SETE

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 Seguindo as instruções do comerciante, encontrei a casa. Com duas batidas de leve na porta, esperei. Olhando para todos os lados, um frio no estômago me corroía. Diziam que era perigoso para mim do lado de fora, nunca tinha levado muito a sério. Até estar ali, desprotegida. Repeti para mim mesma que estava disfarçada. Nada aconteceria porque não sabiam quem eu era.

Uma mulher abriu a porta, não era nenhuma das duas que entraram em pânico no dia anterior e me perguntei se o comerciante tinha me enviado ao lugar certo. Seus olhos azuis tinham bolsas escuras embaixo, que ao mesmo tempo que destacava a cor, mostrava o quanto a moça estava cansada.

- Elas não estão muito bem para receber visitas. Por favor, volte outra hora - ela pediu, então eu soube que estava no lugar certo.

- Eu preciso muito falar com elas agora. É urgente, não posso retornar.

- Quem é você?

Engoli em seco. Cenas do que poderia acontecer caso eu dissesse a verdade, caso eu somente insistisse para falar com as mulheres ou mentisse se passaram por minha cabeça. Era um risco, mas eu tinha quase certeza de que ela não me deixaria passar se não lhe dissesse quem eu realmente era. Talvez sabendo também não deixaria, mas eu tinha ido até lá com um propósito. Era um risco a se correr, decidi.

Levei a mão até o capuz e o abaixei, revelando meu rosto. A mulher me encarou, olhos levemente arregalados denunciavam seu espanto. Ela tinha me reconhecido. Ótimo. Ou não.

- Eu quero ajudá-las.

Sem sequer pronunciar uma palavra, ela chegou para o lado e me deu passagem. Percebi quando olhou por cima de meus ombros e imaginei que fosse para certificar-se de que eu estava sozinha. Me espremi entre ela e a porta para passar e entrei na pequena casa. Com apenas um passo, me vi na sala de estar e as duas mulheres do dia anterior se encontravam sentadas, uma em cada ponta de um sofá pequeno. As duas tinham canecas de um líquido fumegante nas mãos e olhavam para o vento. Me perguntei se era possível o coração diminuir quando senti o meu apertar dentro do peito.

Não sabia o que dizer, sequer sabia o nome delas. Estava quase em um estado de pânico interno quando a mulher atrás de mim, finalmente, falou algo.

- Glathe! Gya! A princesa está aqui.

A do canto direito foi a única que olhou para mim e tive de lutar para não arquejar com o que vi em seus olhos. Desolada. Desesperada. Ela parecia desamparada, ainda que com um teto sobre sua cabeça.

- O que quer? - perguntou. A voz fraca foi mais uma rasteira em mim.

- Ajudá-las.

- Pode trazer meu irmão de volta?

- Não.

- Então não pode me ajudar.

Suspirei, tentando processar alguma coisa, agir. Dei meio passo em sua direção e tirei a jóia do bolso. Um colar de diamantes cor de rosa. Uma encomenda direta de Dárius, do joalheiro real. Valia uma boa quantia de estelas.

- Seu irmão roubou por quê? - perguntei com delicadeza.

- Porque precisava. Porque não tínhamos comida. Porque ele se importava conosco.

Seus olhos marejaram e minhas pernas tremeram. Não tinham comida? Todos os relatórios que eu li eram favoráveis, nada dizia que meu povo passava por uma situação difícil. A economia ia de vento em popa. Como podiam não ter estelas para comprar comida?

- Estão passando fome? Não estão conseguindo vender? - questionei, sem entender.

- Vendemos muito bem - seu olhar se perdeu novamente. - Até os impostos aumentarem cada dia mais, até não termos mais giro, até perdermos tudo.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora