17 | Ah.

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J A C K

     As oito e quarenta e cinco da manhã do dia seguinte, fomos liberados para voltarmos para nossos quartos. Eu não estava muito animado com a liberação, até porque no hospital eu tinha tudo o que precisava e as enfermeiras estavam sempre a disposição para me ajudar — e ajudar Luna — quando precisávamos. Agora estamos no mesmo quarto, por pura insistência da Alyssa, mas dormindo em camas separadas. Enquanto Luna dorme na mesma cama que a Alye, eu durmo em hm colchão que colocaram no chão para que eu também ficasse aqui. Eu estou espatifado no colchão, observando Luna que está indo contra as regras médicas e está de pé mexendo no computador da Alyssa para tentar finalizar um trabalho. Eu já perdi a conta de quantas vezes falei para ela sossegar e trazer o computador para a cama, mas ela se nega a todo custo. Por que ela tem que ser tão teimosa? E por que eu tenho que ficar tão preocupado com ela, sendo que ela não da a mínima para mim? Acontece que eu não consigo me desligar disso tudo, não consigo.

— Luna?

— Fala — murmura, claramente impaciente com a plataforma onde está mexendo. O computador está lotado de abas abertas, não sei qual trabalho ela está fazendo, mas sinceramente? Não importa. Os professores nos liberaram desta semana de aulas, disseram que recolocariam nossas notas assim que pudéssemos voltar para as aulas, então por que ela está tão desesperada?

Os machucados estão muito feios, muito. Mas por mais que eu tente ajudá-la, ela só permite que a Alyssa troque os curativos dela, mais absolutamente ninguém. Isto quando ela mesma troca.

Por quê não deita aqui? Eu não vou encostar em você, juro que não. Sua perna está toda machucada e eu estou sem força nenhuma para te carregar até aqui.

— Eu não quero — Luna murmura de onde está, as bochechas infladas e o bico irritado em seus lábios. Eu estou com muita dor, é demais para suportar. Aposto que ela também está, mas ela sabe disfarçar melhor do que eu, a poucos segundos eu estava chorando como um bebê e ela me olhando irritada. Luna é meu oposto. Eu sou a figura frágil, e ela a irritadinha que não gosta de escutar um único grunhido perto dela.

— Por que você não quer?

— Porque eu tenho um trabalho para terminar e eu não sou igual você, Jack! Eu não sou filhinha de papai, aliás, meu pai nunca quis saber de mim, na real! Eu não posso simplesmente me deitar e fingir que não tenho afazeres na faculdade, eu não posso tirar nota baixa, eu não posso ficar na berlinda e pensar que vou me safar só porque tenho meus pais perto de mim e eles vão dar uma grana a mais para os diretores me manterem aqui, ok? — sua voz é direta, quase seca demais, mas vejo que só está assim porque a garganta ainda não está muito boa. Fico quieto, escutando-a atentamente, tentando juntar as peças sobre a vida dela. Apesar de ser uma briga, fico feliz que ela tenha desabafado, notei que ela estava tensa, deve ter muita coisa presa dentro dela — eu preciso fazer essa porcaria!

— Precisa de ajuda? — pergunto, mas não a espero responder, simplesmente me levanto e paro bem ao lado dela, ignorando todo seu mau humor e frustrações acumuladas. Luna fica calada, ela não tenta me empurrar quando pego o computador e me sento na cama da Alyssa para apoiá-lo em meu colo. Ela está simplesmente quieta, olhando-me e tentando forjar um falso sentimento de quem não se importa — aqui, você precisa primeiro juntar as maiores frases de efeito entre os famosos! Eu já fiz este trabalho, entreguei na semana passada e, não quero me gabar, mas tirei nove e meio.

— Ah — ela ocupa um lugarzinho ao meu lado na cama, um pouco menos nervosa. Ela deve ser bolsista, por tudo o que disse! E, pá! Mais uma informação importantíssima sobre ela: Luna não tem o apoio dos pais. Será porque são separados? Ou será que o pai deixou a mãe dela na mão e simplesmente sumiu no mundo quando Luna nasceu? Faz sentido, Luna citou o pai dela com muita tristeza, apesar da raiva envolvida. Aposto que uma presença paterna fez falta a ela, toda criança gosta de ter atenção dos pais, e digo por experiência própria! Porque quando eu era pequeno eu adorava cair no celeiro para que meus pais viessem me dar apoio emocional, e eles sempre resolviam meu choro com algum doce ou uma proposta divertida, tipo andar a cavalo pelo campo com um deles dois me acompanhando.

Fallin' For YouOnde histórias criam vida. Descubra agora