VINTE E QUATRO

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  - Eu ainda acho que é loucura! - protestei.

A neve caía devagar, pequenos pontos brancos se prendendo tanto a nós quanto ao chão, formando uma camada fofa onde nossos pés afundavam. Ainda assim, em meio ao frio desenfreado das nevadas, Raence não nos deixou escapar dos treinos. E como se não fosse ruim o suficiente, daquela vez eu teria que lutar usando tanto meu corpo quanto minha energia. Não conseguia nem imaginar como ele pôde achar que eu estava pronta, mas não importava o que eu dizia, ele não mudava de ideia.

- De todos os adjetivos, covarde era o único que eu não ligaria a você - ele devolveu, me alfinetando.

- Conhecer minha capacidade e meus limites não é ser covarde!

Meu corpo se retesou quando uma espada voou em minha direção, por sorte consegui segurar em seu cabo a tempo, antes que me ferisse. Mazen vinha andando até nós rindo, provavelmente de minha reação. Ainda iria estragar seu rosto bonito ao lhe dar uma surra.

- Primeiro irá lutar comigo e se me derrotar, com Raence. - avisou, se colocando a minha frente.

Raence nos observava há uns dez passos de distância, os braços cruzados sob o peito. O vento gelado mexia com seus cabelos, assim como os meus. Não quis prender devido ao frio, tudo que eu menos queria era ficar com o pescoço exposto. Talvez aquilo se tornasse uma desvantagem para mim na luta. Reunindo minha confiança, lancei um sorriso presunçoso ao general.

- Derrotar você? Onde está o desafio?

Mazen estreitou os olhos claros, inclinando a cabeça. Com um gesto de sobrancelha o desafiei a avançar, segurei firme na espada e me preparei. Mazen deu o primeiro passo, armei a defesa, ele atacou na direita, eu esquivei, bloqueei o outro golpe na esquerda. Quando a sua lâmina rasgou o ar acima da minha cabeça, aproveitei a deixa para o atingir na boca do estômago com o punho fechado. Mazen recuou, tossindo, mas logo se recuperou, sem me dar tempo para planejar o resto do ataque. Apenas senti sua perna se enroscando na minha antes de perder o equilíbrio. Não iria cair sozinha, então enlacei seu pescoço e o levei ao chão, sendo ágil ao rolar por cima de seu corpo e pressionar a ponta afiada da minha espada em sua garganta.

- Não use apenas estratégias, use sua energia! - Raence reclamou.

Na fração de segundo em que o olhei, Mazen conseguiu me empurrar para longe e se levantar, me obrigando a voltar à posição inicial. Suspirei, fechei os olhos e me transportei para dentro de mim mesma, segurando a válvula entre meus dedos e a abrindo suavemente, devagar. O calor me percorreu, me preencheu rapidamente e eu me senti invencível. O veludo do novo traje de luta não chegava nem perto de transmitir aquele aquecimento. Com o frio expulso, tudo em mim acordou, cada célula sonolenta se tornou ciente de tudo à sua volta.

No próximo movimento de Mazen, não hesitei em projetar minha energia em sua direção, incitando as chamas a crescerem e crescerem cada vez mais, até onde eu sabia ser possível machucar alguém. Nesse ponto, minha pele começava a pinicar em todos os cantos, meu sangue era apenas bolhas de ar quente. Foquei toda a avalanche dentro de mim em Mazen, quase fui capaz de ver a força eletrizante, laranja e azul e dourado flutuar pelo ar até ele. Me concentrei ainda mais na espada até que ficassem tão quente que ele não conseguisse tocar. O general soltou o ferro em brasa, sacudindo a mão queimada. Corri, pronta para atacar, dei a volta em seu corpo enquanto o sentia superaquecer e enrosquei o braço por seu pescoço, apertando o suficiente para que ele não conseguisse respirar.

- Isso não é uma luta justa! - ele arfou.

Sorri triunfante e busquei o rei com o olhar, mas não o achei. Podia ser alguma parte sensitiva minha ou apenas meus extintos se desenvolvendo, mas pude sentir o exato momento em que Raence adentrou a atmosfera aquecida ao meu redor. Esperei que ele estivesse perto o suficiente e, enfim, me virei, dando um chute em Mazen para que caísse. Não me importando de abrir uma ferida, segurei a ponta da minha própria lâmina para me defender do golpe de Raence. A extremidade afiada rasgou minha pele e se projetou para dentro de minha carne, abrindo caminho lentamente até estar bem alojada quase perto de meu osso. Trinquei os dentes, mas não deixei que ele percebesse.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora