CINQUENTA E DOIS

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  A coroa deslizou sobre as cinzas, que caíam formando um pequeno montinho de poeira no chão, acabando posicionada exatamente no topo.

Eu ouvi o silêncio, bruto e devastador. Ninguém respirava atrás de mim, ninguém movia sequer um músculo. Estava ciente da atenção e dos olhares em minhas costas. Bastou um sopro meu para que as cinzas se espalhassem pelo ar em uma nuvem escura. O material de ouro foi ao chão com um baque surdo, girando uma e duas vezes antes de assentar.

Não era apenas uma coroa.

Um amontoado de ouro.

Era um reino.

Um trono.

Vazio e esperando para ser preenchido. Assim, eu fui até ela, tomando-a em meus dedos antes de me virar para os outros. Os rostos chocados, amedrontados me encararam de volta. Eu não tinha uma imagem majestosa naquele momento, os cabelos selvagens e o olhar mortal de quem acabara de matar o próprio pai garantiam isso, mas mostravam que eu era forte e determinada. Tudo o que eu precisava para ser uma rainha.

Mas eu não queria ser apenas isso, não queria ser igual a ele. E, por isso, eu comecei a falar.

- Eu entendo uma coisa que meu pai nunca foi capaz de entender: ter poder não significa ter que usá-lo. Meu pai nunca entendeu isso e afundou nosso reino. Eu não quero fazer isso. Quero que sejamos prósperos, que consigamos viver sem medo, sem ser escravizados ou diminuídos por qualquer motivo. Muitos de vocês sofreram por não terem títulos, nós sofremos por sermos mulheres e, na verdade, não me importa a causa, eu só quero que acabe. E vai acabar! Muitos de vocês aqui agora podem se rebelar, não gostar, mas não vai mudar o fato de que vai acontecer. Podemos fazer da maneira fácil, juntos, ou da maneira difícil. E não terei problema nenhum em provar que sou digna desse trono a qualquer um de vocês.

Observei a movimentação no meio da multidão, aliviada em ver Raence e Mazen passarem pelos homens, estampando sorrisos orgulhosos sob os machucados no rosto. Foram os primeiros a se ajoelharem, apoiando o braço em um dos joelhos e abaixando a cabeça.

Raence levantou apenas o olhar para me direcionar uma piscadela.

A multidão os seguiu. Abaixando um a um. Percebi o medo ainda no rosto de alguns, mas isso seria trabalhado com o tempo. Eu não queria ser temida, apenas respeitada.

Ao fundo, Calion estava apoiado em sua espada fincada no chão, o olhar de desdém nunca deixou seu rosto, nem mesmo quando ele se ajoelhou com um sorriso de canto. Ele era um idiota, mas uma parte minha até que gostava.

Vi Liriana e os Revolucionários em seus uniformes violeta, as mãos em cima do peito direito e as cabeças baixas em uma pequena reverência.

E, com o apoio de todos, levei a coroa até a cabeça, deixando-a descansar em seu lugar. Era pesada, assim como a responsabilidade que vinha com ela. Mas eu aguentava. Havia sido muito bem preparada.

- Isso acabou - declarei, em voz alta. - Chega de guerra para nós. Chega de perdas.

Assim que a última sílaba deixou meus lábios, os soldados de Miriath levantaram e bateram em retirada, aproveitando o momento de paz para sair. Quando todos já estavam de pé, Raence e Mazen vieram até mim. Lutei contra o impulso de me jogar nos braços do rei e comemorar o final de todo aquele problema que nos importunou por meses a fio.

- O que faremos com ele? - Mazen questionou, apontando Jaxin ainda gemendo de dor no chão ao nosso lado.

Os fios loiros haviam sido dizimados, a pele em sua cabeça completamente carbonizada. Era uma imagem muito bonita.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora