Oneshots ⭒✧° SKZ

⭒✧° Jeongin

⚠️ possível gatilho

"Eu não lembro qual foi o contexto, mas foi, certamente, uma excelente decisão. Desde que ouvi pela primeira vez... foi quase amor a primeira vista. A sonoridade  daqueles poucos segundos, a melodia entres as suas palavras, a entoação que fluía de suas frases. O sotaque levíssimo, escondido entre as letras, camuflado com a frequência do som. Mas aqueles poucos segundos estão gravados para sempre em minha memória; e lembro deles, mesmo após tanto tempo. As primeiras palavras que ressoaram em meus ouvidos estão tatuadas em minha mente.
Como a voz de alguém pode ser tão... poética? Suave, tranquila. O som de sua voz é canção para os meus ouvidos. Ela é como um calmante; não importa a situação, ouvi-la me deixa em paz. Sua voz é como uma droga; é forte, é viciante. Ela acende as borboletas, ela percorre minha pele. A cada segundo que passo ouvindo você falar, mais um segundo eu quero; eu quero mais, eu quero poder ouvir sua voz a cada instante. A calma que transmite com apenas algumas palavras é o que me mantém no lugar.
E a risada... tão reconfortante quanto um abraço. É uma pílula de serotonina que atinge meu corpo. Tão única, tão boa de se escutar. Relaxante como um dia de descanso a beira do mar."

Inspirei pelo nariz. Era ali que tudo começava a ficar difícil. Era ali que meu coração se partia cada vez mais. Cada leitura destruía ainda mais os pedaços perdidos do que restara de mim.

A letra ficava mais rabiscada, a folha marcada por círculos envoltos com a tinta azul da caneta.

Era o desespero tomando conta dela.

E isso me destruía.

"Que pessoa maravilhosa você é. Que pessoa única. Seus traços são inesquecíveis; seu corpo, extraordinário. Às vezes me esqueço do quanto um ser humano consegue ser bonito. É de se admirar, e é o que faço. Ah, quantas vezes não abri uma mesma foto apenas para ver você novamente. A linha marcada do maxilar, o desenho do pescoço, as veias que irrigam esse templo que sustenta a sua alma incomparável. Cada tracinho, físico ou psíquico, faz de você a pessoa que amo."

Paro uma segunda vez. As lágrimas estão ameaçando cair, o ar está abandonando meus pulmões e se recusa a entrar neles. 

Está doendo.

Mas continuo. É o que esperam de mim. Me olham com expectativa, apesar da pena. Eles querem que eu continue.

Então continuo. Não por eles, mas por ela.

Ela iria querer que eu fosse até o final.

"Você me deu novos olhos para encarar a vida e ver o brilho essencial que habita em cada um de nós. Você fez com que, nem que por apenas alguns meses, eu enxergasse a beleza da vida. Foi você, Jeongin, que deu forças para continuar. E eu nunca, jamais, conseguirei expressar tamanha gratidão que sinto por tudo que fez por mim. Cada conversa durante a madrugada, virando a noite enquanto conversamos sobre as coisas mais aleatórias. Cada ligação, às vezes de horas, outras que duravam poucos minutos, onde eu podia ouvir sua respiração descompassada quando te chamava pelo apelido que te dei. Cada toque singelo de seu dedo contra meu rosto, limpando as gotas que insistiam em cair dos meu olhos e molhar minhas bochechas. Cada abraço apertado, quando eu podia sentir seu coração bater mais rápido, seus braços me protegerem. Você sempre conseguiu me fazer sentir segura; pela primeira vez em minha vida, encontrei meu ponto de paz."

A dor das lembranças inibiam qualquer outro sentimento e me mantinham alheio ao que acontecia ao meu redor. Mesmo já tendo lido tantas vezes, a carta me mantinha preso no meu próprio mundo. Era apenas eu e ela; ou aquilo que ela deixou.

A caligrafia ficava, a cada palavra, mais desleixada. A letra aumentava de tamanho, cobrindo toda a página amarelada do seu caderno comprado na loja de antiguidades da cidade com palavras rabiscadas, porém conexas. Ela nunca falhava na articulação das palavras. Mesmo no desespero, essa se mantinha sua âncora.

"Você fez parte das minhas memórias mais felizes, Jeongin. Você criou memórias incríveis junto comigo, memórias inesquecíveis. Você, Jeongin, fez dessa garota perdida uma jovem alegre. Você iluminou o caminho de escuridão dela.
Em noites estreladas, fizemos promessas. Em dias ensolarados, lutavamos para que ao menos um sonho se concretizasse. Em tardes chuvosas, assistíamos às nossas falhas com um grande sorriso no rosto. Eu sorria, ao menos. Estava tudo bem porque, mesmo que todo o resto desse errado, eu ainda tinha você ao meu lado. Você foi tudo que deu certo em minha vida, Jeongin."

Meu coração afundou ainda mais no peito, se encolhendo conforme passava a página. Era ali, a partir daquela folha de papel, que eu sabia que tinha perdido. Eu sabia que era definitivo.

Com os dedos trêmulos, segurei a borda avermelhada do papel.

"Você tentou, e você conseguiu. Você concluiu a sua missão de me fazer ficar por mais um tempo. Sim, você me salvou. E quero que você tenha bem claro em sua mente que, mesmo que não tenha sido definitivo, você foi a razão pela qual eu fiquei um pouquinho mais. Você fez eu conseguir lutar um pouquinho mais. Você fez eu vencer batalha atrás de batalha.
Mas não significa que eu venceria a guerra.
Você salvou uma vida, Jeongin, mesmo que por pouco tempo. E irá salvar muitas mais. Você foi a minha razão, e será a razão de muitos.
Eu sei que você queria fazer mais. Eu sei que você queria me fazer ficar. Mas algumas pessoas talvez não possam ser salvas.

Eu te amo mais que tudo, Yang Jeongin, e sempre irei amar.
Com carinho,
(S/N) <3"

Sequei os olhos na barra do terno de linho preto que envolvia meu corpo. Eu me sentia tão pequeno ali, parado, sozinho, sem ela. Saí do pequeno pedestal e dobrei a carta. Ao me virar em sua direção, me deparei com aquela foto.

Eu havia a tirado. Ah, como estava linda. Seus olhos quase fechados enquanto sorria. Ela odiava seu sorriso, porém, eu o achava encarador. Seu cabelo emoldurava seu rosto. Ela parecia tão feliz, tão... bem.

Por que mentiu para mim, (S/N)?

Eu podia ouvir as cadeiras se arrastando na sala, indicando que os presentes se levantavam. Estava quase no fim, estavam prestes a levá-la. Eu precisava me despedir, mesmo que ela não ouvisse.

Passei os dedos por uma mecha de seu cabelo macio. Por mais que eu tentasse evitar, minha mão entrava em contato com sua pele. A frieza contra minha palma quente foi a gota d'água para eu desabar. Eu não podia suportar.

- Jeongin. - disse seu pai num tom de voz doce e acolhedor. - Nós temos que fechar.

Inspirei fundo e fixei seu rosto imóvel. Encarei seus olhos fechados.

- Nos encontramos na próxima vida, pequena. - comentei, o polegar em sua bochecha. - Quem sabe nessa eu consiga salvar você.