36°- Humanamente possível

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Eva

- Escuta Gonzáles, a Bennett está definitivamente escondendo alguma coisa.

Desvio minha atenção de meu skate para MJ, que mordia uma maçã com o rosto distorcido em uma careta incomodada.

- Eu já disse, deve ser algo com a família dela- minha amiga bufa arremessando a fruta no cesto de lixo quando a mesma chega ao miolo.

- Eu não vou insistir com você. Como vão as lembranças esquisitas?

- Ainda aparecendo toda noite, se realmente são lembranças, eu não deveria saber lutar?- indago rodando o skate entre minha mão e o chão frio.

- E quem disse que não sabe?- franzo o cenho confusa e vejo um sorriso maldoso aparecer em seu rosto- isso vai ser incrível.

◇◇◇

Dor, esta é a palavra exata que me define enquanto me levanto do chão áspero e frio do galpão abandonado em que MJ havia me trazido. Um local tecnicamente pequeno, não tão longe de sua casa, que possuía um espaço realmente amplo e calmo para relaxar, e no caso minha amiga o usava para realizar a leitura que tanto gosta.

Porém decidiu que por algum motivo seria uma boa idéia tentar "resgatar" minhas memórias de luta neste local.

- Foi só um escorregão, tudo certo, não é?- solto um grunhido apoiando as palmas das minhas mãos atrás de meu corpo. Viro minha cabeça na direção da voz de MJ e ergo uma sobrancelha.

- Michelle Jones, eu não sei lutar.

- Ok- minha amiga bate o livro que possuía em mãos, o fechando e caminhando a passos firmes em minha direção, MJ me conhecia suficientemente bem para saber que o fato de eu tê-la chamado pelo nome completo significava que eu estava ao ponto de desistir, e eu definitivamente estava- deixa de ser estúpida e se levanta garota, ou você sabe lutar, ou você está completamente louca e talvez toda sua vida seja ilusão da sua mente psicótica- maneio a cabeça para os lados em um leve movimento para analisar sua fala, decidindo que a segunda opção talvez seja mais provável- não, eu já sei o que você está pensando.

- Ah sabe?- ironizo batendo as mãos em minha própria roupa para tirar a poeira pertencente ao chão sujo.

- Sei, porque você pode ser a garota mais imprevisível do mundo, ter uma inteligência assustadora, e ser fodidamente manipuladora quando quer...

- Quantos elogios, obrigada amiga querida- levo um tapa forte na cabeça por interrompê-la com minha frase carregada de sarcasmo- ai mr. Toilete!

- Mas EU ainda sou a garota que cresceu aguentando cada merda que você fez, então melhora essa sua cara ridícula se for possível e para de cair igual um saco de batatas no chão, porque eu me recuso a ser parte de um fruto da sua mente doente.

Encaro minha amiga nos olhos por alguns segundos tentando entender como isso deveria servir de motivação, inclinando um pouco minha cabeça antes de finalmente me pronunciar.

- Não achei que fosse humanamente possível alguém elogiar e ofender na mesma proporção, e ainda por cima ao mesmo tempo. Nasceu com esse dom ou fez curso?- MJ rosna jogando a cabeça para trás, se eu tivesse que chutar uma porcentagem para seu ódio no momento, eu acho que seria 99,9%.

Porquê não cem por cento? Simples, Michelle Jones sempre, e quando digo sempre é realmente sempre, arruma um pouco de paciência para lidar comigo, mesmo com todo sarcasmo que habita em mim.

- Eu vou tentar Jones- tranquilizo a garota.

MJ suspira sem se dar o trabalho de me responder e se afasta, me surpreendendo ao arremessar um pedaço grande e pesado de madeira que estava solto no chão, antes mesmo que eu possa abrir a boca, pedaços de diversas coisas voam em minha direção. Ela acha que eu sei lutar ou que eu sou o homem aranha?

Meu Doce QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora