O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]

DEZOITO

  Fui acordada antes do nascer do sol, as meninas correram para preparar meu banho e me convencer de usar a roupa estipulada. Eu não vestiria aquele conjunto de calça e blusa de couro azul nem se os deuses mandassem.

- E o que prefere? - Clarence perguntou, depois que expliquei meu ponto. - Quer lutar de vestido?

- As meninas disseram que a primeira parte do treinamento é com você na biblioteca.

- Sim, o que tem?

- Se não vou lutar, não preciso vestir essa coisa!

- Uf! - ela bufou. - Isso é couro puro, não o trate dessa forma.

- Estou falando sério!

- E eu também. - Sua expressão endureceu. - Vista isso logo, não haverá tempo para trocar de roupa depois. Ande com isso!

Sem dizer mais nada, Clarence saiu com passos firmes. Um pé após o outro, sem hesitar, dançando dentro de seu vestido verde escuro de veludo. Aphil, Mortri e Desti me encaravam sem reação, não disseram nenhuma palavra enquanto me ajudavam a vestir a segunda pele de couro. Conseguia ser pior de vestir do que apertar um espartilho, mas depois de colocado, era bem mais confortável. Mortri prendeu meu cabelo em um rabo de cavalo bem no alto da cabeça e me deixaram sem nenhum adereço.

- Tome! - Desti me ofereceu uma tigela com algo pastoso e bege.

- O que é isso? - perguntei, revirando a gosma com o talher.

- Cadriú de frutas.

- É banana, ameixa e doxemira batidos com amendoins. - Mortri completou.

- Doxemira?

- Uma fruta que só cresce aqui - Aphil explicou. - Dizem que fortalece o sangue.

- É gostoso. - Desti garantiu.

Como não tinha feito o desjejum e, pelo visto, não teria tempo para comer, aceitei experimentar a pasta. O gosto que não consegui identificar, soube que era da fruta especial e sobressaía sobre os outros sabores. Não era azedo, mas tampouco era doce. Uma mistura realmente estranha, mas saborosa, de fato. Fui até a biblioteca comendo o Cadriú, entreguei a tigela vazia a Aphil, que me acompanhava, antes de adentrar a sala. Clarence me esperava sentada em uma das mesas, sentada literalmente na mesa.

- Não tem ninguém aqui? - perguntei quando me aproximei.

- Já viu que horas são? Estão todos dormindo.

- Os criados dormem até tarde?

- Defina tarde.

- Em Valicent todos estão de pé junto com o sol. - expliquei, me sentando.

- Não creio que seu pai seja um exemplo a se seguir, princesa.

Por pior que fosse, ela tinha razão.

- E o que vamos estudar?

- Eu vou ensiná-la o básico sobre como se governa um reino. Suas obrigações e como cumpri-las. Precisa estar preparada para quando tomar o poder.

Clare jogou um livro grosso e pesado bem na minha frente, ela sorria como uma criança que acabara de ganhar um doce. Como se aquilo fosse a coisa mais divertida que ela pudesse fazer.

- Governar não é só dar bailes, Rose. Você precisa estar a par da economia de seu reino, das exportações de produtos, precisa ter contato com os reinos ao seu redor, saber o que é uma ameaça e o que não é. Precisa entender das rotas de água, das plantações de comida, até mesmo das produções de produtos como roupas e acessórios. Tem que saber quais são as principais fontes de renda do seu reino e investir. Precisa conhecer seu povo, entender o que eles querem e o que necessitam. É muito mais complicado do que parece.