⭒✧° Chan

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As lágrimas já se mesclavam com as gotas de chuva que caiam sobre mim. Eu já não conseguia distinguir qual era a água culpada por molhar meu rosto primeiro. Talvez as duas.

Todos os meus sentimentos estavam a mil naquele dia. Meu quarto se tornou um local claustrofóbico e eu precisava sair. O céu acinzentado não foi um empecilho.

Por que eu estava chorando? Nem eu seu direito. Tudo, talvez. Eu estava no último ano da escola, e estava sendo muito complicado; tinha inúmeros trabalhos para entregar e as provas estavam chegando. As matérias se tornavam cada vez mais difícil e eu não estava conseguindo entender, e não tinha ninguém que estivesse disposto a me ajudar. Tinha meu irmão, mas ele estava na faculdade e raramente tinha um tempo livre. Além disso, eu tinha brigado com a minha melhor amiga por um motivo idiota. Ela insistia que eu deveria ter feito uma parte do trabalho que lembro perfeitamente de ter sido designada para ela. Por que sou amiga dessas pessoas?

Mas quem eu quero enganar? Eu sabia perfeitamente o motivo das minhas lágrimas estarem caindo pelo meu rosto, se misturando com a água da chuva. Esse motivo tinha nome e sobrenome. Christopher Chan. Idiota chorar por um cara, não? Mas era impossível não se sentir assim. Chan era o melhor amigo do meu irmão desde que eu conseguia lembrar e eu gostava dele há mais de dois anos. Não era um amor platônico, pois nós conversávamos desde que ele foi pela primeira vez na nossa casa. Ele não era muito mais velho e posso até dizer que éramos amigos. Mas, ultimamente, meu coração insistiu em olhar para ele com outros olhos.

Continuei andando pela rua até chegar em um parque longe de casa. A chuva ficava mais forte a cada passo que eu dava. A minha volta, ouvia os passos apressados dos pedestres que corriam para fugir da chuva. Enquanto isso, inclinei minha cabeça para trás, dando espaço para que mais gotas de chuva atingissem meu rosto, na esperança de que a água gelada limpasse a tristeza do meu corpo.

As lágrimas não cessavam. Eu estava perdida em meus pensamentos e ignorava o que acontecia à minha volta. Isso só se mostrou um problema quando senti minha pele encontrar a lama suja do chão.

- Me desculpe, moça. - pude ouvir uma voz arrependida dizendo à mim.

Eu congelei naquele momento. Não era difícil reconhecer essa voz. Eu ficaria feliz, normalmente, mas Chan era a última pessoa que eu queria ver naquele momento.

- Não foi nada. - me obriguei a responder, mesmo contra a vontade. Eu estava de costas para ele e tentei usar isso ao meu favor.

Eu levantei do chão. Minha calça, antes azul, tinha duas manchas enormes escuras na região do joelho. Sentia minhas mãos arderem, muito provavelmente por conta do impacto com as pedrinhas do chão.

- Manu?

Eu não tinha como mentir. Forcei meus pés a virarem na direção dele. Ele analisou meu rosto por um momento e logo se aproximou de mim. Acho que, mesmo com a chuva torrencial, a vermelhidão do meu rosto era perceptível.

- O que aconteceu? Por que está tão longe de casa, debaixo dessa chuva? - a resposta entalou na minha garganta, formando um grande nó. Mais lágrimas ameaçam cair. - Vem, vou te levar para casa antes que fique doente.

A casa de Chan era próxima do parque onde estava. Ele me levou direto para lá e, assim que chegamos, pediu para que eu tomasse um banho quente enquanto ele preparava algo para eu tomar.

A camisa de Chan ficava estranhamente grande em mim, mas era confortável. A calça que ele me emprestou mal ficava na minha cintura e tive que amarrar a barra dela para que não caísse.

Não era a primeira vez que ia na casa dele, mas era a primeira vez que ia sozinha. Já tinha ido em festas ali, então ver o local silencioso era estranho. Eu segui até a cozinha, onde Chan me esperava sentado na mesa, com uma xícara fumegante entre as mãos. Outra xícara idêntica estava posicionada em frente a uma cadeira, onde me sentei. Tomamos o conteúdo dos objetos de porcelana em silêncio absoluto, e continuamos em silêncio mesmo após termos terminado.

- Quer me dizer o que aconteceu? - perguntou Chan, falando pela primeira vez desde que sentamos na mesa.

- Não é nada de mais.

- Manu, por favor... - ele começou, levantando o olhar para mim. - Você estava chorando debaixo de uma chuva forte no meio de um parque longe da sua casa. Alguma coisa está errado. Eu me preocupo com você...

- É um motivo idiota. Nada digno da sua preocupação.

- Nenhum motivo é idiota se ele te machuca. - ele aproximou a cadeira da minha e segurou minhas mãos entre as dele. - Pode me contar.

- Não é nada de mais. A escola está meio complicada. Muitos trabalhos e provas.

- É por isso que estava chorando?

- Não... exatamente. É mais por conta de uma pessoa. Não sei exatamente porquê eu estava chorando por ela. Eu gosto dela, mas não sei o que fazer com esse sentimento.

- Você... já tentou contar para ela?

- Na verdade, não. Tenho medo de ser rejeitada ou de perder a amizade dele caso eu conte.

Eu não tinha coragem de olhar no rosto dele e Chan percebia isso. Ele retirou uma das mãos de cima das minhas e a usou para segurar meu queixo, me forçando a olhar para ele. Sua mão continuou no meu rosto, mesmo depois de eu ter desistido de lutar contra ele. Chan mudou a posição da sua mão e começou a acariciar a pele rosada da minha bochecha com o polegar. Seu olhar alternava entre meus olhos e meus lábios, o que fazia meu nervosismo crescer dentro do peito.

Nós passamos alguns segundos daquele jeito, sem falar nada, cada um olhando para o outro. Aqueles segundos pareciam milênios para mim. Percebi que Chan aproximava seu rosto de mim. Eu fechei meus olhos instintivamente e senti seus lábios quentes nos meus.

- Você sabia? - perguntei depois que nos separamos.

- Eu acabei descobrindo. - Chan respondeu, sorrindo.

- Como?

- Eu percebi que você me olhava da forma como eu te olho.

- E como seria? - questionei, curiosa.

- Com o amor e um desejo que dão um brilho especial para seus olhos.

Oneshots ⭒✧° SKZOnde histórias criam vida. Descubra agora