TRÊS

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Me virei com os olhos arregalados e uma mão sobre o peito, mas rapidamente me recompus. A voz havia soado melodiosa e terrivelmente ácida para mim. Cínica.

E quando vi o dono dela, entendi rapidamente a precedência.

Vestindo uma camisa azul marinho, ele estava escorado no batente da porta. Os braços cruzados sob o peito, o que realçava os músculos que não deveriam estar à mostra. Uma sobrancelha estava arqueada e o canto dos lábios erguido levemente como uma serpente. As sombras da noite cobriam um pouco do rosto, mas fui capaz de ver os olhos completamente negros. E a coroa, colocada de qualquer jeito sobre sua cabeça, pendia para o lado direito. A imagem do desleixo. A imagem do cinismo.

Mas ao mesmo tempo... poder. Ele exalava poder. Ele tinha presença. Era um rei, a coroa deixava claro. Mas o rei de qual dos três reinos restantes? Estava curiosa, mas não queria entrar em uma conversa com ele.

- Não é educado se esgueirar pelas sombras, senhor - me vi o lembrando, de forma fria.

Ele caminhou até mim, um pé na frente do outro, andando majestosamente. Feito um felino. Os olhos brilharam quando apoiou o quadril no parapeito, ficando de frente para mim.

- Quer me dar uma aula de boas maneiras, minha dama?

Minha boca abriu-se em ultraje.

- Quem acha que é para chamar-me dessa forma?

- Acredito que um rei possa fazer o que quiser - retrucou.

O tom de voz era calmo. Abundantemente calmo. Sombrio. Estava claro que havia intenções e ambições embaixo daquele tom apaziguador. Era uma mistura deturpante.

- Talvez no seu reino - me obriguei a manter a voz firme -, mas no meu, não. As etiquetas devem ser seguidas e o senhor não conhece, muito menos tem intimidade comigo para tratar-me de tal forma!

Um sorriso viperino apareceu em seus lábios. Senti-me arrepiar. Todo o meu corpo, percebi, estava retesado. Esperava uma atitude dele, uma atitude que me levaria a correr na direção oposta.

- E como devo chamá-la, minha dama?

Foi como um sussurro. Uma provocação. Eu era uma princesa, não participava de joguinhos maliciosos. Mas ouvi-lo atribuir a mim um título como sua propriedade me irritava.

- Qualquer coisa que não seja ligada ao senhor. Não acredito que deva ser eu a te ensinar bons modos.

Seu peito retumbou com a risada que lhe escapou. Ele estava rindo de mim. Zombando de mim. Desde o início.

- E o que você sabe sobre qualquer coisa da vida?

- Ora, eu vou...

Minha garganta se fechou quando ele se inclinou para mais perto. Inapropriado. Muito inapropriado. Ele se achava um Deus? Como poderia ignorar todas as regras daquela forma? Não havia nada nele, nada, que fosse convencional.

- Vai o que? - Senti seu hálito em meu rosto. - O que vai fazer contra mim, Rose? O que vai fazer contra um rei?

Ele sabia meu nome. E era abusado ao ponto de me chamar por um apelido. Não me conhecia há nem dez minutos e teve a ousadia de me chamar por um apelido.

- Você não me parece um rei. Um rei saberia se portar!

- Talvez os que você conheça apenas disfarcem muito bem suas piores versões em sua frente.

- Está dizendo que mentem? São reis! Como ousa insultá-los?

Ele revirou os olhos. Revirou os olhos. Aquilo certamente não era a postura de um rei. Não um rei digno de sua coroa.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora