OITO

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- Rose? - ouvi a voz de Nya abafada pela água em meus ouvidos. - Rose?

Não sabia dizer há quanto tempo eu estava embaixo da água, mas já estava mais calma. Meus órgãos agitados se encontravam inertes, assim como eu. O vazio ainda era melhor que o desespero. Mais confortável. O silêncio expulsou o turbilhão de pensamentos que me consumia e ficou comigo. Eu apenas o escutava. O nada. E o coração da água batendo, guiando o meu à sua calmaria.

- Pelos deuses, o que... - a voz estava mais perto. - Rose, o que está fazendo?

Abri os olhos e a vi debruçada sobre a banheira olhando para mim. Não me mexi. Não queria me mexer. Não queria deixar as pequenas ondulações que me ninavam, o sussurro do silêncio me ensinando a arte do controle. Nya colocou as mãos na água para me puxar e as tirou tão rápido quanto colocou. Como um reflexo de dor. Ela sacudiu os dedos com uma careta e saiu do meu campo de visão.

De repente a água começou a ir embora. A banheira estava esvaziando. Olhei ao redor sem entender e vi o ralo aberto. Nya o abriu por fora. Quando a banheira já estava sem nada, me sentei, lamentando.

- Está louca? Como entra na banheira com a água fervendo? - brigou, me envolvendo em uma toalha e checando meu corpo. - E como não tem queimaduras?

Olhei rapidamente para suas mãos e as vi vermelhas, irritadas. O banheiro inteiro estava com vapor, muito vapor. Era como se toda a água da banheira tivesse evaporado ali. Fora questão de segundos antes que eu começasse a pensar na manhã terrível que tive. Nas costas do homem jorrando sangue. Logo senti saudade da água.

Nya me arrastou para o quarto e me arrumou em tempo recorde, repetindo que eu estava atrasada para o desjejum. Me segurei por um tempo, ainda tentando organizar os pensamentos, até que não aguentei mais.

- Por que não me disse nada? - perguntei com a voz baixa, encarando um ponto específico do espelho que não era o meu reflexo, nem sequer o dela.

- Do que está falando?

- Eu vi, Nya. - Mantive o queixo erguido. - Vi as atrocidades que fazem com o meu povo lá fora. Vi a sobrecarga que eles estão levando e para que? Para nos sustentar? Você não acha que eu tinha o direito de saber que todos nesse castelo vêm me enganando durante vinte e um anos? Me tratando como se eu tivesse alguma doença mental que me deixe incapaz de raciocinar?!

- Como...?

- É isso que tem para me dizer? - perguntei, desviando o olhar para o dela. - Não me explicar o porquê de ter mentido para mim, mas sim me perguntar como eu soube? É sério?

- Isso é maior do que eu, Rose. Não posso passar por cima das regras do rei!

- Então ele sabe - deduzi, mesmo não querendo acreditar. - Sabe da judiação que fazem com cada alma viva lá fora. Sabe que tem crianças trabalhando e não quer ajudar. Como posso olhar para ele depois disso?

Em um movimento rápido, Nya agarrou meus braços e fixou os olhos nos meus através do espelho, séria.

- Seu pai não pode saber que saiu do palácio, Rosealyn. Capaz de te trancar na torre até o dia de seu casamento. Você não pode deixar que ele saiba o que você descobriu!

Me esquivei de seu toque, levantando e indo para o outro lado do quarto.

- E o que eu devo fazer? Deixar isso continuar? Quer que eu cruze os meus braços? Que negligencie o meu povo?

- Você não conseguirá ajudar ninguém trancada em uma torre!

Sim, eu sabia que ela tinha razão. Por outro lado, seria sufocante para mim ficar quieta diante de tal situação e fingir que tudo está normal. Me sentiria indigna de meu posto. Indigna de meu povo.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora