TRINTA E CINCO

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  - Como você está? - Raence perguntou baixinho, me colocando sobre o colchão do meu quarto.

Fitando minhas mãos, as palmas frias de medo.

- Eu iria matá-la - constatei.

Medo de mim mesma.

Seu dedo encostou em meu queixo, me obrigando a olhá-lo.

- Você estava com raiva, ela nos fez passar por momentos ruins. Não é condenável sua vontade.

A pouca iluminação, de apenas um castiçal no quarto, parecia ser sugada pelo vazio dos seus olhos. De repente, eu me sentia assustada de novo, vulnerável, sensível. Percebi o quanto podia mergulhar no ódio e me perder, perder toda a razão tão facilmente. Já tinha feito coisas ruins antes, mas enfim percebi o quão má eu podia ser.

- Como pode ser tão compreensivo? Você nunca me julgou.

- Meus pecados são piores que os seus, minha dama. - arrumou meu cabelo atrás da minha orelha. - Os meus demônios estão aqui - levou minha mão ao seu peito, em cima do seu coração -, eles só sabem a hora certa de aparecer.

Fechei os olhos, sentindo seus batimentos calmos e controlados contra a minha palma. O calor do seu corpo invadindo a minha pele, mesmo através da blusa. Seu troso era firme, duro. Voltei a fitar nossas mãos unidas, a dele por cima da minha.

- Como você lida com eles? - fui incapaz de olhar em seus olhos.

- Meus demônios?

Balancei a cabeça.

- Seus pecados.

- Me tornaram quem eu sou agora - respondeu, simples.

- Fica mais fácil?

Foi a sua vez de balançar a cabeça. Eu engoli com força, sabendo que teria que aprender a viver com a pessoa que eu estava me tornando.

- Vou estar aqui - prometeu - para entrar no inferno com você e para tirá-la de lá.

Subi a mão até sua nuca, finalmente tocando sua pele. Ele arrepiou. Mexi os dedos nos cabelos que haviam ali, adentrando os fios macios.

Não era confortável para mim saber do que eu era capaz, do que ele era capaz.

Eu ainda estava aprendendo a ser aquela pessoa.

Tive que abrir os lábios para respirar melhor quando ele repetiu o meu gesto, agarrando meus cabelos.

E nunca estive tão disposta a pular para o inferno...

Raence se aproximou, inebriando-me com seu cheiro forte e quase ácido.

...contanto que ele segurasse a minha mão na queda.

E tocou nossos lábios, me fazendo suspirar. O gosto mentolado e fresco da sua boca me fez fechar os dedos em seu cabelo, o trazendo mais para mim.

Sua outra mão tocou minha cintura, aquecendo meu corpo.

Ele me beijou, magica e intensamente, até que eu não pudesse mais controlar minha energia que clamava pela dele.

O rastro de calor que sua mão deixou ao escorregar para minha perna formigou. E eu grunhi quando ele alcançou a pele sensível exposta pela fenda do vestido vermelho escuro. Sem controle do meu corpo, minha cabeça pendeu para trás. Raence deve ter entendido como um convite, pois antes que eu pudesse pensar, seus lábios estavam no meu pescoço.

Bejiando e mordendo e lambendo.

Me trazendo tantas sensações novas que eu mal podia respirar. Seus dentes capturaram o lóbulo da minha orelha. Todo o meu corpo ardeu com a onda de calor que eu não fui capaz de conter, que passou de mim para ele, conhecendo a agitação do seu interior. Ele estava afoito.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora