toda a superfície fértil, porém uma ou outra flor conseguia nascer, dando certa cor ao ambiente escuro; dando certa vida ao lugar. Mesmo estando tão diferente de quando viemos pela primeira vez, aquele campo continuava sendo o nosso refúgio. Ainda tinha a mesma magia de quando nos vimos pela primeira vez, ali, os dois muito jovens para entender os problemas do mundo.
- Oi, meu amor. - cumprimentou, o sorriso iluminando o rosto.
Chan e eu namoramos desde antes dessa baderna começar. Nos conhecemos ainda quando crianças e crescemos juntos; nossas mãe eram amigas de faculdade. Os sentimentos começaram, ao menos de minha parte, aos quatorze anos; Chan foi meu primeiro e, até então, meu único amor. Começamos a namorar aos quinze e estamos juntos desde então. Esse é o homem com quem quero passar o resto de minha vida.
- Oi, meu anjo. - cumprimentei em retorno.
Não trocamos mais nenhuma palavra; não precisávamos. Há muito tempo é assim, nos comunicamos sem dizer nada. É como se nos entendêssemos de uma forma diferente. Era quase uma língua própria, uma língua sem falas. Com um simples olhar respondíamos uma pergunta não feita. As nossas ações conseguiam explicar aquilo que com palavras não conseguíamos.
Sentamos nas raízes de uma das únicas árvores que ainda sobreviviam. Felizmente, aquela árvore ainda estava ali. Era a nossa árvore; foi onde Chan me pediu em namoro há alguns anos atrás. Era um valor sentimental.
Estar com Bang era o que me mantinha desligada dos meus piores sentimentos, porém, ao mesmo tempo, os trazia à tona. Toda essa situação em que o país se encontrava estava acabando não só comigo, como com toda a população que aqui habita. Notícias sobre a guerra estão espalhadas por todas as esquinas. A cada rua que se vira, uma ou outra dupla está conversando e discutindo sobre a guerra. Em lugar nenhum você está livre desse assunto. A guerra já faz parte de nossas vidas; de nós.
O barulho já era indistinto para mim; já havia me acostumado. Afinal, ouço os tanques rastejarem pelas ruas todos os dias. As balas atiradas a torto e a direito já não me surpreendem mais; os aviões carregados de bombas sobrevoando as cidades já fazem parte do cenário. Até hoje, nenhum desses gigantescos transportes de armas atirou em um lugar errado, por isso não me preocupo mais com eles. Na minha cabeça eles já são inofensivos.
- No que tanto está pensando, (S/N)? - questionou Chan, me puxando para mais perto. Encostei minha cabeça em seu peito.
- Ah, você sabe, as coisas de sempre.
- A guerra, então?
- Todos os dias. Quando você acha que isso vai acabar?
- Não sei se ela vai chegar ao fim em algum momento. Acredito que, no máximo, assinem um cessar fogo.
- É, talvez. - concordei. - Uma pena que eles não tenham assinado isso ainda. Destruíram nosso campo florido. Há poucas flores agora. Como você vai fazer seu ritual diário de pegar uma flor de cada cor; uma cor por dia? - perguntei, olhando em seus olhos.
- Ei, eles não destruíram tudo tudo. Ainda há algumas flores aqui e ali.
- Sim, mas apenas algumas cores. Eu gostava tanto do arco-íris que morava aqui... - comentei com pesar. O campo tinha flores de todas as cores. Era simplesmente lindo de se ver.
- Mas ainda tem as azuis! Hoje é quarta, dia da flor azul!
Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, Chan se pôs de pé e se encaminhou para um dos cantos em que as flores ainda eram vistas.
- Hoje você terá sua flor, meu amor!
Ou não.
Tudo aconteceu rápido demais. Quando dei por mim, estava correndo em direção ao corpo caído. Um risco era tudo que tinha visto atravessar seu corpo; uma bala perdida.
A grama verde empoeirada estava se manchando de vermelho. Um ponto ainda mais escuro que o sangue era visto no peito do garoto. Eu não poderia fazer nada. Nada iria salvar ele. Nada poderia salvar o meu Chan.
Ele ainda respirava, mesmo que fracamente. Entreabriu os olhos e segurou meu pulso em movimento. Eu queria tirá-lo daqui.
- Não vale a pena...
- Por você sempre valerá a pena, meu amor. - respondi entre lágrimas.
- Viva por mim, ok?
Não. Não, não, não, não, não!
- CHAN!
Narradora
- CHAN! - a voz da garota era quase que cantada, um canto doloroso e sofrido. Ela se debatia contra ela mesma e as paredes brancas que a cercavam. Estava desesperada.
- Então é daqui que está vindo a gritaria. - uma voz masculina se informou.
- Te surpreende? - questionou outro. - (S/N/C), vinte e cinco anos. Já se esqueceu dela?
- O que está acontecendo? Quem é ela? - um homem um pouco mais novo, portando uniforme de interno, quis saber.
- Ela é uma das nossas pacientes mais complicadas. - explicou o de jaleco, olhando para a prancheta em sua mão. - Nenhum medicamento a salva.
Os três homens se juntaram na pequena janelinha de vidro pela qual a garota era vista. Ajoelhada no chão, as lágrimas molhando a camisa de força; seu estado era deplorável.
- Ela fica assim todos os dias, a cada hora. - explicou um dos médicos.
- E por que ela fica gritando? - perguntou o mais jovem deles; o interno.
- Ela revive diariamente o momento em que ela viveu seu trauma. - explicou calmamente. - Em outras palavras-
- Ela revive a morte de seu amado.
- Todo dia?
- Toda hora.
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Oneshots ⭒✧° SKZ
Fanfiction୭̥ Oneshots dos integrantes do Stray Kids [OT8] ୭̥ Se quiser fazer um pedido de oneshot, pode me mandar mensagem por aqui ou na DM do Instagram (_kapopinho__straykids) ୭̥ Todos as oneshots estão presentes no Instagram, principalmente no _kapopinho__...