25°- Observando

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Eva

- Oi Eva, como foi a aula?

Olho nos olhos escuros do meu pai e respiro fundo soltando a mochila no pé da mesa, como de costume.

- Você não ia viajar ontem?- ergo a sobrancelha sem me controlar, eu criei uma inteligência artificial, ele realmente acha que sou burra?

- Os clientes cancelaram- explica sem me olhar, colocando o arroz de volta no fogo.

- Onde você passou a noite?

- Em um hotel perto do aeroporto, estava muito cansado pra voltar dirigindo.

- Hum- murmuro fingindo não dar importância- a aula foi boa, só que o Blue pifou- bufo como se estivesse frustrada, vendo ele me olhar curioso.

- Pifou?

- Sim, durante o intervalo eu tentei usar ele pra me ajudar no cálculo das minhas notas até agora, e adivinha? Nem falar ele estava conseguindo!

Meu pai faz um gesto com a mão, indicando que é para eu entregar Blue a ele, o que eu faço torcendo para que ele execute bem minha ordem, não sei se meu pequeno ser robótico é bom em atuação.

- Parece mesmo estar quebrado, como se água tivesse caído nos fios- diz após escutar por um tempinho a atuação fajuta da minha inteligência artificial.

Pelo visto deu certo.

- Droga! Foi isso então?- aperto os lábios fingindo raiva.

- Caiu água?- ele rebate minha pergunta, me fazendo acenar.

- Derrubei ele em um copo d'água hoje de manhã, não estava bem preso- dou de ombros pegando novamente o Blue.

- Talvez nós possamos concertar- oferece com um sorriso no rosto, me forçando a sorrir também.

- Talvez, mas agora eu só quero terminar meu dever de casa e ir até a casa do Peter estudar, definitivamente eu preciso melhorar em física.

- De novo esse Peter, estão namorando?

- Ainda não- ele me olha com uma careta, me arrancando uma risada genuína pela primeira vez desde que entrei em minha casa- ele é um amigo que é melhor que eu em física.

- Eu te levo- pelo tom de voz isso não é uma oferta, é uma imposição.

- Tudo bem.

- Preciso conhecer a família do seu quase namorado.

Tremo um pouco com medo do real motivo desse interesse, meu pai está escondendo algo sério, que tem haver comigo e com meu pai biológico.

Eu sempre achei que mamãe nunca tivesse contado para nenhum de nós dois sobre meu verdadeiro pai, mas agora eu acho que essa é a chave pra entender o segredo do Théo.

Perigoso e egoísta, eram as duas palavras as quais mamãe sempre utilizava para descrever meu pai, me lembro de perguntar uma vez se ele não queria me conhecer, e me lembro também da resposta dela, como se ela estivesse ao meu lado repetindo a frase.

"Ele adoraria te conhecer, seria um pai coruja", e riu, parecendo estar se lembrando de algo bom.

- Com certeza eles iriam adorar- murmuro um pouco atordoada com a memória da minha mãe.

Não espero sua resposta, apenas vou para meu quarto torcendo muito para que tudo tenha dado certo.

A única coisa que eu sei que tenho em comum com meu pai misterioso é uma mancha de nascença na clavícula, uma vez mamãe me contou sobre ela.

Meu Doce QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora