42- Nunca Fui Assim

4K 362 156
                                    

Eva

Familiaridade é um sentimento que na maioria das vezes nos faz bem, nos deixa mais confortáveis em algum ambiente hostil, um amigo junto com você em um lugar estranho torna as coisas mais fáceis de serem suportadas, um objeto pelo qual você tem algum afeto pode servir de inspiração em uma situação embaraçosa, mas e se for o contrário? E quando alguém que um dia já foi seu mundo, se torna um mero estranho na sua própria casa?

- Filha, hoje eu vou encontrar um investidor meu, algo casual, fora empresa, mas mesmo assim devo chegar no fim da tarde, algum problema?- pergunta meu pai aparecendo com uma roupa diferente da habitual, realmente algo mais casual.

- Nenhum, nada fora do normal- sorrio forçadamente e pego meu celular em meu bolso.

- Vai sair hoje?

- Uhum, vou pra casa do Peter- respondo sem dar muita atenção.

- Ah, bom, se cuida, e eu quero conhecer melhor ele e a família o quanto antes- maneio a cabeça positivamente porém não falo nada- eu vou indo, por favor tenha juízo.

- Tudo bem pai, pode ir- levanto minha cabeça e sorrio levemente.

Meu pai sorri de volta tão falsamente quanto eu antes de sair e trancar a porta, ouço seu carro sendo ligado e os pneus contra o asfalto, então me permito relaxar.

"Verifiquei a área e aparentemente você está segura, não há nada que ostente qualquer sinal de ameaça."

- Então eu vou me trocar- levanto da cadeira de madeira após ouvir Blue e meu celular apita com o som que representa uma nova mensagem.

"Peter está ansioso se considerarmos sua provocação no refeitório, quer saber que horas você chegará ao apartamento dele."

- Deixa de ser intrometido Blue!- exclamo falsamente indignada pela eficiência de Blue em me avisar sobre o conteúdo da mensagem- no apartamento dele? A May vai estar lá.

"Muito provável."

Pego meu celular e suspiro enquanto digito a resposta para Peter, perguntando quanto a sua tia.

" May está no trabalho, e eu só vou para a patrulha a noite. Quer vir?"

Ele não me dá tempo de responder e logo mais mensagens estão piscando em minha tela de bloqueio.

" Não que eu esteja ansioso pelo o que você disse na escola, não pensa isso por favor."

" Ok eu confesso que quero muito. Me perdoa por ser um pervertido."

" Eu nunca fui assim, eu juro, você me faz perder a noção, não precisa vir se não quiser, sério, está tudo bem."

" Você deve estar me achando um safado não é? Caramba desculpa."

Solto uma risada e nego com a cabeça, digitando rapidamente em seguida.

" Me dá uma hora Pete."

Guardo o aparelho em meu bolso e subo até meu quarto com rapidez, alcanço o conjunto de lingerie branca no fundo meu armário e o levo comigo até o banheiro. Tranco a porta ao chegar no cômodo gelado e puxo meu moletom para fora sem pressa, minha pele se arrepia com a brisa fria que alcança a mesma agora nua e suspiro pesadamente, tiro também minhas calças e as meias, já que os sapatos eu havia tirado assim que cheguei.

Ajusto a temperatura da água e levo meu corpo até as gotas finas que caiam do chuveiro, fecho os olhos e umideço os lábios com minha língua, pegando a esponja e a deslizando sobre a minha pele clara e ainda natural, sem tatuagens. Eu deveria estar nesse momento me desdobrando em mil e uma partes para descobrir algo a mais sobre meu pai, sobre os arquivos naquele computador e sobre meu pai biológico, mas eu estou tão cansada mentalmente, sentir medo de relaxar em sua própria casa beira o sufocante, é desesperador ver que pessoas em quem você confiava cegamente de uma hora para outra podem ser suas maiores inimigas e ameaças. Segundo os documentos e as falas que ouvimos naquele galpão abandonado em que treinamos, não vai demorar muito para eles colocarem seja lá qual plano em prática e esse plano obviamente tem haver comigo, ou seja, eu deveria estar paranóica com cada micro barulho produzido ao meu redor, porém não dá para estar mais amedrontada do que isso.

Meu Doce QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora