TRINTA E QUATRO

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  - O que aconteceu com você? - perguntei. Tanto por curiosidade quanto por preocupação.

Talvez mais curiosidade.

Os olhos claros se viraram para mim, ácidos. Nada que me surpreendesse.

- Desculpe não poder tomar banho para vir recebê-la, majestade.

Me lembrei o quão desagradável ele podia ser quando se curvou minimamente em uma reverência odiosa.

- Não acho que te deixaria mais apresentável, alteza. - devolvi, no mesmo tom.

Raence suspirou, se levantando para recolher a cadeira que joguei no chão e a arrumando para que eu voltasse a sentar. O encarei, atendendo ao pedido silencioso de seus olhos para me conter. Me sentei e ele empurrou a cadeira para mais perto da mesa.

Sentia a raiva direcionada a mim pelo rei, mas o ignorei como fazia com uma mosca.

Calion se sentou à minha frente e começou a encher seu prato. Mazen ainda sorria, feliz pelo circo que armou e lançou uma piscadela para mim.

- Onde estava? - Soleu indagou ao filho, finalmente voltando ao seu lugar. - Não creio que deva lhe ensinar mais lições sobre pontualidade.

Os dentes do príncipe se apertaram, percebi pela forma que sua mandíbula se contraiu. Ele nem ao menos olhou para o pai, apenas continuou o que estava fazendo.

- Estava nas masmorras - respondeu, a garganta arranhando.

Não era difícil de ver que ele não apreciava o rei.

- Com a prisioneira? - Raence foi quem questionou daquela vez.

- Com quem mais seria?

- Conseguiu algo? - eu interferi, sem ligar para o seu sarcasmo.

Como Clare havia me dito uma vez, Calion não parecia gostar de ninguém, mas sua antipatia comigo era ainda mais intensa. Apesar da conversa que tivemos dias antes. Parecia fazer uma eternidade.

- Eu falaria caso tivesse a feito falar. Eu tentei tudo - bufou, frustrado. - Ela parece não ligar para a dor.

- Está lhe machucando? - me incomodei.

Calion inclinou a cabeça, me analisando.

- De quem acha que é esse sangue? - Prendi a respiração. - Algum problema com meus métodos?

Raence voltou a suspirar, imaginei que ele já soubesse minha resposta.

- Sim, desde que eles não estão sendo eficazes!

- Está livre para fazer melhor.

O som ardido do impacto do talher com o prato fez meus ouvidos doerem. Raence nos encarava com o rosto sério, julgando a nós dois.

- Depois do café iremos todos até ela - disse por fim, encerrando nossa discussão.

- Vão vocês, não irei até lá embaixo - Soleu declarou.

Mazen revirou os olhos, resmungando algo sobre o rei ser medroso. Ele estava mesmo testando todos os limites do monarca. Fui despertada pela mão de Raence, que viajou até minha coxa por baixo da mesa. Meu corpo arrepiou diante do calor que sua pele emanava para a minha, exposta pela fenda do vestido. Contive o máximo que pude o estremecer que me tomou, o olhando com o rosto quente.

- Você não comeu nada - comentou, sussurrando apenas para mim enquanto indicava meu prato com o queixo.

Pesquei o lábio inferior com o dente, tentando disfarçar o nervosismo que corroía minhas entranhas.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora